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No alto do sentinela de angra PDF Imprimir E-mail
Seção: Trekking - Categoria: Geral
Escrito por Jorge Soto   
Seg, 23 de Março de 2009 19:47
Índice do Artigo
No alto do sentinela de angra
MOSQUITOS, MATO, LAMA E PIRAMBA
QUASE LÁ...NO TOPO!!!
DOMINGÃO ENSOLARADO E A VOLTA
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Fotos José Augusto

Alvorada no alto da Serra

Ate pouco nada sabia do Pico do Frade senão q era um dedo rochoso apontando p/ céu no litoral de Angra, nas escarpas do PN Bocaina; não ser sequer o pto maximo da região lhe valhia um certo anonimato. No entanto, ao tomar conhecimento q boa parte das empreitadas à este ilustre 'desconhecido' eram verdadeiras epopéias q nem sempre terminavam c/ sucesso, os olhares ávidos por novos desafios voltaram-se p/ ele, claro. A junção de fatores tempo bom, desnível íngreme de 1000m, alta umidade, brejos, mata atlântica densa, mosquitos e atenção redobrada nas varias bifurcações  fazem do Frade um ótimo programa p/ que se dispuser decididamente a uma caminhada árdua e selvagem, porem recompensada com alto visu da bela baia de Ilha Grande, naturalmente.

CHEGANDO EM BANANAL
Saimos de sampa 9:30 tomando a Dutra sem maiores intercedências. Eramos eu, Guto e Márcia rumando pra Bananal, o melhor acesso (logisticamente falando) ao Pico do Frade; os demais são pelo litoral de Angra (pela Rio-Santos BR-101) e pelo Perequê (Mambucaba), sendo q um ta colocando empecilhos de entrada e o outro ta fora de mão, respectivamente.
Chegando em Queluz - com tempo relativamente bom, ensolarado e abafado - seguimos em direção à Areias pela Estrada dos Tropeiros (BR-68) após tomar uma precaria estrada provisoria de terra, já q a oficial tava interditada. Assim fomos adentrando a morraria sinuosa composta de mata ciliar e dos campos verdejantes da Bocaina, cujo passado - no auge do ciclo do café - outrora conferira dias de fartura e gloria às cidades de Areias, SJ Barreiro, Arapeí e Bananal, cidadezinhas pacatas e simples q atravessamos ate chegar nesta ultima, as 13:30.

Bananal é um ovo de tão pequena, e fomos diretamente na pracinha central buscar alguma info de estacionamento p/ deixar o carro num lugar seguro. Nos arredores, antigos e vistosos casarões coloniais agora servem de pousadas, embora boa parte deles sejam tombados como patrimônio histórico. Destaque pra Pharmacia Popular, a mais antiga farmácia em funcionamento no país, cuja fachada e interior mantem-se identicos desde sua fundação, em 1830. Após lancharmos ficamos à espera do busao local, na pracinha, observando o vai-vem típico de cidade interiorana, onde alguns festejos pareciam tirar a aparente tranqüilidade dali. Alias, na pracinha concentrava-se td agito, ao som das ruidosas badaladas do sino da igreja local. Estamos a uns 500m de altitude.

14:30 tomamos o bus 'Sertão da Bocaina', q não chegou a lotar, garantindo-nos confortavelmente assentos duplos p/ descansarmos sobre as mochilas. Deixamos Bananal sentido serra acima tomando a poeirenta e precária SP-247. Ao mesmo tempo em q passamos por vistosos casarões, passamos por casas bem humildes e simples, vivendo em total pobreza. A decadência do ciclo cafeeiro e a construção das rodovias transformou as cidades acima mencionadas em  - como dizia Monteiro Lobato - 'Cidades Mortas'. Quem sabe agora estas tenham uma 2ª chance de vida com o advento do turismo rural e do proveito cujo entorno natural lhes provê? Afinal, é uma serra com passado. No trajeto, passamos a bifurcação p/ Estação Ecológica Bananal.

Lentamente, subimos a serra por aquela estrada de chão batido, sacolejando no trepidante busao. O sono ameaça mas por pouco tempo, já q a medida q o vale se afunila e ganhamos - aos ziguezagues - altura, o visual passa a tomar conta de nossa atenção: a cidadezinha vai ficando la embaixo, pequenina, aos pés das enormes montanhas, desnudas de vegetação maior, forradas de mata ciliar, com uma cachoeira aqui ou acolá. Chegando no alto da serrra, a paisagem muda completamente. Alem de relativamente mais frio, o verde denso e intenso da mata atlântica em estado bruto deixa pasmo qq um. Estamos a 1200m, e após serpentear túneis de vegetação chegamos no pequeno povoado Brastel, composto por um punhado de casas, exatamente as 16:20. Aqui é onde saltamos.

CAMINHADA NOTURNA
No povoado, uma placa indica a bifurcação a seguir. Tomamos a estradinha de terra e pedra da esquerda seguindo a placa 'Pousada do Mimoso', 'Pousada Brejal' ou 'Restaurante Chez Bruna', tanto faz. Basta seguir essas placas, presentes durante td trajeto. Fazia frio, mas logo a pernada aqueceu nossos corpos. O tempo ta totalmente encoberto, nublado e uma garoa fina fustigava nossos rostos.

Subimos imperceptivelmente a estradinha, ladeando e contornando morros repletos de densa vegetação. Alguns pastos e casas vão se alternando aqui e acolá, mas é a espessa vegetação q mantem-se onipresente. Pra matar o tempo, papeamos e colocamos a fofoca em dia. A chuva ameaça vir com força, tanto é q colocamos nossas capas, porem ela não vem e mantem-se apenas como uma fina e leve serração, felizmente. Passamos o 'Restaurante Chez Bruna' (a direita) e, alguns kms adiante, a Pousada Brejal (a esquerda) as 17:45. Se o tempo permitisse, daqui teríamos nosso primeiro contato visual com nosso destino. Logo, o som de água proximo indica q ladeamos um riachinho , provavelmente o Rio Mimoso, q nos acompanha um bom tempo.

Assim q a noite caiu, fomos obrigados a caminhar à luz de nossas lanternas e headlamps. Caminhada esta com cautela, pois assim q avançávamos a estradinha tornava-se cada mais precária, repleta de charcos e brejos; em mais de uma ocasião por pouco não pisamos em enormes sapos. Uma pequena placa logo indica o final da SP-247, isto é, agora andamos em território carioca, se é q por onde andávamos ate entao pode ser considerado 'estrada'. Andávamos afinal num amplo carreiro pedregoso e lamacento.

Em seguida, a 'estrada' continua ladeando um morro, seguindo uma plaquinha 'Pousada Mimoso 1,5km', ao lado de uma porteira de madeira. Bem do lado, a direita, há uma cerca de arame q é de onde comeca efetivamente a trilha. É por ali q seguimos agora. A 'estrada' agora não passa de um trilho amplo precário onde eventualmente chafurdamos o pé na lama. O silencio da noite é quebrado pelos estridentes cães pela ultima casinha, q passamos rapidamente.

Mais adiante, um pequeno riachinho é transposto ciudadosamente por cima de troncos podres. Estamos cansados e com fome, já estudando os gramadinhos q se apresentam no trajeto, mas é somente um pouco + a frente q pernoitaremos. Logo estamos as margens do Rio Bonito, de uns 15m de largura, nosso 1º obstaculo. A trilha continua na outra margem e temos q atravessa-lo, tarefa q fazemos com cautela no escuro, com água acima do joelho. Em seguida, chafurdando pé na lama, chega-se num gramadinho perfeito p/ encostar o esqueleto, ao pé de belas araucárias e pinheiros. É aqui mesmo q ficamos, as 19:30, depois de 13km percorridos desde o busao. A partir daqui estamos na área do PN Bocaina.

Armamos as barracas sob a fina garoa q ameaça cair novamente, e buscamos a água necessaria no rio p/ nos abastecer. La, deixo gelando minha cerveja p/ comemorar inicio bem-sucedido de trilha. O cansaço acumulado faz com q jantemos imediatamente e logo na seqüência durmamos antes das 21hrs, afinal o dia sgte seria de pauleira total. Felizmente a noite foi bastante agradável e fresca. Dormimos feito neném no berço.


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MOSQUITOS, MATO, LAMA E PIRAMBA
Levantamos ao som de um estridente gavião, as 6 da matina daquele sabadao promissor. O tempo ameaçava melhorar, com algumas janelas de céu azul, o q já era bem animador. A regiao do entorno do acampamento é bem aberta e permite largas vistas da morraria verdejante q nos rodeia. Aqui há uns mosquitinhos minúsculos e irritantes q insistem em sugar nosso sangue, o q nos obriga a tomar café devidamente vestidos, dentro das barracas. Destaque p/  belo visual de algumas teias de aranha nos arbustos ao redor; pelo tamanho delas - e realçadas pelo orvalho matinal - ficamos a imaginar o tamanho das bichinhas, pois pareciam mais com redes.

Saimos dali as 8hrs, seguindo a trilha atraves do descampadao, p/ depois ir ladeando a morraria e entrar em definitivo na mata fechada. O sol -como sempre - ameaçava sair mas o tempo nublado -claro foi nosso companheiro pelo resto do dia, assim como o inconfundível som das arapongas, p/ quebrantar o silencio reinante. A partir daqui é q o prévio conhecimento do Guto foi bastante útil, assim como seu super-croqui da trilha, melhor q qq carta topográfica da região. Isto pq a pernada é em mata fechada e embora a trilha seje razoavelmente nítida, há inúmeras bifurcações e trilhas secundarias abertas por palmiteiros e caçadores ilegais. Isto é, atenção é fundamental.

Pois bem, nos embrenhamos na mata já chafurdando novamente em muita lama, nosso 2º obstáculo, alternando subidas e descidas suaves, visivelmente contornando um morro. A trilha alterna trechos de brejo (ancorados por algumas toras de madeira) e secos com frequencia, sempre cercados de muita, muita mata densa e úmida, encharcando nossas roupas!! A mata em si é o 3º obstáculo a enfrentar, em especial as matacoes de taquaruçu, aqueles bambuzinhos espinhentos q eventualmente parecem invadir e ocluir a trilha, forçando passagem na raça! Quem conehce a Serra Fina sabe do q falo, pois são os mesmos bambuzinhos, q aderem a qq saliencia da mochila e arranham braços e pernas ao menor contato, sem falar nas outras espécies vegetais, um tipo de fino cipó c/ espinhozinhos minusculos, igualmente irritante, aderindo (e queimando) durante a passagem forçada. Eu fui com uma bermuda e voltei com uma tanga em frangalhos!! O horror, o horror..

Meia hora depois alcançamos um riachinho (o primeiro de muitos), o Goiabeira, de 4m de largura porem bem + raso. Na seqüência, mais brejo e mata. Nosso ritmo tava bom, com o Guto na pole, Márcia atrás e eu fechando a trilha, e algumas breves paradas p/ retomada de fôlego. Adiante, mais um riachinho é atravessado e chega-se numa bifurcação em 'T', na qual toma-se a direita. Pra surpresa, boa parte das bifurccoes já esta com obstáculos naturais indicando q não é por ai o caminho pro Frade.

As 9:20, após alguns pequenos riachinhos, emergimos num enorme e amplo descampado de capim alto, de onde teoricamente haveria a possibilidade de avistar o pico. No entanto, a nebulosidade não permitiu nada disso. Aqui tb há um riachinho q serviu de pretexto p/ uma breve parada. A Márcia, por sua vez, assustou-se c/ seu primeiro 'bicho' avistado: um galho retorcido no meio do capim q parecia uma cobra.

Novamente entramos na mata fechada, caminhando em meio as mesmas condições citadas acima, com exceção dos brejos, porem devidamente substituído pelo 4º obstáculo, q consiste nas inúmeras e enormes arvores caídas em td trajeto às quais são transpostas por cima, por baixo ou simplesmente são contornadas, prestando atenção à continuidade da trilha. No caminho, uma variedade enorme de finos cipós pendem da mata densa q nos rodeia, e em menos de meia hora emergimos noutro clareira de capim, menor q a anterior, onde uma enorme e curiosa aranha nos chamou a atenção as margens da trilha, no capinzal. Aqui teríamos a ultima visão da Pedra.

Agora nos embrenhamos definitivamente na mata atraves de um trilho arenoso p/ depois a mesma se tornar um mix de todos os obstaculos anteriormente citados, em maior ou menor grau. Acrescido do 5º obstáculo, q se anuncia ('bzzzzzzz') na forma de um zunido: umas enormes mutucas malditas e irritantes q insistem em seguir vc na tentativa de sugar seu precioso sangue, dependendo da cor q se veste. Isso incomoda muito, pois qq pit stop torna-se uma briga desesperadora c/ as bichinhas, picando inclusive sobre a roupa! Felizmente este obstáculo se limita apenas a este trecho. Fora isso, a referencia visual aqui em meio a mata fechada é uma enorme raiz tombada à esquerda da trilha, formando uma espécie de 'gruta', fora os galhos secos pendendo das arvores q aqui parecem realmente cobras. Depois caminhamos por pedras q se assemelham a um calçamento. Seria esse o trecho remanescente da Estrada da Cesárea, q transportava café de Areias ao Pto do Frade? So Deus sabe..

Por um breve trecho, a trilha é uma afunilada vala ou canaleta de barro escorregadio, pela qual circula agua vindo de algum riacho proximo,e logo, as 10:30 alcançamos mais uma bifurcação em meio a mata. Tomamos a trilha da esquerda pois a outra leva ao bairro do Perequê (Mambucaba). A pernada prossegue, desta vez  em suave e imperceptivel aclive durante quase uns 15min ate chegarmos noutra bifurcação, desta vez na forma de uma encruzilhada numa pequena clareira em meio a mata. As inscrições 'PF'(Pedra Frade) e uma seta marcadas numa grossa arvore sinalizam a direção a seguir, isto é, a trilha da direita.

A partir daqui o aclive torna-se mais acentuado, onde felizmente os taquaruçus já não estão mais presentes. A mata aqui impressiona pela diversidade e beleza em suas formas e cores. Muitas espécies de orquídeas lilazes, roxas quaresmeiras, samambaias e bromélias, arvores altíssimas e imponentes, alem do chão forrado de um fruto (e muitas folhas) vermelho do qual ninguém ousou provar. Atravessamos um riachinho e na seqüência passamos a acompanhar outro, porem não por muito tempo, mas a seguir percebemos q estamos andamos numa crista de morro. Após nova subida, uma descida bem íngreme, um bifurcação a direita (90º), um outro riachinho num selado, etc. E nova subida e descida forte. Depois passamos por um tronco sobre um riachinho  e inicia-se nova subida, desta vez razoavelmente suave, ignorando uma saída à esquerda da trilha principal, q provavelmente supomos venha do Hotel (Praia do frade), detalhadamente descrita pelo Beck em sua revista.

Ainda na trilha principal, passamos a acompanhar o leito de um pequeno riachinho q vem de cima, de nosso proximo destino e logo estamos numa pequena clareirinha gramada, bem na boca da Gruta dos Alemães, pontualmente 12:20. Hora de descanso e lanche, claro. A gruta não passa de uma caverna formada pelo desmoronamento de pedras enormes, cujo espaço interno (com sinais de fogueira) é meio irregular mas quebra o galho como bivaque. É em seu interior q passa discretamente o riachinho q acompanhávamos e nosso ultimo pto dagua. Abastecemos os cantis, obvio. Bem q tentei convencer o Guto e a Márcia a me ajudarem a detonar o resto de vinho q trazia, sem sucesso. Tive q beber td sozinho afim de usar o vasilhame.


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QUASE LÁ...NO TOPO!!!
Descansados, continuamos pela trilha por apenas 20m e dali saimos pela esquerda, subindo agora bem forte por entre as arvores. A principio tem-se a impressão não haver trilha e q o caminho é intuitivo, mas não, logo depois a trilha fica nítida e evidente; a vegetação é bem aberta e as arvores bem espaçadas, basta procurar as marcações de faca ou fitas nos troncos. Não se surprenda se vc encontrar gaiolas ou restos das mesmas, lixo de caçadores. Finalmetne o 6º obstáculo, a piramba íngreme e forte atraves de raizes em meio a um belo jardim de crista, composto basicamente de grossos bambus secos e bromélias rasteiras, ora beirando enormes pedras pela direita. A subida é lenta, claro; alem de inclinada é escorregadia devido as folhas secas dos bambus, q forram o chão formando um tapete escorregadio. Vários pit-stops repõem o fôlego p/ ataque final. As pernas estão pesadas ate aqui, mas agora q falta tão pouco é q a empolgação nos dá a energia necessária p/ não 'morrer na praia'. Desde o inicio ate aqui andamos praticamente sentido sudeste.

13:45 chegamos no Mirante, mas infelizmente nada podemos ver a não ser o 'branco total e radiante' da nebulosidade de inicio de tarde, e muito menos a Pedra, 500m a nossa direita. Agora estamos definitivamente na crista (sentido sul/sudoeste) e continuamos subindo e descendo em meio aos bambus e bromélias q dominam a paisagem, e 15min depois alcançamos a base da Pedra propriamente dita. Agora basta contorna-la pela direita, ora nos afastando ora proximo dela, atraves do corredor de pedras menores q formam um ótimo local de bivaque ao pé da pedra-mor, com ótimos lugares planos e arenosos. Nesta subida pelas pedras é q Márcia viu, assustada, seu segundo 'felino': a base de uma garrafa pet enfiada num buraco.

Já quase dando a volta na pedra, a trilha desce um pouco e, marcada por uma panela (!?), a trilha torna-se mais íngreme, quase uma 'escalaminhada' vertical atraves de raízes, pedras, mata e alguma lama. Seria este o nosso 7º e ultimo obstáculo? Pois bem, agora fazíamos uso cauteloso de nossos dotes primatas, nos agarrando firmemente as pedras e utilizando raízes e forquilhas sobressalentes como degraus pouco confiáveis. Mas logo viria o ataque final, subindo atraves de uma 'escada' podre de madeira caindo aos pedaços. Imagine subir as escadinhas metálicas do Baú, porem de madeira podre..é isso!  Felizmente haviam algumas cordas q auxiliavam a escalada dispensando degraus menos confiáveis, carcomidos pela umidade e terra ao redor. Este trecho exigiu mais dos braços do q pernas, isto é, um sufoco pra Márcia. Ao menos a brisa vinda do litoral refrescava o suor escorrendo em nossos semblantes tensos.

Transposto este obstáculo foi so alegria, pois logo estávamos na face oeste do topo rochoso, após passar algumas matacoes de bromélias, samambaias e uma aderência de rocha. Sao 15hrs, mas o tempo maldito não permitiu nenhum visu, apenas ameaçando com fina garoa. No entanto, com visu ou sem, estávamos felizes por termos chegado ate ali! Serpenteando a mata, num piscar de olhos alcançamos a face leste do topo, marcada por uma clareira razoável em meio aos arbustos, onde armamos as 2 barracas confortavelmente. O chão, qdo não é rochoso, é formado por uma espécie de húmus, ou seja, era mole, não firmando direito os espeques da barraca. Mas o q nos chamou a atenção (e indignação) foi encontrar em meio aos arbustos, uma pilha de panelas enormes (!?) usadas e mtas formigas!

Após um breve lanche seguido de descanso, eu e o Guto fomos dar uma explorada no topo, nos enfiando nas brechas das rochas, emergindo em meio as matacoes, noutros pontos menos visitados do topo. Destaque p/ uma bela flor vermelha, típica de altitude. Depois disso, ficamos enrolando na barraca, na preguiça mesmo. Ainda mais quando la fora a fina garoa volta c/ mais intensidade quase q definitivamente, obrigando-nos ao ócio mais justificado do mundo.

Não deu nem 18hrs e já preparei minha janta: miojao engrossado com ervilha e carne de soja temperada com shoyu. Uma delicia! Depois disso me enfurnei no saco de dormir afim de repor o cansaço e dormir de vez. À noite - friazinha - acordei varias vezes devido ao forte vento q sacudia a barraca, mas me chamou a atenção o som inconfundivelmente difuso de uma batida funk (Credo! Seria o 8º obstáculo?) próxima. De madruga, ao sair pra 'toalette', notei q o forte vento dera trégua e limpara todo o céu, e q o mesmo estava estupidamente coalhado de estrelas!! Guto contou posteriormente q ele e Marcia ficaram contando estrelas cadentes naquela noite. Lançando o olhar  p/ sudeste, as luzes de Angra, Ilha Gde e td mais!!! Era bom demais p/ ser verdade! O domingão seria maravilhoso e isso driblava facilmente o sono e o cansaço!


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DOMINGÃO ENSOLARADO E A VOLTA
Dito e feito, no domingão levantamos antes da alvorada justamente p/ aprecia-la. Enfim, todo o perrengue anterior valia pelo momento q se seguiu. Lentamente, o céu azul escuro ganhava tons alaranjados q iam se esparramando pelo horizonte, tinjindo de forma singular a baia de Angra , Ilha Gde, os estaleiros, a marina e todas as pequenas ilhotas da enseada abaixo!! A luz alaranjada ganhava reforço gradual estendendo-se ate a mata verde ao pé da pedra p/ logo chegar ate a gente e continuar abraçando toda a mata selvagem sem-fim da Bocaina, a oeste!! O ceu esta limpo, o mar brilha e uma brisa fraca nos refresca, secando nossas roupas estendidas nos galhos dos baixos arbustos presentes aqui, exatos 1590m acima do nível do mar!

Depois disso, é hora do rápido café e de levantar acampamento. Deixamos td conforme encontramos as 7:40, já num ritmo meio apressado. Como sempre a descida é bem mais rapida, mesmo cautelosa, e todo santo ajuda. Isso nao significa necessariamente q deixemos de apreciar as largas vistas q se abrem diante nosso, enaltecidas ainda mais com a forte luz dos raios do sol. Ao passar pela face oeste do topo, tem-se uma vista fabulosa de Mambucaba, aos pés das escarpas serranas forradas de verde; e mais ao longe, Joatinga e Parati.

Após a escada, o corredor de pedras e caminhada pela crista de bambus e bromélias - c/ o vento remexendo a mata  - alcançamos o Mirante as 8:40, onde nos impressionamos com a imponência da enorme formação rochosa e cinza na qual pernoitamos bem no topo, aparentemente inatingível! Mas pq Pedra do Frade? Dizem q vista de baixo tem a forma do rosto de padre, mas isso já é questão de imaginação e perspectiva. Q o diga a Márcia e seus 'bichos'..

Após fotos, iniciamos a descida em definitivo, desta vez com menos paradas q o dia anterior, mas sem deixar de apreciar a natureza ao redor, desta vez ganhando cores mais vivas com a incidência de luz natural em estado bruto, devidamente filtrada pela alta mata exuberante. Assim, alcançamos a bifurcação do Perequê as 10:30. O destaque deste trecho foi a presença de um enorme e imóvel calango verde-limao no meio da trilha, q nem sequer deu-se o luxo de fugir na nossa presença.

Após as clareiras, chegamos finalmente no gramadinho do Rio Bonito, pontualmente 12:40, com sol forte fritando nossas cacholas. Parada p/ descanso e lanche. E banho, ao menos pra mim. Embora gelado, o tchibum foi inevitável p/ remover o suor e cansaço daquela árdua empreitada. Duro foi aturar os mosquitinhos e pernilongos q lotavam os arredores.

Depois do lanche, retomamos a pernada sacal e tediosa por estrada de terra sentido o Restaurante Chez Bruna, distante quase 10km dali, onde chegamos pontualmente as 16hrs, preocupados em não perder o busao local q passaria ali nesse mesmo horario. Felizmente estava atrasado, mas o melhor foi conseguirmos carona na caçamba do caminhão de Seu Tonico rumo Bananal, q rapidamente lotou com outros locais q subiram junto. Descemos a serra no trepidante e poeirento veiculo já nos despedindo da Bocaina, enquanto nossos corpos - moídas e abaladas - descansam e agradecem a pausa definitiva do esforço físico desde o inicio do dia.

Chegamos em Bananal as 17:40, apenas pra comer uns pasteis na movimentada praça central. Uma inconveniente dor-de-cabeça não permitiu q me esbaldasse de cerveja, e assim q partimos, quase 19hrs, me entoquei no banco traseiro p/ acordar somente na chegada em sampa e me despedir do Guto e Márcia, exatas 23:30, felizmente a ponto de ainda encontrar metrô e bus funcionando.

E assim, do Frade temos um novo olhar da Bocaina. É uma caminhada árdua, onde o corpo reclama diante de cada obstáculo transposto, filtros de seleção natural q mantém a beleza da região apenas p/ alguns privilegiados dispostos e decididos a tal provacao. E se as montanhas existem apenas p/ serem escalados, o Frade tb o é. E é somente chegando no topo é q se aprecia de fato o quão longe se foi, onde a mente agradece a grandeza do feito à alma; se visto de baixo o Frade já impressiona, contempla-lo de cima parece mais majestoso. E nos ainda menores.

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Jorge Soto
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