Os rios q serpenteiam os contrafortes serranos dos arredores de Paranapiacaba oferecem gdes atrativos q se traduzem seja na forma de respeitáveis cachus e poços translúcidos como tb outro gde tipo de acidente geológico q dá um espetáculo a parte: imponentes cânions q, independente da forma e tamanho, emparedam td ao seu redor por meio de grandiosas muralhas rochosas verticais.
Destes, o mais conhecido é o q atende pelo sugestivo nome de “Garganta do Diabo”, magnífico desfiladeiro de rocha pura formado pelas águas inquietas do Rio da Onça em seu acidentado trajeto serra abaixo antes de desembocar mansamente no Rio Mogi.
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De relativo “fácil” acesso, este domingo lá retornei pra explorá-lo melhor de modo a ganhar intimidade maior com o referido gargalo pedregoso. O saldo do dia foi a “descoberta” de novos achados q passaram desapercebidos das ocasiões anteriores em q lá estive: uma rede de trilhas bem batida com acesso tanto ao outro extremo/base do desfiladeiro como a uma ótima e oportuna área de acampamento; além de mais uma enorme cachoeira q apenas engrossa as trocentas q esta maravilhosa região oferece, e introduz seus andarilhos ao chamado “Vale da Morte”. Relativamente debilitado por uma inconveniente gripe adquirida uma semana antes, abri mão do perrengue pauleira e exigente fisicamente q tinha em mente pro domingo agora. Mas claro q estar resfriado não é sinônimo de permanecer mofando em casa, ainda mais com um sol sorrindo pra vc num céu estupidamente azul. Basta saber procurar um programa adecuado à suas condições. Dessa forma decidi voltar à “Garganta do Diabo” (q eu e mtos conhecidos preferimos chamar carinhosamente de “Gogó do Tinhoso”), cânion q já visitei em mais de uma ocasião já a algum tempo, porém de forma breve e passageira. Pois bem, essa foi a deixa pra lá voltar de modo a explorá-lo mais minuciosamente de forma sussa e descompromissada. Assim, as 8:15hrs eu e a pau-pra-td-obra Lucilene saltamos do busão em frente da fumegante industria q destoa da paisagem esmeralda nos limites de Rio Gde da Serra e Sto André. Ignorando a conhecida trilha da Cachu da Fumaça, optamos por seguir ao nosso destino via Rio da Solvay (ou Rio do Meio), embora no fundo tds as trilhas aqui de uma forma ou de outra convergem pro “Vale da Morte”, até pq tds são paralelas entre si. Retrocedemos um tanto pelo asfalto ate q finalmente nos embrenhamos mata adentro, chapinhando pela tradicional e inevitável trilha enlameada e fétida, assustando até uma galinha-do-mato q por ali transitava pra se pirulitar nos arbustos. A passos ligeiros passamos sob o zunido eletrostático das torres de alta tensão ate finalmente mergulharmos no frescor da mata fechada e chegar nas manilhas q cruzam o Rio Vermelho. A partir daí o caminho já foi cantado em verso e prosa em mais de uma ocasião e não precisa de gdes descrições. O fato é q não tardou a alcançar o Rio do Meio, onde bastou acompanhar a indefectível picada q o costura por ambas margens. O sol filtrado pela mata iluminava maravilhosamente a paisagem ao redor, embalado pelos sons da mata, eventualmente rompidos por espirros e tossidas secas oriundas das entranhas da minha garganta dilatada e repleta de catarro. O som de vozes mas principalmente o odor característico de “cannabis” indica a proximidade do Lago Cristal. Dito e feito, bastou chegar á tradicional área da acampamento q bordeja o bucólico e esverdeado poço pra encontrar uma galerinha roqueira recém saída da balada e disposta pra curtir o enorme piscinão, alem de uma outra moçadinha q já tava ali “acampada” da forma mais rústica imaginável, improvisando apenas um pequeno toldo de plástico pra passar a noite. Pela proximidade com o mar, perguntamos se a noite fora fria ou chuvosa e pra nossa surpresa o tempo aqui tem se mostrado bem estável. Sorte deles. Prosseguimos então nossa marcha agora descendo o rio, inicialmente desescalaminhando uma trilha q desaba piramba abaixo pra depois seguir pelo seu leito pedregoso, saltando de pedra em pedra. A pernada é favorecida pelo baixo volume de água do rio, q permite pisada segura e firme na maior parte do trajeto, mas ainda assim uma insegura Lu não se faz de rogada e enfia o pé inteiro na água nos trechos em q a bota ameaça patinar pelas rochas. Um pouco mais adiante e após fazer a curva de um morro os horizontes de ampliam e a paisagem se abre, revelando o visu da sequencia de alvas quedas do Rio das Pedras bem a nossa frente, despencando encachoeirado na encosta oposta. A descida de rio segue tranqüila e sem nenhuma intercedência, alternando as margens conforme vamos desviando dos obstáculos q se apresentam á nossa frente, seja enormes poços, pequenas cachus ou paredões verticais. As 9:30hrs e antes de chegar no chamado “Portal”, isto é, a confluência dos rios (Solvay, Vermelho e das Pedras) por sua vez situada ao sopé de uma enorme rocha q serve de sentinela, esbarramos com um quarteto de escoteiros (ou bombeiros, sei la) q subia o rio no sentido contrário com quem trocamos algumas infos. Mas uma vez no “Portal”, as 10:40hrs, q tive q arranhar os cafundós da minha memória pra lembrar o local exato por onde tem q se esgueirar - atraves de quebra-corpos entre as rochas - de modo a alcançar o patamar após a confluência dos rios, agora chamado de Rio da Onça. E la fomos nos espremendo entre as rochas, passando por baixo de outras e descer do lado de uma enorme cachu respingando parte de sua gelada água na gente. Realmente, pra passar daqui em diante na raça e sem equipo o rio deve estar relativamente seco, do contrario sem chance. Menos mal q São Pedro anda gentil conosco naquele belo domingo. Uma vez no leito pedregoso do Rio da Onça (e prólogo do “Vale da Morte”) bastou seguir desimpedidamente da mesma forma, isto é, desescalando rochas e desviando dos obstáculos do caminho, cada vez mais surpreendentes. Isso se traduz na sequencia de enormes e esverdeados piscinões q fazem o farofado Lago Cristal parecer uma simplória poça. Diferentemente da parte alta, aqui vc não encontra ninguém justamente pela distancia e pelo terreno acidentado q não é qq um q se dispõe a encarar. Tanto q aqui so topamos com outra galera retornando justamente da Garganta e com quem conversei rapidamente pra saber das condições da mesma. O pessoal era de uma agencia, a “DesafioAdventures”, q havia rapelado o cânion após pernoitar com clientes no alto do paredão direito. Pernoitado, como assim? Pois é, qdo estive a ultima vez ali (coisa de 3 anos atrás) não recordo de ter visto nenhum local decente de pernoite a não ser o tradicional “bivake em rede”, e isso despertou meu interesse pois vem a calhar no caso de explorações mais demoradas pela região. Bom saber disso ai. Após nos despedirmos da galera, q subia apinhada de pesado equipamento, eu e a Luzita demos continuidade á nossa incursão ao referido desfiladeiro, sempre no mesmo sussa e desimpedido compasso. Em duas ocasiões tivemos q desviar de obstáculos pela esquerda atraves de uma oportuna trilha na mata da encosta, mas no geral a pernada se dá costurando ambas margens do leito pedregoso do rio.Nesse meio termo um bando de andorinhas parece nos dar as boas vindas aquele lugar tão belo e ermo qto selvagem dando inúmeros razantes tanto no ar qto no rio. Mas finalmente após descer o rio mais um tanto e constatar q o vale vai lentamente se estreitando e os paredões nos espremendo cada vez mais, é q temos a real consciência de estar já próximo de nosso destino. As 11:40hrs a pernada pelo rio nos leva ate a beirada de um enorme paredão, por sua vez no sopé de duas enormes muralhas q convergem num respeitavel vértice rochoso, afunilando o rio num gargalo de pedra por onde despenca sob a forma de uma gde cachu cânion adentro. Estamos num dos extremos da Garganta do Diabo! A impressão q se tem é q houve um terremoto q abriu uma gigantesca fenda rochosa cortada a prumo, no caso cavada pelas agitadas águas do Rio da Onça, dividindo ambos paredões q se estendem paralelamente por uma centena de metros a frente, formando um corredor estreito de quase 50m verticais!! Não sei pq mas a visão me recordou, guardadas as devidas proporções, o rolezinho q dei no Cânion Xingó, na divisa de Sergipe e Alagoas. A altura vertiginosamente vertical dos paredões e a agua correndo furiosa la embaixo ajudou a reforçar esta impressão. Já ouvi dizer de getne q salta do alto dos paredões, algo duvido, ainda mais agora com o rio relativamente seco e de onde pode-se claramente observar o fundo do cânion ate q meio raso, com pedras aflorando perigosamente à superfície. Daqui já não há como seguir em frente pelo rio, não pelo menos sem equipamento, claro. Fim da linha? Não. Daqui basta procurar o melhor jeito de escalar a encosta direita e tocar pra frente. Mas claro q antes eu e a Luzita nos prostamos numa lajota plana na sombra q serviu as nossas necessidades imediatas, ou seja, descanso, lanche e cochilo, não necessariamente nessa ordem. Afinal, já era quase meio-dia e o sol estava fritando miolos. E por falar em sol a pino, não pensei duas vezes em me refrescar num esverdeado poço próximo, mesmo q depois tivesse q tolerar as conseqüências disso tendo em vista meu estado de saúde já debilitado pelo resfriado. Descansado e revigorado, aproveitei q a Luzita tava se tostando ao sol pra dar uma zanzada até o outro extremo do cânion, algo q nunca havia feito ate então. Pois bem, pra sair dali deve-se buscar agarras ou apoios seguros pra escalar a encosta direita, quase vertical. Tem um trecho relativamente inclinado de rocha onde pode-se ir engatinhando, mas eu optei escalar o paredão mais próximo me valendo de saliências na rocha e um bem-vindo tronco. Após este inicio meio pauleira é só alegria. Facilmente se ganha o alto florestado do paredão onde constato uma discreta picada q o percorre por td sua extensão, vereda esta q antes inexistente. Dali basta seguir a picada, q desce forte e num piscar de olhos cai na mencionada área de acampamento, q nada mais é uma pequena clareira capaz de comportar 3 barracas apertadas. A partir dali surgem varias bifurcações e estreitas trilhas laterais q claramente sugerem seguir o Vale da Morte abaixo (as da direita) e outras q dão em pequenos mirantes do alto do cânion como ate sua outra extremidade (as da esquerda). Tomando então uma destas ultimas dei na beirada do alto do paredão, de onde pude avistar a Luzita lagarteando ao sol de uma perspectiva privilegiada, dona absoluta daquele pedaço de paraiso. A picada acompanha o alto da muralha quase q sem apoio algum de tão estreita q é, e qq escorregão é queda de quase 50m! Mas o bom é o arvoredo ao redor ajuda a garantir um pouco a nossa integridade física, desde q não se apóie num repleto de espinhos. Mas não demora pra picada abandonar a beirada do paredão e adentrar pra direita, onde perde altitude vertiginosamente e há necessidade de se firmar no q tiver á mão. Rochas, galhos, raizes, cipós, etc. td serve na desecalaminhada. Uma vez la embaixo já podemos observar o final do cânion fazendo uma curva fechada pra direita. Escalaminhando o ultimo trecho damos nas lajotas ao lado do rio, q aqui segue seu curso rumo Vale da Morte relativamente manso ate se perder noutra curva, onde se enfia noutro vertiginoso cânion. Mas isto sera assunto pra outra ocasião, portanto vamos nos manter somente à Garganta do Diabo. Das lajotas, indo pra esquerda, logo observamos uma imponente cachu de quase 30m q marca o pto final do supracitado cânion. Um conhecido a nominou de Cachu do Anubis, e por não ter conhecimento de seu nome oficial adotei essa denominação mesmo. E apropriada, diga-se de passagem, pois a cascata é digna tão de reverencias qto o deus egípcio q lhe empresta o nome. Portanto, se alguém souber da verdadeira nomenclatura desta queda favor me corrija. Pois bem, das lajotas é possível escalar a encosta esquerda da cachu e alcançar seu topo, de onde se tem uma vista privilegiada tanto do poção na base de sua queda como do interior da Garganta. Caminhando rio acima pelo estreito corredor de pedra é possível ter a verdadeira noção da grandeza deste cânion e uma sensação tanto de claustrofobia como de insignificância diante da natureza, o q nos faz sentir irremediavelmente minúsculos... porém mais vivos q nunca, parafraseando Reynold Mesnner de forma bastante oportuna. A breve caminhada pelo interior do cânion apenas reforça minhas suspeitas dos seus poços estavam bem rasos, a exceção de dois ou tres ptos, porem difíceis de identificar do alto. Ou seja, qq tipo de mergulho do topo do cânion naquele dia era suicídio na certa. Satisfeito pela breve incursão pela Garganta, retornei pelo mesmo caminho pra encontrar a Luzita. A descida do paredão não foi por onde subi e sim pela lajota inclinada, onde bastou sentar e escorregar, bem mais facil. Enfim, valeu a pena. Sendo assim iniciamos a volta pela mesma rota a exatas 13:40hrs, apressados principalmente por uma ligeira nebulosidade q ameaçava tomar conta do céu vinda do litoral. Afinal, não desejávamos ser surpreendidos e ficar presos ali por uma chuva repentina, não? Mas felizmente td não passou de alarme falso já q depois o sol tornou a sair com força redobrada. Sem pressa então, fomos vencendo os sucessivos niveis da pernada ate q finalmente alcançamos o “Portal”, onde descansamos por uns 5min. Ao vencer o trecho restante ate o planalto encontramos um pessoal do mochileiros.com (Hudson, Jefferson, Renata, etc) q tentara tb alcancar a Garganta, mas devido à lentidão de algumas integrantes novatas (com tênis impróprio desmanchando aos poucos) e descondicionadas, escassez de tempo e desconhecimento do “caminho das pedras” ate o desfiladeiro, acabou retornando de forma sensata após alcançar o “Portal”. Por precaução, fui relativamente junto deles dando toques dos melhores ptos de travessia de rio na subida pois o ritmo deles de fato tava bem vagaroso, assim como a dica da trilha q sobe ao topo da Cachu Escondida, no caminho. Uma vez no Lago Cristal, as 15:30hrs, fizemos uma merecida pausa pra tchibum, descanso e limpeza da nhaca acumulada no corpo. Na sequencia e vendo q dali em diante eles não teriam problemas de retorno, eu e a Luzita nos despedimos da galerinha e seguimos nossa pernada de retorno. Sem pressa, abandonamos o Rio do Meio ate ganhar a trilha principal, cruzamos o Rio Vermelho e finalmente desviamos pela picada de manutenção rumo o asfalto, onde pisamos as 16:40hrs. Pela proximidade de Rio Gde da Serra resolvemos fazer o trecho de 3km restante a pé, o q não nos tomou mais q uma hora exatas ate a cidade. Claro q lá estacionamos na Padoca Barcelona afim de bebemorar, e ponha bebemoração nisso. Foram quase 11 garrafas de breja gelada pra consumir uma porção de queijo ultrapicante na cia do Hudson, q decidiu entornar umas conosco assim q se despediu do resto de sua galerinha novata. A volta pra casa foi logicamente q trançando as pernas de sono, cansaço e manguaça. Ah, sim.. fora a Garganta do Diabo, como andava a minha garganta? Bem, ela somente piorou por motivos mais q encapetados deste q vos fala. Mas e daí? Afinal, o dia já tava mais q ganho. Pois bem, com a Garganta do Diabo totalmente plotada e com suas novas particularidades devidamente anotadas, resta somente agendar uma nova incursão plena e completa pelo “Vale da Morte”, programa fantástico de descida de rio q já faz um bom tempo q pretendo repetir. E olha q não sou de ver o mesmo filme duas vezes. Portanto com estas novas facilidades de pernoite na Garganta as coisas tendem a ficar relativamente mais fáceis em termos logísticos. Embora tb seja verdade q a palavra “fácil” seja igualmente um termo relativo, q não faz exatamente jus ao “Vale da Morte” e mto menos ao grandioso desfiladeiro q o antecede. Pois apesar da nomenclatura medonha e nefasta daquela regiao como um todo, um rolezinho pelo “Gogó do Tinhoso” recompensa pela trajetória dura de quem já se aventurou a conhecer um dos recantos mais espetaculares e marcantes desta q é a Serra do Mar das proximidades da pitoresca vila inglesa de Paranapiacaba. Jorge Soto http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html http://jorgebeer.multiply.com/photos |