“Vale da Morte” é a denominação ingrata e indevida q recebe o magnífico Vale do Rio da Onça. Situado perpendicularmente ao Vale do Rio Mogi, q por sua vez atravessa td pólo industrial de Cubatão - este sim o verdadeiro “Vale da Morte” – alcunha q recebeu no inicio dos anos 80 por conta das tragédias ambientais da região. O tempo passou, Cubatão já não ostenta mais o lamentável titulo de “cidade mais poluída do mundo” e a região recuperou-se exemplarmente em termos ambientais. Contudo, o apelido de “Vale da Morte” não apenas perdurou como foi transferido de forma injusta ao Vale do Rio da Onça. Desmerecida pois o acidentado e escarpado trajeto q este rio percorre serra abaixo oferece uma das rotas selvagens mais belas e espetaculares de nossa Serra do Mar paulistana. Repleta de enormes cachoeiras, cânions vertiginosos e fantásticos visus, a descida do Rio da Onça não é programa fácil: não existe trilha, envolve muita intuição, escalaminhada constante, muita ralação no mato espinhento e até nado no trecho final. Enfim, o “Vale da Morte” é mais uma travessia clássica e casca-grossa pra poucos, cuja duração depende exclusivamente do desprendimento (e fôlego) dos envolvidos e das varias possibilidades de trajeto q este maravilhoso regato oferece.
clique nas imagens para ampliar fotos e legendas
O último bate-volta inspirado pra “Garganta do Diabo” - coisa duas semanas atrás - reascendeu a vontade de tornar a descer o temido “Vale da Morte”, q na verdade chama-se o Vale do Rio da Onça. Apesar de já tê-lo percorrido em duas ocasiões já bem datadas, em ambas houve a facilidade de desvios prévios por cristas paralelas q já levavam à margem rasa e segura do Rio da Onça, omitindo o q melhor ele tem a oferecer: seus belos cânions, cachus enormes e desfiladeiros sucessivos. Na primeira, em cia do Eric e mais alguém, fomos pela margem esquerda até quase os finalmentes, na maior parte por cristas florestada e pouco rio; na segunda, em cia da galera do “Pé-na-Lama” na saudosa “Trilha dos Perdidos”, tomamos rumo pela direita, através de uma longa e suave crista descendente q deu quase no mesmo lugar anterior. Enfim, a derradeira descida pelo “Vale da Morte” ainda estava pra ser feita, de preferência se mantendo o mais próxima do rio possível desde o inicio. E sem equipo algum, se valendo pura e simplesmente de bom senso e farejo de direção. Mas claro q pra isso era preciso mta perseverança, obstinação e desprendimento pois o trajeto cobra um tributo bem significativo: declividade acentuada e quase vertical a ser vencido, além de um espesso matagal fechado a ser aberto na raça. Sem contar os obstáculos menores, traduzidos na forma de formigas e mosquitos famintos, urtigas, cipós e caules espinhentos se agarrando em qq saliência do corpo e muita unha-de-gato perfurando a pele ao menor contato. Isso sem considerar um pequeno trecho a nado, já quase nos finalmentes. É, e pra aumentar as chances de sucesso o grupo a integrar esta audaciosa empreitada deveria ser pequeno e escolhido a dedo, além de unido, coeso e pró-ativo. Isso pq minha experiência já me calçou q grupos além de 8 integrantes fatalmente atrasam- independente de condicionamento – e esse era um luxo q não nos podíamos dar devido ao tempo disponível. Diante dessas condições impostas, os únicos q toparam o desafio e assinaram o “termo de responsabilidade” por conta e risco, me isentando de qq responsa pela integridade fisica foram os descolados Vivi, Fabio, Lucilene e o Ricardo, povo perrengueiro das antigas do qual já sei o q esperar em situações adversas. Afinal cada um tem q ser auto-suficiente em tds sentidos, e o lance é curtir a trip e não ser babá de ninguém. Pois bem, depois deste razoável prólogo de apresentação, vamos ao relato propriamente dito, não? Foi assim q nosso intrépido quinteto saltou no asfalto da divisa de R. Gde da Serra e Paranapiacaba, as 8:10hrs, naquela manhâ agradável de sábado, envolta num céu azul impar. Imediatamente nos pusemos a caminhar pela enlameada picada q parte do lado das torres de alta tensão, q por conta da estiagem dos últimos meses encontrava-se menos úmida q noutras ocasiões. Chapinhando a passos largos atraves do planalto do setor oeste da Serra do Mogi não tardou pra mergulharmos no frescor da mata fechada, descendo suavemente de inicio atraves de uma vala erodida pra depois palmilhar uma firme e batida vereda. Cruzamos então o Rio das Pedras pra acompanhá-lo pela sua margem esquerda a uma distancia segura. Uma breve parada no primeiro mirante do caminho nos deu um gostinho da baixada de Cubatão, aos pés de enormes e verdejantes montanhas escarpadas. A picada terminou nos desovando no leito do Rio das Pedras, q bastou costurar atraves de seu leito pedregoso, de avanço bem facil, rumo sul. É, a estiagem era realmente significativa pois o leito de pedras do regato estava quase td aflorado à superfície, à diferença das ocasiões anteriores em q ali estivera, onde o rio estava sempre cheio de água. Num piscar de olhos passamos as primeiras cachus do rio, ignoramos o Rio das Tartaruguinhas espiando nossa expedição pela direita, até q finalmente desembocamos no alto da sempre magnífica Cachu da Fumaça, as 9:40hrs. Após uma breve pausa pra cliques rápidos do belo visual q se descortinou à nossa frente, demos inicio oficial à descida de serra. E lá fomos nós, descendo aquela significativa e ingreme piramba aos poucos, passando por seus sucessivos patamares lindamente encachoeirados, beneficiados pela iluminação natural daquele horário. Uma, duas, três, quatro cachus consecutivas despencando em enormes e convidativos poços iam se revelando diante nossa passagem, entremeada de curtos trechos de íngreme desescalaminhada entre si. A marcha prosseguiu agora por entre gigantescos blocos desmoronados de pedras, onde fomos nos embrenhando tal qual calangos profissionais, sempre descendo cada vez mais. E assim foram vencidas a quinta, sexta e sétima queda q marcam o final desta bela descida, tb conhecida como “Ferradura da Fumaça”, no caso, “meia-Ferradura”. E assim, após passar pelas quedas do Rio Vermelho atingimos o chamado “Portal”, as 10:30hrs, isto é, a confluência dos rios das Pedras, Vermelho e da Solvay. O “Portal” é caratcteristico pela presença de um enorme obelisco rochoso à esquerda q, tal qual um majestoso sentinela, guarda o inicio propriamente dito do “Vale da Morte”, q volto a repetir, deveria se chamar mesmo de Vale do Rio da Onça. Após nos esgueirar atraves de pedras desmoronadas com alguma dificuldade devido as cargueiras, retomamos nossa pernada com mais agilidade e velocidade rio abaixo, sentido sudeste. Saltando de pedra em pedra ou simplesmente costurando as margens do rio, aqui a pernada é bem fácil e se mantém de certa forma cadenciada. Finalmente caímos no alto da famosa “Garganta do Diabo” (vulgo “Gogó do Tinhoso”) as 11:20hrs, mas nosso pit-stop não seria aqui não. Escalando a parede rochosa a direita logo caímos no emaranhado de picadas q desce o cânion abaixo, passando por uma simpática área de acampamento. E assim, após desescalaminhar um ultimo trecho nos segurando em td sorte de raizes, as 11:30hrs desembocamos nos amplos lajedos q bordejam o sopé da magnífica Cachu do Anubis, onde agora sim jogamos as mochilas no chão prum descanso, lanche e relax mais demorado. E banho tbm, afinal o sol estava a pino fritando nossas cacholas. Enqto a Vivizita fumava seu cigarrito, a Luzita se tostava ao sol e o Fabio dava tchibum no poção ao sopé da queda, eu e o Ricardo fomos bisbilhotar o interior da “Goela do Gramunhão”. Pra isso, é necessário retroceder ate à altura do alto da cachu e lá colocar em prática algumas habilidades simiescas q num piscar de olhos se alcança o alto da Anubis. Dali basta adentrar o canionzão, ora pela água ora pelas pedras (escorregadias) do enorme paredão. O Ricardo foi quem chegou mais próximo (nadando) da cachu do alto do Garganta, e apenas constatou o baixo nível das águas geladas daquele formidável gargalo rochoso. Na sequência e bastante satisfeitos, retornamos pelo mesmo caminho até a cia de nossos colegas de trip, lógico, onde ainda mandamos ver nova rodada de salgados. Pois bem, até a Cachu da Fumaça td mundo vai. Outro tanto se arrisca e consegue ir até a “Garganta do Diabo”. Mas são poucas - senão contados nos dedos de uma mão só - os que vão além do “Gogó do Tinhoso”. E nós somos alguns desses malucos a integrar esse grupo seleto. Q seja o q Deus quiser então. E assim, a exatas 12:45hrs deixamos aquele bucólico lugar pra mergulhar no desconhecido, no terreno incerto q nos aguardava. Da “Garganta do Diabo” o cânion faz uma curva fechada pra direita e prossegue um tanto pro sul, cavando mais outro desfiladeiro porém mais aberto q o anterior. Tentamos prosseguir por baixo, sem sucesso. Retrocedemos então à clareira avistada onde outra picada saia pela direita, descendo vertiginosamente rumo as margens do cânion, mais abaixo, ate desembocar noutro belo poço ao sopé de mais uma linda cachu. Daqui em diante não há mais qq outro vestígio de trilha e é necessário seguir através do mato da encosta direita, por onde der. E la fomos nós, avançando pela vegetação sem gde dificuldade nos firmando em td e qq apoio á mão, uma vez q há trechos de chão bastante escorregadios ou de terra pouco compacta, q se esfarela ao menos contato. Qq descuido seria despencar no desfiladeiro, logo abaixo. Pois bem, cautelosamente fomos ganhando metros preciosos cânion adentro até conseguir alcançar o alto de um novo gargalo rochoso, q fazia uma breve curva pra leste mas depois tornava a descer pro sul. Vendo a impossibilidade de descer, mativemos nossa rota nivelada pela encosta avançando um pouco mais pra frente. Chegamos então no trecho onde o cânion novamente fazia uma curva fechada, desta vez pra esquerda. Barrados pelo enorme paredão á nossa frente, fomos obrigados a desescalaminhar o patamar q nos segurava até os lajedos do rio, cruzá-lo e seguir pela outra margem. Até aqui td transcorreu bem, sem maior dificuldade no quesito escalada, onde havia q atentar principalmente às pedras escorregadias. Esta nova curva de rio é fantástica, pois a água corre atraves do gargalo acima mencionado, forma um piscinão de águas esverdeadas, e depois despenca cânion abaixo sob a forma de uma cachu fantástica. Esta queda lembra muito a da Fumaça, porém da Chapada Diamantina, pois a água cai de uma altura consideravel em direção a um poção cercado de altos paredões. Do poção o Rio da Onça prossegue por novo e imponente desfiladeiro, descendo a serra agora pra esquerda, ou seja, sudeste. Este novo cânion faz a “Garganta do Diabo” parecer coisa de criança, tanto q por este motivo tivemos a liberdade de apelidá-lo de “Estômago do Diabo” pelas suas proporções avantajadas. Como prosseguir pelo poço cânion abaixo era impossível, cruzamos pra outra margem do rio e começamos a escalar a encosta íngreme do morro no intuito de passar por outro lado. E tome piramba acima, onde havia q se firmar onde desse, fosse mato ralo ou pequenos caules, tendo o devido cuidado de não soltar pedras e soterrar o companheiro, logo abaixo. E assim fomos ganhando altitude aos poucos ate alcançar praticametne o cume daquele morro. Uma vez no topo da montanha, havia q azimutar no sentido paralelo ao rio, cujas águas trovejantes eram perfeitamente audíveis onde estavamos. A partir dali começou uma descida forte em meio á muita mata fechada cujo trecho inicial foi meio tenso pois havia q avançar na raça. Não raramente me jogava na frente de modo a abaixar a mata e a sensação imediata era a de cavar um túnel, só q à luz do sol! “Se o q nos espera for td tempo assim tamo ferrado! O avanço dessa forma seria bem lento, de apenas alguns metros por hora!”, pensei. Mas pra nossa felicidade o trecho nervoso foi apenas o inicio já q depois a vegetação abrandou e tornou-se mais facil de transpôr. Mas isso não nos isentava de agarrar em espinhos ou esbarrar em urtigas, presentes aos montes nesta descida. Na descida encontramos um caminho dágua seco q certamente desembocaria no rio, e foi então por ele q nos embrenhamos, perdendo altitude mais rapidamente e sem os inconvenientes de mato no caminho. Dessa maneira caímos outra vez no Rio da Onça, as 15hrs, num belo patamar rochoso mais abaixo, desta vez cercado de vegetação alta e belo visual. Pois bem, uma vez aqui constatamos q não dava ainda pra prosseguir pelo rio pois a sucessão de cânions e desfiladeiros se sucediam quase q seguidamente serra abaixo. Sem equipo profissional de rapel o jeito então era acompanhar o rio paralelamente, atraves de seus vales transversais, e dali estudar onde cair nele novamente em definitivo. Após um breve pit-stop de descanso naquele magnífico patamar rochoso retomamos nossa marcha morro acima, varando mato novamente na tentativa de passar pro outro lado e cair no Rio da Onça novamente. E tome piramba acima do mesmo naipe anterior, so q desta vez com cuidado recobrado pois o chão alem de escorregadio esfarelava ao menor contato. Dávamos um passo porem retrocedíamos dois, o q tornou a subida bem desgastante. Mas uma vez no alto o terreno nivelou pra alegria geral. A partir dali nos mativemos na crista, q começou a descer suavemente, mas como sabíamos q se descêssemos por ali seriamos novamente emparedados pelo cânion, arriscamos cortar pro outro lado de vê, na transversal, de modo a cair bem mais abaixo do Rio da Onça. E tome piramba abaixo!! Neste trecho o pior foram os terríveis formigueiros q pisamos inadvertidamente, onde mais de uma vez eu e o Ricardo – sempre na dianteira - servíamos tanto de almoço pras bichinhas como pra avisar o resto da galera pra não pisar onde estávamos. Pois bem, após varar um matinho considerável caímos novamente no Rio da Onça, so q desta vez outra vez no alto de uma nova imponente cachu, sem a possibilidade de seguir pelo seu curso dagua, pra desanimo geral. Não havia como descer a parede vertical de onde estavamos, sem falar q la de baixo o rio cavava outro cânion agora sentido sudoeste. “Caralho, e agora?”, pensei. Conersando com Ricardo chegamos a conclusão q teríamos q retroceder um pouco, atravessar um pequeno vale perpendicular ao principal, e dali ganhar outro morro de modo a passar pro outro lado e cair novamente no da Onça. Pois é, pra descer o Vale da Onça é necessário muito sobe-e-desce pauleira! Felizmente estávamos próximos do pequeno córrego do vale transversal, e foi em suas águas q tivemos mais um breve pit-stop de descanso, alem de abastecer os cantis devidamente. Retomamos o fôlego e prosseguimos nossa marcha, agora morro acima outra vez. Porém, o trecho inicial era bem vertical e foi aqui onde fizemos uso (a única vez) de corda, já q o Ricardo portava uma bem simples caso houvesse necessidade. Bem, não q houvesse necessidade, mas como o chão esfarelava fácil os primeiros conseguiam escalar o lance na boa, mas terminavam não deixando apoios pro resto, no caso, as meninas. Passado este trecho adrenado começamos a ganhar lentamente uma nova e árdua piramba. Ascenção lenta e demorada, diga-se de passagem, q foi consumindo rapidamente nossas forças. Qdo o terreno abrandou na crista foi ai q tive dúvidas se manteríamos o cronograma inicialmente proposto. Eram apenas 17:30hrs e ainda tínhamos hora e meia de luz natural pra andar, mas bastou olhar pro semblante de td mundo pra tomar a decisão q era hora de parar. Estavamos tds exaustos, imundos de mato e cheios de ralados, principalmente eu, claro. Além do mais, aquela crista oferecia um lugar razoável pra encostar o esqueleto com algum conforto, coisa q dificilmente encontraríamos pela frente. Eu apenas lamentava não ter mais água do q dispunha na minha modesta garrafinha de 500ml. Assim jogamos as cargueiras ao chão e cada um se acomodou onde deu. Eu, Luzita e Ricardo apenas estendemos nossas redes no arvoredo ao redor enqto o Fabio ainda teve q roçar algum mato pra acomodar sua pequena barraca pra dividir com a Vivi. Na sequencia, cada um mandou ver o q tinha a disposição na bagagem pra forrar o estômago, fosse miojo, strogonoffe, almôndegas, etc, e não demorou muito pra cada um desfalecer em seu aconchegavel saco-de-dormir. Claro q o vinhozinho q a Vivi ofereceu pra galera ajudou nesse sentido. Eu, por exemplo, desabei no sono bem antes do dia findar e a noite abraçar os contrafortes serranos do “Vale da Morte”, tendo como trilha sonora o rugido encachoeirado do Rio da Onça correndo a nossos pés. De noite acordei pra “regar a moita” além de constatar q a temperatura caira consideravelmente. A vegetação em volta filtrava a iluminação do enorme disco prateado da lua acima de nossas cabeças, enqto podia avistar do conforto meu bivake improvisado as luzes alaranjadas de Cubatão sendo as únicas a macularem o breu predominante ao nosso redor. A manha sgte irrompeu igualmente promissora embora com algum brumado de inicio, mas nosso despertador mesmo foi o apito do trem subindo pela cremalheira rumo Paranapiacaba, à leste. Com o corpo revigorado e o ânimo renovado, levantamos acampamento rapidamente enqto mastigamos nosso desjejum com o resto de água racionada. Zarpamos a exatas 7:30hrs agora descendo transversalmente e sem maior dificuldade a crista q nos servira de abrigo sentido um pequeno vale perpendicular ao Rio da Onça. Uma vez no fundo dele, chapinhamos atraves da agua correndo pra subir a suave encosta sgte ate ganhar nova e larga crista. Aqui encontramos vestígios de acampamento, e bem antigo. Bem q tentamos descer e acompanhar essa crista, mas qdo percebemos q ela embicava sentido cânion optamos por retroceder e avançar atraves de mais um vale perpendicular. E foi o q fizemos, daquela crista começamos a descer rumo o vale sgte ate atingir novo encachoeirado correguinho, as 8:45hrs, q voltou a encher os cantis menos favorecidos. Dali estudamos o melhor pto pra subir a encosta sgte e tocamos pra cima vigorosamente ate alcançar uma nova crista e por ela seguir desimpedidamente rumo o Rio da Onça, sentido sul. A marcha aqui tava bem mais facil q as anteriores, com mato caindo de ambos os lados vertiginosamente, ate q a então suave crista embicou pra baixo e não teve jeito mesmo: tome desescalaminhada! O pior foi q neste pequeno e curto trecho estavam as matas mais espinhentas da jornada, q deixaram nossas mãos repletas de ptos negros q estamos retirando até hj. Após árdua e sufocante desescalaminhada finalmetne atingimos novamente nosso objetivo, as 10hrs. Pra nosso desgosto, no alto de outro cânion vertiginoso impossível de transpor pela agua. Ou seja, teríamos q voltar um pouco e dar a volta pelo morro q recém havíamos descido. Neste trecho houve duvidas qto se passávamos pra outra margem e prosseguíamos por ela, mas foi ai q nos valemos do aparelhinho GPS do Fabio q so foi utilizado naquela única ocasião apenas pra nos indicar onde a curva de nível era menor, já q ele tinha o mapa plotado. Isto so foi necessario pq eu havia esquecido a carta topográfica em casa. Decidido isto retrocedemos morro acima e passamos a contorná-lo atraves da mata ate dar no outro lado. Uma vez lá bastou descer uma piramba quase vertical de altitude considerável – algo de 70m - nos agarrando no q tivéssemos a disposição, usando mato como corda e corrimão improvisado, com cuidado de não pisar em falso e jogar pedra em quem tivesse abaixo. Assim fomos perdendo altitude rapidamente enqto podíamos avistar um manso rio correndo la embaixo. Uhúúúú! Alegria geral, fim dos cânions! Isso significava q o resto da pernada seria na horizontal, e sem nenhuma pirambeira acentuada a subir. Dito e feito, as 11hrs caímos na margem pedregosa de um pequeno afluente do Rio da Onça q simplesmente bastou acompanhar ate alcançar sua confluência. “Galera, daqui em diante é sussa!”, falei pra galera em tom otimista e tentando transmitir motivação, mesmo sabendo q ainda haveria mais uns últimos trechos de pequenos “cânions aquáticos”. Enfim, foi ali num enorme piscinão da confluência dos rios q nos brindamos com um breve pit-stop pra refrescante banho, afinal estavamos imundos de terra e mato. Bem, quase tds mergulharam já q a Vivizita não queria nem saber de agua gelada. Ao meio-dia prosseguimos a marcha então pelo Rio da Onça, agora em definitivo, costurando suas plácidas margens saltando de pedra em pedra sem dificuldade alguma. No caminho tropeçamos com muitos gdes poços convidativos, com uma galinha-do-mato q se pirulitou assim q nos viu e com varias pegadas de pequenos felinos (jaguatirica ou gato-do-mato?) nos bancos de areia. Pois bem, a pernada pelo rio correu sussa e com pouca declividade conforme o previsto, ate q surgiu um pequeno “portal rochoso” a transpor. Duas enormes rochas emparedavam o rio formando uma espécie de “entrada”, e pela agua visivelmente percebemos q não dava pra ir devido a profundidade. O jeito foi desviar pela esquerda e varar mato pra cair do outro lado. Ok. Na sequencia surgiu um novo obstáculo quase similar, mas q devido ao baixo volume de água do rio bastou bordejar cuidadosamente o paredão rochoso da direita, sem necessidade de entrar na água. Mas após uma meia hora percorrendo o rio naquela tranqüilidade alcançamos mais muralhas verticais espremendo o rio e, diante da impossibilidade de escalar suas encostas ou seguir pelo mato, não tivemos opção senão mergulhar no rio com água ate o peito e carregar as mochilas na cabeça, pra infelicidade da Vivi q agora teria de se molhar. Felizmente tava dando pé, o q já tava de bom tamanho. Embora pra quem é baixinho (ou baixinha) “dar pé” é algo relativo. A Luzita com suas pernocas curtinhas q o diga, q recebeu td apoio necessario qdo suas extremidades sequer alcançavam o alvo desejado. A marcha prosseguiu numa boa até q dar no “trecho critico” mencionado anteriormente, q tem dois momentos bem defindidos: um último cânion onde seria inevitável cair na agua e, provavelmente, não dar pé. Num primeiro momento passamos pra direita e nos embrenhamos num buraco em meio a rochas escorregadias, pra depois mergulhar com água ate o peito, ladear o paredão e alcançar a margem pedregosa. No segundo momento deve-se cair na água e prosseguirpor ela ate a margem de areia, bem mais adiante. O problema aqui é q tem trechos q não dá pé e nadar é seria inevitável, pra desespero da Luzita, q não sabe nadar. E as mochilas? Pois bem, foi ai q o Fabio teve a gde idéia de improvisar o isolante inflável como “balsa”! Grande idéia! E assim cada um foi atravessando lentamente este piscinão fundo empurrando a “balsa” com a bagagem! E com a Luzita a tiracolo tb, diga-se de passagem!!! Uma vez em segurança do outro lado, bastou secar as tralhas e seguir em frente. O pior havia passado e agora era só alegria. A paisagem tb mudou à nossa volta. O vale fechado se abria lentamente, na mesma medida em q o encachoeirado Rio da Onça finalmente amansava feito um gatinho, ritmo q leva ate desembocar no Rio Mogi, confluênciaq alcançamos as 14:15hrs. Ali encontramos um quinteto de “Funiculeiros” q retornava da Grota Funda e com quem trocamos algumas poucas palavras. As 14:40hrs abandonamos as águas calmas do Rio Mogi pra adentrar na fabrica de contâiners da Cosipa e por ela seguir um tantão. Na guarita tivemos q passar nossos nomes e rgs pros seguranças liberarem nossa passagem, além de nos darem duas dicas importantes: como sair dali pelo outro lado do rio sem td burocracia da fábrica; e q não recomendam sair dali à noite, sob risco de levar chumbo dos guardas noturnos. Dicas anotadas pruma próxima ocasião. Uma vez lá fora aguardamos o busunga em frente um boteco meia-boca onde mal mandamos ver duas brejas pra comemorar a empreitada q tivemos q tomar o coletivo das 16:10hrs, um tal de “01”. Viagem esta q foi mais rápida q o previsto já q num piscar de olhos o latão nos deixou no centro de Cubatão. Dali bastou se informar e seguir a pé até a rodoviária, não mto longe dali, já sai mto mais rápido q a baldeação integrada de bus. Uma vez no terminal imediatamente garantimos nossas passagens de volta pra Sampa alem de trocar nossas vestes sujas e úmidas por outras mais secas e confortáveis. Engracado foi qdo fui no boteco da rodoviária e ouvi a tiazinha do balcão tecendo comentários sobre nós: “Nossa, olha esse povo tirando a roupa ali na vista de td mundo.. q coisa, não? Mas olha esse rapaz ali sem camisa! Humm, q delicia!!!”. Mas foi so eu falar q queria uma breja pra dividir com o “delicioso” do Fabio q a tiazinha não sabia onde enfiar a cara de tão sem-graça q ficou... É, Vivizita, cuida bem do teu menino!!! Resumindo a estória td: pegamos o busão das 17hrs, por sorte, e retornamos pra casa ainda a tempo de remover tds os espinhos q trazemos a tiracolo como lembrança desta inesquecível e selvagem jornada. Há muito tempo q Cubatão já deixou seus pouco honrosos predicados, portanto nada mais justifica a permanência do nome de “Vale da Morte” a um lugar tão cheio de vida e fascinante como o Vale do Rio da Onça. A “Garganta do Diabo” idem. Quiçá isto se deva apenas pelo fascínio, adrenalina e sonoridade q nomes “infernais” provocam. Ainda assim chamar estes paraísos - mesmo q reduzindo sua pejoratividade – de forma tão apelativa não condiz e mto menos é nada compatível com as fantásticas belezas q ele tem de oferecer aos trilheiros de plantão. Enqto isso não ocorre, fica a dica da “Travessia do Vale do Rio da Onça” (e não “da Morte”) como mais uma legitima caminhada selvagem pra ninguém botar defeito. Uma pernada infernal situada num raro e maravilhoso paraíso terreno. Jorge Soto http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html http://jorgebeer.multiply.com/photos |