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CANOADA - UMA PONTE LONGE DEMAIS... - PÁGINA 2 PDF Imprimir E-mail
Escrito por Fabio Nogueira   
Seg, 23 de Março de 2009 20:29
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CANOADA - UMA PONTE LONGE DEMAIS...
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Acabou a Pilha

Ao entardecer, aconteceu o já tradicional ataque aéreo, que nos obrigou a entrar nas barracas. Já deitado, num momento de reflexão, falei a mim mesmo: - Você está virando mesmo um velhinho ranzinza e pessimista.

Acordamos cedo e saímos remando; como a distância era curta, tomei um bom café da manhã e embalei toda minha comida no fundo da canoa. Eu tinha apenas 2 litros de água, mas seria o suficiente para a curta jornada.

Poucos quilômetros rio abaixo, a região começou a ficar pantanosa e alagadiça; muito bonita, mas também muito labiríntica. Seguimos o curso principal do rio e após algumas passagens estreitas, chegamos a umas grandes lagoas rodeadas de aguapés, onde perdemos o canal principal do rio; nos dividimos para procurar a passagem em pontos diferentes das lagoas.

Após muito tempo de procura, vimos que não havia passagem; estávamos vendo a ponte, a menos de 2 km, mas não conseguíamos chegar até ela. As buscas continuaram, cansativamente, mas nada. Em uma parada, entre uma consulta ao mapa e a procura pela passagem, vi um pequeno jaçanã, com seu longos dedos finos, caminhando alegremente sobre os aguapés; nunca pensei que um dia sentiria inveja de uma ave.

Num dado momento, o Linilson, acabou sugerindo aquilo que ninguém queria sequer admitir, teríamos que voltar remando rio acima, contra a corrente, e procurar a passagem. Remar contra a corrente, além da dificuldade normal, devido ao esforço extra que exige, requer uma atenção e um esforço constante de quem está no leme, para manter a canoa alinhada na corrente; qualquer descuido a canoa atravessa no rio e é arrastada vários metros rio abaixo, obrigando a mais esforço para recuperar este espaço perdido.

Resumindo, após 20 km, muitas bifurcações exploradas sem sucesso e aproximadamente 6 horas vagando a esmo, resolvemos parar. Eu não havia comido quase nada, estava desidratando rapidamente, talvez com um princípio de insolação e muito, muito cansado.

Encontramos um acampamento de caçadores abandonado, que ficava muito próximo ao pasto de uma fazenda da região; havia uma única árvore com sombra para nos abrigarmos. Após breve reunião, concluímos que a saída pelo rio seria impossível e que um possível resgate deveria ser tentado por terra, por esta fazenda. Decidiu-se que um grupo, composto por dois motorista e mais duas pessoas, caminhariam até a sede da fazenda para pedir ajuda; os dois motorista seguiriam para buscar os carros e os outros dois integrantes do
grupo voltariam com informações para os que ficaram. Como motoristas foram o Marcelo e o Pascoal, como equipe de retorno Walter e Anderson.

Saíram caminhando as 15:30h, sob um sol radiante, enquanto o resto aguardava sob a árvore. Embora bem menos difícil do que a tarefa da equipe de resgate, a espera foi cruel; o calor estava insuportável, abafado e sem vento, pernilongos e mutucas nos atacavam continuamente; restava-me pouco mais do que 300 ml de água, que estava tão quente como qualquer chá. O tempo foi se dilatando, os minutos tornaram-se horas e não recebíamos nenhuma informação do que estava acontecendo com a outra equipe.

Lá pelas 17:00 h começou a trovejar e grandes nuvens se formaram a nossa volta; pouco depois víamos grades massas de cumulusnimbus despejando chuva torrenciais ao longe, em vários pontos ao nosso redor. Incrivelmente o Ernesto estava sentado sob nossa árvore, chuvas torrenciais no cercavam, mas, onde estávamos não caia uma gota sequer; seguramente o pior ainda estaria por acontecer.

As 19:00 h decidimos montar acampamento; em pouco tempo o ataque de pernilongos começaria e ninguém estava disposto a enfrentá-los. Pouco depois chegou a equipe de retorno; as notícias não eram nada animadoras. O dono da fazenda não permitia a entrada dos veículos para buscar as canoas na beira do rio; O Marcelo e o Pascoal tinham conseguido uma carona para sair da fazenda, iriam buscar os carros e tentariam alugar barcos motorizados, com pilotos que conhecessem o rio, para fazer o resgate por água.

As dificuldades e os esforços destes dois para nos resgatar é digno de um relato a parte. Mas o Marcelo tem uma característica, partilhada por muito poucas pessoas que eu conheço, que a confiabilidade; ou seja, se você estiver dependendo dele para alguma coisa, aconteça o que acontecer, ele fará o que for necessário e estará lá onde você necessita que ele esteja, na hora certa.
 
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