Cadastre-se e receba com exclusividade nosso informativo de novidades por e-mail!

A “TRILHA DAS BIKES” DE PARANAPIACABA PDF Imprimir E-mail
Seção: Trekking - Categoria: Geral
Escrito por Jorge Soto   
Ter, 25 de Outubro de 2011 00:00

Paranapiacaba é um local q agrada a gregos e troianos, e isso vale tb pros praticantes de esportes outdoor. Por ser um local q agrega as mais diversas tribos, é natural q existam roteiros q incluam a galera das “duas rodas”, seja ela motorizada ou não. Foi assim q percorremos na sola a lendária “Trilha das Motos”. Como não poderia deixar de ser, existe tb uma versão reservada às magrelas q atende pelo nome óbvio de “Trilha das Bikes”, picada q sempre ignorei em minhas andanças. Até agora. A vereda fora uma antiga (e precária) estrada em desuso q corta a cumeada de reflorestamentos do serrote paralelo à Estrada do Taquarussu. De extensão relativamente curta (6km), é possivel esticar o programa emendando outra árdua trilha próxima, a da Pedra Grande. O resultado foi um puxado circuitão intermunicipal q percorre altas paisagens q vão além dos limites e atrativos tradicionais da pitoresca vila inglesa.

Com uma garoa fina fustigando o rosto e envoltos por um denso e espesso nevoeiro fomos recebidos pelos elementos assim q pisamos na tradicional vila inglesa, as 8:15. Tempo totalmente diferente dos dias anteriores, reverenciados por céu limpo e azul impar, mas q mesmo assim não foi suficiente pra demover o entusiasmo do nosso programa sabatino. Dessa forma lá estavamos eu, a Laureci e a Débora atravessando a vila totalmente tomada de tons opacos onde mal se enxergava um palmo à frente. A frustração da Débora  - q pisava ali pela 1ª vez -  era evidente ao não conseguir sequer visualizar gdes vedetes dali como o “Big-Ben”, o Castelinho, a Estação Ferroviaria, etc.. Tá certo q o gde charme da vila é seu habitual “fog londrino”, mas àquele nevoeiro em especial era atípico pois simplesmente não se enxergava além da ponta do nariz. Bem, o jeito era torcer pro tempo limpar no decorrer do dia e clicar Paranapiacaba na volta, pois o programa previa um circuito q iniciava e findava na vila inglesa. Até então a Débora teria de se conformar com a influencia inglesa da vila, escancarada tanto na nomemclatura das ruas como na arquitetura do casario q surgia à nossa frente, a medida em q avançávamos nevoeiro adentro.
Atravessamos despreocupadamente então o vilarejo q recém acordava até pisar na Estrada do Taquarussu, já na cota dos 800m e pto de partida de várias outras aventuras pela região. O burburinho matinal da vila deu então lugar ao silêncio pautado pelos sons da mata e dos córregos a nossa volta, com direito até a uma visitada no cano despejando água q atende pelo nome de “Cachu dos Namorados” e um curto vara-mato úmido até interceptar novamente a estrada.
A pernada se mantem no mesmo compasso até q após 3,5km percorridos sem gdes dificuldades, as 9:10, abandonamos a bucólica estrada de terra em favor de uma evidente entrada pela esquerda, logo após o discreto marco intermunicipal q divide Sto André de Mogi das Cruzes e um pouco antes da picada (à direita) q leva à “Comunidade” e Vale do Quilombo. Estamos enfim da “Trilha das Bikes”, picada q sempre ignorei mas tinha curiosidade em conhecer. Pois bem, a vereda leva jeitão de pequena e precária estrada em desuso. Claro, em desuso pra veículos maiores ou sem tração pq marcas de pneus de motos e bikes estão presentes ao longo de td trajeto pelo seu chão de terra vermelho, erodido, enlameado e bastante irregular. Na verdade o emaranhado de picadas daquele serrote pertence a uma área de reflorestamentos q levam a setores provavelmente de corte de madeira, onde a “Trilha das Motos” vem ser a espinha dorsal de tds as demais.
Iniciada a pernada pela dita cuja, sempre bordejando em nivel a encosta da serra sentido NE, constatamos a pouca variação de altitude. A vegetação inicial é um misto de primaria com secundaria, mas depois passa a ser predominatemente de bosques de eucaliptos e de pinnus. A preocupação inicial de água logo se dilui ao toparmos com uma bica encravada na encosta, despejando seu borbulhante e refrescante liquido. A caminhada então prossegue de forma desimpedida, embalada pelo som de nossa conversa e do vento remexendo o arvoredo em volta. Pequenas frestas na vegetação permitem visualizar alguma coisa; o tempo enevoado até deu uma limpada e nos brinda com visus dos verdejantes contrafortes serranos do vale q acompanhamos, embora os cumes das montanhas ainda pemaneçam escondidos pelas brumas.
As 9:30 nos deparamos com uma bifurcação q gera duvidas, mas basta se manter na “principal”. Mas nem sempre alguém sabe reconhecer uma via “principal”, principalmente qdo as trilhas são bem parecidas e a navegação visual é impossibilitada pela nebulosidade. Pra matar a duvida de vez, bastou consultar a bússola e tomar o ramo q fosse no sentido desejado, ou seja, pra NE. No caso, é o ramo da direita. Contudo, no caminho surgem mais 3 bifurcações similares, mas daí basta apenas repetir o processo acima. Neste trecho tb topamos com a unica dupla de ciclistas q vimos, estes por sinal fazendo jus ao nome da trilha além de estarem indo e vindo, buscando desesperadamente o óculos q um deles deixou cair no caminho.
A partir das bifurcações sucessivas a caminhada se dá por encostas mais abertas, com margens ornadas por voçorocas de samambaias secas e bosques de eucaliptos mais espaçados entre si. Os horizontes ameaçam se abrir mas a visão não vai além dos contrafortes serranos proximos com seus cumes ocluidos pela opaca nebulosidade. Mas as 9:45 a pernada deixa as altas encostas pra embicar pra baixo, e bem forte. Assim começa uma descida bem ingreme. A trilha se divide mas logo se junta mais adiante e logo nos vemos andando por uma enorme e inclinada vala, onde tentamos nos equilibrar bem no vértice daquele “V” escarlate cavado no chão escorregadio.
A pernada finalmente suaviza e estabiliza no q parece ser o fundo do vale, as 10hrs, onde tropeçamos com um lugar conhecido como “Rancho”. Uma casinha simples às margens de um pequeno córrego abastecido por uma bela queda dágua (Cachu do Rancho?) é moivo pra uma rápida parada pra descanso e alguns cliques. A tal cachu não é ta majestuosa qto as enormes do Rio Quilombo ou Anhangabaú, mas não deixa de ter seu charme semi-selvagem ao nos brindar com uma sequencia mini-cachus despejando atraves de pequenas lajotas vindas do alto da serra. Uma trilha leva ao alto dela, onde se tem uma bela vista de td conjunto. Fica a dica de numa próxima ocasião subir o córrego desta cachu por completo ate sua nascentes, sabe-se lá onde deve ser. Este sim deve ser um programa selvagem q promete.
A caminhada tem continuidade em nível, atravessa um vasto pinheiral onde várias pilhas de madeira se acomodam na margem da trilha, e finalmente desembocamos no final da “trilha”, as 10:30. O local é marcado por um portão q delimita alguma propriedade, onde uma lacônica placa indica estarmos nos limites noroeste do Sitio Cachoeira.
Pois bem, novamente na agora empoeirada Estrada do Taquarussú basta tomar o ramo da esquerda, de modo a acompanhar as linhas de alta tensão à distância. Não demora pra mudar de direção no solitário orelhão do caminho, agora tomando rumo leste, indo pro centro do setor rural do Bairro das Pedrinhas, marcado por uma casinha ali e outro sitio acolá. Daqui já poderíamos avistar a serra q abriga a Pedra Grande, elevando-se elegantemente à nossa frente na forma de um enorme domo rochoso de granito. Contudo, vestígios de nebulosidade clara ainda permeiam o alto do firmamento permitindo somente vislumbres de tons foscos e opacos dos cumes das montanhas à leste. Os três acessos á Pedra Gde já descrevi noutras ocasiões portanto serei breve nesta aqui.
Tomando o acesso via “Pesqueiro de Trutas Pedrinhas” logo nos vemos subindo suavemente uma precária estrada de pedras q adentra um vale atraves de sua encosta, ganhando altura aos poucos, indo de encontro ao sopé da montanha derradeira. Mas as 11:15 abandonamos a estrada por uma discreta picada em meio a mata, à direita, onde rapidamente ganhamos altitude atraves de uma íngreme e estreita vala erodida. Em pouco tempo damos numa clareira na frente do portão de uma fazenda. É aqui onde está o inicio “oficial” da trilha à Pda Gde, onde topamos com uma galera numerosa alongando com a mesma intenção nossa. Claro q apressamos o passo de modo a nos distanciarmos e chegar antes no cume deles de forma a poder curtir um pouco do silencio aprazível do topo da montanha.
Uma vez na vereda não tem mais erro, ela se enfia na mata e sobe uma crista florestada através de vários cocorutos. Na primeira bifurcação tomamos à esquerda, onde a pernada inicialmente aperta ao bordejar a montanha pela sua íngreme encosta esquerda, alternando vários e escorregadios sobes e desces. Após a segunda bifurcação a caminhada estabiliza atraves da estreita trilha em nível em meio a uma agradável floresta. Nossa decisão de levar 2L de água a tiracolo revelou-se certeira pois o suposto ultimo pto do precioso liquido no trajeto, na cota dos 950m, estava totalmente seco!
Porem é a partir daqui q a subida aperta de fato. E como aperta! Começou uma piramba quase vertical q so foi vencida com ajuda das mãos, nos firmando no arvoredo e pedras ao redor. A trilha íngreme, o chão escorregadio e vários trechos de escalaminhada se sucedem em ritmo intenso, q invariavelmente nos afasta uns dos outros. A Lau fica no final, se queixando de uma inconveniente dor no joelho. Mas não tem problema pq a trilha é bem obvia e evidente. Pelas frestas do arvoredo já podemos avistar o domo cinza de puro granito, atestando q estamos já na base da enorme rocha q nomina a montanha.
Finalmente ao meio-dia, após um arduo trecho de escalaminhada hard atraves de raízes e rochas, emergimos no alto dos 1100m do amplo cume descampado da Pedra Grande de Quatinga. Felizmente o tempo fora generoso dispersando a nebulosidade bem naquele horário. Um vasto capinzal e alguns pequenos trechos lajotados dominam o topo, cuja soberba panorâmica permite um vislumbre geral em 360 graus, seja da Represa de Taiacupeba, das Cabeceiras do Quilombo, de Cubatão, inclusive de td caminho feito desde Paranapiacaba até ali. O espigão serrano se espicha tb à NE e culmina no Pico Itaguacira, q se eleva 100m acima da gente forrado de puro verde e fora palco de outra travessia recente. Enfim, uma vista realmente deslumbrante. E assim, ficamos ali descansando ao relento, donos absolutos do cume,  tendo o vento soprando nossos rostos suados enqto mastigávamos nosso lanche. Ao mesmo tempo uns urubus ficavam nos paquerando planando no céu.
Nosso sossego termina meia hora depois com a chegada da esbaforida galera q viramos no inicio da trilha. “Você não é o Jorjão? O trilheiro q ta sempre com latinha de cerveja na mão?”, o guia me dirige a palavra assim q pisa no cume. Aceno positivamente e assim pusemo-nos a conversar enqto seus jovens clientes surgiam aos poucos tomando conta do alto da montanha, arrastando a língua no chão. Seu nome era Nei Rodrigues, da Ecocultural Viagens, uma agencia de São Bernardo q além de alcançar o topo iria rapelar a face norte da pedra. Entre outras coisas, troca de infos e td mais, tb lamentava a ação dos farofeiros irresponsáveis q infelizmente largam lixo no local, o q não é difícil de constatar. Nessa hora fui bater umas fotos do enorme rochedo vertical pela qual seria montado o rapel e uma maldita abelha (ou marimbondo furioso, sei lá) “carimbou” meu pescoço, deixando uma dorzinha incomoda pelo resto do dia.
Retomamos a pernada um tempão depois, as 13:30, no exato momento em q a animada galerinha comecava a rapelar pedra abaixo. Nos despedimos do Nei e assim pusemos outra vez pé-na-trilha. Descansados, partimos pra borda oeste do amplo topo onde há vestígios de fogueira. Pois bem, daqui parte uma estreita picada q mergulha por entre arbustos, bambuzinhos q se agarram à pele e alguma mata caída, e prossegue por uma crista sempre pra sudoeste sem gde variação de altitude, de forma bem suave. A pernada é tranqüila, agradável e desimpedida, bem diferente de sua íngreme face norte. Uma aprazível florestinha baixa proporciona refrescante sombra naquele calor sufocante do inicio de tarde e algumas brechas na mata possibilitam belas paisagens do entorno da serra.
As 13:40 atingimos um selado marcado por um bambuzal seco, onde a picada aparentemente se bifurca em “T”. No entanto, o sentido é obvio, sempre pra oeste, ou seja, á direita. A pernada então prossegue em meio à mata, sem dificuldade alguma e com trilha mais larga, onde mtas teias de aranha no meio do caminho sugerem ninguém passar por ali a algum tempo. A caminhada enfim atraves daquela encosta é bem suave, gostosa e desimpedida. O inconfundível som de água abundante correndo nalgum fundo vale soa como musica aos ouvidos, mas felizmente os cantis estão cheios. A proximidade com a civilização é tb sentida ao ouvir o borburinho de um reggae em alto e bom tom vindo de algum lugar. Seria do Camping Simplão?
Pois bem, a agradável descida pelo trilho largo parece interminável, porem é constante apesar de eventual mata tombada no caminho, ate q as 14hrs cruzamos um bem-vindo córrego despejando seu cristalino liquido em pequenos pocinhos cristalinos bem convidativos. Dando continuidade a pernada sentido o outro extremo da serra, a direção muda abruptamente pra noroeste pra nao sair mais desse rumo. O fato é q as 14:15  acabamos desembocando nos fundos de uma gde fazenda onde haviam varias casas e um galpão aparentemente vazio. Tentamos em vão passar desapercebidos, mas os estridentes cães do local nos denunciaram bem antes de ali pisar. Torcendo pra q não fossem bravos, acabei encontrando um tiozinho q, incrédulo, nos informou estarmos nas dependências da Fazenda da Pólvora, q segundo ele é propriedade do Exercito, além de ser reticente em nos apontar a direção da saída. Pois bem, deu pra sacar q gente de fora não é bem recebida (algo q o Nei, da agencia, tb já havia me dito) e acho q só não jogou os vira-latas pra cima de mim por conta das meninas. Portanto fica a dica de não começar a trilha por aqui, pois é mais fácil sair dali do q entrar.
Novamente  na estrada sob clima agradavel naquele inicio de tarde, acabamos nos situando ao passar pela Cachu da Macumba, proximo do camping  Simplão. Essa cachu seria um local idílico não fosse emporcalhada de trocentos despachos e frangos farofados em sua margem. Mas voltando à pernada ainda tinha o longo e modorrento caminho da volta, algo de mais de 8km na sola!!! Paciência.. Assim, respiramos fundo e pusemo-nos a encarar o longo retorno pra vila. Mas felizmente e graças à divina providencia mal pisamos na Estrada do Taquarussu, as 15hrs, q um simpático casal nos ofereceu carona, cortesia q não recusamos, é claro! Seus nomes eram Bento e Camila, estavam alojados no Simplão e naquela hora iam prestigiar os finalmentes do Festival de Inverno. E com paradinha básica na vila-presépio do Taquarussú pra fotos!! Melhor, impossível!
Enfim, chegamos em Paranapiacaba com tempo aberto e bem antes do previsto, as 15hrs. Sem pestanejar estacionamos nossos cansados traseiros no Largo dos Padeiros afim de algo básico e fundamental em td fim de trip: bebemorar. E lá se foram goela abaixo 3 pacotes de Torcida apimentado, uma suculenta porção de calabreza e 8 latões de Itaipava gelada, enqto observávamos a muvuca da vila (e atipicamente repleta de policiais) se formando naquele ultimo fds de Festival. Só zarpamos assim q o sol repousou lentamente atrás da serra e as luzes da vila começaram a pipocar aqui e ali. Até lá a Débora já estava satisfeita de tantos cliques do local, á diferença daquela manhã enevoada.
Apesar de já ter percorrido Paranapiacaba de tds as formas possíveis e impossíveis, conhecer boa parte de seus caminhos e descaminhos como a palma da minha mão, existe sempre algo sempre algo “novo” a cada visita q lá faço. Variações de trilhas conhecidas com outras nem tanto rendem sempre bons programas diferenciados pra quem quer sair da rotina ou do lugar comum. É bem verdade q a “Trilha das Bikes” é um roteiro q faz jus ao nome, pois é altamente recomendada a quem pratica o esporte uma vez q se vale de antigas estradas sucessivas de terra, à diferença da “Trilha das Motos”. Mas tb é boa pedida pra quem vai atrás de uma simplória caminhada em meio à mata secundaria, alem de possibilitar opções de conferir novas rotas por suas trocentas bifurcações ao longo de td seu trajeto. Ou até mesmo emendá-la com veredas menos conhecidos, como a “Trilha da Pedra Grande”. Ou quiçá com outros rochosos próximos q pudemos constatar, ainda esperando pra serem legitimamente conquistados. Só assim pra Paranapiacaba proporcionar sempre um fds diferente do outro.


Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

 
Apoio
Divulgação
© 2008 - Brasil Vertical Escalada e Montanhismo