Alexandre Charão durante travessia Petrópolis - Teresópolis
Texto por Alexandre Charão
Já se foi o tempo das grandes mochilas cargueiras pesando entre 20 e 30 kg. A moda, que ainda vai chegar no Brasil, é curtir a natureza carregando uma mochila cargueira bem leve, pesando entre 8k e 12kg. Isto permite um contato maior com o ambiente em volta pois nos livra de "sofrer" carregando um peso desnecessário, suando e consumido água e calorias em excesso devido ao peso excessivo nas costas. O objetivo da filosofia "Carga leve, passo rápido" não é caminhar com pressa, pelo contrário, a menor carga e o menor cansaço fazem com que tenhamos mais tempo para parar, fotografar e apreciar as paisagens deslumbrantes ao invés de ficarmos concentrados no peso da mochila, no esforço para carregá-la e preocupados em quanto tempo falta para o próximo acampamento. Além disso poupa nossa coluna e musculatura, nos deixando mais dispostos para continuar a trilha no dia seguinte.
COMO NASCEU O PACK LIGHT:
Existem trilhas com mais de 2.000 km nos EUA, percorridas em mais de 3 meses de caminhada, como por exemplo a Appalachian Trail e a Pacific Crest Trail, além da Continental Divide. Algumas saem do México e chegam ao Canadá. A logística é complexa e inclui enviar mantimentos e agasalhos para agências dos Correios por onde você ainda passará. Foi pensando neste logística complicada (e no peso excessivo da mochila) que o grande precursor da filosofia Pack Light, o americano Ray Jardine (www.rayjardine.com) e sua esposa Jennie Jardine começaram a questionar os equipamentos da época. Barracas com mais de 3 kg, fogareiros de alta montanha, botas para o frio? Para que isto, se este tipo de trilha é feito no verão? Há de se frisar que Ray Jardine nada mais é que o inventor do FRIEND, a primeira pessoa a escalar o El Captain em livre, em1973. Ou seja, um cara indagador, questionador, com uma mente fervilhante em busca de soluções para facilitar a vida dos montanhistas. Enfim, Ray e Jennie começaram a levar equipamentos cada vez mais leves, por vezes COSTURANDO seu próprio equipamento já que não havia fabricantes. Ele explica em seu livro que os fabricantes não podem ter alto índice de retorno de produtos e tudo deve ser muito resistente e pesado, daí a vantagem de se costurar com materiais leves sua própria mochila, sua lona de proteção (tarp), já que ele não usa barrraca e até seu saco de dormir. A economia é enorme, explica Ray.
Este tipo de pensamento foi ganhando cada vez mais adeptos (o livro do Ray é imperdível) e montanhistas e fabricantes começaram a lançar mão de produtos cada vez mais leves. Alguns costuram mochilas (só a mochila em si) pesando 300 g e sacos de dormir com 500 g !
Em 2005 é divulgada amplamente a aventura de um jovem que cruza os EUA de leste para oeste a pé, só com a mochila nas costas. Seguindo a filosofia do Ray Jardine, o jovem Andrew Skurka caminha mais de 10.000 km. Outros feitos se seguem, cada vez mais complexos e chamam a atenção para a filosofia Pack Light. Sugiro que vejam o site e também o livro de Andrew.
COMO COMECEI A USAR O CARGA LEVE PASSO RÁPIDO:
Pois bem, vimos no início as vantagens da carga leve e vimos como ela foi, aos poucos, ganhando mais adeptos. Desde que fiz a Serra fina ainda com uma cargueira convencional, comecei a investir em materiais leves, chegando ao ponto de repetir a Serra Fina só para ver como me sentiria. Sem comparação, ainda mais que é uma travessia longa mesmo, fria e com pouca água. Da segunda vez foi muito melhor. A mochila estava muito mais leve e quando adicionei 4 litros de água (a travessia só tem 3 pontos de água no total e mede uns 35 km) ainda assim não fiquei com peso excessivo. Vejam abaixo as principais dicas do Andrew Skurka para diminuir o peso da sua cargueira. Acrescentei alguns comentários meus para sugerir mudanças à realidade brasileira.
DICAS DO ANDREW SKURKA:
Passo a maior parte do meu dia caminhando, então sempre tento otimizar minha mochila para o máximo de conforto e boa "curtição" da trilha, mantendo a mochila sempre leve. No entanto, eu não vou "estupidamente leve" pois não quero sacrificar demais a funcionalidade e a segurança por causa de somente alguns gramas.
Aqui estão sete dicas para uma levar uma mochila leve:
1. Crie uma lista do peso de cada equipamento em seu computador. Em uma planilha anote o que você pode levar em uma próxima viagem e pese cada item com ajuda de uma balança. Nunca estime o peso ou confie nas especificações do fabricante. A lista de equipamentos permite comparar opções, identificar itens excessivamente pesados e acompanhar o seu progresso ao longo de sucessivas viagens. Vale também escrever o peso diretamente no item (na panela, no saco de dormir etc. para julgar qual leva e qual fica na hora de arrumar a mochila)
2. Ter menos coisas. Pesquisar as condições da trilha (por exemplo, temperatura, chuva, distância entre pontos de água, perigos naturais) que você vai encontrar, de modo que você não carregará nada na base do chute ou de justificativas infundadas como "TALVEZ eu precise" ou "pode ser útil" ou por crenças ou inseguranças pessoais. Seja realista sobre suas verdadeiras necessidades e desejos, se quiser ter um item de luxo, certifique-se que tem uma relação muito boa de alto luxo e baixo peso (mp3 player, por exemplo). Depois de uma viagem, identifique itens que você não usou e considere deixá-los em casa na próxima vez.
3. Entre na onda Pack Light e veja como abaixar o peso de todos seus itens. Considere levar uma lona ou uma "tarptent" em vez de uma barraca de parede dupla. Faça um fogão a álcool ultraleve com uma latinha de alumínio ou lata de atum. Use uma jaqueta de duvet em vez de várias camadas de fleece. Aprenda a usar um mapa e uma bússola para que você possa abandonar o seu GPS. Essas decisões têm um efeito multiplicador: uma carga mais leve permite que você use tênis de corrida/trilha em vez de botas, com isto você caminhará mais rápido e precisará de menos água (peso) e comida entre cada parada. Se cansando menos, fará menos descansos e caminhará mais kilômetros por dia, permitindo cobrir distâncias cada vez maiores num certo período. As fontes de água ficarão mais próximas, você vai ver!
4. Use equipamento versátil e elimine o que só têm uma única utilidade. Arme e levante uma lona com bastões de caminhada e dispense a barraca. Vista toda sua roupa à noite e leve um saco de dormir mais leve. Use seu isolante dentro da mochila para não ter que usar um mochila com armação, você verá que a mochila fica bem armada através de um item que você vai usar depois, de noite, e não com uma armação que só tem uma função de dia e é pesada. Substitua sua barraca por um poncho que vire uma lona para dormir em baixo. E coloque o cantil inflável em um saco com roupas para usar de travesseiro.
5. Aumente a densidade calórica de seu alimento. Uma onça (28g) de gordura contém 240 calorias, uma onça de proteínas ou carboidratos, apenas 100. A dieta mais eficiente em termos de peso, então, seria composta apenas de manteiga ou alguma outra gordura pura. Claro que seria nojento, em vez disso use chocolate, nozes, batata frita, manteiga de amendoim e outros alimentos gordurosos similares. O objetivo é uma densidade calórica de 125-150 calorias / onça.
6. Otimize sua hidratação. Saiba usar bem sua água, calcule quanto precisa por hora e analise as condições (por exemplo, temperaturas, subidas, perda de água, sombra, etc), e tenha apenas o suficiente para alcançar sua próxima fonte de água.
7. Elimine todos os acessórios desnecessários. Remova fitas para piolets, loops, cordas e fitas de amarrar do lado de fora da mochila, bolsos para cantil inflável. Remova etiquetas de roupas, livros, guias e bordas de mapas desnecessárias, cabos de panela. E corte cabo de escovas de dentes, almofadas de forros da mochila e utensílios para torná-los mais leves e mais compactáveis. Este passo é intencionalmente listado por último - a economia de peso são negligenciáveis ??em comparação com os outros passos acima descritos.
OS TRÊS GRANDE PESOS DA SUA MOCHILA:
Retomando esta pequena matéria, o principal é diminuir o peso dos BIG THREE, ou seja, os três grandes responsáveis pelo peso: a barraca, a mcohila em si e o saco de dormir. Pouco tempo atrás eles poderiam pesar quase 3 kg cada um deles, totalizando 9 kg inúteis, com a mochila ainda muito vazia. Para alta montanha então era fácil chegar neste peso. Com o tempo o peso de cada um destes itens foi caindo para uns 2 kg cada, em médica, totalizando 6 kg. Hoje em dia é fácil achar (pelo menos na Internet) estes equipos pesando somente 1 kg cada, ou seja 3 kg ao total. Alguns fabricantes minimalistas usam uma nova matéria prima, chamada Cubem, muito mais fina e resistente do que o Nylon e conseguem mochilas de 300 g,sacos de dormir de 400 g e usam lonas para dormir que pesam 300 g. Ou sejam chegaram ao incrível peso de 1 kg para somando os três grandes. Ainda quero ver se este Cubem aguenta as condições da mata aqui no Brasil, pois nos EUA as florestas coníferas não são tão fechadas. E, bem, eu não usaria uma lona para dormir em baixo, qualquer chuva tropical me deixaria molhado, além de presença de insetos e répteis nada agradáveis. Mas já existem lonas com tela mosquiteiro e com o chão impermeável, ou seja, um dia farei o teste. Para montar esta lona (tarp em inglês) melhorada não se usa armações de alumínio e sim os bastões de caminhada ou galhos de árvores amarrados com finos cordeletes. Esta idéia vem do princípio que tudo deve ter uma dupla função, por isso seria inútil levar uma armação de barraca por horas e horas de caminhada para só usar de noite, para armar a barraca e dormir.
Fonte:
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