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CAMINHO DOS AMBRÓSIOS: DO GARUVA AO MONTE CRISTA PDF Imprimir E-mail
Seção: Trekking - Categoria: Geral
Escrito por Jorge Soto   
Qua, 12 de Maio de 2010 12:40
Índice do Artigo
CAMINHO DOS AMBRÓSIOS: DO GARUVA AO MONTE CRISTA
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Muitos foram os caminhos coloniais utilizados pelos primeiros colonizadores europeus pra vencer a distancia entre o litoral paranaense e o planalto curitibano. Dentre eles, o "Caminho dos Ambrósios" (ou "Caminho das Três Barras")

 foi um dos mais utilizados e, coincidentemente, um dos menos conhecidos. Iniciando na Baia de Babitonga (SC), corria por entre a sinuosidade escarpada da abrupta Serra do Mar catarinense através de ardiloso calçamento de pedras ate alcançar o alto do místico Monte Crista, pra dali em prosseguir pelos campos altos sentido noroeste. E foi esta vereda histórica q resolvemos palmilhar no sentido inverso, emendando também a subida ao Pico Garuva. O resultado é uma travessia de 3 dias árduos q une a beleza cênica natural de planícies dos Campos do Quiriri, a verdejante Mata Atlantica de encostas e riachos encachoeirados com o encanto de vestígios de um caminho histórico ainda preservado, nesta região isolada e selvagem na divisa dos estados de SC e PR.

Desta vez o péssimo humor de São Pedro em td região sudeste foi o responsável de nossa debandada pro sul neste final de ano. Não q lá estivesse melhor e sim "menos pior". Q fosse, pois era a deixa pra retornar novamente e dar vazão à novas explorações de uma serra q havia deixado aquele gostinho de "quero mais" na nossa ultima incursão em outubro, a Serra do Quiriri. Dessa forma e com td meio q planejado às pressas, num piscar de olhos eu, Laure, Mamute e Roberta nos vimos rasgando a madrugada de Sampa por uma Regis Bittencourt (BR-116) incrivelmente deserta, o q era bom sinal. Só assim pra logo começarmos a descer a serra rumo litoral e alcançarmos a divisa estadual de PR-SC, onde já devíamos atentar ao nosso destino final. Até ali o tempo mostrava-se generoso demais, silhuetando os contornos escarpados da verdejante e grandiosa Serra do Mar catarinense.

SUBINDO O GARUVA

Após trocar a BR-376 pela BR-101, não demorou mto a chegar à pacata Garuva, por volta das 9hrs, já tomando a curta estradinha de terra na "Casa de Pedra", à direita do asfalto. Simplorios casebres perfilados com arquitetura típica sulista denotam q aqui ser a "perifa" da cidade, mas independente disso foi aqui mesmo q largamos o veiculo. Dificil foi dar os últimos retoques e ajustes em nossas respectivas cargueiras, principalmente pelas insistentes "boas-vindas" de um pulguento local como tb dos inconvenientes borrachudos, q proliferam aos montes nesta época do ano. Iniciamos oficialmente a pernada logo em seguida, as 9:15, como GPS do Mamute marcando exatos 70m de altitude. Da estradinha bastou cruzar por cima das pedras o manso Rio da Onça, e dali simplesmente tocar pra cima, em suave aclive. O tempo não poderia estar melhor: a nebulosidade parcial no firmamento permitia enormes frestas de céu azul, q por sua vez lançavam vigorosos raios solares realçando o tom verde-escuro das montanhas, à nossa frente. O Garuva, por sua vez, nos desafiava com seu almejado cume, acenando ainda a mais de mil metros sobre nossas cacholas.


Após um trecho sem gde desnível e passar por baixo de torres de alta tensão, deixamos o aberto pra mergulhar finalmente na mata fechada. A estradinha há mto tempo já havia dado lugar a uma picada, q agora se alternava numa pequena vala e um rabicho de trilha, entremeada de charco e brejo. Entrar na mata fechada sempre foi sinônimo de "frescor agradável", desde q não seja verão, claro! O forte calor abafado era quase palpável, nosso passo era lento e não tardou a tds ficarmos ensopados de suor! Além do mais, já de cara esbarramos com 2 (sim, duas) jararaquinhas na trilha, o q nos fez redobrar a atenção onde pisávamos! Contudo, a subida prosseguiu suavemente, apenas atentando a duas bifurcações no caminho (esquerda e direita, respectivamente), sempre tendo o som audível do Rio da Onça ao nosso lado, escondido no fundo do vale.


As 10hrs caímos num tronco caído q sinaliza a bifurcação pra Cachu da Onça, à direita, à qual se chega após descer uma curta, porem íngreme e escorregadia piramba. Claro q esse não foi empecilho pra nos dar o luxo de molhar nossa goela, encher os cantis e refrescar nossa cachola com água pura e cristalina! Eu ainda tive o "privilegio" de dar um tchibum "forçado" nos poços do Rio da Onça, escorregando numa pedra e ganhando um machucado no cotovelo q me incomodou o restante da trip.
Revigorados, prosseguimos a pernada justamente no trecho onde a subida de fato aperta, sempre avançando através de uma crista obvia e com mato caindo de ambos lados! Com a declividade aumentando consideravelmente, as pirambas seguintes foram sucessivamente vencidas inclusive com uso constante das mãos, q buscavam se agarrar a qq galho, tronco ou agarra disponível, enqto os pés fincavam-se firmemente no emaranhado de raízes q brotava do chão! Cuidados mais q redobrados pois alem da altura vencida, o trajeto estava repleto tanto de buracos e gretas escondidos como de lances de chão-falso, onde uma cobertura densa de folhas apoiava-se traicoeiramente sobre raízes próximas. As paradas pra retomada de fôlego são constantes, porem breves, pois nuvens de pernilongos não nos dão trégua de descanso. Ainda assim, as meninas guentaram o perrengue firmes e fortes!


As 13hrs fizemos um breve pit-stop com direito a lanche numa "grutinha" formada por enormes pedras desmoronadas no meio da trilha. O local foi mais q bem-vindo pois o frescor em seu interior deu breve trégua ao calor abafado da mata, q lentamente ia nos consumindo. Enxotados do local por nuvens de mosquitos q mais pareciam praga bíblica, demos prosseguimento à nossa escalaminhada em meio através de enormes pedras, exatamente no momento em q nuvens cobriram o céu e começou a chover fino sobre a mata.


Emergimos da mata as 14hrs, desembocando numa enorme clareira com restos de fogueira e alguma sujeira. A partir daqui, na cota dos 986m, a picada percorre uma campina pra novamente mergulhar na mata, sempre galgando cristas sucessivas. O calor abrandou consideravelmente pois enqto avançávamos íamos enxugando a mata no caminho, e algumas frestas na mesma possibilitavam apreciar o alto do nosso destino, cada vez mais próximo! Dessa forma, após nos espremer por emaranhados de raízes, troncos e bambuzais, serpentear blocos enormes desmoronados, escalaminhar novas pirambas e bordejar o ultimo trecho de encosta, deixamos a mata pra ganhar finalmente o campo aberto do selado q une o Pico Garuva e o Pico Jurema (1229m), montanhas irmãs formadas pelo contraforte da Serra do Quiriri! Daqui bastou tomar à direita e acompanhar a trilha subindo a campina. Olhando por sobre o ombro observávamos a estreita e recortada crista unindo as duas montanhas, pra logo densas brumas cobrirem em definitivo a paisagem! E logo atingimos o alto dos 1292m q representam o cume do Garuva as 16hrs e desabamos no chão, exaustos! Visu q é bom, nada, uma vez q a essa altura estava bastante encoberto, porem a chuva já havia cessado faz tempo! Mal víamos uns aos outros, tão fechadas as nuvens, sem contar um tapume cobrindo os demais picos elevados do Quiriri. Afinal, a região é um dos anteparos das nuvens que deixam o litoral, e não são freqüentes as possibilidades de se chegar o topo sem encobrir-se em nuvens densas. O som de estrondosos ribombos no céu nos lembrou q ainda não era hora de parar. Poderiamos ter acampado ali, mas o local era demasiado exposto e fortes ventos fustigavam a montanha! Imagine aquilo lá com uma chuva torrencial? Por isso, retomamos a pernada, descendo campinas sucessivas em busca do vale mais próximo e protegido, de preferência com água pro pernoite. Perdendo altitude gradativamente em meio ao nevoeiro e cruzando pequenos trechos de arbustos e jardins de bromélias, estacionamos em definitivo numa encosta não mto íngreme do lado de um vale, as 18hrs. Na cota dos 1145m, o local era perfeito: coberto de capim ralo, não mto inclinado e próximo de água!


Montamos as barracas no exato momento em q o tempo começou a abrir, pra dar sequencia ao ritual de preparo da janta no aberto! Mas como o tempo no Quiriri é imprevisível, uma breve chuva de verão voltou com força nos obrigando a preparar o rango no interior das barracas, deixando as mesmas parecendo autenticas saunas secas somando-se o calor abafado local! Mas assim q a chuva passou pudemos respirar aliviados e degustar nossos suculentos miojos e nhoques ao ar livre, já sentindo a brisa típica q prometia o dia sgte ser de bom tempo! Mergulhamos no mundo dos sonhos bem antes do manto negro noturno se debruçar sobre o Quiriri, o q ocorreu após as 20hrs. Choveu consideravelmente e esteve frio durante a noite, mas nada q prejudicasse nosso merecido e aconchegante descanso após um dia extenuante como aquele.



 
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