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A “FERRADURA” DO GARRAFÃO PDF Imprimir E-mail
Seção: Trekking - Categoria: Geral
Escrito por Jorge Soto   
Sex, 21 de Maio de 2010 16:20
Índice do Artigo
A “FERRADURA” DO GARRAFÃO
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Foram inúmeras ocasiões em q percorri a região q hj abrange o Pq. Est. Serra do Papagaio (municípios de Alagoa e Itamonte, sul de MG) nas suas mais diversas direções, mas por incrível q pareça nunca cheguei próximo de seu pto culminante, o Pico do Garrafão.

Minto, pois algumas vezes passei por suas íngremes e elevadas encostas mas não lembro pq cargas d´água jamais pisei no alto dos 2.350m de seu largo e amplo cume. Pra sanar esta desfeita, aproveitei o inicio de temporada montanhista pra ter um circuito q palmilhasse esse imponente maciço, tb conhecido como Pico de Sto Agostinho do Pouso Alto, por se situar na serra do mesmo nome. Assim, ganhamos o pto máximo desta região pela sua trilha tradicional e descemos por uma vertente à nordeste, via Serra dos Coelhos. Um programa sussa de fds em forma de "ferradura" q totaliza 20km nesta região tb conhecida por "Terras Altas da Mantiqueira". Por fazer um tempo considerável q não pisava naquelas bandas de Alagoa e Itamonte, houve necessidade antes de trocar algumas "figurinhas" por e-mail com o Anderson - q conhece aquela região como ninguém - pra decidir de fato o roteiro final do fds. Às pressas convocamos quem dispensasse os eventos da "Virada Cultural" em SP e la fomos nós: eu, Mamute, Roberta, Báh (Bárbara) e Guizy, rasgando a madrugada rumo Itamonte.


Depois de 4hrs de estrada chegamos na simpática cidade mineira, onde encontramos o Robson e o Felipe, as 10hrs. Após o desjejum numa padoca local q deixou a Báh salivando por conta da variedade de doces caseiros no balcão, tomamos rumo pela estrada de Alagoa, sob um sol radiante e céu azul. Esta, por sua vez, começa bem asfaltada mas a medida q os kms vão se sucedendo piora consideravelmente, com mtos pedregulhos arranhando o assoalho do veículo. O caminho não tem erro, basta seguir a sinalização "Pousada Campos de Altitude", enqto uma bela paisagem dos contrafortes da Serra de Sto Agostinho descortina-se pela esquerda. Após subir um tanto interminavelmente, vem uma descida onde ignoramos o acesso à tal pousada, sempre nos mantendo por péssima estrada de terra, onde as chuvas tem provocado alguns mega-deslizamentos. Já no fundo do amplo vale podemos avistar a cadeia de montanhas da qual o Garrafao faz parte elevando-se, grandiosa, e onde o sentido a tomar já não tem mais segredo. Numa bifurcação tomamos à esquerda, ignorando a continuidade da estrada, onde uma placa indica estarmos adentrando no Pq Est. Serra do Papagaio. Mas ao sopé da montanha à nossa esquerda já podemos avistar a Fazendinha do Odir, e é pra lá q vamos, saindo da estrada pela esquerda, passamos por uma porteira, um riozinho e por meia dúzia de araucárias solitárias na vasta campina e pronto, já estamos no Odir, onde deixamos os veículos. São quase 11hrs e estamos a 1730m de altitude, pelo gps do Mamute. Seu Odir é tão prestativo qto simpático e, com seu inconfundível sotaque mineiro, está sempre disposto a passar infos da região como tentar seu paladar oferecendo as gostosuras caseiras q fábrica, como queijos e outros quitutes.


Enrola aqui e enrola ali, começamos a caminhada praticamente umas 11:30, saindo dos fundos da casa do Odir pra ganhar uma estradinha de terra subindo suavemente até o sopé do morro q dá acesso ao pico. Na verdade, o rumo não tem erro pois do Pico do Garrafao é visível (e bem óbvia) a crista a ser tomada. A estradinha termina numa simpática casinha amarela, mas antes galgamos a encosta de capim do morro q a antecede pra dali tocar direto pra cima, sem erro. A picada é bem obvia e visível, e inicialmente ziguezagueia ingreme o tal morro ate ganhar um primeiro cocoruto de pasto, já no aberto. Dali tropeçamos numa porteirinha decrépita de madeira, atravessando um trecho de mata q sobe a crista suavemente ate dar num segundo cocoruto serrano. A Báh deslancha na frente doida pra chegar no cume, enqto os demais vão sossegados, sem pressa nenhuma; Mamute acompanha a Robertita ao mesmo tempo em q o Robson e Felipe metralham os arredores de clikes.


Ganhando altitude de forma imperceptivel, bordejamos uma mata pela direita ate ziguezaguear nova encosta íngreme, passando por mega-cupinzeiros e desviando tanto de voçorocas de arbustos mais fechadas como de sujeirinhas de vacas, tal qual um "campo minado". Após cruzar o frescor de mais um curto trecho florestado, emergimos finalmente num cocoruto descampado bem mais amplo, na cota dos 2075m, onde a paisagem de fato se abre permitindo tanto um visu de td trajeto percorrido como do grandioso paredão frontal do Garrafão, projetando-se mais além e acima de uma longa corcova. A Báh e Guizy ficam alucinadas com as possibilidades de escaladas da parede rochosa, q cai verticalmente do alto ate se perder na mata de encosta. Uma pausa pra esperar o resto da trupe esfria rapidamente o corpo, ainda mais com o vento soprando do leste e varrendo a campina sem dó, agora salpicada de pequenas bromélias de altitude.


A caminhada prossegue em aclive através de suaves corcovas de pasto até embicar de vez num ombro serrano, subindo forte e bordejando a mata sempre pela direita. Mergulhamos entao na mata fechada, contornando a muralha da montanha sinuosamente pela esquerda ate dar no aberto, já no alto. O ultimo trecho ate o cume tanto pode ser feito através de uma escalaminhada pelo pasto como costeando a tal encosta final, e assim ganhamos os 2372m de um cocoruto logo acima do platô q constitui o topo do Garrafão, as 13:45hrs! A vista daqui é cênica, logo acima do enorme paredão de granito q se debruçava verticalmente até lá embaixo: vislumbrávamos td o amplo vale percorrido assim como a casa de Seu Odir, pequenina, lá embaixo ao centro; cercada de cristas despencando do alto, como a da Serra dos Coelhos, pela qual retornaríamos o dia sgte; e mais alem, ao varias silhuetas serranas recortando o horizonte tais como a do Papagaio (nordeste) e dos Nogueira (leste). Donos do pedaço, nos prostamos ali à toa e descansamos gostosamente, com direito até um breve cochilo, alem de nos presentearmos com um bem-vindo lanche. Mas logo o vento frio soprando fortemente nos obrigou a trajar anorakes.


Descansados e refeitos, resolvemos dar uma circulada pelos cocorutos q se elevam suavemente naquele amplo platozao de pasto, à oeste. Largamos as cargueiras e lá fomos nos, inicialmente indo pra beirada norte, onde encontramos uma enorme clareira acima de um belo mirante, assim como um arvoredo protegendo restos de um acampamento, com direito a fogueira e algum lixinho. Já percorrendo a campina pro norte encontramos uma boa fonte de água q abasteceu os cantis, assim como lajedos q culminavam nos demais cocorutos q beiravam os limites norte e leste do Garrafão, com amplas vistas pra Itamonte e outras gdes cristas silhuetadas ao fundo do quadrante sul, como a Serra Fina, Itatiaia e a "Maringuaré". Ali atingimos a cota de 2.368m de altitude na cia de velhas conhecidas da Báh brotando do chão, as caratuvas, aquele matinho rabinho-de-gato característico da Serra do Ibitiraquire (PR), mais conhecido como "PP".


Com o dia findando, voltamos pra pegar nossas mochilas e armar acampamento na primeira gde clareira q visitamos, ao lado do arvoredo com restos de fogueira. Protegidos do vento pela vegetacão e com vista privilegiada pra sequencia de cristas e serras ao norte, realmente não podíamos reclamar do nosso pernoite! Enqto a temperatura caia conforme o Astro-Rei mergulhava no horizonte, tingindo o firmamento dos mais variados tons rubro-escarlates, nos dirigimos ao interior da clareira do arvoredo onde fizemos a rodinha habitual pro ritual da comilança! Fachos de headlamps iluminaram fogareiros ronronando ao cozinhar nhoque e miojo , assar tomates e batatas, e esquentar um bem-vindo chá pra aquecer os ânimos. Eu e a Guizy chorávamos copiosamente por ter cometido o pecado capital de esquecer o "conhaque-nosso-de-cada-dia", q àquela hora seria mto bem-vindo! Mas como "quem não tem cão caça com gato", me contentei com uma latinha de breja q trazia à tiracolo, no kit de "primeiros-socorros"!


Qdo o estômago já estava satisfeito e do papo espremia-se até o bagaço, não deu outra.. nos recolhemos à nossas acolhedoras barracas. Mas eis q a Báh resolve bivacar ao relento apenas encasulada num modesto saco-de-dormir sobre um fino isolante nos lajedos do mirante??? "É que eu quero dormir apreciando as estrelas girando acima de mim!", explica ela da forma mais natural e espontânea possivel, honrando o sexo femenino mais q tds os "machos" presentes juntos, mas acredito q seja mesmo pra pagar promessa pra adquirir o doce-de-leite q tanto cobiçava. Lógico q eu, Mamute e os demais moçoilos ficamos boquiabertos com a decisão da despirocada galega, q certamente seria um dos espécimes q Darwin riscaria do processo evolutivo sem pestanejar. "Vai fundo, fia!", pensamos. Nessa hora me senti um "homi sem agá", com uma leve vontade de mijar sentado.


Dito e feito, a noite fora fria conforme o previsto! O termômetro do Robson marcara 4 graus, mas a sensação térmica provocada pelo vento era maior. Friaca q senti à noite e q alem de me acordar varias vezes, me obrigou a "plastificar" os pés de modo a isolá-los termicamente da temperatura ambiente. Em tempo, estava dormindo com a mesma roupa do dia, sem nada avulso a não ser um saco-de-dormir "meia-boca" da Trilhas e Rumos, diga-se de passagem. Apesar do frio intenso, a noite fora incrivelmente estrelada com a Via-Láctea descrevendo um arco esplêndido sobre nossas cabeças, e as luzes faiscantes de Caxambu, Baependi e outros arraiais menores podiam ser avistados brilhando no chão negro e aveludado, à noroeste.



 
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