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SAUDADES DO MATÃO - Página 2 PDF Imprimir E-mail
Seção: Montanha
Escrito por Mario Soares   
Sáb, 21 de Março de 2009 20:35
Índice do Artigo
SAUDADES DO MATÃO
Parte 2
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De dentro de uma mochila ele tira um outro pacote e como se revelasse algo, ele nos mostra um livro de montanhismo e escalada, mostrando como se praticava e com fotos e desenhos tão nítidos, que era fácil entender. Pergunto como ele havia conseguido aquilo e ele nos conta que há seis meses ele estava escalando com um pessoal e que tinha conseguido aquele material emprestado de um novo amigo. Esse passou a ser nosso único assunto e todos nós da fazenda passamos a nos envolver com o “assunto de subir a pedra”.

No outro dia às 5 horas da manhã, acordamos com a pilha toda e com um farnel de quitutes, fomos para base da pedra, puxando um burro que levava o peso para nós. Na base da pedra fomos nos ambientar com o nosso novo equipamento e com o livro, que era a nossa "Bíblia" e era folheado e refolhado; Gustavo era nossa referência, pois era o único que tinha experiência e nos explica que usaríamos aqueles parafusos para subir a primeira parte, até chegarmos no final do negativo, na altura das arvores e que amarraríamos os parafusos com um nó de prussik feitos com os cordeletes e nele colocaríamos os mosquetões, conforme Gustavo nos explicava, entendíamos tudo rapidamente, tamanha era a ânsia em começar a empreitada, estava tudo explicado e entendido, fizemos dois estribos de corda, as cadeirinhas também de cordas, como ensinava o livro.

Começamos a furar a pedra; nas primeiras marteladas a pedra nem marcou, nos olhamos com olhares incentivadores e voltamos a martelar e nos revezando, levamos mais de 2 horas para fazer o primeiro furo e então bati o parafuso que não entrou todo, ficamos com medo de continuar e após vários testes que fizemos dependurando-nos os três no parafuso, constatamos que ele tava firme; Gustavo se prendeu com o mosquetão no cordelete e com ajuda do estribo tentou bater o próximo grampo, furou um tempo e desceu, pois estava com vários vergões nas pernas, causados pela cadeirinha de corda, era minha vez e com uma bermuda grossa sobre as calças, para não me machucar com a cadeirinha, furei mais um pouco e meus braços se acabaram e minhas pernas estavam sendo cortadas pela cadeirinha; desci e o Julio sobe e com a língua de fora, fura até achar que o buraco tava bom e decide colocar o parafuso, assim mesmo o parafuso não entra até onde queríamos e cheio de receio, Julio amara a corda e desce. Fazemos nosso teste padrão, nos dependuramos novamente para testar sua segurança e o parafuso resiste aos três. Levamos novamente mais de 2hs para colocar este parafuso.

Gustavo recuperado e com duas bermudas encima da calça, sobe novamente para tentar furar o mais alto possível desta vez, já que parafuso que fora batido por último não passara de 80cm de distância do anterior; sobe alto nos estribos e começa o furo à 1m aproximadamente do último, mal consegue marcar a rocha e pára pra descansar e assim 2 horas e meia depois e várias subidas e decidas, terminamos o terceiro buraco que não foi furado até o fim e mesmo assim colocamos mais um parafuso que não entrou como queríamos, testamos novamente, nos dependurando os três na corda.

O primeiro dia acabara e fora tudo que conseguimos fazer, colocar três parafusos, o pessoal da fazenda, aparece no final do dia para ver nosso serviço e voltamos com eles para casa, cansados. Vimos que teríamos muito trabalho pela frente e mesmo antes de chegar em casa, meu tio já tinha uma idéia para amenizar as dores da cadeirinha, era fazer um balancim de pintor, para sentarmos enquanto fazíamos os furos e que foi feito ainda de noite, em frente ao fogão de lenha entre muitos causos. Cheios de ânimos prometemos colocar o restante até o final do negativo no outro dia. Na hora do banho, vimos os vergões no corpo feito pela cadeirinha de cordas, tudo doía e ardia.

Comemos com loucos, a deliciosa comida mineira de roça e fomos dormir cedo, e também muito cedo estávamos despertos, com o corpo todo doido e radiante por voltarmos para a labuta, rapidamente estávamos prontos para sair; juntamos os "trem", comida e água em dobro encima do burro que parecia estar feliz com a idéia também, a carga era leve e ele ganhava o resto do dia de folga.

De volta ao nosso "trabalho”, Julio era o cara da vez, ele tinha que fazer sozinho aquele furo, não podíamos revezar mais, cada um de nós tinha essa obrigação dali em diante. Julio após 1:30hs, finalmente coloca o parafuso e para variar só entra até a metade e muito próximo do outro. Julio desce com dores em todo o corpo, apesar do conforto que o balancim nos dava. Então subo eu, com o propósito de colocar o outro rápido e alto e já nas primeiras marteladas vejo que será difícil, 1:30hs, depois, desço, também todo doido, mas com o parafuso bem colocado.
 
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