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ALTOS PERRENGUES NO ALTO DA BOCAINA PDF Imprimir E-mail
Seção: Home - Categoria: Trekking
Escrito por Jorge Soto   
Sex, 21 de Maio de 2010 16:54
Índice do Artigo
ALTOS PERRENGUES NO ALTO DA BOCAINA
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Alem das notórias "Trilhas do Ouro", das densas florestas em torno o Rio Mambucaba e dos fundos vales q embicam pro litoral existe uma outra Serra da Bocaina. Uma q aponta pro céu, de terras altas. São os Altos da Bocaina (ou Campos da Bocaina), região localizada no planalto da divisa de SP e RJ e q é dominada exclusivamente por "mares de morros ", cânions esmeraldas, rios com cachus e cristas com cumes passiveis de serem singrados em varias direções.

E foi isto q resolvi fazer neste ultimo feriado: um circuitão q sobe a serra de São Jose do Barreiro, percorre cristas, cumes, cânions e desce novamente à cidade vizinha, Areias, por uma trilha q já conhecia mas q (pra surpresa minha) mostrou-se bem fechada devido as últimas chuvas, me obrigando a descer "na raça", ora varando mato ou desescalaminhando um rio. Estas são mais outras novas facetas da velha e conhecida Serra da Bocaina: a da imprevisibilidade e do perrengue.

O feriado me pegara de surpresa, com o aniversario da cidade de Sampa nos brindando com mais dias livres pra alguma trip! No entanto, os Altos da Bocaina sempre foram meu "coringa" pra feriados não-programados, principalmente em fcao da correria do dia-dia. Era o caso. O fácil acesso de bus e as varias possibilidades de pernadas sempre reforçaram esta decisão. Contudo, na véspera tenho a ingrata noticia da não-confirmacao (uma de muitas) de companhia pra trip! Dane-se! Não seria a "maledita" previsão meteorologica q tb me intimidaria e me mandei sozinho pra uma pernada q planejava enqto arrumava a mochila! Na verdade era um mix de pernadas, uma vez q o tinha em mente era algo do tipo "the best hits" das incursões anteriores!


Saltei em São Jose do Barreiro, pacata cidadezinha a 500m de altitude q se encontra aos pés da Bocaina, ao meio-dia de sabadao, após uma interminável viagem de bus q consome boa parte de seu tempo em longas (e desnecessárias) paradas em S J dos Campos, Taubaté e Areias. Imediatamente me abasteci de provisões numa padoca e coloquei pé-no-chão, tomando a estrada q sobe a serra do lado esquerdo da simpática igreja da pracinha central, q por sua vez estava bem decorada pra alguma festividade naquela noite. O dia amanhecera promissor, embora algumas nuvens pairassem permanentemente no firmamento.

SUBINDO OS 25KM DE SERRA
Enqto avançava pela sinuosa sequencia de morros pintados de verde-claro, admirava a imponente muralha da Serra da Bocaina se esparramando pelo horizonte à minha frente, c/ seus picos ocultos por densas nuvens. A partir daqui eram 25kms tortuosos serra acima num desnível respeitável de 1200m, q certamente demanda frete ou os préstimos do folclórico Zé Pescoçinho. Já q meu bolso não permitia frete algum, o jeito foi subir na sola ou tentar improvável carona! No mínimo poderia apreciar c/ calma as particularidades deste trecho igualmente pitoresco, q passa desapercebido pra quem vai pernar a "Trilha do Ouro" no solavanco do fusca do Seu Pescocinho.


A pasos rápidos e firmes avanço pela precária estradinha (SP-221) serpenteando a morraria de pasto, cercada de pequenas fazendinhas e algumas roças. Mas meia hora depois a coisa muda e começa a ficar interessante. Os vestigios de civilizacao não tardam a desaparecer enqto S Jose vai ficando cada vez mais pequenina, la embaixo. Devidamente munido de infos de 2 atalhos consecutivos na estrada, não hesito em me valer delas afim de poupar uns 3km da trajeto total. E o 1º deles é logo uns 500m após passar por baixo das torres de alta tensão; enqto a estrada faz uma larga curva p/ esquerda, contornando a montanha adiante, entro numa porteira à direita, p/ dali subir forte - em linha reta morro acima - por trilho de vaca a encosta aberta de pasto ralo, p/ cair novamente na estrada, quase 100m acima.


A pernada prossegue c/ suave inclinação, bordejando outro morro menor pela direita, descrever uma curva sinuosa p/ oeste, p/ retomar sentido sul. Após passar numa baixada com o "Sitio Boa Vista" e o "Recanto dos caetanos" é q surge o 2º atalho, e tal qual da forma anterior, vemos a estrada descrever uma enorme volta p/ esquerda. Daqui buscamos um meio de subir a encosta adiante, subir reto e c/ forte inclinação, morro acima. Uma vez na encosta, são vários os "trilhos" q sobem, ora atraves de arbustos, voçorocas de capim-gordura ora aberto no pasto ralo. Caio novamente na estrada, quase 100m acima, onde sentimos a suave brisa soprar no rosto ensopado de suor.


A estrada agora tende virar p/ oeste ate passar pelo rústico Sitio Bela Vista e Encanto da Bocaina, onde sou recebido pelos estridentes latidos de cães, alem de uma lacônica placa indicando o qto foi percorrido ate ali, isto é, 7km! Mas o melhor é uma bica encravada na rocha à beira da estrada, à direita, de onde escorre água cristalina q mata a sede e refresca o rosto. Podemos perceber q o vale vai lentamente se afunilando a medida q se avança, e q logo não teremos + as largas vistas à nossa esquerda q vínhamos apreciando ate então, onde os tons verde-claro dos morros q vamos ladeando contrastam fortemente dos tons escuros dos vales mais profundos.
Na sequencia, passo por outro sitio enqto um gavião e algumas maritacas protestam ruidosamente à minha súbita aparição na estrada, agora serpenteando uma encosta + florestada de serra. De fato, S Jose do Barreiro não esta + visível e a paisagem muda radicalmente. De encostas desnudas de pasto, passamos a andar por encostas forradas de densa e exuberante vegetação, c/ algumas frestas na mata permitindo algum visu. A estrada dobra p/ nordeste, como q ziguezagueando a encosta, e é aqui q temos outra bem-vinda bica brotando à esquerda. Nosso caminho vira novamente p/ oeste, subindo no mesmo ritmo e por terreno cada vez + pedregoso. Se fica difícil andar imagine um veiculo!? Entre o arvoredo, percebemos q vamos na direção de uma imponente montanha pontiaguda q chamo de pico bicudo, cuja base bordejamos pela direita.


Ao passar do lado da base do pico bicudo, percebemos q mudamos de encosta nesta pré-crista de serra. Agora bordejamos em nivel pela direita, no aberto, permitindo um visual soberbo do enorme espelho-dagua formado pela Represa do Funil, no meio dos mares-de-morros q limitam RJ e SP, ao norte! A caminhada permanece inalterada por um bom tempo, acompanhando uma crista rochosa de serra composta por imponentes picos à esquerda, onde uma 3ª surge p/ abastecer cantis menos favorecidos, assim como uma bela revoada de borboletas salpicam o verde da vegetação ao redor. Ao final da crista olho por sobre o ombro pra vislumbrar o quão bonito é este trecho q passara desapercebido nas ocasiões em q viera de carro!


Dobramos entao abruptamente p/ esquerda e retomamos a subida p/ leste, em curtos e ingremes ziguezagues, tendo uma vista privilegiada da crista percorrida. Parece q vai estabilizar, mas não, a pernada prossegue em aclive maior. Os ombros e costas já começam a reclamar após o km18, mas me mantenho resoluto em parar somente no lugar de pernoite, avançando o Maximo possível nesse dia. Carona? Q nada! Ate agora não vira nenhum veiculo nem indo nem vindo!


Após seguir p/ leste, a estrada faz uma curva p/ oeste, passando p/ outro lado da encosta ate finalmente nivelar, por volta do km20! Agora sim, as 16:20,estamos no alto da serra, mas não no inicio da trilha. Contrariando as péssimas previsões o tempo estava maravilhoso. Não estava radiante, mas tb não havia indicio algum do aguaceiro previsto pela meteorologia. Menos mal. Continuo serpenteando o alto da serra, dominado praticamente por pequenos morrotes de pasto ralo, algumas florestinhas de araucárias e capões de mata, embora a vegetação seja predominantemene de altitude.


Passo pelo Condomínio Serra da Bocaina e, logo adiante, pelo Sitio Lageado, onde outra placa marca o km 24. A estrada descreve uma curva pra esquerda e logo pra direita. Contudo, antes desta ultima (exatos 2km antes do PN Bocaina), as 17:30, há uma entrada pra direita sinalizada por um mata-burro e uma placa " Fazenda Pinheirinho-Vende-se", q é o rumo q agora tomo. Uma vez nele enveredo sinuosamente através de pequenos morrotes verde-claro, belas florestas de araucárias e pelas nascentes borbulhantes do Rio Mambucaba.


Ignoro uma bifurcacao à esquerda q nos leva à Faz. Sincerro, contornando as encostas do morrote sgte pela direita. Uma velha construção de pedra surge a minha frente. É a Casa de Pedra, ruínas do q outrora foi uma luxuosa residencia do séc.XIX, q ainda guarda traços clássicos no uso da pedra e desperta curiosidade pelas janelas remanescentes e pela vegetação q hj habita seu interior. São exatas 18:30 e meu corpo pede arrego em definitivo. O dia rendera conforme o previsto! Monto a barraca atrás da casa,num confortável gramado, apenas pra uma vareta arrebentar bem qdo se precisa dela, mas uma habil gambearra resolve provisoriamente o problema. O tempo aparenta agouras mas td não passa de um leve chuvisquinho passageiro. Entretanto, bem antes das 20:30 já estou com a janta no bucho e devidamente encasulado no meu saco-de-dormir, dormindo meu 15º sono em virtude da dia puxado. Nem vi a noite lançar seu manto negro sobre a Bocaina, mas pude sentir q chovera e fizera um frio consideravelmente de madrugada, mas td dentro do previsto, sem maiores intercedencias.


PELO ALTO DO TIRA-CHAPÉU, CÂNIONS E CACHU DA ZUNY
O domingo amanhece frio e com alguma nebulosidade, porem sem chuva. Levantei as 6hrs já mastigando apressadamente meu desjejum, ao mesmo tempo q arrumava minhas tralhas pra inicio de jornada daquele dia! Me lanço à estrada uma hora depois, inicialmente passando pela porteira da charmosa Fazenda Pinheirinho (q lembra muito a casa da Dna Benta, do "Sitio do Pica-Pau Amarelo"), pra depois o caminho se enfiar sinuosamente em leve aclive numa encosta florestada do morro sgte rumo o selado q liga o abaulado Morro Boa Vista à extensa cadeia de montanhas da qual faz parte o Tira-Chapéu.


2km após o inicio da pernada chega-se noutra porteira, já no selado, e q deve delimitar a faz Pinheirinho. A estrada continua, descendo o vale, mas não é pra la q vamos.Voltamos uns 80m pela estrada pra não encarar essa encosta íngreme à nossa esquerda e adentramos numa picada em meio à mata molhada. Picada esta q logo sobe em curva e alcança descampados de pasto logo acima. Ao dar numa cerca basta acompanha-la morro acima, íngreme mesmo, porem nada do outro mundo!


A subida pelo pasto ralo de inicio é puxada devido à gde declividade, o q demanda fôlego e pernas, eventualmente quebrando pra esquerda pra evitar pirambas mais acentuadas! Um tempo depois - e muitas paradas pra recuperar o fôlego - a subida suaviza e fica ate plana em alguns trechos, permitindo q ganhemos velocidade, sempre acompanhando a cerca, sentido sudeste.. Mas não demora aganhar altitude e os horizontes se ampliam de ambos lados! E assim avançamos pela crista ondulada, as vezes desviando de capões de mata, ate finalmente chegarmos num amplo topo onde o pasto aparenta nivelar e a cerca quebra pra direita, pra sudoeste. Estamos a 1930m, num local pontilhado por gdes pedras q podem providenciar de cadeira q viajantes menos condicionados.


Sempre seguindo a cerca, agora pra sudoeste, contornamos um arvoredo, passamos por mais um descampadão de pasto c/ algumas quaresmeiras, cruzamos dois capoes de mata, cujo arvoredo é um verdadeiro "condomínio de bromélias", pra depois emergir outra vez no descampado de pasto ralo num terreno onde o solo é bem mais rochoso e composto de mata ciliar, alem de belos campos de flores lilases.


Às 8:30 alcanço o topo do Tira-Chapeu, dominado por enormes rochas, um cruzeiro, uma placa comemorativa (q erroneamente indica ali ser o 'pto culminante de sp'), algum mato e um gramado onde é possível espremer 4 barracas. De qq forma, estamos no "teto da Bocaina", a exatos 2088m! Já estivera aqui noutra ocasião, mas o mau tempo não permitiu maior vislumbre do topo, à diferença de agora onde tinha vista panorâmica privilegiada de td regiao! Apesar de nublado podia enxergar td e mais um pouco: de um lado a Baia da Ilha Grande,e de outro a Serra da Mantiqueira e o Vale do Paraíba, coberta por um tapete alvo de nuvens. Ali tb atentei pra um risco branco em meio à morraria esmeralda, ao norte, q era nda mais nada menos q uma gde queda dagua, a Cachu da Zuny, q desejava atingir novamente! Dessa forma, azimutei a bussola, estudei o trajeto e tomei algumas coordenadas ou referencias visuais q me fossem úteis pra chegar à dita cuja! Em tempo, subi o Tira-Chapeu apenas pq esquecera a carta em casa, mas o bom tempo e a visibilidade do alto da montanha já providenciavam uma ótima "carta" q já servia aos meus propósitos! Navegacao visual é tudo!


Após descansar, estudar a rota e complementar meu café-da-manha com mais umas bolachas, dou continuidade à pernada. Como não voltaria pelo mesmo caminho acompanho a trilha q percorre a crista do Tira-Chapéu, sentido oeste, através de uma sinuosa crista q vai dar noutro morro,tb chamado de Boa Vista (!?). Inicialmente a picada envereda em meio a umas gdes pedras pra depois prosseguir desimpedidademente pelo pasto ralo, sempre em suave declive. Após atravessar um trecho de mata, podemos já vislumbrar a beleza dos vales próximos, cujo verde escuro contrasta com o esmeralda-claro da morraria ao redor! Da mesma forma, avistamos o Córrego do Tabuleiro despencando numa gde cachu numa encosta próxima, ao norte!


Depois de descer um trecho de crista íngreme,bordejar outra encosta (direita) de capim e passar por um cocho abandonado desemboco no amplo descampado q reconheço ser os 1970m do largo topo do Morro Boa Vista. A partir daqui basta acompanhar qq trilho de vaca q siga na direção desejada e inicio de fato minha descida, forte e em curtos ziguezagues, perdendo altitude rapidamente ate finalmente cair na continuação da precária estradinha q iniciei a pernada pela manha.


São exatamente 10:30 e ao inves de seguir pra Faz. Sta Isabel (à esquerda), retorno um pouco pela estrada, cruzo a ponte sobre o Córrego Esperança e dou numa simpática casinha q já avistara la de cima. Abandono a estrada pra ganhar novamente a encosta íngreme da sequencia de morros q se espicha sentido nordeste. A passos lentos,porem vigorosos, atinjo um selado de pasto e passo pro outro lado, onde consigo avistar a bela Cachu q é meu objeto do desejo daquela manhã, cada vez mais próxima! Do alto estudo a rota a seguir, uma vez q ainda devo vencer pelo menos dois vales pro norte! Sem trilha, desço a encosta íngreme de capim do enorme morro ate cair nas margens de um belo riacho emparedado por enormes muralhas de pasto ralo, q cruzo com cautela (engatinhando), uma vez as pedras no fundo estavam lisas feito sabão!


Do outro lado, acompanho rio acima mas logo sou forçado a escalaminhar uma das paredes verticais de pasto, no sufoco, pra ter uma visão panorâmica do rumo a seguir. Do alto já me dou conta q estou quase no miolo da "rede labirintica de cânions" do Alto da Bocaina, resultantes dos vários afluentes do Rio Paraitinga cavando o sopé da morraria ao redor! À diferença dos cânions do Espinhaço (q são de rocha) ou de qq outro, os da Bocaina são verdadeiras muralhas verticais de pasto verdejante, o q lhes confere uma certa singularidade! Pois bem, de onde estou desço suavemente o capim pra nordeste ate dar nas margens de outro remanso, q atravesso com água ate a cintura.


Na outra margem ganho nova encosta de pasto ate encontrar uma picada, q vai no sentido desejado ate mergulhar num gde capão de mata! No entanto, percebo depois q esta trilha apenas acompanha o rio q atravessara , indo pro norte e desviando da rota traçada na bussola (oeste). Retorno em meio à densa mata e encontro outro rabicho de trilha q vai no sentido desejado. Após cruzar outro rio, a picada desemboca num enorme descampado onde já posso ouvir o rugido de uma gde queda dagua aumentando conforme me aproximo. Uhúúú! E num piscar de olhos me vejo ao sopé da Cachu da Zuny, as 11:45, do lado de um enorme descampado capaz de comportar umas 30 barracas confortavelmente! Nominei a bela cachu assim por desconhecer seu verdadeiro nome, mas depois q conversei com uns locais descobri q aquela era a Cachoeira da Caroba! Dane-se, pra mim vai ser sempre a Cachu da Zuny! Detentora de uma queda de mais de 40m, o alto dela esta repleto de poços e tai uma aventura pra outra ocasião: subir o sinuoso cânion da cachu, rio acima! Mas hj me contento em apenas mergulhar e me refrescar no poção aos pés da majestuosa queda, curtindo o dia de nebulosidade clara, porem quente! Dono absoluto do lugar, tava sem pressa de nada!


Depois de altos tchibuns, comer alguma coisa e ate me presentear com um breve cochilo, retomo minha pernada quase as 13hrs voltando por uma trilha q já conhecia da vez anterior e q me levaria ate uma estradinha, mais ao norte, sempre bordejando encostas e pirambas íngremes de capim por estreita picada. Entretanto, como meu intuito era percorrer os meandros dos cânions dos arredores, na metade do percurso abandono a trilha em favor de um trilho de vaca q ia sentido nordeste, descendo suaves cocorutos consecutivos. Mas logo me vejo na borda de um novo cânion, onde paro pra estudar novamente a rota a seguir. Na verdade me encontrava no alto da confluência de dois rios, q serpenteavam encachoeirados o sopé do cânion! Desci a piramba na raça e cruzei o rio num hábil "jump" . Pausa pra fotos,claro,pois a sequencia de cachus e poços ali era espetacular!


Na outra margem iniciei um breve lance de escalaminhada hard, me agarrando no capim e samambaias ate atingir o alto, onde pude prosseguir pela continuidade da crista, já em terreno mais nivelado e menos acidentado! Atraves de topos sucessivos, agora por um discreto trilho de vaca, fui ganhando altitude novamente de forma imperceptível, sentido nordeste, sempre tendo de ambos lados abismos onde rios, afluentes do Paraitinga, corriam furiosos e encachoeirados! E após ladear um enorme morro pela direita, acabei caindo numa precária estradinha q já conhecia da vez anterior, as 14:30. Pausa pra descansar na sombra de uma enorme araucária, já q o sol finalmente resolvera surgir com força total, fritando os miolos.


Prossigo pela estradinha despretensiosamente, sempre sentido nordeste, já com o intuito de me acampar no comecinho da trilha do Rio Cambui, pro dia sgte descer a serra. Dessa forma, a estradinha desce a morraria sinuosamente ate a Faz. Paraitinga. Cruzo um manso riachinho chapinhando na água, passo pela porteira da referida fazenda e continuo acompanhando a estrada. Porem, após cruzar uma pequena ponte e um pouco antes de começar a subir a morraria à direita, atento pro rabicho da trilha saindo pela esquerda. É a "Trilha do Rio Cambuí", ou "Trilha do Ecomotion", uma vez q já foi realizada uma competição através dela. Ela basicamente acompanha o rio do mesmo nome, q marulha placidamente à minha esquerda.


Um tempo depois de adentrar na trilha, acompanhar um gde foco de mata e cruzar um belo córrego sobre lajotas, jogo minhas coisas num confortavel gramado, local onde já acampara na vez anterior. São exatamente 16hrs e é aqui q encerro o meu expediente, cansado do exaustivo roteiro palmilhado naquele dia. Antes, porem, mergulhei merecidamente num bem-vindo poção do córrego supracitado, no mesmo instante em q o céu começou a se cobrir de nuvens escuras, já anunciando suas nefastas intenções.


O resto da tarde foi reservado ao puro descanso, beliscando alguma coisa ou simplesmente jogado no interior da barraca, dando vazão aquele típico ócio justificado! Como era de se prever chovera forte no final do dia, mas ate la eu já tava no 16º sono, indiferente a qq coisa q se passava la fora! Somente à noite levantei pra " regar a moita" e pude observar o firmamento coalhado de estrelas, numa visão pra la de inspiradora! Sinal q a descida de serra do dia sgte seria em meio a um dia lindo e maravilhoso. E tornei a dormir gostosamente, encasulado no meu aconchegante saco de dormir naquela noite fria, típica da Bocaina.


PERRENGUE (COM "P" MAIUSCULO) NA DESCIDA DE SERRA
Levanto as 6hrs sem pressa alguma,afinal hj era feriado em Sampa, niver da cidade! Sem pressa tb pois aquele seria o dia mais fácil da trip, em tese. Mal sabia o q me esperava. De qq forma, tomo meu café da manha e assim q minhas coisas são engolidas pela mochila, zarpo dali uma hora depois. O dia estava radiante e o sol já despejava seus raios pelas encostas verdes nos morros da Bocaina.
Prossigo pela trilha adentrando num foco de mata, pra depois emergir no aberto bem mais acima, já na beirada do enorme Canion do Rio Cambui, cuja parede direita acompanhamos através de estreita picada. De inicio passamos por uma enorme cachu ao nosso lado, onde um poção recebe as águas geladas do referido córrego. A picada basicamente acompanha o cânion, q a medida avançamos vai se abrindo mais a e mais. Bordejando sempre o paredão direito, cruzamos com dois pequenos córregos q despencam no rio principal, q podem abastecer nossos cantis no caminho.


Mas após um tempo de pernada a picada abandona o cânion e adentra finalmente num gde foco de mata, em meio a gde charco e brejo! Inicialmente a trilha é bem obvia e batida, mas a medida q avançamos percebemos q a mata começa a tomar conta da trilha em função do desuso. Paciencia. Daqui simplesmente vou varando mato ou contornando os trechos de mata mais espessa. Não tem jeito, é a única forma de avançar, mas a trilha ta ai, bem perceptível à nossos pés se afastar a mata sobre eles! Mas ate la já estou td ensopado por enxugar a mata molhada ao redor!Eventualmente surgem trechos onde a picada esta isenta de mata, mas no geral a mata cobre boa parte da vereda.


Depois de andar um trecho no plano, serpenteando o resto da morraria à nordeste, o caminho finalmente embica pra baixo, descendo forte em largos ziguezagues serra abaixo! O carreiro alterna-se entre uma vala erodida escorregadia, picada e ate calçamento colonial, uma vez q um trecho mostra sinais de pedras dispostas regularmente! Mas novamente a mata começa a tomar conta da picada de forma bem mais severa q no planalto, me forçando varias vezes a avançar na raça nalguns trechos mais tensos! Na verdade o q complicou aqui foram os deslizamentos provocados pelas ultimas chuvas, q jogaram muita mais mata sobre a trilha (quase 70%), uma vez q a ultima vez q passei por aqui não tive problema algum! De qq maneira, as frestas da mata permitem um belo visual do Vale do Paraiba forrado por um tapetão alvo de nuvens!


A pernada prossegue naquele mesmo compasso, sem variação alguma. Após os ziguezagues ela nivela e passa a bordejar a encosta esquerda da serra, durante um bom tempo! Mas não demora a meu avanço se tornar novamente cada vez mais lento em função da mata obstruindo o caminho, desde gdes troncos tombados a voçorocas de arbustos, bambuzais e taquaruçus despejados por deslizamentos enormes! Ainda assim insisto em prosseguir pela "trilha", q fica cada vez mais confusa e difícil de farejar. Momentos de dúvida pairam na minha mente qto a continuidade correta da picada, mas as 10hrs, após cruzar um riacho (onde encontro uma garrafa pet) reforça minha idéia de q tava no rumo certo! E estava,pois logo depois cruzei um enorme bambuzal do qual me recordava da ultima vez.


Mas não tarda a novamente o caminho se ver totalmente obstruído de mata, desta vez espinhenta e cortante, q não me furtou de desferir uma serie de impropérios ao menor contato! Mas logo após avançar mais um tanto (literalmente jogando o corpo sobre a mata), cheguei num trecho onde a picada se perde de vez e nem minha habilidade de farejo encontrava vestígios de sua continuidade! Putz e agora? Voltar era algo fora de cogitação pra mim, pq isso significaria mais um pernoite! Mas como já havia avançado quase metade do trajeto, decidi descer o restante da serra na raça, varando mato mesmo! De qq forma o trajeto a seguir era um só: pra baixo, apenas tendo bom senso de desviar de pirambas e mata mais fechada!


E la fui eu na minha decisão insana de descer um desnível de quase 700m sem trilha em meioà densa floresta da Bocaina, decisão q depois parei pra pensar direito e caiu a ficha: não seria pretensioso e arriscado demais? Dane-se, seja o q Deus quiser! Inicialmente ate q o avanço tava razoavel, sem gdes dificuldades, apenas descendo a encosta e buscando evitar voçorocas medonhas de taquarucus espinhentos no caminho. Mas logo essa paisagem tornou-se ainda mais agreste com mais mata fechada e pirambas quase verticais, q retardaram consideravelmente meu progresso. Quando dei por mim estava me arrastando sob emaranhados de bambus ate dar numa encosta quase vertical, me firmando em tufos de samambaias e tendo como apoios nos pés tocos de arvores de consistência duvidosa! Precisava sair dali urgentemente, mas foi ai q ouvi barulho de água correndo, ao qual me dirigi sem pestanejar! Claro q de onde estava tive q fazer uso de minhas habilidades de escalada em mato,mas felizmente consegui atingir o riachinho q naquelas cirscunstancias era musica aos ouvidos!


Uma vez no curso dagua, provalemente o Córrego Seco, tomei a decisão (desta vez mais sensata) de simplesmente desce-lo me valendo do know-how adquirido noutras descidas de rio, uma vez q qq curso dagua constitui em si uma "trilha" pronta, pra baixo! Dito e feito, descer o rio foi mto mais produtivo e rápido q andar pela mata ou ate mesmo pela trilha, pois a perda de altitude era mto mais significativa! Mas não q fosse tb mais fácil, ate pq andar pelas pedras úmidas requer cuidado redobrado, sem falar nos trechos encachoeirados verticais, nos quais estudava a melhor forma de descer: ou desescalaminhando as paredes laterais das cachus ou descendo pelas encosta ao lado, pelo mato! Estava tb ciente q se me acontecesse algo simplesmente estava ferrado, daí tive td cautela em tomar a rota sempre mais "segura", embora etse seja um termo relativo, já q teve momentos bem adrenados q demandaram de minhas habilidades simiescas ou reptilianas, habilidades q nem eu sabia q tinha.


Dessa forma e com a adrenalina a mil, perdi altitude considerável num piscar de olhos, mas ainda assim olhava pelas frestas da vegetação e via o topo das montanhas da planície, sinal q ainda faltava um bocado! Foi ai q caiu a ficha (novamente) de q havia a possibilidade q tivesse q bivacar nalgum mocó íngreme daquela encosta de serra, algo impensável pra mim! Isso (alem de uma cerva gelada) me motivou a acelerar o passo ainda mais, pois ainda tinha mtas horas de luz antes do dia findar, tempo suficiente pra avançar bastante e, quem sabe, chegar lá em baixo! E la fui eu,descendo mais e mais, passando por cachus e poções belissimos q provavelmente nunca tiveram sequer algum visitante, pra espanto das jacutingas e jacus q reclamavam diante minha passagem!


O tempo passou, a declividade tornou-se mais amena e me vi andando um tempão quase no plano. Já estaria na planície? Mas logo o rio saiu no aberto e me lançou num enorme pântano repleto de um labirinto de matacoes de lírios-do-brejo! Acompanhar o riachinho aqui foi um sufoco,pois ou andava pelo rio e afundava a perna ate a coxa na lama,ou avançava por cima das voçorocas de lírios-do-brejo,jogando td corpo em cima, formando um "piso" mais consistente! Alternando sofridamente estas duas formas de avanço, logo pude vislumbrar mais adiante uma estradinha de terra, as 14:30! Uhúúú! Uma alegria indescritível tomou conta de mim e logo interceptei a dita cuja, saindo daquele inferno verde! Pra minha felicidade caira na mesma estrada q teria chegado caso tivesse seguido pela trilha, isto é, meu senso de navegação continua ótemo! E sem GPS algum!


Pois bem, uma vez na estrada bastou acompanha-la ainda durante árduos e penosos 8km ate o asfalto! Caminhada esta q fiz sem pressa alguma, ainda mais q me dei o luxo pra uma breve parada já logo no inicio, onde dei um tchibum num rio afim de me lavar e ficar mais apresentável pra conseguir carona! Minha aparência tb não ajudava em nada: td ralado, enlameado, sujo e com mato e capim da cabeça aos pés nem eu mesmo daria carona pra mim mesmo!


Uma vez "limpo" retomei a pernada rumo o asfalto ignorando as belas ruínas do casario colonial da Faz. Sta Cruz, no mesmo instante em q o sol se foi e deu lugar a uma chuva torrencial q me deu um segundo banho! Não q este não fosse bem-vindo, mas é q a chuvarada deixou a precária estrada de terra toda enlameada e escorregadia, e em mais de uma ocasião quase me vi chafurdando em meio ao lamaçal! Enqto isso, mais "cachus" despencavam das encostas à beira da estrada, so q desta vez eram cachus de água barrenta vermelha!


Cheguei ao asfalto as 16:30 no mesmo instante q a chuva parou, e no solitário pto de bus troquei minha indumentária ensopada por aconhegantes roupas secas, pra depois me resignar a esticar o dedão e esperar a boa vontade de alguém em dar carona! Não deu nem meia hora q consegui carona e prontamente saltei em Areias, as 17:30! Uma vez lá, no botequinho q serve de rodoviária, tive q esperar um bocado o ultimo bus q seguia pra Guaratingueta, as 20hrs! Nesse meio-termo mandei ver duas cervejas e um suculento PF, da mesma forma q foi ai q comecei a sentir o corpo td quebrado e ralado! A adrenalina já não corria nas veias e pude sentir as mãos, braços, joelhos e pernas latejando com gde intensidade, quase anestesiados! Mal conseguia levantar da cadeira ou segurar firmemetne o copo de cerveja q agora me revigorava. Fora isso, passei o tempo removendo os trocentos espinhos q ornavam minhas mãos, como se fossem "piercings naturebas"!

Embarquei no coletivo da Passaro Marrom q me levou embalado no mundo dos sonhos ate Guará, onde saltei as 22hrs e imediatamente tomei o bus pra Sampa, à qual cheguei por volta de 1 da madruga! Mas como meu "dia de cão" ainda não terminara, tive q atravessar a madrugada num boteco de quinta categoria ate dar 5hrs, horário em q pude tomar finalmente condução pro aconchego do meu lar, e dessa forma cunhar mais uma trip com um perrengue de garbo e elegância! Um perrengue digno de nota por varias razoes, seja pelos variados e belíssimos atrativos naturebas q os Campos da Bocaina oferecem, como suas altitudes elevadas, vegetação típica, cânions e cachus cristalinas; seja pelas diversas opções de travessias q seus campos oferecem, opções adrenadas e outras nem tanto. Pensando melhor, o pessoal q me deu cano no feriado escapou de uma aventura e tanto!


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Jorge Soto
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