DELFINÓPOLIS-CASCA D´ANTA: CLÁSSICA TRAVESSIA NA CANASTRA Imprimir
Seção: Trekking - Categoria: Geral
Escrito por Jorge Soto   
Qui, 01 de Outubro de 2009 23:37

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DELFINÓPOLIS-CASCA D´ANTA: CLÁSSICA TRAVESSIA NA CANASTRA
por Jorge Soto

A Serra da Canastra é sinonimo de natureza em meio a gdes espacos. Sua geografia é composta de amplas serras, muitas nascentes, largas chapadas e fundos vales, iluminados pela luz onipresente de um céu enorme.

 Incrivelmente, este belo lugar é o q menos conheco, onde minhas investidas limitaram-se a duas breves visitas já bem datadas. P/ sanar isto não hesitei em topar o convite tentador do meu amigo e fotógrafo de aventura André Dib em percorrer sua mais tradicional travessia e desfrutar de seus panoramas espetaculares: a Delfinópolis-Casca D´Anta, pernada tranquila q durante 3 dias parte da pacata cidade mineira de Delfinópolis, serpenteia 62kms de serras, vales e chapadoes por trilhas e estradas de terra, até culminar no sopé dos 200m imponentes do primeiro e salto do Rio São Francisco, a Casca D´anta, uma das maiores cachus do Brasil.


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DELFINÓPOLIS
Eram exatas 15:30 qdo eu e a Vivi saltamos do busao em Ribeirao Preto, horario ate bem mais adiantado q o previsto, tendo em vista as tediosas 4hrs de viagem de Sampa. Sendo assim, nos resignamos a passar o tempo no boteco da rodô, bebendo na cia de outra amiga, alem de dar retoques finais nas cargueiras. Mas qdo as 17:15 a possante Troller  do André & Cassandra encostou do nosso lado, era hora de finalmente embarcar rumo Delfinópolis. Viagem esta q foi feita em meio a muita descontração e conversa colocada em dia, e dessa forma os 180km passaram bem desapercebidos. Tanto q após passar por Franca o sol já havia despencado no horizonte.
Após atravessar de balsa os quase 2km de aguas esmeraldas da Represa do Peixoto em meio ao frescor do bréu noturno já regados a varias taças de vinho, chegamos em Delfinópolis um pouco antes das 20hrs. A pacata cidade transpira ecos de um passadoq teima em permanecer intacto, com direito a ruas de paralelepipedos bem tranquilas, uma simpática pracinha central com coretos bem cuidados, predios q não passam de dois andares e charretes circulando ruidosamente. Inicialmente nos dirigimos à Pousada Rio Grande pra deixar as coisas, onde fomos gentilmente recebidos pela proprietaria, a Regina. O André já tinha armado um esquema de permuta "na faixa", esquemas estes q tb preciso adquirir know-how pra baratear minhas empreitadas. Na sequencia nos mandamos pro boteco da simpática Erica, o "Bar Co", onde mandamos ver uma deliciosa pizza regada a mais vinho, alem de já armar um esquema com a dita cuja de resgate no final da travessia. Tb no esquema de permuta. Ah, sim. Lá tb encontramos o ultimo integrante da trip, o mineiro Paulo, q como os demais tb estava "disponivel no mercado" e consequentemente com tempo de sobra pra viajar em qq dia útil. O tempo passou rápido e se bobeasse ficariamos a noite td papeando e enchendo a cara. Mas o dia sgte era obrigatoriamente reservado pra travessia e por isso retornamos à pousada, meio q à contragosto e trançando as pernas, afinal a ampla geografia local iria demandar otimizacao do dia interiro em pernada. Lembrando q a topografia da Canastra é composta basicamente de 3 fileiras de enormes serras q correm paralelas, uma dobra maior q a outra, entremeada de fundos vales e pequenos serrotes: a 1ª é composta pela Serra Preta e Grande; a 2ª é feita das Serras do Cemiterio, Sete-Voltas e Guarita; e a 3ª abrange o Chapadao da Zagaia e a Canastra em si. Nosso roteiro do dia sgte é nada mais q subir a Serra Preta, descer o vale contornando a Serra de Furnas pra dali chegar ao alto Serra da Guarita! Simples, não?

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A SERRA PRETA, A FURNAS E O GALHEIRO
A manhã de segunda irrompe promissora, com uma bela alvorada esparramando seus acolhedores raios por td extensao dos paredoes serranos, por sua vez silhuetados contra um ceu azul despido de nuvens! Sendo assim, levantamos bem antes das 6hrs, jogamos as cargueiras no teto da Troller e rumamos em direcao ao sopé da Serra Preta. Mas não sem antes passar numa padoca pra rapido desjejum!
Delfinopolis ainda levantava preguicosamente qdo deixamos seus limites sentido leste, acompanhando o emplacamento  "Olhos D´água". Agora com a serra à nossa esquerda, sacolejamos por empoeirada estrada de terra por quase 7km, até a deixarmos numa placa indicando "Camping Claro - Casa de Pedra". Tomando sinuosamente esta ramificacao agora vamos  de fato de encontro à serra, cada vez mais proxima. Uma vez passado o referido camping, nossa referencia são placas apontando uma tal "Pousada/Cachoeira Paraiso", à qual não tardamos em chegar num piscar de olhos após algumas bifurcacoes. A tal "pousada" não passa de duas casas q agora se encontram abandonadas, mas q durante feriados devam ficar lotadas alem de ser cobrado algum valor de acesso pois aqui é propriedade particular. Mas como esta td vazio, não temos problemas em deixar o carro ali mesmo, q depois a Erica virá buscar pro nosso resgate. Até pq ela reside numa casa bem proxima dali.
Após alongar aqui e ali, dar ultimos retoques nas cargueiras e passar protetor no rosto, damos inicio propriamente dito à pernada as 6:40. O gps do Paulo marca exatos 870m de altitude. Daqui parte uma picada bem conhecida dos locais q leva a varias cachus no alto da serra, a "Trilha da Casinha Branca", bem mais demorada. Mas nossa trilha é outra, mais rapida e direta, a "Escada de Pedra". Ela parte logo atras da casa e já de cara bifurca, onde tomamos o ramo da esquerda q desce suavemente pelo pasto, atravessa um capao de mata e dá num belo remanso, o Ribeirao do Claro, q cruzamos saltando por cima das pedras. A picada entao envereda em meio ao pasto e vegetacao de cerrado pra logo dar nos fundos doutro casebre, q por sua vez nos leva numa precaria estradinha de terra. Andando um pouco pela dita cuja,logo desembocamos numa porteira marcada por uma laconica placa proibindo o tráfego de motos, pois estamos numa area de protecao ambiental. Da porteira parte uma trilha q acompanha a cerca, agora sim indo de encontro aos paredoes da Serra Preta, já quase à nossa frente. Aqui uma breve pausa pra coletar agua (proxima,num riachinho escondido) e visu de um belo canion à esquerda.
Andando pela picada não demora a sermos recebidos por nova placa, agora indicando "Escada de Pedra". Daqui em diante não tem mais erro. Comeca a subida ingreme da serra por lajotas de quartzito q formam degraus irregulares erodidos, q são vencidos com relativo folego e, aos ziguezagues, logo ganhamos altitude de modo a apreciar o belo visu de Delfinopolis ao lado espelho dagua da Represa do Peixoto, reluzindo la embaixo.
Um tempo depois a trilha arrefece e nivela numa especie de descampado ou pré-platô q antecede o topo, e o caminhar torna-se bem mais agradavel, sempre em suave aclive e tendendo pro leste. Andando pela vasta campina salpicada por canelas-de-ema e alguns campos rupestres, finalmente damos nos 1145m do alto da serra, mais precisamente na tal "Casinha Branca",onde outras trilhas tb convergem. São 8hrs e o termometro já marca 30 graus, e nos presenteamos com um breve pit-stop ao lado de um belo riacho q molha nossa goela, enche os cantis e refresca nossos rostos suados.
Uma vez na ampla e larga crista da serra, da "Casinha Branca" parte uma picada pro norte q logo dá lugar a uma precaria estradinha de terra q atravessa um vasto capinzal dourado, q basta apenas acompanhar. A medida q avancamos os horizontes se ampliam e logo temos uma visao da enorme muralha da Serra da Guarita, se esparramando de noroeste pra sudeste a nossa frente,assim como o enorme Vao do Ribeirao das Posses, separando-a da Serra do Cemiterio. Mas logo a estrada comeca a descer, desviando abruptamente pra direita, perdendo altitude imperceptivelmente pelas encostas da Serra Preta. À nossa esquerda vamos examinando terreno pois daqui temos q buscar algum acesso descendo o vale ao lado de modo a ganhar as encostas opostas da Serra de Furnas, uma pequena costela serrana no caminho antes da Guarita. Mas como aqui a navegacao é puramente visual este acesso é descoberto c/ facilidade na forma de uma picada transversal à estrada. Deixamos a mesma em favor desta picada pra assim perder altitude de forma abrupta, em curtos ziguezgues em meio a pasto,arbustos e pequenas arvores de galhos retorcidos. A trilha parece sumir, mas após saltar uma cerca logo encontramos varios caminhos de vaca indo no sentido desejado. Porém por pouco tempo, pq so após um curto trecho de vara-mato é q chegamos de fato no fundo do vale, onde o bem-vindo Córrego do Ouro nos brindou com refrescantes tchibuns em seus pequenos poços cristalinos. Pausa pra descanso e lanche sob o forte e inclemente sol das 10hrs,claro!
Na sequencia tocamos vigorosamente pelo pasto acima, agora nas encostas da Serra de Furnas, ate dar numa picada q a recortava a meio-caminho. Tomando p/ esquerda, não tarda pra ganhar a crista da mesma ate dar noutra precaria estrada, q contorna e desce a serra em sucessivos cocorutos rumo o proximo vale, o do Ribeirao da Babilônia, já ao sopé da Gurita. A medida q perdemos altitude sinuosamente em meio a morraria, a vegetacao de cerrado vai dando lugar a uma vegetacao mais rica e densa. No caminho, destaque prum enorme grilo laranja escondido em vocorocas de samambaias a beira da estrada.


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Quase no fundo do amplo vale, cruzamos com o minusculo "vilarejo" de Itajuí onde não vimos sinal de vida, mas q se resume a algumas casinhas, roçados e uma simpatica igrejinha. Ainda acompanhando a estradinha pra leste e cada vez mais proximos do sopé da Guarita, cruzamos uma ponte, algumas porteiras e cortamos alguns atalhos pra depois subir uma pequena colina. Foi aqui q um negrume tomou conta do firmamento e se adensou subitamente, acompanhado de estrondosas trovejadas, sinal pra apressamos o passo o qto antes.
Dito e feito. Passada uma ultima porteira o céu desabou e mandou muita agua sobre nossas cabeças! Pior q não havia onde nos refugiar senao no "puxadinho" de um pequeno paiol q nem sequer nos comportava totalmente! Havia um casebre abandonado do lado, o qual tivemos a infeliz ideia de invadir pra sermos recebidos pelos furiosos marimbondos q la residiam e deixaram marcas na minha barriga e no braco do Paulo. Porem,insatisfeitos de permanecer naquele fedorento paiol - até pq um raio caira bem ao nosso lado - insistimos ainda em invadir outro cômodo (pela janela) daquele casebre, pelo menos pra termos mais espaco disponivel pra lanchar,pois a fome já apertava. Uma vez la dentro e com metade das cargueiras alojadas, fomos outra vez enxotados pelos marimbondos q decididamente não desejavam nossa presenca la de jeito nenhum. E la voltamos desesperadamente pro maldito paiol, pra diversao das vaquinhas q assistiam aquilo td de camarote. Agora o problema era ir buscar as cargueiras q deixaramos la dentro. Daí eu e o Andre nos cobrimos de roupa demodo a proteger qq parte exposta e la fomos na missao de "resgate", q por sorte foi bem-sucedida. Pois bem, como já estavamo molhados e ficar parado não adiantava nada, resolvemos continuar a pernada sob chuva, ao menos pra manter o corpo quente.
O Ribeirao Babilonia foi transposto sem dificuldade, com agua ate o tornozelo, e dali prosseguimos pela lamacenta estradinha rumo o sopé da serra. No caminho topamos com a humilde casa do Paulo Pião e da Rosi, onde nos refugiamos da tempestade de forma bem mais satisfatoria q o paiol, já na cota dos 830m. Enqto nos secavamos e mastigavamos algo, a Rosi contava alguns "causos" interessantes q iam desde a vida sofrida na roça, q nunca havia subido ao alto da serra e detestava comer galinha caipira! Sua casinha, de uma simplicidade enorme, tinha particularidades q merecem destaque, como  a ossada de uma queixada como decoracao e um cômodo reservado apenas pra privacidade de uma galinha e sua barulhenta prole.
As 14:30 e de bucho cheio, nos despedimos da Rosi dando continuidade à pernada, ainda sob chuva e forte vento. Aqui a estradinha terminava dando lugar a uma picada q costeava a serra, mas logo tomamos outra q derivava da principal e ia de encontro à mesma atraves do capinzal, frontalmente.  De onde estavamos já podiamos vislumbrar a continuidade do carreiro costurando o paredao serra acima. No caminho, um cruzeiro assinala o curioso "Cemiterio de Pedras", local onde antigamente eram enterrados os leprosos da regiao.
A subida da serra transcorreu em largos ziguezagues, sendo q já na metade a chuva havia desaparecido por completo, permitindo bela panoramica de td trajeto percorrido ate entao, alem de visu privilegiado da Cachu do Corrego do Galheiro, despencando dos paredoes da Guarita, à leste. Em passadas curtas atraves das lajotas e pedregulhos de quartzito q forram a estreita trilha, ganhamos altitude atraves daquela encosta ingreme, pipocada de canelas-de-ema, campos rupestres e matacoes de arnica. Num pequeno platozinho de pasto, marcado por uma gomeira solitaria nos 1197m, fizemos uma pausa pra retomada de folego e alguns cliques do belo visual q se descortinou, pra depois vencer o ultimo degrau ate o alto da serra.
As 16hrs alcancamos os amplos e vastos descampados q predominam no alto da serra, agora na cota dos 1268m. A trilha aqui nos leva inicialmente pela beirada da serra mas depois deriva pro interior das campinas. O passo aqui é rapido pois qq parada é motivo pra nuvens de borrachudos de fartarem conosco, razao q nem fotos deste trecho ninguem se atreveu a tirar sem ficar com pontinhos vermelhos no corpo. Mas finalmente as 16:45 damos nas margens do Corrego do Galheiro, onde um bucólico cocho divide espaco com um belo gramado ideal pra acomodar varias barracas, desde q se desvie das trocentas sujeirinhas bovinas, claro!
Montado acampamento, as tarefas do povo se revezam entre tomar banho no rio, remover carrapatos ou simplesmente adiantar a comilança, q por sinal nunca esteve tao saborosa. Destaque especial pra janta do André e da Cá à luz de velas e regado a vinho! Mas não tardou pra respingos comecarem a cair, nos obrigando a adentrar em definitivo em nossas barracas bem antes das 19hrs. A noite intercalou chuva intermitente com fortes rajadas de vento fustigando nossas tendas. Uma leve dor-de-garganta insistia em prejudicar minha merecida noite de sono, assim como a umidade acumulada no saco-de-dormir. Levantai diversas vezes pra mudar de posicao p/ desviar das pequenas infiltracoes, mas de resto td correu bem. Enqto isso, la fora a chuva teimava em cair, quica achando q tb fossemos amfibios, q por sinal coaxavam aos montes a nosso redor.


A GUARITA, O TAMANDUÁ E A CANASTRA

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Levantei por volta das 5:30 com o som da algazarra de maritacas proximas, revigorado e disposto a sair cedo. Mas aquela terca-feira amanhecera com tempo incerto, nublada e envolta em fina garoa, nos prendendo a nossos casulos por mais tempo. So comecamos a nos mexer de fato uma hora depois, qdo o tempo continuava cinzento mas a chuva já tinha ido embora. Tomamos um farto café-da-manha e prontamente arrumamos nossas coisas, sem tempo ate de secar barraca ou roupa molhada, o q deixou nossas cargueiras relativamente pesadas.
Nos lançamos entao à trilha por volta das 8:45, tomando um caminho pro norte q não demorou a se tornar uma precaria estrada de terra, e por ele seguir durante td manha. Apos cruzar com uma simpatica casinha abandonada, à direita, q antigamente servia como refugio de retirantes, nossos horizontes logo se ampliam permitindo gde visual do Vão dos Candidos ao sopé da tb grandiosa Serra da Canastra, cujo perfil se esparrama por td extensao do horizonte. Mas logo a estrada vira p/direita, desvia de uma enorme grota e passa a percorrer indefinidamente a vasta campina q domina o topo da Guarita, numa sucessao de descampados intermináveis, sempre pra sudeste. Diferentemente do cerrado da Serra Preta, aqui domina a vegetacao savânica, isto é, uma vasta extensao de campinas balancando ao sabor do vento! O visual tb merece destaque, pois temos o Vale do Babilonia à direita, ao sope da Serra de Furnas; e o Vão dos Candidos, alternando costelas da Serra Quebrada antes da Canastra. Este trecho é bem tranquilo, e sem gdes desniveis a pernada rende muito mais! No caminho cruzamos com cupinzeiros pipocando o pasto, uma seriema desengonçada, uma enorme aranha cruzando a estrada e varias nuvens de borrachudos. As 10:30 e com o sol ameacando surgir, nos permitimos um breve descanso na relva dourada na cota dos 1350m, o pto mais alto da serra ate entao. Beliscando e bebendo alguma coisa, apreciamos agora ao sul a "Serra dos Cofrinhos", extensao da Serra Preta, cortada por uma tal "Estrada do Céu", pela qual provavelmente retornariamos pra Delfinopolis.
Retomamos a pernada em seguida, sempre no mesmo compasso anterior, ate q lentamente a vegetacao q se resumia a puro pasto, comeca a se complementar com pequenos arbustos e arvores solitarias, alem de algumas formacoes de arenito passam a ornar a beira da estrada. Não tardam a surgir tb vaquinhas pastando, q param de ruminar pra nos observar passar, curiosas, no mesmo momento em q comecamos a descer suavemente a Guarita, em definitivo. Daqui temos uma bela noção de como a Guarita converge e se dilui em morros à frente do Chapadão da Babilonia, uma depressao atravessada por elevacoes sem rumo definido.
A estrada entao desce suave e vira abruptamente pra esquerda, indo de encontro pros campos rupestres q compoem a Serra Quebrada; pra direita temos gdes visus dos morros e vales q constituem parte do Chapadao da Babilonia, lugar este q merece uma trip exclusiva pra ele. Contudo, antes de galgar a colina rumo o alto da Serra Quebrada, no selado de ligacao esbarramos com um casebre abandonado q ostenta uma decrepita placa "Faz. Sierra Madre", ao lado de um agradavel corrego onde temos mais um pit-stop pra descanso, lanche e tchibum (eu, no caso!), as 12:30. Acompanhando o córrego, o mesmo se perde em pequenos canions e cachus pro sul, pra depois serpentear os meandros do Babilonia.
As 14hrs damos continuidade a pernada subindo lentamente ao alto da Serra Quebrada, onde tivemos a felicidade de observar um tamanduá vagando despreocupadamente pela encosta de capim do morrote ao lado. Pausa pra fotos e perceber o qto o bichao é enorme, mesmo à distancia. Ainda bem,pois suas garras cortam enormes cupinzeiros feito manteiga. Uma vez no alto da serra, a estrada segue pra noroeste e depois pra nordeste, cruzando com campos rupestres, afloramentos rochosos, algumas quaresmeiras e belos campos de capim estrela. Mas as 14:45, qdo a mesma comeca a derivar pra direita (leste) temos nossa primeira panoramica integral da Serra da Canastra em td sua extensao e do risco branco q corresponde à Casca D´Anta! Dali tb podemos constatamos a possivel origem do nome da serra, pois o enorme chapadao realmetne se assemelha a uma canastra ou baú, embora outra versao menos poetica diga q um rico fazendeiro sonegou impostos e os escondeu numa canastra no dito chapadao. Pois bem, o tempo já ameacava abrir mas opta por manter-se apenas naquela nebulosidade clara. Melhor assim, do contrario o sol daquele horario fritaria nossos miolos, conforme atesta o chiado estridente de um gaviao.
Caminhando em nivel durante um bom tempo pra sudeste, após cruzar com uma simpatica muretinha de pedras caimos numa bifurcacao relevante: seguindo reto vamos dar no Babilônia, mas como nosso destino é outro tomamos o ramo q sai pela esquerda (norte) devidamente sinalizado de "Casca D´Anta-Vão dos Candidos". Agora sim comecamos a descer bem pela estrada, q por sua vez bordeja a morraria de pasto e campo rupestre ao redor. Nosso destino é perfeitamente visivel e parece inalcansável: uma pequena casinha/capelinha no alto de um morrao q antecede a Serra da Canastra!  E tome chao! Após algumas porteiras, mata-burros e breves sobe-desce, cortamos caminho atraves de uma trilha ingreme no morro sgte, q nos poupa alguns bons kilometros de estrada, apesar das curicacas presentes não gostarem nada de nossa intromissao em seu habitat.
Uma vez no alto do mesmo e topar com nova sinalizacao (pro Rolador e Vao dos Candidos), nosso rumo é obvio ate q finalmente desembocamos na tal casinha avistada, as 16:30! Esta atende por Bar-Restaurante-Pousada Mirante Natureza e nossa esperança era de q estivesse aberta a pto de bebemorarmos a travessia, pois ate entao já estavamos bem cansados. Ledo engano, estava fechado. Mas logo uns tiozinhos passaram num fusquinha afirmando q os donos logo estariam ali, mas não sem anter nos proporem pernoite na pousada deles, quase do lado da Casca D´Anta, lá embaixo! Apesar da proposta tentadora, esta logo foi descartada diante dos preco absurdo cobrado (R$100 a diaria!) e pelo fato q ainda teriamos q andar 6km tediosos ate la. Dessa forma resolvemos estacionar ali mesmo ate aguardar chegarem os donos. E se estes não chegassem simplesmente acampariamos nos varios lugares disponiveis, pois ali havia agua alem de dois banheiros com chuveiro a disposicao. Assim, enqto uns tomavam banho os demais já adiantavam sua janta, principalmente eu e a Vivi, ao mesmo tempo em q não nos cansavamos de apreciar o belo visual q faz jus ao nome da pousada, q se situa no alto de 1260m! O espetaculo dos poucos raios solares filtrados pelas nuvens iluminando em tons alaranjados os paredoes da Canastra foram um show a parte naquele fim de tarde.
O tempo passou e os donos so chegaram de fato por volta das 21hrs, mas não sem antes um dos funcionarios (q por ali passava) já providenciar um quarto já a nossa disposicao, assim como alguns petiscos pra beliscar. Edmar e Simoine, os donos do lugar, estavam fazendo as compras do mês em São Roque de Minas, relativamente distante dali. Pra isso haviam tido q sair ainda de madrugada pra encarar o sacolejo das poeirentas estradas da Canastra. Alem disso, ambos são otimas fontes de informacao, alem de q não perdem oportunidade pra um dedo de prosa.
Devidamente instalados naquele local acolhedor q guarda um charme e rusticidade tipicamente mineiro, nos reservamos a simplesmente curtir o inicio de noite com muita conversa fiada regada a muita cerveja, pinga caseira e generosas porcoes de queijo canastra! Espiando pela janela podiamos ver o tempo abrindo esplendorosamente, com as nuvens se dispersando no firmamento dando lugar a um negrume salpicado de estrelas e um luar inspirador banhando td extensao serrana, contrastando com as luzes cintilantes de São Jose do Barreiro, à leste. E assim as 21:30, vencidos tanto pelo cansaço como pelo alcool, nos dirigimos a nossos aposentos  pro dia sgte visitar o cartao postal da regiao com tempo favoravel. E se a noite anterior foi embalada a dor de garganta, esta aqui foi na base de espirro e tosse q por pouco não expulsaram meu cérebro junto durante as maiores crises!
 
A CACHU E O PERRENGUE OFF-ROAD

canastra10Contrariando nossas previsoes mais otimistas chovera forte a noite inteira, e pela manha continuava do mesmo jeito. Levantei desanimado ao me deparar com o tempo la fora encobrindo td, sem permitir visu algum da enorme serra a nossa frente. Diante disso, levantamos sem pressa apenas pra passar o tempo jogando sinuca e aguardar o farto café q nos foi servido. E tds as calorias gastas na travessia foram certamente recuperadas apenas nesse desjejum, nos quais não faltou leite fresco, bróa, bolo, queijos, pão-de-queijo, etc!
A chuva comecou a dar tregua depois das 9hrs, no mesmo instante em q a Erica chegou dirigindo a Troller pro nosso resgate. Mas conversa vai e conversa vem, toma mais um "cafezim" aqui e "queijim" ali, so embarcamos no veiculo hora e meia depois rumo a Cachu Casca D´Anta, já dentro dos limites do Pque Nac. Serra da Canastra.
Pé-na-estrada novamente, desta vez motorizados, sacolejamos os 6kms morro abaixo com cautela devido ao péssimo estado da estrada, q com chuva fica pior ainda. Nestas bandas um 4x4 até q vem a calhar! Uma vez no fundo do vale, bastou atravessar uma simpatica e rustica ponte de toras, onde uma placa do parque já nos dava boas-vindas, e após subir uma curta e lamacenta piramba em meio a um samambaial, chegamos na entrada do mesmo, as 11hrs.
Na portaria, após pagar uma taxa e assinar um livro de controle do Ibama, fomos informados q agora o acesso à parte alta do parque (mediante trilha) é feito obrigatoriamente com guia! Lembro de ter feito a trilha mto tempo atras e q ela não demandava mta dificuldade e mto menos de q me "levassem pela mao". Porem, com recente  mudanca de admisitracao do pque essa medida (estupida e desnecessaria) havia sido recem instaurada, nos obrigou a abrir mão desse passeio, ate pq não havia nenhum guia disponivel no momento e nosso tempo era enxuto pra aguardar vir algum de São Roque! Parabens à nova gestão por nivelar os turistas por baixo! Meio desapontados com tal medida, procuramos tirar proveito ao maximo do único passeio q tinhamos disponivel: a parte de baixo da Casca D´Anta. E la fomos nós! Pra ajudar, o tempo mellhorava cadavez mais e já ameacava emergir um belo sol atraves das frestas das nuvens, ainda perambulando acima nosso.
O percurso à cachu nao dá menos de 2km e parte descendo a estrada da portaria ate uma area de quiosques reservada aos visitantes. Daqui tb parte a trilha à parte alta, a qual ficamos tentados em subir, e q não demora nem 2hrs ate os poços e piscinoes q são a atracao principal, pelo q vagamente me recordo. Mas o principal é q daqui já se tem um primeiro vislumbre da cachu, imponente e altiva, despencando dos paredoes serranos a nossa frente. Pois bem, a trilha mergulha numa florestinha de encosta, por sua vez bordejando um rio q marulha bem a nosso lado. E não demora a cairmos no 1º mirante da dita cuja, onde a mata parece emoldurar o belo espetaculo q se descortina a nossa frente. No entanto, nos apressamos em chegar o mais proximo possivel da mesma, no 2º e ultimo mirante, pois somente assim tem-se uma ideia da grandiosidade e de td q se fala a respeito da cachu. A medida q avançamos o rugido da queda dagua aumenta consideravelmente, e após descer um tanto emergimos da mata bem proximo das margens do rio e do poçao, onde somos fustigados constantemente pelos respingos e borrifos constantes de agua despejada pela grandiosa queda. E finalmente ali esta ela bem na nossa frente, téte a téte.
A Casca D´Anta não é uma cachu qq. Ela é resultado dos primeiros suspiros do Velho Chico, q nasce perto dali, na parte alta do parque. Já havia estado aqui a mais de uma decada atras, mas ainda assim não pude deixar de me maravilhar com o espetaculo q a cachu reserva a quem a visita. Estava tao pasmado com a imponencia da cachu qto o naturalista Auguste Saint Hillaire, q ha dois seculos atras percorreu estas bandas, q as impressoes desta ocasiao não deviam em nada àquelas q tivera na primeira vez q aqui estivera. Enfim, um majestuoso véu d´agua escorrendo de um paredao esmeralda a quase 200m de altura, pra finalmente repousar numa generosa piscina natural de quase 30m de diametro! A formacao rochosa do paredao faz com q a agua caia em diversos filetes q vao se abrindo conformem se aproximam do poçao. A cachu faz a alegria de trocentas andorinhas vao e vem, sendo efemeramente silhuetadas pelo veu alvo despencando. O borrifo de agua é contante e não demora a ficarmos bem ensopados, embora anorakes não resolvessem muita coisa.
Após varias fotos, muita admiracao e ainda nada satisfeitos, comecamos a desescalaminhar cuidadosamente pedras lisas feito sabao rumo as margens do poçao, o q não nos tomou nem 5minutos. Próximo de uma laconica placa proibindo o banho, alem de indicar q o poço tem quase 30m de profundidade (!), estar já naquela beirada do poço já valia a pena. No entanto, o André e o Paulo encararam um tchibum no piscinao gelado mesmo assim.
Voltamos a portaria do parque extremamente satisfeitos e tomamos rumo à pousada do Edmar e da Simone, onde chegamos as 13:47, a pto de garfar o delicioso almoço q já haviamos deixado encomendado. Antes, porem, nos vimos degustando uma bem-vinda entrada regada a brejas e porcoes de queijo e torresmo crocante pra "engraxar as juntas". Dessa forma, o turismo gastronomico mineiro é totalmente contra-indicado pra quem deseja perder peso, pois aqui isso é bem dificil. So sei q na sequencia arrumamos nossas coisas, acertamos os custos de nossa estadia, nos despedimos do simpatico casal e ate do Paulo. Paulo? Sim. Pro retorno o carro apenas comportava 5 pessoas, daí o Paulo se prontificou a retornar por conta, de carona ou pé. Mas ate q ele não reclamou nadicas, tendo em vista q ficou o restante da tarde bebericando da "marvada" com o Edmar.
Zarpamos de fato as 16hrs, tomando a estrada rumo a Babilonia, dando as costas pra Canastra. Atravessamos o chapadao da "Estrada do Carvão", localizado nos descampados da serra homonima, onde os afloramentos rochosos são predominantemene enegrecidos por algum minerio. No caminho muitas porteiras nos forcam a parar diversas vezes, mas q são a deixa pra clicar os detalhes naturebas desse trajeto motorizado q tb guardam seu charme, como os espigoes sulcados de lajes claras da Serra Branca ou os fundos e verdejantes vales transversais da Serra da Matinha. Como tb os detalhes sociais e das poucas pessoas q vivem isoladas neste fim de mundo, como uma tal "casa de oracao" e uma simpatica casa com telhado feito de lajotas!!
O tempo foi passando e o sacolejo constante nos mantem plenamente acordados, embora o sono nos supreenda vez ou outra. A estrada alterna areiao, terra, pedra e cascalho, tornando a viagem um chacoalho só q deixa moído corpos desacostumados. Em algusn trechos o veiculo sacode violentamente e não raramente meto o chifre na lataria do mesmo. Após uma bifurcacao, ignoramos a entrada pra "Serra do Rolador" e seguimos em frente, rumo a "Estrada do Céu", mais rapida. Entretanto, foi ai q o ceu se cobriu de medonhas nuvens negras, q não demos atencao. Mas após mergulhar sinuosamente num vale florestado e cruzar um rio pra em seguida bordejar nova morraria, é q o mundo desabou na forma de muita agua! Foi ai q nosso motorista  redobrou sua atencao pq daqui em diante a estrada se transformava num lamaçal só!
Dito e feito. Numa aparente e inofensiva subida a estrada estava coberta de um barreiro imenso, q por sua vez fez o veiculo patinar sem sair do lugar! Resolvemos sair pra ver se a reducao de peso ajudava em algo. Nada. Acionadas tds as teclas de tracao e o carro cismava em não sair do lugar, emburrado! Daí entao decidimos retornar um pouco de modo a ganhar velocidade e subir a tal piramba lamacenta. Contudo, pra isto o André precisou dar ré num terreno pra lá de duvidoso, no exato momento em q a chuva redobrou sua força e nos deixou ensopados num piscar de olhos! O carro foi retrocendendo lentamente naquele mar de lama mas resolveu encalhar a quase dois palmos de uma valeta, q aumentava de tamanho conforme a agua barrenta escorria por ela em quantidades de dar inveja à Casca Dánta! "Putaqueopariu! Fudeu!", pensei. Ai não deu outra, tds nos empenhamos a fazer o possivel pra tirar o veiculo dali o qto antes pq se ele caisse na valeta ai sim q não sairiamos mesmo naquela tarde. A Vivi pegou pedras, a Erica arrumou tufos de capim, a Cá descolava gravetos e eu buscava juntar td isso ao redor das rodas q deslizavam, alem de rezar pra td dar certo! O carro gingou e patinou ainda mais um pouco em direcao da valeta! Puts! Ate lá já chafurdavamos na lama tal qual suinos e o carro continuava atravessado na estrada com a dianteira virada pra valeta, daí tentamos limpar as rodas com gravetos, lavá-las com agua enlameada, empurrar a dianteira, etc. Nada. Foi ai q alguem teve a bendita ideia de "rebocar" o veiculo com as cordinhas do bagageiro "na unha". Amarramos as ditas cujas na traseira e la so dava a gente puxando com força, em meio aquele temporal, ao mesmo tempo q o André acelerava de ré na sua derradeira tentativa de remover o veiculo daquele encalhe. E eis q o bicho retrocedeu! Urramos de alegria e repetimos o processo, ate q finalmente a valente Troller livrou-se de seus grilhoes de areia lamacenta!
Sem perder tempo, embarcamos no carro emporcalhando td seu interior e zarpamos pra longe daquela estrada infernal. Voltamos entao ate a ultima bifurcacao e decidimos retornar pelo Rolador. Ensopados e tiritando de frio, observamos pela janela o tempo subitamente melhorar qdo a noite caiu, mas ainda assim a estrada mostrava alguns trechos q demandaram cautela e alguma ginga do nosso intrepido motorista. Assim, ganhamos a Serra da Calçada, o Vão da Babilonia, ignoramos a entrada pra Cachu Quilombo  e depois a q nos levaria pro Vale do Céu, ate finalmente dar no vilarejo de Ponte Alta, as 19:30, onde trocamos de roupa. Chegamos somente em Delfinopolis uma hora depois, após passar pelo vilarejo de Olhos Dágua.
Em virtude do horario avancado, tivemos q pernoitar mais uma vez na pousada da Regina, mas não sem antes mandar ver um rango no único restaurante aberto na cidade. Banho tomado, o restante da noite foi embalado a muito vinho! So assim pra relembrar e rir do perrengue de horas antes. Pra variar, choveu durante td madrugada.
 
O dia sgte zarpamos de Delfinopolis por volta das 10hrs, após um farto cafe-da-manha. O bom tempo e a luminosidade favoravel permitiram boas fotos da travessia de balsa da Represa dos Peixoto. Dali nos despedimos da serra, cuja crista de serra encontrava-se imersa num negrume só, q contrastava com o tom esmeralda das aguas da represa. Chegamos em Ribeirao Preto as 13hrs, onde nos despedimos do simpatico casal André & Cá, com promessas de proximos perreng.. ops, travessias pela frente! Pegamos o bus pra Terra da Garoa meia hora depois, viagem esta embalada nos braços de Morpheus, não fosse o tradicional transito de final de dia nas Marginais. Saltamos na rodoviaria somente as 18:30, já pronto pra encarar mais transito pra chegar em casa. Enfim, tem q ter muito saco e paciencia de Jó pra viver na paulicéia desvairada, mas feliz por termos estado mesmo q brevemente num local q atende pelo nome de Canastra.
 
Se a mais de dois seculos atrás a Serra da Canastra encantou o naturalista Auguste Saint Hillaire, imagine entao os rincoes qlhe passaram desapercebidos ou q nem sequer sonhou em percorrer. Pois a enorme e vasta Canastra é um daqueles lugares impossiveis de conhecer plena e integralmente numa, duas ou tres visitas prolongadas! Seus campos, vales e rios se estendem por muitos quilometros em tds as direcoes e sua geografia favorece longas travessias (de carro ou a pé) de cristas, de facil orientacao e muitas vistas cênicas, embaixo de um céu q a altura torna imenso. E o melhor, longe das restricoes e limites do Pq Nacional homônimo. Nesse contexto td, a Delfinopolis-Casca D´Anta é somente uma das inúmeras possibilidades de caminhadas desta regiao privilegiada de MG. Cabe agora à sua determinacao, disponibilidade e criatividade explorar as demais.


Jorge Soto
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