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TRAVESSIA "SUPERMARINGUARÉ" CONQUISTA INÉDITA - PÁG.2 PDF Imprimir E-mail
Seção: Trekking - Categoria: Geral
Escrito por Jorge Soto   
Qua, 29 de Setembro de 2010 12:12
Índice do Artigo
TRAVESSIA "SUPERMARINGUARÉ" CONQUISTA INÉDITA
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MARIA E MARIANA
Levantamos antes do amanhecer afim de apreciar o belo espetáculo da alvorada prum dia q prometia ser tão limpo qto o anterior. Mas bastou o Astro-Rei emergir lentamente atrás da silhueta escarpada de Serra Fina, à leste, tingindo o firmamento de tons escarlates ate findar num azul definitivo q o tempo literalmente parou e tds so quiseram saber de registrar esse momento espetacular em inúmeros cliques. Após os raios do sol tocarem as barracas, cujo sobreteto não estava nem um pouco umedecido por conta da noite seca, é q começamos de fato a ajeitar as tralhas pro programa daquele dia.

Mesmo com água escassa e sendo racionada de forma sagrada, o Wagner consumiu boa parte da dele já gerando uma certa apreenssão referente ao precioso liquido. O dia seria bem quente e qq esforço demandaria um consumo maior, portanto a partir de agora teríamos q ter bom senso em consumir o pouco de água q nos restava. Ainda assim, conseguimos preciosos 500ml extras com a galera q tb estava no cume e q retornaria naquele dia. Solidariedade montanhista é isso ai.

Antes de andar ainda demos uma avaliada visual no terreno q teríamos pela frente, sempre comparando com um xerox da carta q tínhamos à disposição. Afinal, não dejavamos ter o mesmo fim do escoteiro Marco Aurelio, q desapareceu misteriosamente nessa mesma regiao em meados da década de 80.

Pois bem, mochilas nas costas e assim zarpamos pontualmente as 8hrs rumo o Pico da Maria, vizinho do Marins. Da beirada deste ultimo basta avaliar quais são as lajotas menos íngremes e avançar por elas, alternando com o mato ao redor, e assim ir perdendo altitude. Não tem mto segredo, pois qdo a declividade nas lajotas aumenta basta se enfiar no mato e, segurando firmemente nas caratuvas e no capim a disposição, desescalaminhar ao patamar sgte ou lajedo menos íngreme. E assim sucessivamente. Como não há trilha o jeito é avançar na raça mesmo, sempre atentando bem a consistência de onde se pisa.

Em menos de 20min, já quase no final da descida, um gde barranco nos separa do fundo do pequeno vale q interliga o Marins e Maria. Mas da mesma forma q antes, avaliamos os trechos mais firmes onde pisar (e se agarrar) q desescalaminhamos esta piramba com segurança ate o fundo de uma espessa florestinha de altitude. Daqui não tem mais erro pois bastou atravessar um túnel de bambus q terminamos emergindo, as 8:30, nos lajedos cercados de capim q forram a base do Pico da Maria.

Daqui em diante não tem erro pois é td aberto e
suavemente inclinado. Há tb uma oportuna clareira de capim q pode comportar duas barracas confortavelmente, se for o caso. Fezes de algum pequeno carnívoro e um rústico totem repleto de liquens marcam o local, indicando q a visitação é bem rara, praticamente nula. Mas o melhor é a vista privilegiada q se tem tanto do Marins e sua face sul debruçando-se serra abaixo! Largamos as cargueiras com a Lu, q preferiu descansar na base do Maria, enqto o resto foi de fato atingir o cume do pico, não mto distante. Tal qual a subida do Marins, este curto trecho foi vencido facilmente na base de aderências e escalaminhando pedras, e assim atingimos os 2392m do topo do Pico da Maria, as 8:40!!! Daqui de cima o Mariana surgia como um dedo rochoso apontando pro céu, à noroeste, assim como uma vertiginosa crista descia espetacularmente estreita rumo o bairro dos Marins. À sudeste a vista tb não deixava a desejar com duas outras cristas bem escarpadas se debruçando pro Vale do Paraiba. Futura travessia? Quem sabe. Após inúmeros cliques deixamos um totem registrando nossa presença e descemos de encontro à Lu, q tirava um cochilo ao sol daquela manha quente. Iamos agora tentar conquistar o Mariana.

Pois bem, caminhando por lajes e capim bastou seguir sentido a borda oeste da base do Maria. Contudo, antes de dar no abismo de uns 50m q nos separava do estreito selado rochoso q interligava Mariana, o bom senso nos sugeriu tentar algum possível acesso pela encosta direita. Descendo degraus rochosos não tão íngremes, perdemos altitude suficiente pra ficar quase no mesmo nível do almejado selado. Bastou então ir de encontro a ele. Nos esprememos por uma estreita canaleta pedregosa q ladeava a encosta ate q deu num patamar firme de capim alto e cortante. Porem dele percebemos q o nos separava agora do selado era algo de 30m de um paredão vertical à nossa esquerda, passível de ser transposto somente com técnicas de rapel! Abaixo nosso um gde abismo jogava uma pá de cal em nossas pretensões de ganhar o Mariana por aquele lado. Decidimos retornar pra estudar melhor q estratégia adotar, mas difícil foi escalaminhar a estreita canaleta rochosa munido de uma pesada cargueira.

Novamente na "próa" oeste da base do Maria e lá avaliar novamente as possibilidades de acesso. Nos debruçamos na rocha e vimos q um pouco abaixo havia uns matos de encosta q davam noutro patamar mais amplo, bem mais abaixo. Eu e o Angelo então desescalaminhamos ate onde poderíamos descer por esta rota, mas logo ela revelou-se ineficaz pois tb deu num trecho onde não dava pra prosseguir sem a ajuda de corda. Daqui o cobiçado selado devia estar apenas a uns 30m abaixo da gente! Contudo, daqui pudemos ver algo q de cima era impossível e q reascendeu nossas esperanças: uma estreita canaletinha rochosa descia bordejando a encosta vertical do Maria ate bem próximo do tal selado, e a presenca de mata alta nela significava q devia ter piso firme pra agüentar e dar apoio suficiente a um adulto. So bastava descobrir de onde partia essa tal canaletinha e eu tive já uma boa idéia de onde poderia ser.

Novamente na base do Maria, retrocedemos o suficiente pra ficar numa espécie de "selado" entre o cume e a base. Dali vimos uma canaleta (quase uma greta) rochosa íngreme q descia forte na direção desejada e q provavelmente interceptava aquela q havíamos visto logo adiante. Pois bem, ate lá já eram quase 11:30 e havíamos perdido a manha td naquele processo de "tentativa e erro" de acesso ao Mariana. Agora seria o ataque derradeiro. Bem, se não desse, pelo menos poderíamos nos vangloriar e dizer q tentamos. Retroceder do nada, jamais.

Como o ataque era exploratório e relativamente pauleira, a Lu e o Wagner decidiram permanecer ale tomando conta de nossas cargueiras. O Wagner tb preferiu não se desgastar alem da conta pq tava consumindo muita agua e a dele já tava quase no talo. Pois bem, eu e o Angelo então começamos a descer a canaletinha nos agarrando firmemente no mato ao redor ate q mergulhamos numa florestinha baixa. Ali serpenteamos pequenas arvores retorcidas ate cair num patamar rochoso no aberto, de onde avaliamos o rumo a seguir. A canaletinha seguia piramba abaixo, mas daqui tínhamos q seguir pela beirada vertical do paredão onde estava a outra canaleta avistada. Desescalaminhamos o patamar nos firmando no capim e em duvidosas raízes podres ate ganhar a tal canaleta. Uhúúú! Agora bastava seguir por ela, sempre colado ao paredão principal! No entanto, o q parecia fácil revelou-se um vara-mato de bambuzinho infernal! O Angelo foi na dianteira abrindo passagem e eu fui logo atrás, repetindo o processo de baixar o mato de modo a facilitar o retorno. As vezes tínhamos q "nos jogar" sobre o mato pra conseguir baixá-lo, e assim avançar! O processo inicialmente foi lento, mas constante. Não tardou a cair num trecho não tão obstruído de bambus onde o caminhar/escalaminhar não teve maiores dificuldades, alternando subidas e descidas. Era evidente q onde estávamos ninguém havia estado pq não havia marca de facão e mto menos rastro de trilha. Eramos os primeiros naquele cafundó do Marins!

Seguindo em frente no mesmo compasso, logo pudemos ver o tal selado cada vez mais próximo, e assim aumentamos nosso ritmo, cada vez mais contentes. E assim às 12:30, após um ultimo lance de escalada, chegamos enfim no estreito selado q nos tomara td a manhã em chegar!
Estávamos eufóricos por estar ali, pois agora ate o cume do Mariana era brincadeira de criança! Empolgados, subimos os lajedos e paredões q se seguiram e meia hora depois atingimos os 2310m do cume do Pico da Mariana, pelo GPS do Angelo. A vista dali de cima é deslumbrante!!! O Marins, Maria e seus respectivos contrafortes ganham nova e impressionante perspectiva! De onde estávamos, pudemos tb ver gente no cume do Marins q parecia espantada com nossa presença ali, naquele local aparentemente inatingível! Depois soubemos q era o Milton levando turistas ao topo do pico principal.

No entanto, a comemoração foi breve pois nuvens começaram a tomar conta de td Vale do Paraiba e ameaçavam subir ate o alto das montanhas, nos obrigando assim a retornar ate nossos colegas. A volta foi bem mais rápida q a ida, lógico! Havíamos deixado praticamente uma "avenida" em nossa passagem, q se não for utilizada ira fechar em breve, lógico. Uma vez na cia do resto do pessoal iniciamos a volta ao Marins, as 14hrs, refazendo td trajeto daquela manhã, agora em árdua em vigorosa escalaminhada de mato e rocha. O calor daquele inicio de tarde era palpável e nos tentava a td momento a beber água alem da conta. Alias, a demanda pelo precioso liquido foi um fator critico pois havíamos subestimado nosso consumo.

No topo do Marins, as 15hrs, desabamos na sombra do alto capim elefante afim de descansar e dar continuidade à pernada.Não havia mais ninguém ali e ficamos bem a vontade, donos absolutos do pedaço. Mas dez minutos depois retomamos a caminhada rumo à base da montanha onde, sem pressa alguma, chegamos no acampamento da "Agua Amarela" por volta das 16hrs, no mesmo instante em q brumas ameaçavam tomar conta do platô. Ali nos separamos do Wagner, q alegou estar sem agua suficiente pra continuar a travessia. Contudo, retornaria ao veiculo e no dia sgte se prontificou a nos buscar no inicio da trilha do Itaguaré.

Nos despedimos de nosso colega e o trio restante deu continuidade à pernada, agora rumo Itaguaré. Atravessamos o vasto capinzal q forra o platô, acompanhando o curso do Ribeirao Passa Quatro ate sua provável nascente, quase no inicio da primeira lombada rochosa ascendente, comumente chamada de "Morro da Baleia". Aqui, a tal "Agua Amarela" encontra-se empoçada e é bem mais confiável q na área de acampamento. Por estar confinada numa greta coberta de mato, impossível ela ter sido maculada com qq espécie de dejeto mais acima. Claro q foi nossa alegria pois bebemos à vontade e reabastecemos nossos cantis.

Subimos o tal "Morro da Baleia" onde a trilha nos levou num pequeno platô de alto capim elefante, onde chapinhamos um trecho de charco ate ganhar novamente as altas encostas da crista pedregosa sgte, rumo Marinzinho. Aqui houve uma certa confusão de rota mas assim q descobrimos as marcações -fitas azuis e tótens - não teve mais erro. Já era relativamente tarde, algo de 17:20, e as cores de fim de tarde já tingiam o céu naquele inicio de primavera. Mas nossa preocupação de encontrar um lugar decente de pernoite se diluiu ao esbarrar com uma perfeita (e improvável) pequena clareira na crista q acomodou confortavelmente nossas duas barracas, na cota dos 2343m, um pouco antes do topo do Marinzinho!
Devidamente acomodados e exaustos pelo dia intenso, eu particularmente abri mão de janta e me conformei em forrar o estomago com um lanche reforçado, regado a um café-com-leite q dividi com a Lu. Já o Angelo teve paciência em cozinhar suas gororobas natureba-liofiziladas assim q o manto negro da noite abraçou aquele rincão privilegiado do alto da Mantiqueira. Apesar do céu estupidamente estrelado e do clima agradável, após uma rodada insistente de "piadas infames" mergulhamos naquele sono gostoso mais q merecido, prontos pra recarregar as baterias pro dia sgte. De noite o vento fustigou por breve momento gotículas do q ameaçou ser uma chuva, mas td não passou disso.



 
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