CAMINHO DOS AMBRÓSIOS: DO GARUVA AO MONTE CRISTA Imprimir
Seção: Trekking - Categoria: Geral
Escrito por Jorge Soto   
Qua, 12 de Maio de 2010 12:40

 

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Muitos foram os caminhos coloniais utilizados pelos primeiros colonizadores europeus pra vencer a distancia entre o litoral paranaense e o planalto curitibano. Dentre eles, o "Caminho dos Ambrósios" (ou "Caminho das Três Barras")

 foi um dos mais utilizados e, coincidentemente, um dos menos conhecidos. Iniciando na Baia de Babitonga (SC), corria por entre a sinuosidade escarpada da abrupta Serra do Mar catarinense através de ardiloso calçamento de pedras ate alcançar o alto do místico Monte Crista, pra dali em prosseguir pelos campos altos sentido noroeste. E foi esta vereda histórica q resolvemos palmilhar no sentido inverso, emendando também a subida ao Pico Garuva. O resultado é uma travessia de 3 dias árduos q une a beleza cênica natural de planícies dos Campos do Quiriri, a verdejante Mata Atlantica de encostas e riachos encachoeirados com o encanto de vestígios de um caminho histórico ainda preservado, nesta região isolada e selvagem na divisa dos estados de SC e PR.

Desta vez o péssimo humor de São Pedro em td região sudeste foi o responsável de nossa debandada pro sul neste final de ano. Não q lá estivesse melhor e sim "menos pior". Q fosse, pois era a deixa pra retornar novamente e dar vazão à novas explorações de uma serra q havia deixado aquele gostinho de "quero mais" na nossa ultima incursão em outubro, a Serra do Quiriri. Dessa forma e com td meio q planejado às pressas, num piscar de olhos eu, Laure, Mamute e Roberta nos vimos rasgando a madrugada de Sampa por uma Regis Bittencourt (BR-116) incrivelmente deserta, o q era bom sinal. Só assim pra logo começarmos a descer a serra rumo litoral e alcançarmos a divisa estadual de PR-SC, onde já devíamos atentar ao nosso destino final. Até ali o tempo mostrava-se generoso demais, silhuetando os contornos escarpados da verdejante e grandiosa Serra do Mar catarinense.

SUBINDO O GARUVA

Após trocar a BR-376 pela BR-101, não demorou mto a chegar à pacata Garuva, por volta das 9hrs, já tomando a curta estradinha de terra na "Casa de Pedra", à direita do asfalto. Simplorios casebres perfilados com arquitetura típica sulista denotam q aqui ser a "perifa" da cidade, mas independente disso foi aqui mesmo q largamos o veiculo. Dificil foi dar os últimos retoques e ajustes em nossas respectivas cargueiras, principalmente pelas insistentes "boas-vindas" de um pulguento local como tb dos inconvenientes borrachudos, q proliferam aos montes nesta época do ano. Iniciamos oficialmente a pernada logo em seguida, as 9:15, como GPS do Mamute marcando exatos 70m de altitude. Da estradinha bastou cruzar por cima das pedras o manso Rio da Onça, e dali simplesmente tocar pra cima, em suave aclive. O tempo não poderia estar melhor: a nebulosidade parcial no firmamento permitia enormes frestas de céu azul, q por sua vez lançavam vigorosos raios solares realçando o tom verde-escuro das montanhas, à nossa frente. O Garuva, por sua vez, nos desafiava com seu almejado cume, acenando ainda a mais de mil metros sobre nossas cacholas.


Após um trecho sem gde desnível e passar por baixo de torres de alta tensão, deixamos o aberto pra mergulhar finalmente na mata fechada. A estradinha há mto tempo já havia dado lugar a uma picada, q agora se alternava numa pequena vala e um rabicho de trilha, entremeada de charco e brejo. Entrar na mata fechada sempre foi sinônimo de "frescor agradável", desde q não seja verão, claro! O forte calor abafado era quase palpável, nosso passo era lento e não tardou a tds ficarmos ensopados de suor! Além do mais, já de cara esbarramos com 2 (sim, duas) jararaquinhas na trilha, o q nos fez redobrar a atenção onde pisávamos! Contudo, a subida prosseguiu suavemente, apenas atentando a duas bifurcações no caminho (esquerda e direita, respectivamente), sempre tendo o som audível do Rio da Onça ao nosso lado, escondido no fundo do vale.


As 10hrs caímos num tronco caído q sinaliza a bifurcação pra Cachu da Onça, à direita, à qual se chega após descer uma curta, porem íngreme e escorregadia piramba. Claro q esse não foi empecilho pra nos dar o luxo de molhar nossa goela, encher os cantis e refrescar nossa cachola com água pura e cristalina! Eu ainda tive o "privilegio" de dar um tchibum "forçado" nos poços do Rio da Onça, escorregando numa pedra e ganhando um machucado no cotovelo q me incomodou o restante da trip.
Revigorados, prosseguimos a pernada justamente no trecho onde a subida de fato aperta, sempre avançando através de uma crista obvia e com mato caindo de ambos lados! Com a declividade aumentando consideravelmente, as pirambas seguintes foram sucessivamente vencidas inclusive com uso constante das mãos, q buscavam se agarrar a qq galho, tronco ou agarra disponível, enqto os pés fincavam-se firmemente no emaranhado de raízes q brotava do chão! Cuidados mais q redobrados pois alem da altura vencida, o trajeto estava repleto tanto de buracos e gretas escondidos como de lances de chão-falso, onde uma cobertura densa de folhas apoiava-se traicoeiramente sobre raízes próximas. As paradas pra retomada de fôlego são constantes, porem breves, pois nuvens de pernilongos não nos dão trégua de descanso. Ainda assim, as meninas guentaram o perrengue firmes e fortes!


As 13hrs fizemos um breve pit-stop com direito a lanche numa "grutinha" formada por enormes pedras desmoronadas no meio da trilha. O local foi mais q bem-vindo pois o frescor em seu interior deu breve trégua ao calor abafado da mata, q lentamente ia nos consumindo. Enxotados do local por nuvens de mosquitos q mais pareciam praga bíblica, demos prosseguimento à nossa escalaminhada em meio através de enormes pedras, exatamente no momento em q nuvens cobriram o céu e começou a chover fino sobre a mata.


Emergimos da mata as 14hrs, desembocando numa enorme clareira com restos de fogueira e alguma sujeira. A partir daqui, na cota dos 986m, a picada percorre uma campina pra novamente mergulhar na mata, sempre galgando cristas sucessivas. O calor abrandou consideravelmente pois enqto avançávamos íamos enxugando a mata no caminho, e algumas frestas na mesma possibilitavam apreciar o alto do nosso destino, cada vez mais próximo! Dessa forma, após nos espremer por emaranhados de raízes, troncos e bambuzais, serpentear blocos enormes desmoronados, escalaminhar novas pirambas e bordejar o ultimo trecho de encosta, deixamos a mata pra ganhar finalmente o campo aberto do selado q une o Pico Garuva e o Pico Jurema (1229m), montanhas irmãs formadas pelo contraforte da Serra do Quiriri! Daqui bastou tomar à direita e acompanhar a trilha subindo a campina. Olhando por sobre o ombro observávamos a estreita e recortada crista unindo as duas montanhas, pra logo densas brumas cobrirem em definitivo a paisagem! E logo atingimos o alto dos 1292m q representam o cume do Garuva as 16hrs e desabamos no chão, exaustos! Visu q é bom, nada, uma vez q a essa altura estava bastante encoberto, porem a chuva já havia cessado faz tempo! Mal víamos uns aos outros, tão fechadas as nuvens, sem contar um tapume cobrindo os demais picos elevados do Quiriri. Afinal, a região é um dos anteparos das nuvens que deixam o litoral, e não são freqüentes as possibilidades de se chegar o topo sem encobrir-se em nuvens densas. O som de estrondosos ribombos no céu nos lembrou q ainda não era hora de parar. Poderiamos ter acampado ali, mas o local era demasiado exposto e fortes ventos fustigavam a montanha! Imagine aquilo lá com uma chuva torrencial? Por isso, retomamos a pernada, descendo campinas sucessivas em busca do vale mais próximo e protegido, de preferência com água pro pernoite. Perdendo altitude gradativamente em meio ao nevoeiro e cruzando pequenos trechos de arbustos e jardins de bromélias, estacionamos em definitivo numa encosta não mto íngreme do lado de um vale, as 18hrs. Na cota dos 1145m, o local era perfeito: coberto de capim ralo, não mto inclinado e próximo de água!


Montamos as barracas no exato momento em q o tempo começou a abrir, pra dar sequencia ao ritual de preparo da janta no aberto! Mas como o tempo no Quiriri é imprevisível, uma breve chuva de verão voltou com força nos obrigando a preparar o rango no interior das barracas, deixando as mesmas parecendo autenticas saunas secas somando-se o calor abafado local! Mas assim q a chuva passou pudemos respirar aliviados e degustar nossos suculentos miojos e nhoques ao ar livre, já sentindo a brisa típica q prometia o dia sgte ser de bom tempo! Mergulhamos no mundo dos sonhos bem antes do manto negro noturno se debruçar sobre o Quiriri, o q ocorreu após as 20hrs. Choveu consideravelmente e esteve frio durante a noite, mas nada q prejudicasse nosso merecido e aconchegante descanso após um dia extenuante como aquele.


ACOMPANHANDO O RIO TRÊS BARRAS

Dito e feito, o dia amanheceu radiante e sem vestígio algum de qq nuvem no céu! Animados, prontamente arrumamos nossas coisas enqto garfávamos nacos de nosso desjejum! Assim, pusemos pé-na-trilha as 8:15, já descendo ate o fundo do vale onde abastecemos os cantis, embora água não fosse problema durante o resto do dia.
Subimos o morrote seguinte sem pressa sempre acompanhando rastros de picada q fossem no sentido desejado, isto é, pro oeste. No alto, parada pra fotos diante do belo panorama q se apresentou: campos e mais campos ondulados à oeste; montanhas enormes, ao norte; o espelho dágua da Baia de Babitonga ao sul; e as cumieiras do Garuva e Jurema dominando a paisagem à leste! Depois prosseguimos em direção à oeste, subindo e descendo suavemente, acompanhando a crista abaulada dos campos sgtes, cuja beleza era realçada pela incipiente iluminação matinal! Passamos por córregos cristalinos, bordejamos pequenos morrotes e desviamos de blocos enormes de rochas solitárias no campo, cujos pastos floridos dançavam ao sabor do vento!
Alcançamos então um ponto onde a picada começou a desviar pro norte, onde pudemos divisar ao longe o Morro da Antena, pequenino, espremido pelas montanhas e campinas q o antecediam! Entretanto, nosso destino não era naquele sentido e sim pro oeste, onde nosso avanço era "obstruído" pelas pirambas íngremes de uma nova montanha. Bem q tentamos acompanhar picadas q a contornavam tanto pelo sul como pelo norte, mas vendo q logo depois as mesmas sumiam aliado à incerteza diante do terreno q depois se apresentaria cobriu de razão nossa decisão a seguir: subiríamos a montanha ate o alto e lá estudaríamos o trajeto sgte com mais precisão!


A subida da montanha foi lenta e vagarosa, ora em linha reta ora em ziguezague, sempre no aberto e sem trilha! Mamute ia na frente observando atentamente os ptos do GPS enqto as meninas iam atrás, ofegantes, a passo de "lesma paraplégica"! E eu ia no meio, apenas apreciando as vistas e horizontes q se abriam a medida q ganhávamos mais a mais altitude, com destaque pro rastro percorrido ate entao deixado na vastidão das campinas, cercado pelas imponentes montanhas ao redor! O ultimo trecho antes do cume era dominado por imensos blocos de pedras q bastou desviar pela direita.


Atingimos o alto dos 1335m da montanha as 10:30, onde desabamos no pasto e nos presenteamos com um breve momento de descanso e lanche! Estavamos no pto mais alto da travessia, provavelmente a Pedra do Urubu (ou do Lagarto, sei lá), e mesmo com nuvens marotas ameaçando cobrir a paisagem pudemos tanto nos encantar com a paisagem q se descortinou como estudar o rumo a seguir! À sudoeste pudemos ver perfeitamente os campos ondulados formarem uma quase crista rumo sentido desejado e era pra la q devíamos ir. E foi o q fizemos, subimos e descemos suavemente através da campina sem gde perda de altitude ate q reencontramos vestígios da vereda q vinha do norte, provavelmente da Fazenda Quiriri, aquela próxima do Morro da Antena! Ou seja, estávamos no rumo certo!


A pernada prosseguiu sem gdes intercedências principalmente à gde habilidade do Mamute com seu aparelhinho, q complementava nossa navegação visual qdo as nuvens cobriam a paisagem! Dessa forma atravessamos vastas campinas, topamos com as nascentes do Rio Três Barras e cruzamos poucos capôs de arbustos, sempre nos mantendo em nível e eventualmente bordejando morros maiores pela encosta direta. Assim caímos numa larga crista de pasto q bastou acompanhar sentido sul, tendo fundos vale de ambos os lados, onde o ruidoso Rio Tres Barras ganhava cada vez mais e mais volume!


A pernada se manteve no mesmo compasso durante um bom tempo, ate q alcançamos uma beirada de serra onde tivemos o primeiro contato visual com o Monte Crista, as 12:13! Localizado num serrote esparramado à sudeste, ainda havia q vencer uma nova sequencia de cristas e morrotes menores até lá, com trilha bem obvia e visível! Com ritmo inabalável, continuamos desimpedidamente nossa empreitada agora sob forte calor do inicio de tarde! Descendo através de cristas e cocorutos sucessivos e cada vez mais próximos do Monte Crista, passamos inclusive por blocos rochosos q escondiam tocas e algum lixo. Estavamos no rumo certo mesmo!


Contudo, o sol nos minava cada vez mais, fritando nossos miolos! Parecia q o calor não vinha de cima e sim de baixo, principalmente qdo atravessávamos matacoes de samambaias! Não víamos a hora de alcançarmos o fundo de algum vale, de preferência o do Rio Tres Barras, q corria ruidosamente à nossa direita, ao longe! Dessa forma, a trilha prosseguiu sempre rumo sudeste, onde encontramos trocentas clareiras e áreas de acampamento (e muito lixo, infelizmente), mas depois virou levemente pra sudoeste, cada vez mais próxima do Rio Tres Barras, q aquela altura era nosso "objeto do desejo" diante daquele calor dos infernos! Não demorou a desembocarmos num trilho calçado de pedras q ia no sentido desejado. Era o famoso "Caminhos dos Ambrosios" ou "Caminho das Tres Barras", pois acompanhava o dito ribeirão ate sua foz! O mesmo me lembrou muito o "Itupava"(PR), a "Trilha do Ouro"(RJ) ou ate mesmo a " Trilha Inca" pois é de uma largura regular (perto de 1,5 m) e com as pedras dispostas sob um arranjo ordenado! E de certa forma os Ambrosios tem algum parentesco com esta ultima, uma vez q é remanescente catarinense do "Caminho do Peabiru", um trilho indigena q vinha mesmo do Peru!


Divagações históricas a parte, logo o caminho desviou pra leste, evidentemente indo de encontro ao Monte Crista! Antes, porem, tomamos uma bifurcação obvia à direita q nos levaria ao Rio Tres Barras! Dito e feito, não pensamos duas vezes e foi pra la mesmo q fomos naquele calor infernal! A picada desce numa pirambeira só a encosta final do morro, alternando vala erodida, degraus de pedra e lajotas escorregadias besuntadas de limo, em seu trecho final! Mas td isso teve seu prêmio qdo desembocamos, as 14:30, no riacho q tanto almejávamos! Poções, piscinas e cachus pra dar e vender eram a recompensa mais q merecida naquele dia! Com td isso a nossa disposição e donos absolutos daquele paraíso, encerramos nosso expediente ali mesmo, descansando e nos refrescando nas águas do Três Barras ate não poder mais!! E dessa forma passamos a tarde td ali, lógico! Por volta das 17:30, vendo q algumas nuvens se adensavam no céu, retornamos à contragosto afim de buscar um local pra pernoitar, o q não foi difícil de encontrar. Subimos novamente ate a bifurcação pro Monte Crista q logo depois havia uma boa clareira protegida onde jogamos as coisas no chão, em definitivo, lá pela cota dos 835m! Apesar do horário o calor ainda era infernal e precisou o sol pousar atrás das montanhas pra finalmente termos um tempo mais ameno.


Após montar as barracas preparamos uma janta coletiva, onde nosso chef Mamute cozinhou uma mistureba de td q tinhamos q nunca esteve tão delicioso: um mix de miojo, yakissoba, calabreza, ervilhas, queijo e sei-la-mais-o-q!! Na sequencia, nos recolhemos a nossas respectivas barracas, mas o sono custou a vir em virtude do calor, inclusive à noite! Não bastasse ainda havia o inconveniente dos pernilongos, q fizeram um banquete conosco e so sossegaram qdo a madrugada tornou-se mais fresca! Entretanto, a madrugada fora agraciada por uma esplendida e maravilhosa lua cheia, q iluminou tds as montanhas e campos ao nosso redor!


NO ALTO DO MONTE CRISTA!
A manha sgte raiou tal qual a anterior: com promessas de um dia de céu azul e estupidamente ensolarado! Por conta disso levantamos bem cedo afim de não pegar o calor abrasivo matinal e poder pernar num tempo mais agradável e ameno. Imediatamente nossas mochilas engoliram o equipo e nós, nacos de bolachas e bisnagas! Zarpamos então por volta das das 7hrs, enxotados de nossa clareira por nuvens de pernilongos q protestavam nossa breve ocupação de seu habitat.


Tomando a picada sempre sentido leste, imediatamente caímos nos "Ambrosios" q por sua vez desceu por um tempo e mergulhou na mata de um pequeno vale, onde abastecemos os cantis num riachinho. Emergimos outra vez no aberto, agora subindo, descendo ou bordejando pequenos morrotes, ate finalmente alcançar uma crista principal. Foi aqui q topamos com nossa 3ª peçonhenta, q dormia folgadamente no meio da trilha! Ganhando altitude agora lentamente crista acima, agora através de uma picada-vala, não demorou a cair num belo mirante lajotado à beira de um enorme precipício! Claro q houve pausa pra cliques! Na sequencia caímos no selado recortado q nos separava do Crista, pra em seguida subir vigorosamente a inclinada piramba final, q exigiu bastante fôlego e pernas pra ser vencida!


E assim, as 8:30 alcançamos um trecho do alto dos 967m q assinalam topo do Monte Crista! A montanha mais conhecida de Joinville ganha este nome pq seu cume parece uma "crista de galo", q por sua vez se esparrama escarpadamente ainda pra oeste! Entretanto, nos mantivemos apenas à parte leste dessa tal "crista", q oferecia vistas soberbas da planície catarinense, com destaque pra Baia de Babitonga (em S Fco do Sul), de Guaratuba, da BR-101 e da Pedra Branca de Araraquara! O cume rochoso tb apresentava pequenas e providenciais clareiras, como tb muito lixo e pixacoes, infelizmente! Agora entendi pq essa montanha é tida como "mística" e atrai td qto é farofeiro sem consciência alguma! Pausa pra descanso e beliscar alguma coisa ao sopé da "Pedra do Guardião", uma curiosa formação rochosa q lembra qq outra coisa (fálica, principalmente) menos um "homem sentado", como diz a lenda. Não deu nem meia hora de relax q retomamos a pernada, agora descendo o Crista, onde de cara uma pequena placa laconicamente anunciava q teramos sinuosos 7km pela frente! Da "Pedra do Guardiao" a trilha embica fortemente a encosta abaixo ate nos despedirmos do aberto e mergulharmos num matagal de samambaias, q é vencido desescalaminhando lances de pedra, sulcos e algumas valas! Logo caímos novamente na trilha íngreme, desta vez ancorada por tabuas de madeira pra conter a erosão! Aqui o pessoal montanhista de Joinville realmente mostra q alguns de seus mutirões tem efeitos positivos!


Mas uma vez na mata fechada não demora a cairmos em definitivo no ardiloso calçamento de pedras dos "Ambrosios", cuja umidade o deixava liso feito sabão e não evitou q tds tivéssemos nossos respectivos capotes! Por conta disso a descida foi feita lentamente, com td cautela e cuidado, e não raramente descíamos pelas beiradas do caminho, próximo á mata, e não pelo seu miolo. Assim pudemos apreciar melhor os detalhes q nos cercavam, seja como a densa mata ao redor, as bicharadas q eventualmente cruzávamos, como simplesmente bebericar água fresca e cristalina, q esteve sempre presente na forma de bicas despencando da montanha!


Perdendo altitude rapidamente aos ziguezagues, cruzamos com as duas primeiras almas vivas da travessia, um pai suado levando o filho novo prum perrengue! A medida q íamos descendo, o calor abafado ia ficando cada vez mais quente, nos deixando ensopados num piscar de olhos! Da mesma forma, o numero de pernilongos ia aumentando e não nos dava sossego nem pra descansar, tanto q as paradas pra isto realmente foram poucas! E assim prosseguimos a pernada desimpedidamente durante um bom tempo!


Após um breve trecho no aberto -mais precisamente um enorme deslizamento - q foi vencido contornando matacoes de capim-navalha, mergulhamos outra vez na densa mata fechada, onde topamos com enormes clareiras, mais turistas, algumas bifurcações e uma cachu escondida, onde me dei o luxo de um banho-relampago! Tomando a bifurcação q sempre ia no sentido desejado, esbarramos com nossa 4ª cobra no meio da trilha, uma enorme e vistosa coral! A bichinha, no entanto, não estava afim de paparazzis e rapidamente enfiou-se na vegetacao! Após descer um tempo q pareceu interminável, alcançamos o fundo de um enorme vale na cota próxima dos 200m. A partir daqui a pernada perde o resto de altitude imperceptivelmente, alternando picada, valas, calçamento de pedras, mas principalmente brejos e charcos! Neste trecho quase horizontal esbarramos com nossa 5ª e ultima peçonhenta, uma enorme e lustrosa cobra preta! Meu, vai ter cobra assim lá no Instituto Butantã! Portanto, qq pernada c/ vara-mato aqui no verão é impensável! Emergimos da mata 130m acima do nível do mar pra cair num belo gramado com restos de construções, as 13:30, e logo na sequencia cruzamos o manso e raso Rio Tres Barras saltando de pedra em pedra. Como o sol e calor estavam de rachar, tivemos uma breve pausa pra tchibuns no belo ribeirão, q mais adiante entra em confluência com o Rio Crista! Na outra margem, a picada dá lugar a uma estrada de terra q logo nos leva a uma ponte pênsil, onde o Tres Barras é atravessado pela ultima vez! Estamos finalmente na "civilização", isto é, o quiosque q dá acesso ao "Parque Aquatico Monte Crista", um balneário local bem freqüentado! No quiosque matamos nossa vontade de breja e refri, alem de conhecer seus donos, Seu Roberto e Seu Ari, q alem de boa prosa, lembranças e petiscos nos providenciaram tb um telefone pra contatar um taxi de Garuva pra nos resgatar! Ufaa, menos mal! Do contrario teríamos ainda q andar 3km ate o asfalto tentar condução, o q naquele calor de inicio de tarde era impensável!


Nos despedimos dos tiozinhos assim q o taxi chegou e imediatamente zarpamos pra Garuva, onde pegamos o nosso veiculo e rumamos prum restaurante no centro da cidade, onde matamos a vontade de nossas lombrigas, q exigiam um almoço mais consistente e saboroso! E assim, por meros R$10 comemos num self ate fazer bico, as 15hrs! Ato sgte rumamos pruma pousadinha baratinha próxima, "Hotel do Carmo", afim de relaxar do cansaço acumulado e à noite fomos numa pizzaria badalada da cidade pra bebemorar a empreitada, desta vez limpos e cheirosos. Choveu horrores durante td madrugada, mas assim q amanheceu tomamos o asfalto pra retornar pra Sampa a tempo de passar o réveillon com as respectivas famílias. E assim transcorreu a Garuva-Monte Crista, uma travessia q guarda em suas encostas patrimônios naturais, paisagísticos e históricos q lhe conferem forte identidade, característica exclusiva apenas de poucas gdes selvagens caminhadas. Seja caminhando no histórico "Caminho dos Ambrósios" em meio a exuberante Mata Atlantica, pode-se viajar no tempo e observar enorme biodiversidade, seja contemplando a beleza dos rios, campos de altitude, cachus e curiosas formações rochosas, assim como a majestuosa vista q se descortina do alto dos Picos Garuva e Monte Crista. Reunindo historia e natureza, os Campos do Quiriri estarão sempre nos brindando com mais alguma nova e agradável supresa ainda a ser desvendada, mas naturalmente esse é apenas mais um motivo pra retornar lá noutra ocasião. Outras muitas vezes, diga-se de passagem.


1escalaminhando_garuva

2grutas_pedras_

3topo_encoberto

4ganhando_campos

5campos_do_quiriri

6contato_visual_mte_crista

7escadaria_ambrosios

8rio_tres_barras

9peonhenta

10pedra_do_guardiao

12descendo_pelos_ambrosios

13comemoracao_final

 

Jorge Soto
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