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MOCHILANDO NA TRANSPANTANEIRA - Página 3 PDF Imprimir E-mail
Seção: Técnicas - Categoria: Lateral
Escrito por Jorge Soto   
Qui, 04 de Junho de 2009 21:56
Índice do Artigo
MOCHILANDO NA TRANSPANTANEIRA
ENTRE JACARÉS E PIRANHAS
QUASE INDO EMBORA
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sangrando o rio                                                    vegetação curiosa 

CAVALGANDO PELO BANHADO

Marcos nos acordou antes do sol nascer, as 5:30. Se não fosse ele certamente seria um maldito pássaro chamado arancuã, cujo estridente chiado soava pontualmente ate q o sol chegue no ninho dele. No entanto a rotina aqui parece começar cedo p/ todo mundo: o som de pássaros em geral indica q a natureza já ta "acordada", assim como os peões desde aquela hora já iniciam suas tarefas habituais. Ate as crianças já estavam de pé, algumas já varrendo, juntando e colhendo as folhas das arvores em torno da casa.
Com repelente e protetor, embarcamos novamente na voadeira pq desta vez subiríamos o rio. A medida q deslizamos suavemente pelo rio de águas barrentas, o sol vai proporcionando uma alvorada igualmente espetacular, iluminando o céu inicialmetne com um tímido amarelo, explodir em tons vermelho-alaranjados e em seguida estampa-lo com um belo e perene azul-claro. O passeio silencioso só é quebrado pelo canto ensurdecedor das aves nas arvores das margens: são periquitos, papagaios, maritacas aos montes, assim como garças, corujas e colheireiros (pássaro cor-derosa com bico em forma de colher) q começam a descer de seus poleiros e enormes ninhos em busca de peixes ou simplesmente ficar de prontidão nos emaranhados de aguapés. Marcos nos apresenta outras aves de hábitos matinais, q se concentram nas margens ou arvores das baias de terra alagadas - isolada das margens do rio - e de nomes bem peculiares como jacutingas, íbis (curicaca), ararauna, uirapuru, saracura, irerê(marrecos) entre outros. Um enorme carandá lembra uma arvore de natal, onde os enfeites são as inúmeras garças q pipocam, cuja cor alva contrasta do verde profundo da arvore. O remexer na água indica uma arisca ariranha ou lontra, da qual vemos sometne a cabecinha submergir nos aguapés. Na época de seca, o nível das águas desce deixando varias lagoas e poças, aprisionando vários peixes q fazem a festa dos predadores. É a época ideal p/ ver bichos, pois todos ficam perto delas ou nas margens ds mesmas.
A idéia era ver uma sucuri (anaconda,) q aparentemente batia cartão no emaranhado de raízes de uma imponente arvore rente o rio, mas infelizmetne nada da dita cuja. Nada tb de uma onça q costumava deixar os restos de novilhos num determinado trecho descampado da margem. No entanto, a jacarezada tava toda onde quer se olhasse, imóvel feito pedra, mas ao menos sinal e aproximação escapulia agil feito lagartixa no meio da água. Marcos falou q o pantanal tem mais bicho q a Amazônia, pq ali é um meio-termo entre o cerrado e floresta, abrigando bichos de ambos habitats. E na Amazônia tb os bichos são + difíceis de ver pq eles se escondem, ne? Ali eles são bem visíveis.
Retornamos uma hora após apenas p/ nos fartar com o café-da-manha na mesa, ou quebra-torto, como chama aqui. Mais paes indo direto p/ mochila..Na seqüência, com sol alto, é hora de dar um passeio a cavalo pelos limites da fazenda em busca de mais bichos matinais. Meu cavalo mais parece um pônei de tão pequeno q é; o do Dong era maior devido às dimensoes de meu corpulento amigo. Marcos aconselha ir de calça mas não, meu negocio é andar de bermuda mesmo. Andar a cavalo não parece difícil: o volante é o arreio enquanto bater de leve - com os calcanhares - no bicho serve p/ acelerar. E la vamos nós.
Inicialmente voltamos pelo mesmo caminho qual chegáramos o dia anterior, mas logo quebramos pra esquerda adentrando numa planície, um cerradao descampado de capim alto q mais parece uma savana africana, encharcada, desviando de enormes cupinzeiros, alguns com quase 2m. "São altos por causa das enchentes", diz Marcos. E poe charco nisso, em alguns trechos o cavalo se enfia quase ate a barriga na água, obrigando a levantar minhas pernas, q mesmo assim saíram enlameadas. No trajeto, um carcará sobrevoa elegantemente o capim ralo e uma coruja nos vigia atentamente de cima de um cupinzeiro, em meio a gde silencio, rompido apenas pelo chapinhar dos cascos na água. Uma pausa p/ apreciar, ao longe, um veado-campeiro, uma espécie de cervo pantaneiro, pasta tranqüilamente, indiferente a nossa presença. Se Marcos não nos chama-se a atenção de sua presença, ele passaria desapercebido, pois sua coloração marrom-avermelhada se mistura à do capimzal q o envolve.
Ao cerrado alagado eles chama de "banhados", e os focos de mata maior (florestas) q aparecem como ilhas em tamanha retidão são chamadas de "cordilheiras". Após um descampadao, segue-se uma breve cordilheira, e um novo campo aberto surge à nossa frente, sucessivamente. As paisagens são quase idênticas e é muito fácil se perder. Nas cordilheiras, percebo o porquê de calças; muitos arbustos espinhentos e galhos de arvores devem ser atravessados na marra, arranhando minha perna. Ao sair de mais uma cordilheira, flagramos uma ema (espécie de avestruz menor) correndo desengonçada no capim, pra se enfiar num capão de mata proximo.
Após um bom tempo, alcançamos os limites da fazenda sinalizados por uma cerca bem simples. Agora passamos a acompanha-la p/ direita, alternando campo aberto e mata fechada, q é bem recebida devido a sua sombra refrescante. Este trecho felizmente é bem seco. O sol ta pegando. De repente, um tatu assustado remexe o capinzal ao redor, anunciando sua presença. Mais uma pausa p/ conhecer um pouco da flora pantaneira, o Genipabu e um tipo de goiabinha pantaneira, tirada do pé. Alem da palmeira típica daqui, o carandá, cujo chão esta repleto de um tipo de coquinho, bem gostoso por sinal. Há tb o mandacaru, um tipo de cacto, e o caraguatá, uma planta com espinhos vistosamente avermelhados. Ainda acompanhando o cercado, uma "batida (pegada) de onça" enorme, perfeitamente visível no meio da terra seca. Alguns ossinhos espalhados próximos de uma mata mais fechada desestimulam qq tentativa de querer atravessa-la. Marcos sugere retornarmos pelo campo de cerrado aberto, contornando a tal mata fechada. Vai saber a bichinha ta ali..a espreita, ne? Não nego q nessa hora fiquei meio tenso, pois a sensação de estar sendo observado é muito incomoda e real.

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essas vão pro bucho                            cavalgando nos banhados

QUASE INDO EMBORA

Retornamos à fazenda quase 11hrs, com sol a pino. Um descanso merecido antes do farto almoço q novamente saboreamos. Deixei de lado um caldo de piranha p/ mandar ver em algo mais consistente, como carne seca c/ mandioca, arroz tropeiro e muita salada!! Dong comeu o triplo q eu. Em seguida, mais um descanso à sombra das suntuosas arvores da fazenda, ouvindo o cantarolar dos trocentos canários e dos joao-de-barro q la pairavam. Ainda fazendo a digestão, demos uma leve caminhadinha pras casas do lado da fazenda, de propriedade da sobrinha do Marcos, as quais estavam devidamente sendo ampliadas pra futuramente se tornarem uma pousada mais incrementada q o casarão q estávamos, pros turistas mais exigentes. Numa lagoinha/brejo proximo, Marcos nos disse q ali costumava ficar uma sucuri descansando, pra alegria dos turistas. Infelismente a ausência dos mesmos deve ter desanimado a bichinha de dar as caras durante nossa estadia.
Pontualmente 2 da tarde iniciávamos a longa jornada de retorno a Cuiabá pela Transpantaneira. A viagem foi feita no mais perfeito silencio; o calor da tarde juntou-se ao cansaço das sensações vividas ate entao, proporcionando ate um improvável cochilo na incessante trepidação do veiculo. Duas hrs depois, em Poconé, uma breve pausa p/ nos refrescarmos num boteco, já indiferentes q ali é a maior bacia alagavel do Corumbá e Paraguai.

Chegamos em Cuiabá as 18:30, já com a brisa fresca típica de final de tarde, onde nos despedimos deste pantaneiro típico, cheio de causos p/ contar. Mais tarde me despediria igualmente do Dong, e dali seguiria p/ Distrito Federal aponto de curtir o reveillon na Esplanada dos Ministérios. No entanto, sair daquela região era deixar um ambiente genuinamente brasileiro. Fértil como um mar, vasto como um pais e rico como uma floresta, o Pantanal continua vivendo mansamente, regido pelo seu preciso ciclo de águas, onde apenas os peões e os bichos conseguiram se adaptar. O homem, por sua vez é minoria absoluta nesta imensidão. Imensidão e beleza q nenhuma novela é capaz de captar.

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html



 
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