O RIO DAS TARTARUGUINHAS Imprimir
Seção: Trekking - Categoria: Geral
Escrito por Jorge Soto   
Qui, 08 de Setembro de 2011 20:14

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O cágado é uma espécie de tartaruguinha bem comum na bacia hidrográfica da Serra do Mar, e sua presença nomina vários destes cursos dágua, como por exemplo, o Ribeirão do Cágado, em SBC.  E como não poderia deixar de ser, Paranapiacaba tb tem um pequeno riacho q atende pelo nome do pequeno réptil, o Córrego das Tartaruguinhas.

Situado no miolo da Serra do Mogi e afluente do ilustre Rio das Pedras, o referido regato pode não fazer jus ao nome com a presença do simpático bicho, mas decerto viabiliza uma pernadinha moderada q interliga duas das gdes cachoeiras de Paranapiacaba: a da Fumaça e do Rio Vermelho. Trilha curta q pode ser emendada com outra mais tradicional, a “Ferradura da Fumaça”. Enfim, um programa novo q revela novos ângulos de um circuito já conhecido.

Já a algum tempo q tava afim de conferir esse tal Córrego das Tartaruguinhas, curso dágua q conhecia por trocentos outros nomes mas q decidi chamá-lo assim por ser mto mais simpático. Além do mais, por se tratar de um bate-volta breve e curto esperei um dia ocioso de sol qq sem nada programado pra ir lá dar umas bisbilhotadas. De preferência, na cia de alguém disposto a encarar uma caminhada explorativa fácil e tranqüila. Em tese, claro. Sendo assim a única q topou a proposta foi a Roberta, q depois do bate-volta sussa na Pedra do Elefante provavelmente acreditou q tds os programas seguintes fossem do mesmo naipe, isto é, nada desgastantes. Mal sabia ela o q lhe aguardava, pois td q é facil pode ser rapidamente dificultado, assim, num piscar de olhos.
Saltamos então assim no asfalto da estrada q rasga os limites de Sto André e Rio Gde da Serra as 10:30, um horário relativamente tardio pros padrões de explorações da região, mas diante do programa proposto era tempo mais q suficiente. O sol fritava nossas cacholas naquela manhã transparente de céu azul impar e relativametne quente qdo adentramos na tradicional trilha do Poço Formoso, tb conhecida como picada do Tanque ou do Lago Cristal.
Desviando dos onipresentes lamaçais, saltando brejos e passando sob o zunido eletrostático das torres de alta tensão, mergulhamos definitivamente no frescor da mata fechada meia hora após iniciada a pernada. Esta trilha é paralela à da Cachu da Fumaça e já foi percorrida incontáveis outras vezes, portanto não há necessidade de maiores detalhes. Vale apenas ressaltar q deve-se tomar uma discreta e picada q parte dela (pela esquerda) bem antes de cruzar o Rio Vermelho, aquele das manilhas.
Uma vez na mesma basta apenas tocar trilha adentro, q por sua vez perde altitude de forma imperceptível ao mesmo tempo em q vamos engolindo as inúmeras teias de aranha cruzando o trajeto. A picada é óbvia e se encontra bem batida, eventualmente tendo algum arbusto ou arvore tombada no caminho, porém são obstáculos de facil transposição. E assim nossa pernada progride de forma até bem ágil.
As 11:20 a vereda finda nas margens rasas do Rio das Tartaruguinhas, q a principio julgo equivocadamente ser o Rio Vermelho pelas suas caracteristicas bastante similares. Na verdade a picada nos levou já num trecho já bem adiantado do seu curso, sendo q minha idéia era partir de sua nascente, próximo da cabeça da Cachu dos Grampos, no Rio Vermelho.
Pois bem, uma vez nele basta simplesmente seguir seu curso manso, sem gde erro. Nosso cuidado inicial em não molhar os pés foi logo pro espaço qdo percebemos q é mto mais fácil e seguro ir por dentro do rio (com água até as canelas), sem necessidade de adentrar na encosta ou saltar por cima de pedras escorregadias e afiadas. A Roberta calçava um tênis de corrida até apropriado, porém q já dava sinais de desgaste, e por conta disso permaneceu o receio de saber se ele terminaria inteiro ao final do dia. Desacostumada às pedras, porém, seu ritmo era mais vagaroso, mas nada q comprometesse nosso cronograma daquele dia.
Apesar disso, a caminhada pelo riachinho mostra-se bastante agradável, tranqüila e desimpedida. Trechos planos com prainhas fluviais rasos alternam-se com outros com declividade maior, onde há necessidade de desescalaminhar cautelosamente lajotas ou pedras pra seguir em frente. No caminho, muitos poços cristalinos nos tentam a estacionar e ficar ali, regateando ao calor daquele final de manhã, mas este é um privilegio q pretendo deixar pra lugares mais cênicos de nossa breve jornada.
A medida q avançamos o riacho se alarga, recebendo água de pequenos tributários no caminho, porém ainda permanece raso e de fácil avanço. Costurando ambas margens em meio a um túnel de vegetação, onde as vezes surgem vestígios de picada q logo desaparecem, a pernada se mantem no mesmo compasso durante um bom tempo. Até q subitamente emergimos da mata e os horizontes parecem se ampliar. Era aqui q o até então manso rio aparentava despencar mais furiosamente serra abaixo atraves de vários niveis encachoeirados. Felizmente, nos trechos mais verticais havia rastros de trilha na encosta q bastava apenas seguir. Na ausência destes, retomávamos o caminho pelo rio e dali víamos a possibilidade de desescalar os rochedos sgtes. Por sorte este processo mostrou-se eficaz.
Após este trecho vertical de duas quedas de porte médio a pernada estabilizou na horizontal durante um tempo, sempre no aberto, ate q o rugido de uma enorme cachu à nossa frente me deixou preocupado, torcendo pra q houvesse uma trilha pra alcançar a base da mesma. Ate pq se o rugido era alto a altura tb deveria sê-lo. Dito e feito, chegamos ao alto de uma bela cachu q não era tão vertical como de praxe e sim meio inclinada, onde suas águas despencavam de vários patamares rochosos num angulo de quase 45 graus. Meu receio de q houvesse trilha era cunhado de razão: debruçando-me do topo da mesma vi q ela não era tão íngreme, mas mesmo assim descer pelas pedras tava fora de cogitação pq suas lajotas estavam estupidamente escorregadias e patinar no limo visguento pra despencar na base dela era o máximo q conseguiríamos assim. Mas felizmente procurando á esquerda do topo da cachu achei uma picada q descia a queda suavemente pela encosta atraves de mata baixa. Ufaaa, menos mal!
Uma vez no sopé da bela cascata, veio a dúvida cruel: ficávamos ali ou prosseguíamos? A indagação tinha seus motivos, afinal o local era paradisiaco e prova disso era q havia uma clareira com sinais de acampamento. E sem lixo algum! Isso sem falar q os olhinhos da Roberta brilharam só de ver o enorme e cristalino poção ao sopé da cachu. Apesar de bucólico e perfeito demais pra ficar, decidi prosseguir nossa marcha de modo a estacionar mesmo na Fumaça, já no Rio das Pedras, pois ate então não sabia qto tempo mais teríamos q andar e uma vez lá já teria uma previsão disso. E diga-se de passagem, voltar á noite tava fora de cogitação.
A marcha então prosseguiu sussa e sem declividade nenhuma, ate q finalmente as 12:20hrs interceptamos o Rio das Pedras, conforme o previsto. Uma vez nele foi só alegria pois era “caminho da roça” já percorrido trocentas outras ocasiões. Num piscar de olhos caímos no alto da sempre imponente Cachu da Fumaça, as 12:30hrs, onde ficamos apenas o suficiente pra bater fotos beneficiadas pelo dia transparente daquele inicio de tarde. Os contrafortes serranos verdejantes contrastavam com o céu azul predominate naquele horário, onde Cubatão aparecia fumegante, no horizonte.
Tomamos então a picada q desce a íngreme encosta lateral da cachu pra alcançar o primeiro nível das quedas abaixo, onde decidi q descansaríamos mais prolongadamente e teríamos uma boa chuveirada de água. Apesar de ser um trecho breve, foi dureza pra Roberta q já passou a não sentir tanta confiança em seu tênis, q patinava facilmente no chão de terra lisa. Mas pra q a pressa se ainda era cedo, não?
E assim, devagar e sempre, chegamos no patamar almejado às 12:50hrs, onde jogamos as mochilas no chão e nos presenteamos com um pit-stop com vista privilegiada do vale, além um saboroso lanche regado a suco, bolachas, bananinhas e sandubas. E claro, com o sol a pino fritando nossos miolos mandamos ver um bom banho de cachu, apenas pra sentir o qto a água tava gelada. Enfim, um prazeroso descanso mais q merecido.
Revigorados e de alma lavada, aproveitamos essa disposição extra pra dar continuidade á pernada, um pouco antes das 14hrs. Afinal, já q estavamos ali seria um pecado não completar a famosa “Ferradura da Fumaça”, tb conhecida como “Trilha das Sete Cachus”. E assim passamos pro outro lado da encosta pra tomar uma trilha embicando pra baixo até ganhar a base da cachu sgte, e assim sucessivamente fomos perdendo altitude até fundo do vale, agora atraves de uma sequencia de pedras desmoronadas. Claro q tive q dar suporte necessário à minha amiga nos trechos de escalaminhada em q não sentia firmeza tanto na busca de apoios como aderência nas lajes de pedra.


Nesse ritmo mais pausado chegamos ao fundo do vale, mais propriamente dito na confluência dos rios Solvay, Vermelho e das Pedras, ás 14:45hrs! Era um horário ate razoável e eu ainda fiquei tentado em dar uma rapida esticada á Garganta do Diabo, rio abaixo, local q não ia faz tempo. Só de mencionar essa possibilidade vi minha amiga fazer cara comprida, sinal q ela não tava mto afim naquelas condições. E pra ser franco devia ser realista: descondicionada, ela tava bem cansada e seu ritmo de caminhada agora era lento, sinal q não retornaríamos dentro do horário previsto pois ainda havia q subir td o o desnível perdido até então. Mas a gota dagua mesmo foi q do nada baixou um espesso nevoeiro q não permitiu visu além dos 30m, sem falar q besuntou de umidade as rochas no caminho!!!  “Salva pelo gongo hein, srta?”, disse pra ela, visivelmente respirando aliviada. Realmente foi a melhor coisa a fazer, afinal tb não havia pq submetê-la a perrengue nem riscos desnecessários, ainda mais com aquele calçado já a pto de se esfarelar e cuja sola já mostrava até uma língua de deboche pra quem o olhasse.
Daí começamos a escalaminhar aos poucos o Rio da Solvay, pulando pausadamente de pedra em pedra, escalando as encostas qdo havia necessidade de desviar de algum paredão vertical ou poção no meio do caminho. Assim deixamos o trecho aberto pra mergulhar na mata, qdo a declividade enfim aparentou suavizou. Pero no mucho, pois ainda faltava um “sobe e desce” no meio da mata. Antes da Cachu Escondida passamos até por um acampamento montado, mas onde não vimos sinal de ninguém.
A subida terminou, pra felicidade da Roberta (q até ali parecia arrastar a língua no chão), ao alcançar a clareira ao lado do Poço Formoso (ou Lago Cristal), as 15:45!! Lá nos presenteamos com novo pit-stop de descanso, com direito a tchibum no piscinão gelado, mergulho q nunca pareceu tão revigorante. Por motivos óbvios de auto-preservação da minha integridade fisica omiti da minha exausta e esbaforida colega q naquele mesmo bucólico, paradisíaco e plácido remanso havíamos sido assaltados década atrás, naquela nada saudosa trip conhecida como “Trilha do Assalto”, cantada em verso e prosa em mais de uma ocasião. Não q isso fosse acontecer, afinal os tempos mudaram e estão mais seguros desde então, mas não havia motivos de deixá-la alarmada e preocupada sem necessidade àquela altura do campeonato. Pois bem, donos absolutos do lugar, ficamos ali curtindo um tantão, nadando e proseando até o momento em q o sangue gelou e o frio começou a pegar de verdade, nos obrigando novamente a colocar em movimento, as 17hrs. O sol novamente dava as caras dissipando o nevoeiro q ate então conferia ao lugar um ar meio misterioso.
Costurando o restante do riacho por ambas margens, terminamos dando na estrada de acesso à trilha principal e posteriormente à de manutenção das torres de alta tensão da região. Dessa forma pisamos novamente no asfalto as 17:45, qdo começou a escurecer. Como dali ate a cidade eram apenas 3,5km tomei a liberdade de decidir “democraticamente” q voltariamos a pé, pra infelicidade da minha fatigada amiga e cujo semblante não se furtava em esconder seu desânimo por conta das pernas ressentidas de cansaço. Faltou pouco mas felizmente não avançou com ambas mãos em direção ao meu pescoço. Mas ainda assim a guria não se deixou abater e seguiu firme e forte, superando seus limites.
Resumindo, chegamos em Rio Gde da Serra as 18:40hrs quase cambaleantes e moribundos, feito zumbis, onde desabamos na padoca em frente da estação ferroviária, claro. Nossa suposta breve parada de 10min se esticou por mais e mais tempo, e assim mandamos ver sem mta dificuldade 4 garrafas de breja e 2 pacotões de salgados, onde comemoramos a trip mas principalmente o fato da Roberta tê-la concluído com garra e determinação. Preguiçosamente, deixamos o lugar um pouco antes das 22:00 pra chegar em Sampa somente uma hora depois. E claro, com tempo suficiente pra Roberta realizar um funeral digno de chefe de estado pra aquilo q já chamara de tênis de corrida. Nada mais justo e nobre como agradecimento pelos seus inúmeros serviços prestados. E nada melhor q esse último suspiro fosse numa trip de garbo e elegância pelos arredores serranos de Paranapiacaba.

E assim foi nossa incursão pelo pacato Córrego das Tartaruguinhas, no qual não vimos menor sinal do pequeno réptil q lhe empresta o nome. De qq forma, como foi dito no inicio deste relato, não deixa de ser mais uma alternativa pra bate-volta q pode ser emendado com qq outro programa da região. Com direito a mto visu e agua em fartura. Sendo assim as possibilidades são inúmeras, onde sempre será viável escancarar novas perspectivas de rotas pra trilhas tradicionalemente conhecidas. Só assim mesmo pra conhecer esta região a fundo, tal qual os pequenos cágados q perambulam anônimos e desapercebidos por seus incontáveis remansos ribeirinhos.


Jorge Soto
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