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TREKKING - ILHA DA MADEIRA - Página 3 PDF Imprimir E-mail
Seção: Técnicas - Categoria: Lateral
Escrito por Jorge Soto   
Ter, 21 de Julho de 2009 14:42
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TREKKING - ILHA DA MADEIRA
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Deixei o pico Ruivo meia hora depois, objetivando o 3º pico mais alto da ilha, o Pico das Torres. Pra isso a picada desce interminavelmente em meio à uma encantadora mata de belas urzes da Madeira, plantas endêmicas q reluzem a luz do sol em diversas formas e cores. Musgos, rosetas, gramíneas verde-acinzentadas, estreleiras brancas, violetas e orquídea-das-rochas são tb outras das espécies que aqui se avistam facilmente.
Ainda pela crista e sempre se aproximando do enorme e imponente maciço do Pico das Torres (1851m), a picada deriva suavemente p/ encosta esquerda da serra, de modo a contornar a enorme montanha. Em alguns trechos + estreitos da trilha e q beiram verdadeiros penhascos abertos, temos o auxilio de precária varandinha e de vários degraus na rocha. Daqui se tem um belo visual de várias nascentes despencando montanha abaixo, como a Ribeira Seca do Faial e a Ribeira do Curral.
A cordilheira, por sua vez, é um enorme monumento de rochas cinzento avermelhadas q cai de ambos os lados por vários espigões, os quais é necessário atravessa-los por meio de 5 túneis (de 2m de altura) no decorrer do trajeto. Os 3 primeiros são pequenos e quase q seqüenciais. Mas logo vem o 4º túnel, cujos 200m percorri vagarosamente pelo fato de ter deixado minha lanterna em casa. Assim, não me restou opcao senão me guiar naquele negrume apenas pela "luz no fim do túnel", literalmente, ate sair daquele "furado" úmido, frio e escuro, q é como chamam os túneis aqui. Emergindo no outro lado do maciço, me despeço do Pico das Torres p/ pernada prosseguir no mesmo paso, com suaves sobes-e-desces, eventualmente topando c/ gringos no sentido contrario.
Por fim, diante de nós elevava-se o Pico do Gato com seus 1780m de altitude. Este marcava o início da subida até ao Pico do Areeiro sendo facilmente atravessado por um túnel com aproximadamente 100 metros de comprimento. Antes, porem, do ultimo túnel paro p/ apreciar e clicar a cabeceira da Ribeira da Fajã da Nogueira, assim como as "achadas" e os "lombos" de São Roque do Faial. Atravesso entao o "furado" no mesmo compasso q o anterior, p/ na saída me deparar c/ um mais um belo visual desta travessia: avista-se um dos rios q convergem no Curral e outros sítios dominados pelo enegrecido Pico Cidrao; enqto à oeste, atrás do Pico Grande, o sol derramava-se pelo planalto de Paúl da Serra, uma especie de Aparados da Serra local.
Uma vez c/ o Pico do Gato pelas costas subiu-se a ingreme escadaria do Cidrão, c/ centenas de degraus cavados na própria rocha e exigiu músculos e fôlego pra serem vencidos. Após este arduo trecho de subida, logo nos vemos novamente pernando numa crista terrivelmente escarpada, q nada mais é q a passagem sobre um dique basáltico q separa as nascentes dos Rios da Fajã da Nogueira e do Cidrao. Não demora e caio no Ninho da Manta, o ultimo mirante antes do meu destino final. Respiro fundo, ao mesmo tempo q aprecio o visu dos fundos vales ao redor, assim como a rede de riachos q alimenta o Rio da Metade e mais alem, as "Achadas" do Pau Bastiao e do Cedro Gordo, e gde parte da Cordilheira Montanhosa Central.
Após um ultimo trecho de estreita crista, com abismos de ambos os lados, cheguei finalmente no Pico do Areeiro as 14:00. Lá desabei junto à pousada homônima, onde estiquei as pernas e belisquei alguma coisa. Um passarinho (acho q era tendilhao) veio me encher o saco e não pensei duas vezes em afasta-lo c/ uma pedra, apenas pra depois descobrir q o mesmo ta quase em extinção, pelo olhar comprido de uma belga na minha direcao. Mas aqui ta cheio de outras aves - pardais, andorinhas e canários - ciscando o chão repleto de sobras dos turistas, q por sinal havia razoavelmente, boa parte de excursões e agencias de Funchal.
Pois bem, final de travessia e agora? Ali não havia transporte coletivo algum e tampouco havia combinado resgate algum p/ mim. Isto é, teria q descer td aquele planalto por entediantes 18km de asfalto até Funchal. Como estava bastante cansado via pouco provável chegar na cidade antes de escurecer. Pensando bem, foi mto bom ter trazido a barraca. Pelo menos teria a cia de umas ovelhinhas q pastavam aqui e acola, naquele cenario q mais lembrava o da Novica Rebelde, porem mais seco. Mas eis q a luz da divina providencia me agraciava novamente, pois mal comecei a andar pelo asfalto e um simpático casal de noruegueses motorizado q me oferece carona. Claro q não titubiei em aceitar e assim voltamos p/ capital da ilha num piscar de olhos, onde saltei proximo de onde estava hospedado, as 17:30. E assim o cansaço estampado na rosto cede facilmente lugar à satisfação da missão cumprida.
Ainda fiz uma horinha num boteco à beira-mar, afim de bebemorar à pernadinha-solo daquele dia, alem de passar no supermercado p/ abastecer a mochila. "Vai um cacetinho pro freguês?", sou indagado cordialmente pelo atendente da padoca. Tento nao rir mas fracasso nesse intento, p/ espanto do "gajo". Impossível não se divertir qdo se diz "pequeno almoço" p/ se referir ao café-da-manha, "miúdos" p/ crianças, "entrecosta"  p/ costela, "casa de banho" p/ banheiro, ou diante de certos hábitos corriqueiros locais, q não deixam de ser um modo de vida bastante peculiar aos brasileiros.
Os demais dias continuei percorrendo a ilha em inúmeros bate-volta, ora sozinho ora na cia de gdes amizades q lá fizera, e assim descobrindo as belezas escondidas deste rincão q guarda leve sotaque tupiniquim. Percebi q a gde maioria das trilhas pode ser percorrida num dia só (em virtude da proibição de camping), mas nada impede q algumas sejam emendadas e resultem em autênticos mega-travessias. Alem de caminhadas, a ilha oferece bons locais de mergulho, uma volta completa à ilha de bike, alem da pratica de bunge-jump e salto de asa delta. Enfim, opções aventureiras não faltam. Basta descobri-las.
 Assim, a Ilha da Madeira tem a alcunha de ser o eterno "Jardim flutuante do Atlantico", predicado q ganhou dos europeus abonados desde q a mesma tornou-se seu refugio de verão. Mas pros brasileiros ela pode ser mto bem a "Floripa da Terrinha", já q agora ela atrai outro tipo de visitantes, pois seus encantos vão alem do vinho, seu casario colonial e seus famosos bordados. E se a ilha, juntamente com os Açores e as Ilhas Canárias (Espanha) correspondiam ao fim do mundo antes da descoberta da América, hj estes mesmos locais poderiam ser perfeitamente denominados o começo da Europa. Ou melhor, um lugar encravado no Atlântico c/ leve sotaque brasileiro q não trai a alma portuguesa em momento algum. Um local onde a gente tem a impressão de q nunca saiu de casa.
 
Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html

 



 
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