A via do Abandono, foi conquistada de baixo, com batedor e na sua maior parte em solitário. No primeiro dia avancei 40m em solitário e no fim do dia, o Jacaré (Pedro Zeneti) passou por lá e me deu segurança para bater a última chapeleta daquele trecho.
Na segunda investida, junto com o Luiz, avancei mais 20m de onde havia parado, esticando toda a corda e batendo a primeira parada, que por sorte deu certinho em um bom platô. O Luiz saiu conquistando a segunda enfiada avançou uns 25m com duas chapeletas, mas uns 5m acima da segunda, um bloco de pedra literalmente descolou o que resultou em uma queda de uns 15m. Devido à inclinação levemente positiva da rocha ele machucou bastante as costas, ombros e cotovelos, e graças ao capacete só ficou com um galo na cabeça. Descemos e voltamos direto para São Paulo para fazer exames médicos, que felizmente não revelaram nada de mais grave a não ser os ferimentos superficiais e uma dor muscular que vai demorar um pouco para sumir de vez.
Algumas semanas depois voltei sozinho para continuar a conquista e deu para ver a marca do bloco que descolou da rocha, com uns 50 cm de comprimento. Avancei até completar a segunda enfiada, também com 60m e mais uma vez terminando em um bom platô. Desci para pegar água com o Rodrigo e a Raissa que estavam escalando por ali. Acidentalmente deixei cair a chave de boca e eles não conseguiram encontrar. Decidi voltar e terminar a via, pois julguei que no final a rocha ficaria mais positiva, próxima ao costão, e provavelmente não seria necessária nenhuma proteção fixa, e poderia descer pela via Zênite ao lado direito. Bem, cheguei a um grande buraco com vegetação, onde foi possível colocar um camalot precário em uma fenda horizontal barrenta e não muito sólida. Nesse momento começou uma chuva torrencial e eu não podia desescalar, e rapelar naquele camalot estava fora de questão. Decidi subir os 15m restantes em artificial usando cliff´s de agarra e de buraco alcançando o cume e descendo pela Zênite como planejara. A via estava tecnicamente terminada, mas moralmente faltava escalar de verdade o trecho final.
Mais um fim de semana e retornei na via, junto com o Jacaré, escalei esse trecho que acabou ganhando uma chapeleta ao lado do buraco e uma parada independente no cume.
A experiência de conquistar em solitário foi o que me chamou mais a atenção, pelo estado de espírito que esse ato provocou, de tranqüilidade e concentração como não havia ainda experimentado.
Para saber como chegar e onde ficar acesse www.abrigopantando.com.
Com mais esta via o setor "corpo" da Pedra do Elefante conta com 6 vias de acesso ao cume além de outras esportivas menores e projetos, dando um volume de escalada de uns 1.000m. Bem interessante para um dia cheio.
O resultado foi uma via de 5 Vsup E3 160m. Está localizada no setor "corpo" da Pedra do Elefante, a esquerda da via Zênite, em Andradas (MG).
Croqui: Via do Abandono
Marco Aurélio Nalon |