O SALTO DE SAPOPEMA Imprimir
Seção: Trekking - Categoria: Geral
Escrito por Jorge Soto   
Seg, 24 de Outubro de 2011 17:21

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Sapopema é um pacato município situado no noroeste paranaense, cujo nome em dialeto indígena deriva da árvore homônima e significa “raiz chata”. Fundada em 1960 na altitude de 759m tem como único atrativo natureba o titulo deste relato, pois assim consta na carta do IBGE, embora na região seja tradicionalmente conhecido como Salto das Orquideas. Em suma trata-se de uma sucessão de respeitáveis quedas dágua  q o Rio Lajeado Liso oferece no decorrer de seu sinuoso trajeto pelo Terceiro Planalto antes de desaguar no grandioso Rio Tibagi. Programa  sussa de final de semana q dista a menos de 5km do centro de “Sapop´s” - como tb é carinhosamente conhecida a pequena cidade – este é mais um desses pequenos achados q quebrantam a aparente monotonia das paisagens do interior paranaense. | /

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Graças à Laureci e às preciosas dicas da Cacau (Claudinha Melatti) q aos poucos vou conhecendo cada vez mais os atrativos de uma região q aparentemente só tem o Cânion Guartelá como cartão-postal. Ledo engano, pois foi assim q conheci a majestuosa Serra do Cadeado e o agreste Pico Agudo, programas altamente reconedáveis a quem procura perrengues em seus mais variados niveis. E logicamente q nada melhor do q ir lá bisbilhotar esta (nova) dica sussa de bate-volta na cia das duas, q não retornavam àquela região a quase uma década e estavam desejosas de saber como as coisas andavam sendo gerenciadas por lá. E claro, sair do caos e estresse urbanóide de Londrina, onde passei alguns dias do último feriado. E o tempo? Bem, o tempo tb já andava incerto durante td aquela semana e a previsão era uma tal de “dia encoberto com pancadas no decorrer do período”, isto é, razoável. Então tá.

Sendo assim, após embarcar no latão da Ouro Branco bem cedo e tomar rumo sudeste pelo asfalto da PR-090, saltamos na entrada de Sapopema por volta das 10:10hrs. A pequena distancia de quase 110km q separam Londrina de “Sapop´s” foi vencida em exatas e interminaveis 3hrs de sacolejo por conta das incontáveis paradas nos vilarejos ao largo do asfalto durante td trajeto, deixando e recolhendo td tipo de local imaginável, boa perte deles portando seu indefectível chapeuzinho palha e alguma tralha de gde porte como bagagem. Ibiporã, Jataizinho, Assaí, São Sebastião da Amoreira, Nova Sta Bárbara, São Jerônimo da Serra e finalmente “Sapop´s”. Ufa, eis o tradicional “pinga-pinga”!
Pois bem, desembarcamos na entrada de “Sapop´s”, mais precisamente no pto em frente ao posto de gasolina após a antiga ponte sobre o Rio Lajeado Liso. Claro q deixamos o motora de sobreaviso disso, do contrario teríamos q andar um tantão do rodoviaria até ali. Assim, naquela manhã de sábado terrivelmente nublada com fina garoa fustigando nossos rostos, primeiramente nos dirigimos à lanchonete do posto pra mastigar um salgado e tomar um café e na sequencia pusemos-nos em marcha, dando inicio oficial à sossegada trip q tínhamos em mente.
Sem pressa alguma retrocedemos pelo asfalto da rodovia até a ponte sobre o Rio Lajeado Liso, oonde tivemos nosso primeiro contato visual com o dito cujo. “Tigrada..”, disse a Cacau, “... o rio ta bem cheio!”. De fato, não era necessário ser bom observador pra saber q aquelas fortes águas turvas e barrentas estavam acima do seu limite normal, avançando na mata em volta.
Tomamos então uma precária estrada de paralelepipedos à esquerda da ponte q, após passar por cima do rio, nos lançou rumo noroeste. Claro q imediatamente a estrada chamou a atenção das meninas, pois segundo elas antes os paralelepípedos irregulares do calcamento inexistiam. Portanto sabe-se lá q outra mudança mais havia ocorrido naquele hiato de ausência desde a ultima visita delas à cidade. A medida q caminhávamos as casas e algumas olarias iam rareando ate finalmente nos vermos cercados de mata arbustiva e vastos campos cercados de colinas forradas de pasto. Os odores do campo invadem as narinas naquele contexto invariavelmente típico de clima rural.
A garoa felizmente dá trégua qdo alcançamos a primeira bifurcação na estrada, onde tomamos á esquerda de modo a manter-nos relativamente “próximos” do rio, cujo tradicional capão de mata cercando seu leito era visível mesmo de longe. Os paralelepípedos então deram lugar a terra e muita lama, da qual tivemos q desviar quase q constantemente, assim como dos inúmeros sapos (de tds tamanhos) atropelados no caminho. Nos chama a atenção a cantoria de um pássaro prostado numa araucária a beira de estrada e qual nossa surpresa q era uma curucaca, ave típica dos campos geraes do interior paranaense.
Um tempo depois qdo a via começa a tomar rumo sudeste deixamos a principal em favor de outra perpendicular, saindo pela direita e seguindo a direção sudoeste, como q indo de encontro a uma pequena fazendinha q coroa o alto de um pequeno serrote. Dessa forma, após descer um tanto pra depois subir novamente, alcançamos um pequeno portal de madeira sem identificação alguma q parecia ser a entrada do nosso destino, ao meio-dia! “Acho q é aqui..”, disse uma incerta Cacau, ainda raspando alguns vestigios na memória.
Adentramos o portal e fomos de encontro a um pessoal na casinha maior q parecia ser “base” dali. Fomos recebidos pelo simpático e prestativo Rogério, q confirmou nossas suspeitas afirmando q ali mesmo era a Faz. Salto das Orquideas (ou Faz. Cachoeira, como consta na carta) e nos colocou a par de como as coisas funcionavam ali. Se antes bastava apenas chegar e encostar a barraca no belo gramado agora havia uma pequena taxa pra isso, tendo à disposição uma infra ate q razoável, como banho quente, bebidas e petiscos. Qq semelhança com o Dilson “PP” é mera coicidência. Mas o q intrigou o Rogério foi mesmo o fato da gente estar ali naquele tempo desanimadoramente cinzento. “É, a gente é assim doido mesmo..”, devolveu a Cacau.

 


Pois bem, sendo assim buscamos um lugar decente pra montar nossas barracas naquele enorme gramado, mas preferimos adentrar na elevação de um bucólico bosque onde haviam algumas rústicas churrasqueiras dividindo espaço com belos exemplares de arvores da região, boa parte deles ostentando pequenos cactos em seus troncos. O local realmente é bem simpático e provavelmente deve lotar em dias ensolarados, q não era o caso, pois éramos os únicos naquele lugar. A exceção era outro maluco q tava ali, acampado a 50 dias, com quem conversamos rapidamente e revelou ser um mochileiro q tava travalhando ali temporariamente pra depois se mandar pra outro canto deste mundão.
Dali já havia uma baixada q dava acesso ao rio, q por sinal estava bem cheio, agitado e perigoso. Pois bem, as meninas comentaram q antigamente o programa era basicamente seguir pelo leito do rio (ou pelo rio mesmo, saltando cuidadosamente de pedra em pedra) ate os saltos e cachus, relativamente próximos. No entanto, a correnteza e volume de água do mesmo desaconselhavam qq tentativa nesse sentido, algo q o Rogerio fez questão de nos lembrar. E agora? Pois bem, foi aí q entrou algo q era novidade pras meninas: o Rogerio havia recém-roçado uma picada q se embrenhava pela encosta de um pequeno serrote, q em menos de meia hora desemboca bem próxima do topo das maiores cachus. Perfeito, se não dava pra seguir pelo rio q fosse por trilha, não?
E foi isso mesmo q fizemos. A picada sai próximo da uma pequena represinha, nos fundos da casa principal. Inicialmente a vereda mergulha na mata e passa a subir suavemente um encosta florestada. Há algumas bifurcações mas basta sempre se manter na principal. Após subir um tanto e bordejar um pequenno morro mediante trilha estreita, a mesma começa a descer em definitivo, acompanhando o furioso curso dágua à distancia segura, q podemos ouvir perfeitamente durante td trajeto. Surgem alguns obstáculos no caminho q são facilmente vencidos, tais como árvores tombadas, gdes blocos de pedra e até alguns poucos trechos de escalaminhada. Após um ultimo trecho bem íngreme e pirambeiro até a margem do rio, onde tanto as mãos qto os pés são tão importantes na escalaminhada, finalmente damos nos lajedos q ornam o leito do agora forte e caudaloso Rio Lajeado Liso. Lajedos q fazem jus ao nome do rio, pois realmente eram bem escorregadios e havia q ter cuidado pra não patinar neles. Uma curiosidade é q este rio nasce algumas dezenas de kms ao norte e é possível pescar nele belos exemplares de cascudo e lambari, entre outros pequenos peixes.
Pois bem, até ali era o máximo q podíamos chegar naquela ocasião. E com razão. O rio não só realmente impressionava pela força e volume, mas o som trovejante dos saltos bem a nossa frente era ensurdecedor e diluía td e qq esperança de tentativa de descer os lajedos e pedras (ou o q deles aflorava à superficie) ate a base das cachus. Não naquelas condições adversas. Lembro do Rogerio ter dito q o rio era “raso” mesmo com chuva, mas barrento como estava não dava pra sequer pra avistar a profundidade. Qq tentativa de seguir nele seria andar às cegas. Outro problema era q a correnteza tava bem forte e qq descuido era tchibum na certa, sem falar q a agua iria te carregar facilmente e vc so iria parar la embaixo, quiça já no Rio Tibagi. Sem corda, no way. Em suma, de onde estavamos o rio se dividia em dois, despencando em dois saltos paralelos ate um patamar ou nível intermediário, pra dali juntarse novamente e despencar num fundo cânion ate o ultimo patamar, pra dali seguir seu curso calmo e manso atraves da horizontalidade do Terceiro Planalto. Enfim, nossa pretensa aventurinha de desescalaminhar as pedras ate o patamar intermediário havia sido frustrada pela forte correnteza. Comparativamente, era como ir até a Cachu da Fumaça (em Paranapiacaba) e apenas permanecer no topo da mesma, sem poder realizar sua tradicional “Ferradura”, no caso de “Sapop´s”, um circuito bem menor e de curta duração. Paciência... Mas deixando as lamentações a parte o conforto era q chegar ate ali já tava de bom tamanho, ate pq a paisagem do entorno tava repleta de gdes cascatas despencando dos morros ao redor, numa cena q lembrava perfeitamente as paisagens de “O Senhor dos Aneis”, algo q em dias ensolarados seria pouco provável. O sol ate q ameaçou sair, mas foi so alarme falso.
Após beliscar algum lanche retornamos pelo mesmo caminho e num piscar de olhos estavamos novamente no camping do Rogério. Ate q arriscamos ter um vislumbre das quedas do alto dos paredões, indo pros descampados e roçados atrás da casa principal, mas  não somente a mata como tb a serração úmida voltavam a tomar conta de tudo, nos agraciando apenas com breves flashes de vislumbre da sequencia de quedas q nomina a fazenda.
Mas bastou o céu novamente ser tomado por um negrume q os respingos voltaram a cair com força redobrada, e pra piorar sem dar sinais de parar. “Que merda!”, pensei, “Só nos mesmos pra estar aqui..” Até q tentamos tomar uma cervejana lanchonete do camping mas aquela tarde chuvosa tava mesmo pra ficar em baixo das cobertas, no caso, dentro de aconchegantes sacos-de-dormir. Dito e feito, nos pirulitamos correndo pra nossas respectivas barracas, as 15hrs, e de lá não arredamos pé. E lá fora, a chuva apenas tendia a engrossar, anulando td e qq tentativa de curtir ate um simplório banho de rio. Dessa forma nos resignamos o resto da tarde áquele ócio mais q justificado, buscamndo o q fazer dentro da barraca, seja apenas descansando seja beliscando algo.
A tarde passou rapidamente e a noite caiu sobre a gente na mesma medida q a agua não dava sinal algum de trégua. Resultado: ficamos sem nossa tão almejada  janta, q limitou-se a apenas um rápido lanche. O tempo passou, passou e passou. O sono veio rapidamente naquelas condições e assim transcorreu aquela longa, fria e úmida noite. E nada da chuva parar. Entretanto, a altas horas da noite chamo a atenção da Lau de q to sentindo o chão relativametne úmido. Era o q faltava, infiltrações! A chuva empoçara td ao redor transformando o camping num legitimo banhado. Mas de bom humor, apenas vedamos os locais mais críticos, secamos o q estava enxarcamos e tornamos a dormir, mesmo com os sacos-de-dormir parcialmente umedecidos. A Cacau, felizmente, montara sua barraca num local mais seguro ou sequer deu atenção pra qq infiltração q tivesse. Até pq mudar a barraca aquela altura do campeonato tava fora de cogitação. E nada da chuva parar.
O domingo amanheceu igualmente nublado, com brumas encobrindo parcialmente o topo das colinas ao redor, porém sem chuva. Aproveitamos a deixa de São Pedro pra imediatamente desmontar nossas barracas, antes q Noé resolvesse passar por aqui novamente. Antes, porém, nos fartamos com um suculento desjejum com direito a janta agregada. E tome café, bolachas...e macarrão! Além do corpo moído pelas mais de 14hrs prostrado na barraca e de uma inconveniente dor-de-garganta dando as caras, eu tava mesmo era morrendo de fome e não me fiz de rogado.. devorei a panela toda!
Zarpamos da fazenda as 9hrs, preocupados principalmente pela passagem do busão pelo pto no qual havíamos saltado as 10:15hrs. Mas quak nossa surpresa ao chegar no pto no horário previsto apenas pra sermos avisados do mesmo já ter passado. Ué, mas como assim? Pois é, havíamos esquecido de algo relativamente importante: a mudança de horário de verão naquela madrugada! “Putamerda, q mancada..agora proximo buso lá pelas 15:30hrs!”, lamentamos quase em unissono.
Bem, com tempo de sobra resolvemos arriscar carona, afinal, nunca se sabe, ne? Nos prostramos a beira do asfalto e nada, nada e nada. O tempo passou e qdo deu 2hrs de espera sem nada efetivo decidimos em comum acordo esperar o busao na rodoviária de “Sapop´s”. Ao menos a breve caminhada até lá nos manteria ocupados ate zarpar. A passos lentos adentramos na pacata e tranqüila cidade, sob o olhar curioso de seus arredios habitantes. Sapopema é uma cidadezinha qq do interior brasileiro: uma gde rua principal onde td gira ao redor com uma pracinha, coretinho e igrejinha central. O único burburinho q parecia agitar a cidade era a iminência de um tradicional leilão de gado q estava prestes a ocorrer.
Chegamos na rodoviária e nos prostramos num quiosque ao lado, onde mandamos ver algumas cervejas q apenas agravaram meu estado de saúde. Se antes estava  somente dolorido e com dor-de-cabeça, agora estava rouco, com dor-de-garganta crônica, tossindo, espirrando e afônico. Q beleza!. Por sua vez, o dia q havia amanhecido ate q razoavelmente promissor novamente se encobria dando lugar a uma fina e congelante chuva. É, não era pra ser mesmo. Nesse meio termo de espera reencontramos um simpático tiozinho de 80 anos com quem  já havíamos proseado durante nossa espera por carona, Seu Vicente Saldanha, figurinha carimbada de “Sapop´s”. Falador como ele só, nos contou muitas particularidades da cidade, como a predominância da pecuária sobre a agricultura como de suas inúmeras cabeças de gado espalhadas pelos pastos; do sumiço por completo da árvore q nominou a cidade, e até de sua quarta mulher, quase 30 anos mais nova. Haja disposição, hein?
Tomamos o busao no horário previsto apenas pra refazer entediante a via-sacra de 3hrs de saclejo durante nosso retorno a Londrina. Lá tivemos a noticia q o dia anterior e a madrugada, principalmente, havia caído na cidade um dos maiores temporais q se tem noticias, deixando mta gente desabrigada e causando mtos prejuízos materiais. Ta explicada então a nossa interminável noite, algo q deixaria Noé orgulhoso se levarmos em consideração q escapamos ilesos de td aquele aguaceiro. Bem, quase ilesos..minha garganta q o diga.

E assim transcorreu nossa incursão sussa, porém perrengueira, ao Salto de Sapopema. Quem sabe numa ocasião de bom tempo haja nova possibilidade de aproveitar melhor seus belos remansos. Independente disso, eis mais um programa bem tranqüilo q não demanda mta logística e nem mto desgaste fisico pra ser encarado. Viável inclusive como bate-volta pelo dia se o traslado for num veiculo particular, com mto mais autonomia. Bem, este é apenas mais uma das raras surpresas q pipocam pela aparente horizontalidade das paisagens do interior paranaense, sejam estas na forma de serrotes elevando-se na retidão dos campos, seja na forma de depressões, canions e vales cavados pelos rios q rasgam esta pitoresca regiao do sul do pais. O Salto de Sapopema é apenas mais um deles. Há ainda as piscinas e cascatas do Rio São Jorge como outro magnífico acidente na paisagem da regiao, q atende pelo pitoresco nome de Buraco do Padre. Mas claro, estes e outros recantos terão sua vez de ser descortinados. De preferência, como já foi oportunamente mencionado, com tempo bom.

Jorge Soto
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