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SAUDADES DO MATÃO - Página 3 PDF Imprimir E-mail
Seção: Montanha
Escrito por Mario Soares   
Sáb, 21 de Março de 2009 20:35
Índice do Artigo
SAUDADES DO MATÃO
Parte 2
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Após três dias de trabalho, com a ajuda do balancim, chegamos ao final do negativo e todos comemoramos com um laudo jantar com um bolo de milho de sobremesa. Novamente acordamos cedo e cheios de energia e quase correndo, saímos em direção à pedra que ficava a uns 500m da sede da fazenda. Agora a parede era em pé e lisa, ou melhor, nossos tênis de passeio, não aderiam à rocha e já estavam furados e puídos com a empreitada; colocamos os dois primeiros grampos muito perto um do outro. A altura, agora acima das arvores,  era um ambiente muito solitário e nos sentíamos num ambiente novo.

Na vez de Gustavo ele consegue escalar 1m e coloca o parafuso há mais de dois metros de distância, apoiado em enormes agarras, o que foi para nós, motivo de comemoração. Julio coloca o próximo grampo, a um 1,5m de distância do último e eu consigo colocar a uns 80cm. Depois disso, quanto mais subíamos mais perto colocávamos os grampos.

Após uma semana, de uma batalha sem precedentes, terminamos o serviço e estávamos aos berros, os três, encima da pedra, soltamos foguetes e meus parentes estavam nos vendo da sede da fazenda respondendo com foguetes. À noite a festa foi até tarde e todos nós, incluindo o pessoal da fazenda, de uma certa maneira, éramos vitoriosos.

Este foi o último inverno que passamos lá, os três juntos. A vida, os estudos e o trabalho nos levaram para longe e para fora do Brasil, eu moro no Canadá, Gustavo na Argentina e Julio é na Irlanda.

Hoje sabemos que Gustavo tinha descoberto as escaladas só alguns meses antes da nossa aventura e não tinha escalado mais que quatro vias facílimas até então e o suposto equipamento de escalada que ele trouxera, ele tinha emprestado de um amigo desavisado, assim como o livro, que por sinal hoje, cada um tem um exemplar.
Essa experiência foi muito importante para nós, deixando marcas positivas em nossas vidas, tudo isso ficou gravado para sempre e passados todos estes anos ainda escalamos, de uma forma bastante modesta, mas sempre que possível.

Ano passado conseguimos nos reunir, os três na fazenda, após 17 anos, de nossa única experiência como conquistadores, a fazenda ainda pertence a nossa família. Já no primeiro dia em que chegamos, fomos brincar com os filhos do Gustavo na Pedra Preta e hoje, apesar de remexer nossas memórias, a pedra em si tem um aspecto insignificante, mas mesmo assim e com o mesmo entusiasmo, repetimos nossa escalada, com nossos equipamentos modernos e fizemos uma festa com as crianças no cume, gritamos para o pessoal da sede e rimos muito, lembrando da nossa aventura. Pela primeira vez pudemos avaliar nosso feito e finalmente colocarmos um nome na via.

Ela foi batizada de "Saudades do Matão” III grau ou A0, 20mts.


 
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