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TRAVESSIA "SUPERMARINGUARÉ" CONQUISTA INÉDITA PDF Imprimir E-mail
Seção: Trekking - Categoria: Geral
Escrito por Jorge Soto   
Qua, 29 de Setembro de 2010 12:12
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TRAVESSIA "SUPERMARINGUARÉ" CONQUISTA INÉDITA
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 O MARINS, A MARIA, A MARIANA, O MARINZINHO E O ITAGUARÉ

Amanhecer



A Marins-Itaguaré, com seus 21km percorridos por escarpada crista situados na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, é tida como uma das mais tradicionais pernadas da Serra da Mantiqueira. Entretanto, o conjunto principal do Maciço do Marins guarda ainda outros dois cumes de pedra com mais de 2200m de altitude e centenas de metros de paredes rochosas que ninguém sequer ousa visitar. São o Pico da Maria e o Pico da Mariana, cujos respeitáveis cumes e vistas deslumbrantes são privilégio de poucos (ou nenhum) aventureiro devido à dificuldade de acesso q, em tese, demanda trechos de rapel pois estão separados do pico principal por um profundo vale cortado por cânions de pedra e vegetação cerrada. E foi com esse legítimo espírito explorador q incluímos essas duas montanhas tidas como "inacessíveis" numa travessia completa de toda essa crista durante 3 dias bem intensos, com direito a cume de seus 5 picos principais. E sem corda alguma. Eis a "SuperMaringuaré".

 

Já havia prometido a mim mesmo q não pisaria novamente no Pico dos Marins a menos q fosse pra realizar algo diferente do tradicional. Sempre optei explorar a repetir alguma trip. A última vez q estive lá foi com o Augusto e o Ricardo num saudoso inverno de 2003 a fim de palmilhar a hj batida "Maringuaré". Mas bastou o Angelo me colocar a par de suas despirocadas (porém interessantes) idéias de exploração do Pico da Maria e Pico da Mariana q foi o suficiente pra renovar meu interesse de meter as caras outra vez pela região. O próprio Milton Gouvêa, do Acampamento Base Marins (vulgo "Ranchonete"), guia e conhecedor daquelas bandas era reticente de não ter ciência de acesso aos picos supracitados ou quem o tivesse feito. Bem, não pelo menos sem corda. "Se vcs conseguirem, por favor me informem depois como se chega lá, ok?", nos disse como que tirando sarro. Alem da incerteza de acesso, o tempo seco e estiagem dos últimos meses faziam com q cada um tivesse q carregar, pelo menos, 5 litros do precioso liquido afim de garantir o proprio sustento pra tds os dias q a empreitada demandasse na montanha. Pronto, tava lançado o desafio.

O MARINS
Dessa forma eu, Angelo e Wagner rasgamos o final da madrugada sentido a Via Dutra, e dali seguir ate o trevo de Lorena. Ah, sim.. nosso audacioso quarteto ainda contava com uma única integrante femenina, a espoleta Lucilene, q mostrou-se mto mais corajosa e determinada q mto marmanjo q conheço. A noite fresca não tardou a ceder lugar a um sabadão q nascia bastante promissor, despido de qq vestígio de nuvens, elevando as temperaturas no decorrer do dia. Uma vez na BR-459 e indo de encontro à imponente muralha da Mantiqueira q preenche o horizonte de norte a sul, de Piquete tomamos varias estradas laterais em meio a uma bucólica paisagem rural ate dar no Bairro dos Marins, as 9:30. A partir daqui é q começa uma árdua e sinuosa subida de serra atraves de uma precária estrada de chão, q faz o Ford Ecosport do Wagner patinar em mais de uma ocasião. O destaque desta subida, alem do majestuoso visual das montanhas despencando verticalmente á nossa frente, foi o de um pequeno veado saltitar pela estrada, como q já nos preparando pros dias selvagens q se seguiriam na Mantiqueira.

Chegamos então no Acampamento Base Marins (ex-"Ranchonete") por volta das 10hrs, onde somos recebidos pelo sempre simpático e falador Milton, q nos informa das condições tanto climáticas como da trilha nos últimos dias. Ali, na cota dos 1562m, damos os últimos ajustes nas cargueiras assim como coletamos um pouco de água, afinal bastou descer do veiculo q o sol começou a fritar nossa cachola sem dó! Particularmente estava com certo receio pois estreava uma nova mochila (presente do fotografo de aventura Andre Dib), mas no decorrer da trip estes receios foram infundados pois a dita cuja ajustou-se perfeitamente a minhas costas.

Comecamos a andar efetivamente meia hora após ter chegado, mergulhando no frescor de uma florestinha sem gde variação de altitude e num ritmo bem compassado, até q desembocar numa estradinha de terra maior q bastou acompanhar ate o final, agora sim subindo suavemente uma crista serrana ascendente. A cada passada e cada curva na montanha, o visual lentamente se ampliava de forma deslumbrante, renovando nosso fôlego q teimava em sempre nos lembrar do enorme peso nas costas.

A subida aperta mesmo qdo estrada termina após uma pequena porteira e dá lugar a uma estreita trilha q ziguezagueia, por meio de degraus e calombos, montanha acima através de altos arbustos. Não demorou a dar nos 1795m (1608?) do largo cocoruto plano forrado de capim e rocha q serve de mirante e atende pelo nome de Morro do Careca, as 11:10. A vista daqui nos dá um preview do q nos aguardaria la em cima em dose anabolizada. A beleza da geografia do Vale do Paraiba - pontuada por Piquete, Aparecida, Guará e Lorena - e do sul de Minas com suas montanhas verdejantes escondendo as cidades de Itajuba, Delfim Moreira e Marmelopolis. O maciço do Pico do Marins à nossa frente se agiganta diante do Careca destacando seus outros dois picos não menos imponentes, o Maria e Mariana, q la de cima pareciam nos desafiar ate seus cumes.

A picada à esquerda nos leva novamente ao frescor da sombra de um arvoredo, onde uma clareira marcada tanto por restos de fogueira como por uma didática placa nos dizem q ali é o inicio de fato da ascenção ao Marins, assim como são dadas orientações e avisos aos visitantes.

Contudo, seguimos descendo mais um pouco pela estrada ate um local encravado na mata onde é possível abastecer de água num pequeno córrego, q devido à estiagem limitava-se a um pequeno filete q demandou paciência pra encher nossos cantis. Já cientes da impossibilidade de obtenção do precioso liquido no alto e considerando q o pouco q há é de origem duvidosa, cada um levou em média uns 5L pra garantir o próprio sustento. Peso extra este q se fez sentir nas costas, pelo menos nas minhas.

Voltamos à clareira e começamos oficialmente a ascenção ao Marins, subindo suavemente por uma óbvia crista florestada q sai do lado da placa. Mas logo emergimos da mata pra ganhar, em curtos ziguezagues, o capinzal esvoaçando ao vento da primeira gde e íngreme encosta ate vencer o primeiro cocoruto dos mtos q se seguirão. A trilha é nítida e se desenvolve pela crista dos morros sgtes de forma bem acentuada, o q vai nos distanciando uns dos outros. A subida é relativamente facil em termos de orientação, pra quem ta acostumado ja a pernar por ai. Tótens e setas pintadas na rocha estão sempre presentes pra auxiliar no rumo a seguir. No entanto, "Ha sempre uns manés q confundem as pessoas colocando totens fora da rota", reclama Milton. Ao longo da picada há alguns mirantes rochosos onde pode-se parar para descansar e tirar belas fotos dos arredores, e olhando por sobre o ombro já temos uma bela vista do Morro do Careca, q vai ficando lá atrás pequenino. Em contrapartida, o maciço principal do Marins mostra-se sempre à nossa direita, imponente, cada vez mais próximo.

Alternando trilha q nada mais é um sulco de terra em meio a tufos de capim e largos trechos de aderências por lajotas de pedra, ganhamos altitude rapidamente, onde o visual do maciço principal descortinado a cada passo dado é simplesmente arrebatador e nos motiva a subir mais e mais. Mas qdo nos aproximamos das partes mais rochosas e íngremes a trilha vai se dirigindo para a esquerda e deixando de passar pelas cristas, onde alem de nos espremermos entre gdes pedras e mto capim alto, as escalaminhadas tb aumentam. Nesta condição o Marins deixará de ser avistado e o visu q temos de um lado é de paredões e maciços e de outro, geralmente à esquerda, as montanhas das MG. O destaque deste trecho foi uma cobra pelo qual o Angelo passou desapercebido, mas q a sempre atenta Lucilene alertou da presença.

Após bordejar uma muralha enorme da crista por inclinadas lajotas onde destoam belos lírios vermelhos, a subida aperta através de uma sequencia de aderências rochosas íngremes, q demandam uso tanto dos pés como das mãos nos trechos mais verticais.Mas contornado este ultimo maciço q se interpõe entre o sul de MG e o Marins logo desembocamos no enorme platô de rocha e capim q serve geralmente de base aos campistas, onde voltamos a avistar ao sul o cume do Marins cada vez mais próximo. À leste de nossa posição há um morro rochoso e atrás dele o Pico do Marinzinho, ou tb conhecido como Pico Leste ou Pico do Piquete. É daqui q em tese sai a rota ate o Itaguaré, contudo como nosso objetivo é o cume do Marins atravessamos o platô, ignorando as clareiras próximas da "Água Amarela", nome popular como é conhecida a nascente do Ribeirão Passa Quatro. Ali uma lacônica placa do Clube Montês Itajubense alerta da enorme qtidade de coliformes fecais existentes nesse q seria o único pto de água da montanha, o q não deixa de ser lamentável. Qdo estive aqui 7 anos atrás esta água era potável e abasteceu meu cantil em mais de uma ocasião, mas infelizmente tem sempre aquele montanhista detentor dos "três i´s" (imbecil, ignorante e irresponsável) q resolve cagar próximo da água, tornando seu consumo inviável. Enfim, são coisas resultantes de qdo um lugar fica conhecido demais, batido e farofado. Em tempo, estamos na cota dos 2250m, pelo GPS do Angelo.

Pois bem, da base do Marins nos deparamos com impressionante paredão de quase 150m de extensão, q vencemos através de uma sequencia interminável de escalaminhada e trepa-pedra pelas aderências e lajotas ingremes. E tome tração nas mãos e pés! A esta altura o cansaço começa a pegar ainda mais em virtude do peso extra nas costas, dando a impressão q estou carregando halteres cada vez mais pesados. Contudo, a vista q se descortina por sobre o ombro - tanto do platô de capim da base como do Marinzinho e Itaguare - nos dá um fôlego extra pra chegar no cume.

Alcanço finalmente os 2421m cume do Marins a exatas 14:30 e literalmente desabo no chão. Minhas costas doem e o cansaço nas pernas é intenso, mas a sensação de ser o primeiro da trupe a chegar me conforta nem q seja por poucos momentos. No alto a vista é de 360 graus: de leste para oeste temos o Pico do Itaguaré com a inconfundível crista da Serra Fina logo atrás, alem das cidades de Cruzeiro, Cachoeira Paulista, Canas, Lorena, Guaratinguetá, Aparecida e Roseira; à noroeste vemos o Morro do Careca e td a crista percorrida vislumbrando tds os maciços e algumas das pedras que encontramos pelo caminho; à nordeste temos o Pico do Marinzinho; ao norte temos toda a região do Sul de Minas Gerais tudo o que se vê são as suas belas montanhas e a estrada que conduz aos municípios de Marmelópolis e Passa Quatro; para terminar, à sudoeste temos nosso objetivo do dia sgte, os maciços do Pico da Maria e da Mariana desabando em cristas menores q se esparramam vertiginosamente em varias direções do Vale do Paraiba. Fantástico! Uma curiosidade referente ao Marins diz respeito ao seu nome, batizado em homenagem a um bandeirante q passava mto pela regiao, Luiz Martins. Como os tropeiros q desciam a serra transportando mercadoria do sul de MG ao porto de Paraty tinham um vocabulário pobre, sertanejo e rude, pronunciavam o nome do pico de forma equivocada, q acabou pegando ate os dias de hj.

O resto do povo so começou a chegar meia hr depois, assim como um grupo de jovens q se acomodou confortavelmente nas varias clareiras disponíveis e bem protegidas por tufos de capim q há no amplo e espaçoso cume. O resto da tarde nos resignamos simplesmente a descansar o esqueleto, apreciar as belas paisagens ao nosso redor e papear sobre os planos sgtes. E claro, a racionar parcimoniosamente nossa preciosa água. Após vários cliques do astro-rei pousando no horizonte dando lugar às primeiras estrelas pipocarem pelo firmamento, começamos o sagrado ritual da janta. Wagner e Angelo comeram suas comidas liofilizadas e naturebas, enqto eu e a Lu nos fartamos com um sopão de feijão engrossado c/ um miojo e atum apimentado q nunca esteve mais delicioso. Mas não tardou pro cansativo e longo dia cobrar seu tributo q nos enfurnamos em nossas respectivas barracas pra cair imediatamente nos Braços de Morpheus. Ao contrario do q supúnhamos, a noite na montanha não fora rigorosa e sim bastante fresca, com algum vento seco. Nessas condições, desnecessário dizer q dormi feito pedra sem nenhuma intercedencia. Entretanto, minha colega de barraca, apreenssiva com barulhos insistentes fora de sua chiquérrima Nepal, levantou e surpreendeu os minúsculos e atrevidos ratinhos de altitude fuxicando sua mochila!



 
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