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TRILHA DOS TUBOS 2: TRAVESSIA TAIAÇUPEBA - MANOEL FERREIRA PDF Imprimir E-mail
Seção: Trekking - Categoria: Geral
Escrito por Jorge Soto   
Ter, 25 de Outubro de 2011 00:23

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Sem vontade de me embrenhar nalgum perrengue casca-grossa e mto menos com tempo de programar previamente um, este último domingo resolvi meter as caras nalguma coisa “sussa” e sem mta ralação. Vasculhando cada canto da memória imediatamente me veio à mente a lembrança dum recente bate-volta realizado ao longo de uma antiga adutora q corta longitudinalmente o trecho oeste da carta de Mogi das Cruzes, uma tal “Trilha dos Tubos”. “Pq não inverter a carta desta vez e tomar o sentido contrário, isto é, sentido leste?”, pensei. Pronto, já havia definido em cima da hora o q fazer. Dessa forma surgiu este perrenguinho “light” q parte no distrito de Taiaçupeba e finda 12kms depois no bairro Manoel Ferreira, já  às margens da SP-98, ou rodovia Mogi-Bertioga.

O dia estava relativamente frio, porém a medida q o sol despontava no alto do firmamento seus aconchegantes raios tornavam bem mais amena e confortável aquele inicio de manhã de domingo, ideal para caminhar. O espelho dágua da Barragem do Rio Jundiai refletia um céu azul, sem mácula de qq vestígio de nuvem q fosse, e domina td a paisagem emoldurada pela janela do busão ao adentrar pela SP-102, aqui conhecida como “Mogi-Taiaçupeba”.
Naquelas agradáveis e convidativas condições climáticas é q saltamos do latão no centrão da pacata Taiaçupeba eu e a Tania, gde amiga minha de longa data, às 9:15. Taiaçupeba é um charme de bairro rural q transpira roça ou qq outra cidadezinha interiorana, limitando-se a apenas uma movimentada rua principal, uma pequena pracinha á frente de uma simpática igreja matriz e algum comércio aqui e acolá. Imediatamente pusemo-nos a caminhar sentido a serra, ainda pela estrada principal, tendo como trilha sonora a cacofonia em alto volume de um rap vindo de algum veículo por aí. Mas não tarda pras casas do pacato vilarejo q recém levanta ficarem pra trás, o asfalto dar lugar a terra batida e o silêncio da mata nos cercar por todos os lados.
Após passar pelo Sitio Betinha, as 9:30 interceptamos a “Estrada da Adutora do Rio Claro” (SP-43), precária e empoeirada estrada de chão q tanto acompanha (ora longe ou afastada) a adutora como interliga o bairro com a Mogi-Bertioga e Quatinga, esta última à oeste. Após passar por baixo do concreto da adutora tomamos uma picada evidente q sobe ao alto dos tubos, por sinal enterrados neste trecho. Pela proximidade com o bairro, aqui infelizmente há a presença de algum lixo assim como muita sujeirinha de cavalos. Vale salientar q neste trecho inicial tb está repleto de mangueiras de captação (usadas ou não), justificando a vocação da região de ser detentora de inúmeros mananciais. A tubulação da Sabesp q o diga.
Dali em diante a caminhada é tranqüila e desimpedida através de uma picada q toma rumo leste, espremidos pelos paredões verticais dos cortes na montanha onde a sombra e a umidade contida na vegetação ainda nos prendem aos agasalhos. Mas não demora pra nos desvencilhar dos mesmos assim q a vereda embica, galgando suavemente o morro q se impõe à nossa frente em meio a um espesso samambaial. Uma vez no alto do morro constatamos q a picada se perdia entre voçorocas e emaranhados de samambaias secas. Dos tubos nem sinal, apenas um medonho matagal ao sopé das indefectiveis torres habituais q acompanham a linha da adutora, ainda aterrada. Só não adotei aqui o rasga-mato habitual em virtude da minha amiga, nada habituada a esta modalidade de “passeio” mais radical. Contudo, ela mesma encontrou uma picada lateral q acompanhava o aceiro através de uma bucólica florestinha fechada, onde a copa do arvoredo em volta filtrava os poucos raios solares q conseguiam atingir o solo.
Tendendo cada vez pra esquerda na mesma medida em q perdiamos altitude, não demorou a desembocarmos na empoeirada “Estrada da Adutora”, q aqui acompanhava a tubulação à distancia. Resolvemos prosseguir por aqui mesmo então até o próximo pto onde a mesma interceptasse (ou tangenciasse) a adutora e dali retomar a pernada proposta. Entretanto, enqto avançávamos pude reparar q este trecho enterrado da adutora é o mais trash, com mto mato alto e repleto de lamaçais q desestimulavam qq tentativa de acesso. Pra retificar nossa decisão de aqui permanecer pela estrada logo mais adiante os tubos afloravam à superficie em área particular (e fechada) da Sabesp, espécie de subestação com guarda e td mais, quiçá tb com cães. Vai saber.
Pra quem se contenta com pouco qq coisa apetece, diz um velho e acertado ditado. A estrada por sua vez tb tem seu charme pois bordeja uma morraria coberta de mata secundária, onde a tubulação ressurge brevemente na forma de uma ponte de concreto num trecho elevado e possibilita um breve vislumbre da bela paisagem ao sul. Francamente, esta estrada é altamente recomendável pra um roteiro de bike. Um tanto depois de caminhar sem maiores intercedências, agora descendo, começam a ressurgir sinais de sítios e chácaras, q pela carta deve ser o bairro de São Sebastião. É aqui, após o Rancho Plenitude, num terreno alagadiço e aberto q podemos novamente observar os tubos bem ao nosso lado, e onde retomamos a pernada sobre eles assim q a estrada cruza os mesmos, as 10:30.
Nossa jornada pelos tubos prossegue em franca ascenção na morraria sgte, onde do alto podemos apreciar a horizontalidade linear interminável do trajeto q nos aguarda, rasgando as baixas e verdejantes colinas adiante. Andar por cima da adutora é tranqüilo e desimpedido apesar da altura considerável do chão, onde basta não olhar pra baixo. Aqui os únicos obstáculos são os rebites salientes q unem os tubos, algumas plataformas de concreto q são transpostas com fácil escalaminhada e eventuais trechos onde a mata parece engolir os tubos onde apenas basta prestar atenção onde se pisa. Fora isso a pernada é extremamente agradável, embalada pelo som ambiente q nada mais é o das nossas pisadas ecoando metalicamente nos tubos se misturando com o do vento soprando no arvoredo a nossa volta.
Passado um tempo eis q a adutora intercepta a estrada, passando por cima desta a uma altura considerável e resulta no primeiro desafio do dia. Pra Tania, claro. Aqui já não há o mato alto q nos acompanhava pra esconder a altura e o espaço amplo/aberto da estrada dá uma noção real do quão alto perambulamos despreocupadamente. Ela imediatamente trava, alegando sentir vertigem. Tenta engatinhar e não consegue.  Eu a aconselho a ficar em pé, se firmar na minha mochila e não soltar enqto avançamos bem devagarzinho pelo tubo. “Não olha pra baixo, apenas pra frente!”, digo pra ela. E assim aquele simplório e curto trecho de menos de 20m de extensão parece se estender por uma eternidade, até q minha amiga respira aliviada ao pisar em terra firme, ao final do trajeto. Uffaa!
Na sequencia a pernada prossegue no mesmo compasso anterior, mas as 11hrs resolvemos sentar num dos obstáculos de concreto afim de fazer um breve lanche e descansar. Entre conversa dos nossos “saudosos” tempos de agência com direção de arte, fofocas de amigos/conhecidos em comum e outras banalidades recentes nem tanto a ver, é impossível não se deixar encantar com o lugar e a situação, tão bela qto pitoresca. Aqui, no meio de nada e lugar nenhum e cercados de verdejante mata, tendo apenas a visão reta e interminável dos tubos pra ambos lados é algo minimamente curioso, senão surreal. E pensar q estamos ainda em São Paulo.
Damos continuidade à pernada 10min depois, sempre no mesmo compasso e sem gde variação de declividade. A ampla paisagem deste percurso só é alterada pelos morrotes no caminho q ora atravessamos pela metade, em cortes verticais q se assemelham a cânions, ou simplesmente bordejamos pela direita. Os tubos tb tem seus eventuais atrativos, q se traduzem em algumas chaves e comportas de formatos singulares, sujeirinhas deixadas por algum pequeno carnivoro (selvagem?) e até nas belas bromélias q insistem em crescer por cima do próprio ferro, se agarrando à adutora atraves de camadas de musgo e limo.
Mais adiante vem um descidão onde a adutora percorre uma extensa baixada, onde ate um correguinho marulha mansamente sob nossos pés. A visão dos campos e plantações a nossa volta indica estarmos provavelmente nas imediações do Sitio São Sebastião, mas não tarda pra pernada embicar tubo acima e rasgar a morraria sgte. Contudo, uma vez no alto a tubulação novamente se enfia na terra pra emergir beeeeem mais adiante. Após um breve trecho de vara-capim caímos no q parece ser uma trilha ou estrada de manutenção dos tubos, ao meio-dia, q aqui somem de vez mas cuja linha é facilmente percebida pelo aceiro q rasga um espesso matagal morro abaixo. No entanto, pra q varar mato se tem uma trilha q segue nossa rota ao lado? E é por essa bucólica picada q ladeamos o morro no sentido desejado, sem gdes dificuldades, sempre conferindo a bússola pois o caminho está repleto de bifurcações, algumas levando a reflorestamentos próximos. Numa dessas derivantes entupimos nossas mochilas com limões diretamente do pé, já pensando na caipirinha da volta de casa.
Após ladear a montanha e topar com um belo eucaliptal a picada confirma minhas suspeitas: desemboca na estrada principal q cruza novamente com a adutora, á qual novamente retornamos conforme vínhamos fazendo até então. Os tubos então nos levam por uma larga baixada pra depois subir uma nova morraria coroada por torres de alta tensão. No alto, as 13:15, damos numa bem cuidada estação de tratamento de água aparentemente abandonada, pois não vimos sinal algum de gente. Saimos dali rapidinho com receio de quiçá haver cachorros e prosseguimos pra nossa jornada não ir literalmente “pelo cano”.
Após a estação, do alto da montanha éramos brindados com uma bela visão do q nos aguardaria adiante: a tubulação seguia em sua indefectível linha reta através de 4 fundos vales consecutivos, cuja morraria seria transposta com declividades cada vez mais ingreme! O primeiro foi percorrido numa boa, com o tradicional desce-e-sobe sussa. O segundo idem, com o diferencial do silêncio habitual ser rompido pelo som estridente de cães nas proximidades. No terceiro tive q descer dos tubos pra repôr água em nossos cantis num riozinho q corria logo abaixo, e até então nossas gargantas secas ansiavam loucamente pelo precioso liquido.
Mas foi ao começar a descer o quarto vale q o bicho pegou. Esse foi o nosso segundo desafio. Mal começamos a descer a íngreme piramba q nossas botas e tênis patinaram pelo ferro totalmente liso do alto da tubulação! Logicamente q deveríamos descer sentados, nos firmando principalmente com as mãos nos trechos mais aderentes do tubo, q eram os corroídos pela ferrugem, enqto os pés buscavam apoio nos rebites de suas emendas! E lá fui eu na dianteira, perdendo altitude bem devagarzinho, e qdo atingia um nível seguro dava sinal verde pra Tania avançar. Seu tênis tava bem mais liso q o meu, razão q tive q agüentar vários trancos das derrapadas dela sobre mim, quinem engates de trem. E assim fomos perdendo altitude lentamente ate enfim atingir a baixada, onde ambos respiramos aliviados.
A subida sgte foi fichinha diante do q havíamos passado e assim nos deparamos com o ultimo trecho daquela jornada. Uma ultima subidinha tão íngreme qto aquela q havíamos recém-percorrido se interpunha à nossa frente. No entanto, apesar de curta a forte declividade impedia a ascenção da minha amiga, q dava um passo e retrocedia dois. É, descer era mais facil q subir. Pois bem, não sentindo segurança em ascender aquele ultimo trecho, decidi q dali tomariamos uma rota de fuga pois estávamos a um passo da Mogi-Bertioga, cujo trafego já era bem audível.
Dito e feito, saltamos do tubo e num piscar de olhos já perambulávamos pela poeirenta Estrada São Lázaro e, logo depois, na barulhenta SP-98. Do outro lado, o bairro Manoel Ferreira nos aguardava em sua tranqüilidade e marasmo típicos, as 15hrs. Orbitando a precária estrada de terra, o bairro se limita a algumas casas aqui e acolá, onde  galinhas e vira-latas disputam espaço com as pessoas. Logicamente q estacionamos no bar da Vania enqto aguardamos o busão. Lá, envoltos em animada prosa com a dona do boteco (q tem o hábito de consumir a própria mercadoria em doses generosas) e uma amiga, a faladora Maria, mandamos ver facilmente 5 cervejas, um pacote de salgadinho, uma porção de azeitonas e um prato de suculenta polenta caseira, cortesia da “madrinha-da-tia-de-fulana-de-tal”. Coisas bem de cidade interiorana bem ao lado da paulecéia desvairada.
Nos despedimos das simpáticas tiazinhas pra não perder o busão das 16:30, cujos horários irregulares facilmente nos prenderiam ao pacato bairro por sabe-se la qto tempo. A demorada e trepidante viagem de volta foi embalada no mundo dos sonhos, onde somente chegamos na Estação Estudantes uma hora depois. Ali a larica da breja apertou e nos obrigou, a contragosto, a dar uma passada no bar-pastelaria da chinesa mal-humorada do lado da estação. Paramos ali brevemente apenas pra comer um salgado por necessidades fisiológicas emergenciais mesmo, diga-se de passagem, pois diferente da simpatia e cordialidade da Vania, aquela mal-encarada oriental - cuja dentição superior frontal faz o Pernalonga parecer banguela – se empenha em te espantar do estabelecimento, q em tese deve servir bem a clientela. Pois é, sinais q estamos já perto de Sampa.

Muito mais cansativo q a pernada em si foi depois o entediante e demorado retorno no trem de volta pra cidade. Demora esta por conta das recentes reformas nas linhas q vão a Mogi e resultam numa superlotação atípica e estressante em pleno dia domingo. Paciência. Esse é apenas um preço módico pago pra se poder ter um domingão diferenciado num programa semi-rural (ou seria semi-selvagem?) q contém algum nível de dificuldade com algum desafio, por assim dizer. Coisas q somente a “Trilha dos Tubos” pode oferecer. E claro, como as direções desta “vereda férrea” ainda apontam sentido leste-oeste indefinidamente, a falta do q fazer nos fds estará mais do q devidamente bem servida.



Jorge Soto
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