TRAVESSIA "SUPERMARINGUARÉ" CONQUISTA INÉDITA |
Seção:
Trekking -
Categoria:
Geral
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Escrito por Jorge Soto |
Qua, 29 de Setembro de 2010 12:12 |
O MARINS, A MARIA, A MARIANA, O MARINZINHO E O ITAGUARÉ
Já havia prometido a mim mesmo q não pisaria novamente no Pico dos Marins a menos q fosse pra realizar algo diferente do tradicional. Sempre optei explorar a repetir alguma trip. A última vez q estive lá foi com o Augusto e o Ricardo num saudoso inverno de 2003 a fim de palmilhar a hj batida "Maringuaré". Mas bastou o Angelo me colocar a par de suas despirocadas (porém interessantes) idéias de exploração do Pico da Maria e Pico da Mariana q foi o suficiente pra renovar meu interesse de meter as caras outra vez pela região. O próprio Milton Gouvêa, do Acampamento Base Marins (vulgo "Ranchonete"), guia e conhecedor daquelas bandas era reticente de não ter ciência de acesso aos picos supracitados ou quem o tivesse feito. Bem, não pelo menos sem corda. "Se vcs conseguirem, por favor me informem depois como se chega lá, ok?", nos disse como que tirando sarro. Alem da incerteza de acesso, o tempo seco e estiagem dos últimos meses faziam com q cada um tivesse q carregar, pelo menos, 5 litros do precioso liquido afim de garantir o proprio sustento pra tds os dias q a empreitada demandasse na montanha. Pronto, tava lançado o desafio. Chegamos então no Acampamento Base Marins (ex-"Ranchonete") por volta das 10hrs, onde somos recebidos pelo sempre simpático e falador Milton, q nos informa das condições tanto climáticas como da trilha nos últimos dias. Ali, na cota dos 1562m, damos os últimos ajustes nas cargueiras assim como coletamos um pouco de água, afinal bastou descer do veiculo q o sol começou a fritar nossa cachola sem dó! Particularmente estava com certo receio pois estreava uma nova mochila (presente do fotografo de aventura Andre Dib), mas no decorrer da trip estes receios foram infundados pois a dita cuja ajustou-se perfeitamente a minhas costas. Comecamos a andar efetivamente meia hora após ter chegado, mergulhando no frescor de uma florestinha sem gde variação de altitude e num ritmo bem compassado, até q desembocar numa estradinha de terra maior q bastou acompanhar ate o final, agora sim subindo suavemente uma crista serrana ascendente. A cada passada e cada curva na montanha, o visual lentamente se ampliava de forma deslumbrante, renovando nosso fôlego q teimava em sempre nos lembrar do enorme peso nas costas. A subida aperta mesmo qdo estrada termina após uma pequena porteira e dá lugar a uma estreita trilha q ziguezagueia, por meio de degraus e calombos, montanha acima através de altos arbustos. Não demorou a dar nos 1795m (1608?) do largo cocoruto plano forrado de capim e rocha q serve de mirante e atende pelo nome de Morro do Careca, as 11:10. A vista daqui nos dá um preview do q nos aguardaria la em cima em dose anabolizada. A beleza da geografia do Vale do Paraiba - pontuada por Piquete, Aparecida, Guará e Lorena - e do sul de Minas com suas montanhas verdejantes escondendo as cidades de Itajuba, Delfim Moreira e Marmelopolis. O maciço do Pico do Marins à nossa frente se agiganta diante do Careca destacando seus outros dois picos não menos imponentes, o Maria e Mariana, q la de cima pareciam nos desafiar ate seus cumes. A picada à esquerda nos leva novamente ao frescor da sombra de um arvoredo, onde uma clareira marcada tanto por restos de fogueira como por uma didática placa nos dizem q ali é o inicio de fato da ascenção ao Marins, assim como são dadas orientações e avisos aos visitantes. Contudo, seguimos descendo mais um pouco pela estrada ate um local encravado na mata onde é possível abastecer de água num pequeno córrego, q devido à estiagem limitava-se a um pequeno filete q demandou paciência pra encher nossos cantis. Já cientes da impossibilidade de obtenção do precioso liquido no alto e considerando q o pouco q há é de origem duvidosa, cada um levou em média uns 5L pra garantir o próprio sustento. Peso extra este q se fez sentir nas costas, pelo menos nas minhas. Voltamos à clareira e começamos oficialmente a ascenção ao Marins, subindo suavemente por uma óbvia crista florestada q sai do lado da placa. Mas logo emergimos da mata pra ganhar, em curtos ziguezagues, o capinzal esvoaçando ao vento da primeira gde e íngreme encosta ate vencer o primeiro cocoruto dos mtos q se seguirão. A trilha é nítida e se desenvolve pela crista dos morros sgtes de forma bem acentuada, o q vai nos distanciando uns dos outros. A subida é relativamente facil em termos de orientação, pra quem ta acostumado ja a pernar por ai. Tótens e setas pintadas na rocha estão sempre presentes pra auxiliar no rumo a seguir. No entanto, "Ha sempre uns manés q confundem as pessoas colocando totens fora da rota", reclama Milton. Ao longo da picada há alguns mirantes rochosos onde pode-se parar para descansar e tirar belas fotos dos arredores, e olhando por sobre o ombro já temos uma bela vista do Morro do Careca, q vai ficando lá atrás pequenino. Em contrapartida, o maciço principal do Marins mostra-se sempre à nossa direita, imponente, cada vez mais próximo. Alternando trilha q nada mais é um sulco de terra em meio a tufos de capim e largos trechos de aderências por lajotas de pedra, ganhamos altitude rapidamente, onde o visual do maciço principal descortinado a cada passo dado é simplesmente arrebatador e nos motiva a subir mais e mais. Mas qdo nos aproximamos das partes mais rochosas e íngremes a trilha vai se dirigindo para a esquerda e deixando de passar pelas cristas, onde alem de nos espremermos entre gdes pedras e mto capim alto, as escalaminhadas tb aumentam. Nesta condição o Marins deixará de ser avistado e o visu q temos de um lado é de paredões e maciços e de outro, geralmente à esquerda, as montanhas das MG. O destaque deste trecho foi uma cobra pelo qual o Angelo passou desapercebido, mas q a sempre atenta Lucilene alertou da presença. Após bordejar uma muralha enorme da crista por inclinadas lajotas onde destoam belos lírios vermelhos, a subida aperta através de uma sequencia de aderências rochosas íngremes, q demandam uso tanto dos pés como das mãos nos trechos mais verticais.Mas contornado este ultimo maciço q se interpõe entre o sul de MG e o Marins logo desembocamos no enorme platô de rocha e capim q serve geralmente de base aos campistas, onde voltamos a avistar ao sul o cume do Marins cada vez mais próximo. À leste de nossa posição há um morro rochoso e atrás dele o Pico do Marinzinho, ou tb conhecido como Pico Leste ou Pico do Piquete. É daqui q em tese sai a rota ate o Itaguaré, contudo como nosso objetivo é o cume do Marins atravessamos o platô, ignorando as clareiras próximas da "Água Amarela", nome popular como é conhecida a nascente do Ribeirão Passa Quatro. Ali uma lacônica placa do Clube Montês Itajubense alerta da enorme qtidade de coliformes fecais existentes nesse q seria o único pto de água da montanha, o q não deixa de ser lamentável. Qdo estive aqui 7 anos atrás esta água era potável e abasteceu meu cantil em mais de uma ocasião, mas infelizmente tem sempre aquele montanhista detentor dos "três i´s" (imbecil, ignorante e irresponsável) q resolve cagar próximo da água, tornando seu consumo inviável. Enfim, são coisas resultantes de qdo um lugar fica conhecido demais, batido e farofado. Em tempo, estamos na cota dos 2250m, pelo GPS do Angelo. Pois bem, da base do Marins nos deparamos com impressionante paredão de quase 150m de extensão, q vencemos através de uma sequencia interminável de escalaminhada e trepa-pedra pelas aderências e lajotas ingremes. E tome tração nas mãos e pés! A esta altura o cansaço começa a pegar ainda mais em virtude do peso extra nas costas, dando a impressão q estou carregando halteres cada vez mais pesados. Contudo, a vista q se descortina por sobre o ombro - tanto do platô de capim da base como do Marinzinho e Itaguare - nos dá um fôlego extra pra chegar no cume. Alcanço finalmente os 2421m cume do Marins a exatas 14:30 e literalmente desabo no chão. Minhas costas doem e o cansaço nas pernas é intenso, mas a sensação de ser o primeiro da trupe a chegar me conforta nem q seja por poucos momentos. No alto a vista é de 360 graus: de leste para oeste temos o Pico do Itaguaré com a inconfundível crista da Serra Fina logo atrás, alem das cidades de Cruzeiro, Cachoeira Paulista, Canas, Lorena, Guaratinguetá, Aparecida e Roseira; à noroeste vemos o Morro do Careca e td a crista percorrida vislumbrando tds os maciços e algumas das pedras que encontramos pelo caminho; à nordeste temos o Pico do Marinzinho; ao norte temos toda a região do Sul de Minas Gerais tudo o que se vê são as suas belas montanhas e a estrada que conduz aos municípios de Marmelópolis e Passa Quatro; para terminar, à sudoeste temos nosso objetivo do dia sgte, os maciços do Pico da Maria e da Mariana desabando em cristas menores q se esparramam vertiginosamente em varias direções do Vale do Paraiba. Fantástico! Uma curiosidade referente ao Marins diz respeito ao seu nome, batizado em homenagem a um bandeirante q passava mto pela regiao, Luiz Martins. Como os tropeiros q desciam a serra transportando mercadoria do sul de MG ao porto de Paraty tinham um vocabulário pobre, sertanejo e rude, pronunciavam o nome do pico de forma equivocada, q acabou pegando ate os dias de hj. O resto do povo so começou a chegar meia hr depois, assim como um grupo de jovens q se acomodou confortavelmente nas varias clareiras disponíveis e bem protegidas por tufos de capim q há no amplo e espaçoso cume. O resto da tarde nos resignamos simplesmente a descansar o esqueleto, apreciar as belas paisagens ao nosso redor e papear sobre os planos sgtes. E claro, a racionar parcimoniosamente nossa preciosa água. Após vários cliques do astro-rei pousando no horizonte dando lugar às primeiras estrelas pipocarem pelo firmamento, começamos o sagrado ritual da janta. Wagner e Angelo comeram suas comidas liofilizadas e naturebas, enqto eu e a Lu nos fartamos com um sopão de feijão engrossado c/ um miojo e atum apimentado q nunca esteve mais delicioso. Mas não tardou pro cansativo e longo dia cobrar seu tributo q nos enfurnamos em nossas respectivas barracas pra cair imediatamente nos Braços de Morpheus. Ao contrario do q supúnhamos, a noite na montanha não fora rigorosa e sim bastante fresca, com algum vento seco. Nessas condições, desnecessário dizer q dormi feito pedra sem nenhuma intercedencia. Entretanto, minha colega de barraca, apreenssiva com barulhos insistentes fora de sua chiquérrima Nepal, levantou e surpreendeu os minúsculos e atrevidos ratinhos de altitude fuxicando sua mochila! Mesmo com água escassa e sendo racionada de forma sagrada, o Wagner consumiu boa parte da dele já gerando uma certa apreenssão referente ao precioso liquido. O dia seria bem quente e qq esforço demandaria um consumo maior, portanto a partir de agora teríamos q ter bom senso em consumir o pouco de água q nos restava. Ainda assim, conseguimos preciosos 500ml extras com a galera q tb estava no cume e q retornaria naquele dia. Solidariedade montanhista é isso ai. Antes de andar ainda demos uma avaliada visual no terreno q teríamos pela frente, sempre comparando com um xerox da carta q tínhamos à disposição. Afinal, não dejavamos ter o mesmo fim do escoteiro Marco Aurelio, q desapareceu misteriosamente nessa mesma regiao em meados da década de 80. Pois bem, mochilas nas costas e assim zarpamos pontualmente as 8hrs rumo o Pico da Maria, vizinho do Marins. Da beirada deste ultimo basta avaliar quais são as lajotas menos íngremes e avançar por elas, alternando com o mato ao redor, e assim ir perdendo altitude. Não tem mto segredo, pois qdo a declividade nas lajotas aumenta basta se enfiar no mato e, segurando firmemente nas caratuvas e no capim a disposição, desescalaminhar ao patamar sgte ou lajedo menos íngreme. E assim sucessivamente. Como não há trilha o jeito é avançar na raça mesmo, sempre atentando bem a consistência de onde se pisa. Em menos de 20min, já quase no final da descida, um gde barranco nos separa do fundo do pequeno vale q interliga o Marins e Maria. Mas da mesma forma q antes, avaliamos os trechos mais firmes onde pisar (e se agarrar) q desescalaminhamos esta piramba com segurança ate o fundo de uma espessa florestinha de altitude. Daqui não tem mais erro pois bastou atravessar um túnel de bambus q terminamos emergindo, as 8:30, nos lajedos cercados de capim q forram a base do Pico da Maria. Daqui em diante não tem erro pois é td aberto e Pois bem, caminhando por lajes e capim bastou seguir sentido a borda oeste da base do Maria. Contudo, antes de dar no abismo de uns 50m q nos separava do estreito selado rochoso q interligava Mariana, o bom senso nos sugeriu tentar algum possível acesso pela encosta direita. Descendo degraus rochosos não tão íngremes, perdemos altitude suficiente pra ficar quase no mesmo nível do almejado selado. Bastou então ir de encontro a ele. Nos esprememos por uma estreita canaleta pedregosa q ladeava a encosta ate q deu num patamar firme de capim alto e cortante. Porem dele percebemos q o nos separava agora do selado era algo de 30m de um paredão vertical à nossa esquerda, passível de ser transposto somente com técnicas de rapel! Abaixo nosso um gde abismo jogava uma pá de cal em nossas pretensões de ganhar o Mariana por aquele lado. Decidimos retornar pra estudar melhor q estratégia adotar, mas difícil foi escalaminhar a estreita canaleta rochosa munido de uma pesada cargueira. Novamente na "próa" oeste da base do Maria e lá avaliar novamente as possibilidades de acesso. Nos debruçamos na rocha e vimos q um pouco abaixo havia uns matos de encosta q davam noutro patamar mais amplo, bem mais abaixo. Eu e o Angelo então desescalaminhamos ate onde poderíamos descer por esta rota, mas logo ela revelou-se ineficaz pois tb deu num trecho onde não dava pra prosseguir sem a ajuda de corda. Daqui o cobiçado selado devia estar apenas a uns 30m abaixo da gente! Contudo, daqui pudemos ver algo q de cima era impossível e q reascendeu nossas esperanças: uma estreita canaletinha rochosa descia bordejando a encosta vertical do Maria ate bem próximo do tal selado, e a presenca de mata alta nela significava q devia ter piso firme pra agüentar e dar apoio suficiente a um adulto. So bastava descobrir de onde partia essa tal canaletinha e eu tive já uma boa idéia de onde poderia ser. Novamente na base do Maria, retrocedemos o suficiente pra ficar numa espécie de "selado" entre o cume e a base. Dali vimos uma canaleta (quase uma greta) rochosa íngreme q descia forte na direção desejada e q provavelmente interceptava aquela q havíamos visto logo adiante. Pois bem, ate lá já eram quase 11:30 e havíamos perdido a manha td naquele processo de "tentativa e erro" de acesso ao Mariana. Agora seria o ataque derradeiro. Bem, se não desse, pelo menos poderíamos nos vangloriar e dizer q tentamos. Retroceder do nada, jamais. Como o ataque era exploratório e relativamente pauleira, a Lu e o Wagner decidiram permanecer ale tomando conta de nossas cargueiras. O Wagner tb preferiu não se desgastar alem da conta pq tava consumindo muita agua e a dele já tava quase no talo. Pois bem, eu e o Angelo então começamos a descer a canaletinha nos agarrando firmemente no mato ao redor ate q mergulhamos numa florestinha baixa. Ali serpenteamos pequenas arvores retorcidas ate cair num patamar rochoso no aberto, de onde avaliamos o rumo a seguir. A canaletinha seguia piramba abaixo, mas daqui tínhamos q seguir pela beirada vertical do paredão onde estava a outra canaleta avistada. Desescalaminhamos o patamar nos firmando no capim e em duvidosas raízes podres ate ganhar a tal canaleta. Uhúúú! Agora bastava seguir por ela, sempre colado ao paredão principal! No entanto, o q parecia fácil revelou-se um vara-mato de bambuzinho infernal! O Angelo foi na dianteira abrindo passagem e eu fui logo atrás, repetindo o processo de baixar o mato de modo a facilitar o retorno. As vezes tínhamos q "nos jogar" sobre o mato pra conseguir baixá-lo, e assim avançar! O processo inicialmente foi lento, mas constante. Não tardou a cair num trecho não tão obstruído de bambus onde o caminhar/escalaminhar não teve maiores dificuldades, alternando subidas e descidas. Era evidente q onde estávamos ninguém havia estado pq não havia marca de facão e mto menos rastro de trilha. Eramos os primeiros naquele cafundó do Marins! Seguindo em frente no mesmo compasso, logo pudemos ver o tal selado cada vez mais próximo, e assim aumentamos nosso ritmo, cada vez mais contentes. E assim às 12:30, após um ultimo lance de escalada, chegamos enfim no estreito selado q nos tomara td a manhã em chegar! No entanto, a comemoração foi breve pois nuvens começaram a tomar conta de td Vale do Paraiba e ameaçavam subir ate o alto das montanhas, nos obrigando assim a retornar ate nossos colegas. A volta foi bem mais rápida q a ida, lógico! Havíamos deixado praticamente uma "avenida" em nossa passagem, q se não for utilizada ira fechar em breve, lógico. Uma vez na cia do resto do pessoal iniciamos a volta ao Marins, as 14hrs, refazendo td trajeto daquela manhã, agora em árdua em vigorosa escalaminhada de mato e rocha. O calor daquele inicio de tarde era palpável e nos tentava a td momento a beber água alem da conta. Alias, a demanda pelo precioso liquido foi um fator critico pois havíamos subestimado nosso consumo. No topo do Marins, as 15hrs, desabamos na sombra do alto capim elefante afim de descansar e dar continuidade à pernada.Não havia mais ninguém ali e ficamos bem a vontade, donos absolutos do pedaço. Mas dez minutos depois retomamos a caminhada rumo à base da montanha onde, sem pressa alguma, chegamos no acampamento da "Agua Amarela" por volta das 16hrs, no mesmo instante em q brumas ameaçavam tomar conta do platô. Ali nos separamos do Wagner, q alegou estar sem agua suficiente pra continuar a travessia. Contudo, retornaria ao veiculo e no dia sgte se prontificou a nos buscar no inicio da trilha do Itaguaré. Nos despedimos de nosso colega e o trio restante deu continuidade à pernada, agora rumo Itaguaré. Atravessamos o vasto capinzal q forra o platô, acompanhando o curso do Ribeirao Passa Quatro ate sua provável nascente, quase no inicio da primeira lombada rochosa ascendente, comumente chamada de "Morro da Baleia". Aqui, a tal "Agua Amarela" encontra-se empoçada e é bem mais confiável q na área de acampamento. Por estar confinada numa greta coberta de mato, impossível ela ter sido maculada com qq espécie de dejeto mais acima. Claro q foi nossa alegria pois bebemos à vontade e reabastecemos nossos cantis. Subimos o tal "Morro da Baleia" onde a trilha nos levou num pequeno platô de alto capim elefante, onde chapinhamos um trecho de charco ate ganhar novamente as altas encostas da crista pedregosa sgte, rumo Marinzinho. Aqui houve uma certa confusão de rota mas assim q descobrimos as marcações -fitas azuis e tótens - não teve mais erro. Já era relativamente tarde, algo de 17:20, e as cores de fim de tarde já tingiam o céu naquele inicio de primavera. Mas nossa preocupação de encontrar um lugar decente de pernoite se diluiu ao esbarrar com uma perfeita (e improvável) pequena clareira na crista q acomodou confortavelmente nossas duas barracas, na cota dos 2343m, um pouco antes do topo do Marinzinho!
MARINZINHO E ITAGUARÉ Arrumamos as coisas após um farto desjejum e pusemos pé-na-trilha as 8hrs, no exato momento em q um sol tímido ameaçava sair entre as nuvens. Continuamos pela crista, agora subindo ao alto dos 2432m do Marinzinho, onde nos esprememos feito calangos por entre as pedras ate dar no outro lado, de onde já podemos apreciar td trajeto pela crista q teremos ate o fim, assim como o Itaguaré e a Pedra Redonda, uma bola rochosa q parece se equilibrar a meio caminho. A longa descida do Marinzinho começa íngreme, mas uma corda disposta estrategicamente nos ajuda a vencer um bom trecho daquela medonha parede rochosa. Na sequencia segue-se um interminável ziguezague q serpenteia capim e algum bambuzinho q desemboca num enorme selado, já quase 200m abaixo do topo do Marinzinho. A caminhada pela crista é constante, mas puxada. O sobe e desce é continuo e requer bons joelhos nos trechos de declividade além de mãos com ventosas, nos aclives. Nesse ritmo forte chegamos finalmente no alto das 2330m da Pedra Redonda, as 9:30. A pedra tem aspecto redondo conforme a posição, pois ali do lado dela lembrava um retângulo, e foi na sombra dele q tivemos um breve momento de descanso e de beliscar alguma coisa. Nesse meio-termo encontramos um trio q fazia a travessia no sentido contrario e a quem passamos algumas infos do Marins e Marinzinho. A caminhada prossegue em franco declive numa sucessão de trechos onde voçorocas e túneis de bambus q insistem em se agarrar em qq saliência da mochila,não deixando os braços livres da tarefa de desenroscar os maleditos. Foi aqui q senti a diferença da ótima mochila q ganhara, mas cuja altura bem suporior à minha parceira de perrengues ainda não havia me familiarizado, facilitando enganchadas aqui e ali. Haja teste de paciência! Isso sem falar nos pequenos platozinhos forrados de alto e cortante capim elefante q geraram alguma confusão de continuidade do trajeto, mas q guardam tanto confortáveis areas de acampamento como dejetos de animais selvagens. Pra cada descida vinha logo uma subida onde mãos e pés eram colocados a prova, se firmando tanto no mato como na rocha. Dessa forma o sobe e desce pela crista mantêm-se, forte, inipterrupto e constante. O consolo q nos gratificava era estar mais proximo do Pico do Itaguare, exibindo seus imponentes contrafortes reluzindo à luz do meio-dia. Após uma forte descida mergulhando na mata seguida de uma escalaminhada no mesmo ritmo, as 12:15 paramos pra descansar no alto dos 2162m de um cocoruto rochoso com bela vista das ranhuras verticalizadas Itaguaré, quase ao alcance das mãos. O sol e calor eram palpáveis mas infelizmente não havia sombra alguma pra nos refrescar, deixando o semblante deste q vos escreve pra lá de tostado. Alem de comer algo tb pude avaliar os cortes e espinhos nas mãos, pois minhas pernas já estavam totalmente anestesiadas de tão raladas por conta do mato q eventualmente cruzava a trilha, principalmente um chamado com propriedade de "unha-de-gato". Retomamos a pernada através dos dois últimos selados q nos separavam do pico desta escarpada e acidentada crista. Passamos pelo "Castelinho", a ultima gde clareira no trajeto antes do Itaguaré, onde é possível acampar com bela vista do gigante rochoso. O trecho final contorna a crista através de lajotas inclinadas pela esquerda ate dar no ultimo selado, onde a nova escalaminhada q se segue nos leva ate enormes blocos rochosos q parecem nos emparedar. Estes túneis de rochas desmoronadas são transpostos sem as mochilas, uma vez q existem fendas onde alguém acima do peso não passa nem por ordens expressas do alto comando. Após a ultima gde escalaminhada desembocamos finalmente quase na base do Itaguare, as 14hrs, mais precisamente em sua encosta rochosa norte. Ali, temos um belo visual do platô base e do pico menor do Itaguaré, coisa de uns 100m abaixo de onde nos encontramos. Após breve descanso sob o forte sol da tarde, escondemos as cargueiras entre os arbustos e capim pra começar o ataque ao gigante rochoso q nos acena boas-vindas. Daqui não tem mto erro ganhar o topo pois basta acompanhar os totens, vestígios de trilha ou apenas por onde a pedra parece mais pisoteada. Alias, a ascencao ao pico agora seria feita pela face oposta àquela q observávamos desde inicio da travessia. Dessa forma, após largos ziguezagues através de rampas, degraus e aderências rochosas sucessivas - algumas bem íngremes - terminamos dando nos 2330m no topo escarpado do Itaguaré, as 14:20. O cume se estende numa sucessão de enormes blocos ao sul. É preciso transpor um abismo na base do sangue frio - apropriadamente conhecido como "pulo do gato" - no salto ou sobre uma pedra q serve de "ponte" duvidosa. Aqui apenas eu e o Angelo prosseguimos já q a Lu declinou deste trecho adrenado onde observa-se perfeitamente sob os pés um penhasco de mais de 100m vertiginosos! Indo pra "proa" do cume através de uma trilha obvia e sucessivas rampas,atingimos o extremo norte do topo, onde nos empoleiramos feito gargolas nas varias rochas afim de apreciar o belo visual q se descortina a nossa frente.O Marins e td crista percorrida serpenteando um tapete de nuvens q forra td Vale do Paraiba é espetacular, mesmo não dando pra ver as cidades de Aparecida, Guará, Lorena e Cruzeiro. Somente o sul de MG era facilmente discernível, Passa Quatro e São Lourenço pontilhado de fazendinhas e estradinhas rurais, assim como o som do Ribeirao Brejetuba rugindo nalgum fundo vale ao pé do maciço. Após descansar e contemplar o visu, retornamos pra buscar as mochilas e dar continuidade à pernada por volta das 15:30. Continuamos descendo ate o platô de capim q é base do pico, onde descobrimos q o riacho q antecede a área de acampamento local estava totalmente seco. Era hora de cair na real, pois meu estoque de agua havia terminado faz tempo e contei com este local pra reabastecer. Danou-se, mas felizmente pude dividir pequenos goles q ainda restavam na garrafa da Lu. Bem, agora havia q agüentar na secura ate o final. Sair daqui foi meio q problemático e tivemos uns perdidos, pois tanto minha memória qto a do Angelo não tava ajudando muito qto relembrar de onde partia a trilha de saida. Mas atentando á lógica da disposição de totens locais refrescou alguns detalhes daquela saudosa trip de 2003. Da área de acampamento partia uma picada q seguia sentido noroeste ate dar num gde cocoruto. Seguindo sucessivamente por rampas de pedra logo nos vemos perdendo suavemente altitude, agora indo pra nordeste, serpenteando rochas no caminho. Mas logo segue uma piramba íngreme e longa através de uma vala rochosa q parece mergulhar na mata, onde há uma bifurcação. Uma vez na mata não tem mais erro, pois foi so descer forte quase em linha reta rasgando uma interminável florestinha silenciosa no q não era mais trilha e sim uma vala bem erodida q demanda atenção e mto joelho, q cismava em fraquejar a qq momento! Assim sendo engatamos pto morto e não paramos! Neste trecho sacal nos distanciamos uns dos outros, cada um seguindo seu ritmo. No caminho, há algumas saídas pra esquerda q nada mais são acessos a mirantes rochosos com vistas q se debruçam pro norte, mas q dispensei pois minha mente so objetivava uma coisa com vontade: água! Dessa forma inabalável e compassada perdemos facilmente 700m de altitude, haja perna! A mata cresceu de tamanho, ficou mais densa e ganhou vida, mas o melhor era ouvir o som do precioso liquido correndo em abundancia bem próximo, algo q soou como música a meus ouvidos. Apressei o paso e tropecei com um riozinho q nunca foi mais q bem-vindo. Desnecessario dizer q quase bebi o riacho todo, alem de fazer mais uma boquinha enqto aguardava o resto do povo. Assim q o Angelo e a Lu apareceram, cruzamos o riacho e prosseguimos a pernada, agora na horizontal acompanhando o mesmo ao longe. Temos um pequeno desnível na sequencia ate q cruzamos novamente o riacho e bem mais adiante caímos numa trilha maior, onde uma placa indicando bifurcação pra Cruzeiro já nos diz estar próximo do inicio da trilha. Dito e feito, damos num cruzamento de riachos q após os mesmo logo desembocamos nos 1540m do descampado gramado q oficializa o "Acampamento Base Itaguaré", as 18hrs. Uma estrada de terra ao lado tb indica estarmos nos arredores de Barreiro, erroneamente indicado na carta topográfica como Faz. Tres Barras. Bem, com o horário avançado, a noite e a temperatura caindo rapidamente ficamos nos indagando de onde estaria nosso suposto resgate, pois o Wagner já deveria estar ali à nossa espera conforme havíamos combinado. Mas foi qdo começamos a enchê-lo de impropérios e buscávamos já bons locais pra acampar q o mesmo surge do nada, apontando os faróis do Ford Ecosport na nossa direção! Antes q suas orelhas calcinassem, nos explicou q demorara devido as péssimas condições da estrada. Desencontros a parte, embarcamos no veiculo e retornamos pra paulecéia naquele inicio de noite. Claro q uma vez na "Terra da Garoa" coroamos nossa respeitavel empreitada numa pizzaria onde nos fartamos de comida de fato! E bebes tb! Marins, Maria e Mariana
Platozão base
Cristas despencando
Mariana
Topo do Mariana
Selado entre Maria e Mariana
Amanhece sobre o Itaguaré
Acampamento na crista
Pedra Redonda
Crista até o Itaguaré
Itaguaré
Escalaminhada
Topo do Marins
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