No segundo dia, as coisas se inverteram. Saímos do acampamento base e demos de cara com uma subida longa em terra e rocha, muito cansativa. Lentamente vencemos este trecho para chegar onde faríamos o acampamento alto (aproximadamente 5200m). Somente rocha com pequenos espaços para se armar as barracas, ao lado do imenso glaciar. Chegamos um pouco cedo no acampamento alto, arrumamos tudo e saímos curtir a vista maravilhosa com os tímidos raios de sol do fim do dia. Assim que o sol se pôs, a temperatura despencou. O jeito era comer algo e correr pra dentro do saco de dormir e tentar pegar no sono, coisa difícil a esta altitude, principalmente tão cedo (19h-20h). Era muito importante tentar dormir cedo, pois no dia seguinte começaríamos a escalar por volta das 2h da manhã.

Após o despertador tocar vem sempre uma das tarefas mais difíceis... sair do saco de dormir... rs! Comemos algo rápido e saímos. Julio (segundo guia) e Honório, Nolberto e eu. Contratamos o segundo guia com o intuito de caso alguém passar mal, este poderia descer sem que os outros também fossem obrigados. O Marcelo e o Guardia decidiram não tentar o ataque, pois estavam bastante cansados e sabiam que não seria um dia nada fácil. Além do fato de que sentiram que o Honório estava melhor que eles. Decisão difícil, mas de muito companheirismo. Saímos de cara em um trecho inclinado para então iniciar uma longa travessia do glaciar. A luz da lua estava tão forte que subimos a maior parte do tempo com as lanternas (headlamps) desligadas. Após algumas horas, Honório começou a se sentir cansado, e Nolberto e eu partimos um pouco na frente, pois qualquer minuto parado esperando, com a temperatura abaixo de -10 graus, poderia custar o cume. Por volta dos 5.500m de altitude e horas de escalada em um terreno muito difícil, ora com neve fofa, ora com penitentes, após vir lutando contra o cansaço, vimos que Honório e o Julio começaram a voltar. Lá pelas 7h horas da manhã saímos do trecho de menor inclinação e começamos a pegar os trechos de parede. Decidimos sair da "via normal" e pegar um trecho mais inclinado e um pouco mais curto. Aproximadamente as 8h30 tivemos contato com o sol... um alívio, pois estava muito frio. Subimos mais um pouco e onde acreditávamos estar chegando num trecho plano onde poderíamos comer e tomar algo, surge uma greta gigante, que nos deixou com duas opções: dar uma volta imensa; ou cruzá-la em um trecho de escalada vertical. Escolhemos a segunda opção, pois a primeira nos tomaria muito tempo. Passando a greta descansamos um pouco, comemos e bebemos algo rápido. Enfim, chegamos na parede final. Estava exausto, mas com muita vontade de fazer este cume. As 10h48 da manhã do dia 03 de setembro chegamos ao cume de Chachacomani! Maravilhoso! Curtimos a vista, conversamos um pouco e iniciamos a interminável descida até o acampamento alto, para logo em seguida descer até o acampamento base. Cheguei a perder 1,5kg nos dois últimos dias.

Se não fosse toda a preparação física e mental não teria conquistado este cume. Gostaria de agradecer meu preparador físico, Thiago Martinez; o Mineiro, com toda sua paciência para me ajudar nos treinos realizados na Casa de Pedra (academia); o pessoal que estava comigo na montanha, que me deu muita força; meus amigos no Brasil que sempre me incentivaram; Tony, que me apresentou a este esporte magnífico; e Nolberto, grande companheiro de cumes. Agora é descansar para encarar o próximo desafio neste fim de semana...

Um grande abraço a todos!