Juntando um velho roteiro 'semi-off road' c/ outro de 'como chegar ao pto culminante', uma carta topográfica e disposição de sobra, embarcamos nesta travessia 'Altos da Bocaina', de 3 dias, exatamente pra circundar pela crista da serra esta região repleta de surpresas, mares de morros de perder a vista, encostas verdes, vales profundos, cachoeiras escondidas e gente muito, muito hospitaleira.
CHEGANDO NO BARREIRO
Chegar em SJ do Barreiro de
sampa é meio ingrato. Só há 2 horários pela Pássaro
Marrom, as 16hrs (sexta) e 7 da matina (sábado). Como era sexta-feira
feriado, não havia busao as 7 da matina. Sem chance. A saída
foi tomar um busao no mesmo horário pra Guaratinguetá (R$22),
e de lá tomar um cata-jeca-pinga-pinga com destino ao Barreiro (R$13),
quase 11hrs. Este busao é muito lerdo, irritante até, pois vai
parando em boa parte das cidades do Vale do Paraíba (Lorena, Cach.
Paulista, Silveiras, etc), mas depois q entra na Estrada dos Tropeiros, subindo
a serra sinuosamente, agiliza um pouco. O jeito ate lá é cochilar
ou bater papo. Ah, sim...os integrantes desta roubada q inicialmente consistia
num 'oiteto', reduziu-se a um quarteto por motivos de gripe generalizada de
ultima hora (!?) Éramos eu, Elisa Tapioca, Rex e o Nemo. Grupo pequeno,
porem unido.
Chegamos, enfim, ao Barreiro (como é carinhosamente chamada SJBarreiro,
500m de altitude, porta de entrada da Bocaina) la pelas uma e meia da tarde,
com tempo já meio nebuloso onde nuvens negras obstruíam a visão
da crista da enorme serra à nossa frente. Já tratamos de nos
informar de condução pro alto da serra (uns 24 km!!) com o famoso
e lendario 'Zé Pescocinho' ligando varias vezes pra casa dele, mas
nos informaram q tinha ido deixar um grupo na portaria do pq. O jeito foi
esperar o homem voltar, já procurando uma segunda opção
de condução com outro cara q se ofereceu mas cujo valor (R$150!!!)
nos fez aguardar o primeiro mesmo.
Nesse meio-termo de espera interminável, ficamos conversando na rodoviária
com o Danton, um jovem local q falava pelos cotovelos e se dizia primo-pobre
do prefeito da cidade, q alias tava jogando pebolim e bebendo cerveja ali
perto. Entre outras lorotas nos contou q o Pescocinho seria nossa opção
+ barata de condução, alem de não parar de falar de baseado,
quiçá esperando algum da gente. Qdo não era ele, era
um cachorrinho q não podia ver a gente comendo q não largava
nosso pé. O Rex bebericou uma curiosa Guaranita, guaraná em
garrafa de cerveja(!?)
O tempo passando e nada do Zé Pescocinho; pra piorar, começa
um diluvio de dar inveja ao Noé, sem perspectiva alguma de melhoria
de tempo. E o desânimo batendo.. Já ate cogitávamos pernoitar
na rodoviária e voltar. Q merda! Mas aí apareceu novamente o
cara q nos ofertara condução antes, porem baixando a oferta
pra R$100. Olhamos um pra cara do outro e nos perguntamos: 'Vamo encarar a
trilha mesmo c/ chuva? Dane-se, já tamo aqui mesmo, ne?' A resposta
foi 'Vamoss!!', quase q em uníssono.
ATÉ A CASA ASSOMBRADA DE PEDRA
Deixamos a cidade num jipe-picape
por volta das 16hrs, sob chuva intensa! A gente tava num banco adaptado na
caçamba, coberta por uma lona, tentando se segurar do sacolejo bravo
do veiculo ao subir a serra, íngreme, sempre à milhão,
mesmo naquele tempo ingrato numa estrada precaria q beirava o lamaçal/barreiro
(q dá nome à cidade) e muito cascalho!!! O carro trepida, as
rodas giram em falso e não saem do lugar as vezes.. montanha-russa
era fichinha! Lá fora, o cenário da serra e sua mata densa dava
ares à ascensão de safári off-road! A vista dos vales
q se descortinam e vao deixando SJ Barreiro pequenina, la embaixo, impressiona
mas dura pouco. A paisagem some com o nevoeiro q envolve a serra constantemente,
ainda mais com chuva. No trajeto, alem de ver alguns ciclistas errantes carregando
suas magrelas, vimos tb o Zé Pescocinho descendo, com seu fusquinha
verde, cuidadosamente aquela estrada maldita q era um sabao total! A medida
q se sobe, a temperatura cai bruscamente e a garoa deixa o ar + fresco, assim
como a vegetacao se reduz em tamanho consideravelmente. Alias, Bocaina (em
tupi guarani) significa 'caminho para o alto/boca ou vale de passagem serra
acima'. Nada mais apropriado.
Chegamos no topo da serra (1540m de alt) por volta das cinco e meia, saltando
na bifurcação (c/ placa) q leva à fazenda Sincerro, à
direita, 3km antes da portaria do parque. Ainda garoa fino mas o jeito é
encarar assim mesmo. Tudo pela aventura, ate mesmo a bunda dolorida da viagem.
Mochila nas costas, capa de chuva e la vamos nós. Finalmente caminhando.
Pequenos morros encobertos de neblina, campos cobertos de orvalho, trechos
de mata alternados com araucárias, essa é a paisagem inicial.
Muitos córregos atravessam a trilha e diluem nossa preocupação
c/ água. Mais adiante, cães estridentes anunciam q passamos
pela fazenda Sincerro, à esquerda.
Seguindo em frente, a trilha contorna um pequeno morro pela direita pra dar
num aparente descampado com pasto, charcos e alguns arbustos, mas o q realmente
chama a atenção, de longe à esquerda, são os restos
de uma construção vertical q se revelam ruínas de um
antigo casarão ate q bem preservados, sem teto e o interior tomado
por arvores. É a Casa de Pedra, de traços clássicos da
arquitetura do inicio do século. Diz a lenda q foi a casa de veraneio
de um médico, mas q caiu em desuso pq sua mulher achava a viagem ate
ali um porre. Também, imagine chegar ate ali a cavalo..
Já vai escurecer e é aqui mesmo q agente acampa, nos pastos
q circundam a construção, devidamente 'adubados' pelas vaquinhas.
O silencio aqui é total, apenas algumas ráfagas de vento remexem
os arbustos próximos dando as ruínas um aspecto ate meio mal-assombrado.
Mas mesmo assim, o interior da casa nos serve de cozinha improvisada e aproveitamos
pra preparar a janta assim q a garoa dá uma trégua. Aproveito
tb pra falar da fama de assombrado do local, só pra deixar a Elisa
no maior cagaço..
Algumas barras de cereal c/ chocolate como sobremesa nos lembram vagamente
q é feriado de Páscoa, e embora tenhamos andado meros 3/4km,
era bom deitar pra descansar pois o dia seguinte seria bem puxado. A noite
de sono, fria e com leve nevoeiro, nos alcançou antes das oito e meia.
NO PICO TIRA-CHAPÉU, O TOPO DA BOCAINA
O sabadao amanheceu frio e nublado,
porem sem chuva, felizmente. Levantamos seis e meia prontamente pra tomar
um café nas 'dependências' da Casa de Pedra, onde apenas o Rex
faz questão de 'não se misturar com a ralé' tomando café
sozinho, na barraca. Levantamos acampamento e colocamos pé na trilha
uma hora depois. Tudo bem planejado, claro. Últimos clicks e pau na
maquina!
Logo de inicio, atravessamos em pouco tempo a porteira da faz. Pinheirinho
(saudados por latidos e um porquinho biruta) e o caminho segue sentido sudoeste,
pr se enfiar sinuosamente em leve aclive nos bosques dos vales dos morros
seguintes. Muita vegetação e bromélias, vales de araucarias
ao longe. A trilha é a estradinha de terra, sem erro. Quase 2km após
o inicio da pernada chega-se noutra porteira, q delimita a faz Pinheirinho.
A estrada continua, descendo o vale, mas atentamos a uma cerca q parte da
porteira e sobe a encosta íngreme à esquerda. É por ela
q nos guiamos agora.
Voltamos uns 80m pela estrada pra não encarar essa encosta íngreme
e adentramos numa picada em meio da mata molhada. Essa trilha logo sobe em
curva e alcança descampados de pasto logo acima. Por trilhas de vaca
vamos ganhando altitude ate irmos de encontro com a cerca q sobe esse morro.
Agora não tem erro, é só acompanhar a cerca (a nossa
direita) ate o final!
A subida pelo pasto ralo inicialmente é bem íngreme, eventualmente
temos q quebrar pra esquerda pra evitar pirambas mais acentuadas, o q exige
+ dos menos condicionados. Não dá pra ver muito pois aqui um
nevoeiro toma conta de tuudo, mas no pasto varias formações
rochosas menores, teias de aranha realçadas pelo orvalho matinal e
florzinhas lilases, 'vasourinhas do campo', chamam nossa atenção.
Uma hora depois - e muitas paradas pra recuperar o fôlego - a subida
torna-se mais suave e fica ate plana em alguns trechos, permitindo q ganhemos
velocidade, sempre com a cerca (cheia de liquens) à nossa direita,
sentido sudeste. E assim avançamos pela crista ondulada, as vezes quebrando
à esquerda pra evitar fundos de mata, ate finalmente chegarmos num
amplo topo onde o pasto nivela e a cerca quebra pra direita, pra sudoeste.
Estamos a 1930m. Aqui tb esta marcado por gdes pedras e um enorme pau fincado
numa delas, alem de algumas vaquinhas aqui e acolá. Pausa pra descanso.
Se estivesse limpo poderíamos vislumbrar o Morro Boa Vista, a nossa
esquerda.
Sempre seguindo a cerca, sudoeste, em suave subida contornamos um arvoredo,
passamos por mais um descampadão de pasto c/ algumas quaresmeiras,
e em seguida adentramos num pequeno trecho de mata, repleto de vegetação
úmida. 'as arvores são um condominio de bromélias!',
na concepção da Elisa.. Novamente no aberto, eventualmente o
tempo permite umas 'brechas e janelas' pra vislumbrar a magnífica vista
de vales verdes e mares de morros proximos. Cruzado outro cinturão
de mata fechada saimos num descampado de pasto ralo num terreno onde o solo
é bem mais rochoso e composto de mata ciliar, alem de belos campos
de flores lilases.
Meia hora mansa depois alcançamos o topo do Tira-Chapeu, marcado por
enormes rochas, uma cruz, uma placa comemorativa (q erroneamente indica ali
ser o 'pto culminante de sp'), algum mato e um pequeno trecho de pasto plano
onde é possivel umas 4 barracas pernoitar. Estamos no teto da Bocaina,
a 2088m, e infelizmente não podemos 'tirar o chapéu' pra vista,
q abre e fecha constantemente não permitindo vistas mais amplas, mas
dizem q daqui se vê a Mantiqueira e a baia de Parati perfeitamente.
São 10:45 e é aqui paramos pra descansar, comer, e alguns clicks
pra registrar o momento, claro.
Meio dia iniciamos a suave descida, desta vez seguindo a crista do morro seguinte
(q igualmente se chama Boa Vista!?) à sudoeste, aind acompanhando a
cerca. A trilha ta bem batida, sendo trilho de vaca mesmo atraves de pasto
ralo e algumas pedras, onde eventualmente cruzamos alguns trechos de mata.
O tempo ameaça abrir mas fecha novamente permitindo apenas vislumbrar
a beleza dos vales próximos.
2km depois, já quase chegando no topo do Boa Vista (1970m) o tempo
parece abrir em definitivo, permitindo uma vista ampla ao menos dos vales
próximos. Mares de morros sem fim, vales verde escuro profundos se
destacam na paisagem verde claro das encostas de pasto ralo predominante.
Daqui podemos ver a estradinha de terra q deixamos pra subir o pico, serpenteando
morros ao norte la embaixo, 2,5km dali. Tb podemos observar a trilha tropeira
na crista de morros, a noroeste, logo após a estradinha. É pra
la q temos q ir, mas pra isso temos q descer td pra subir novamente.
E lá vamos nós. Aqui deixamos a crista do Boa Vista pra começar
a cortar caminho pela encosta íngreme do morro em direção
à estradinha. Se ate entao a descida era suave agora ela era a + pura
piramba, onde cuidadosamente - ora em ziguezague ora de frente mesmo - descíamos
os trilhos de vaca morro abaixo, trepidando os joelhos ao maximo!! O consolo
era ver o Pico Tira Chapéu, encoberto, de outro pto de vista, alem
uma bela cachoeira despencando encosta abaixo, a nordeste. Assim, fomos galgando
morro abaixo cristas secundarias ate chegar num morrote menor, onde fiquei
aguardando o pessoal, q tava penando com a descida. A Elisa havia torcido
o pé, mas felizmente não fora nada grave, razão por ela
reduzir o ritmo de caminhada. Chegamos, enfim, numa trilha q cruzava um riachinho,
provavelmente o Córrego do Tabuleiro, vindo da cachoeira avistada,
onde abastecemos os cantis. Aqui haviam alguns pocinhos onde aproveitei pra
dar um banho (entrar e sair, lógico) rápido. Alias fui o único,
e o Nemo não honrou o nome q ostenta, amarelando de entrar na ultima
hora. Se a Sândi ou Cleusa estivessem aqui seguramente não resitiriam
a um tchibum vapt-vupt.
Seguindo pela trilha, contornamos um ultimo morro, passamos por uma cerca,
vaquinhas de monte, algum lamaçal ate q finalmente chegamos na estradinha,
duas e meia da tarde! Após colher infos numa pequena casa ali, seguimos
pela estrada barrenta adiante, mansamente, q acompanha o Córrego Esperança.
Meia hora depois chega-se numa bifurcação e tomamos à
direita, q vai sentido a Fazenda Sta Isabel, ao pé do morro q temos
q subir pra alcançar a trilha avistada.
Indo pra tal fazenda, ladeamos um pinheiral, algumas casinhas, uma bela alamedinha
com arvores canadenses com folhas verde claro belíssimas ate chegar
numa casa maior. Aqui tomamos à direita, q desce rumo uma mata e um
lamaçal. Após a mata, duas pequenas casinhas ao pe do morro,
no aberto, indicam q tamos no sentido correto.
Agora temos q subir, apenas subir. E bastante, quase 200m de cara. Pra não
tornar tão sacrificante pro demais, opto por contornar o morro e gradualmente
ir galgando os trilhos de vaca, e assim sucessivamente. A direção
é sempre oeste, já q temos q subir uma crista secundaria antes
de alcançar a crista principal (aquela onde vimos a estrada tropeira).
Desta maneira vamos ganhando lentamente altitude, contornando os tradicionais
focos de mata q sempre aparecem juncados nas encostas. É neste trecho
tb q o tempo fecha e uma breve garoa fina obriga td mundo a se plastificar
por inteiro. É penoso pra alguns pois o pasto ta molhado e alguns trilhos
de vaca tão cheio de buracos traiçoeiros.O semblante da Elisa
cora de tanto esforço mas ela não arreda pé, mantem-se
firme e forte.
Devagar e quase parando, alcançamos a crista secundaria, q agora subimos
mansamente por um trilho de vaca mais definido. A crista principal q é
nosso destino esta totalmente encoberta, mas pro sul ta perfeitamente aberto,
podendo se avistar vales ao fundo. E assim vamos seguindo pra oeste ou ligeiramente
noroeste, contornando algum morrote e indo de encontro c/ a crista maior,
cada vez mais próxima e totalmente coberta.
Após atravessar um trecho de mata e subir mais um pouco, alcançamos
a precaria estrada tropeira (toda esburacada) na crista principal, exatas
cinco e meia da tarde. O tempo ta totalmente fechado e o nevoeiro não
permite ver um palmo à frente. A idéia era continuar e acampar
no Morro do Saci, porem o horário avançado, o tempo e principalmente
o semblante de cansaço de todos me obrigam a decidir montar acampamento
ali mesmo. Felizmente, na junção das trilhas há um pequeno
espaço plano de areia e terra q acomoda 2 barracas, quase confortavelmente.
Preparamos um suculento miojo engrossado com ervilhas e cenoura, trocamos
alguma idéia, mas assim q escureceu todos se enfurnaram no conforto
de seus sacos de dormir, exaustos. Ao todo foram quase 16km de desníveis
absurdos desde o inicio do dia. Não demorou muito pra pegar no sono,
e antes das sete e meia tava todo mundo no mundo dos sonhos. De noite fez
bastante frio porem não garoou nem chuviscou, teve um momento q dei
uma olhada e tava semi-aberto, onde a crista da serra tava quase q totalmente
iluminada pela lua cheia. Muito bonito.
DO ALTO DO SACI ATÉ O FINAL DA TRILHA
Levantamos a manha de domingo
+ cedo pra compensar o atraso de nosso cronograma. Eram cinco e meia , o tempo
estava agradável e parcialmente nublado, com promessas de melhoria.
Esquentamos um cappucino c/ chocolate no fogareiro e mandamos ver um reforçado
café da manha, enquanto clareava e as nuvens se tingiam gradativamente
pelos raios da alvorada.
Às sete já retomávamos nossa pernada, ainda em subida
suave pela crista principal na trilha de terra toda esburacada e erodida,
sentido sudoeste. O bom tempo permite observar vales a sudeste e tudo q andáramos
o dia anterior, alem do Tira-Chapéu com seu cume permanentemente encoberto.
A caminhada é tranqüila, sem dificuldade alguma, ora pela crista
mesmo ou contornando o cume dos morros seguintes.
Meia hora depois estamos sobre o Alto do Saci (1850m) e sua larga crista,
forrada de pasto e capim, mas o q chama atenção aqui é
a abundância de enormes pedras e formações rochosas singulares,
q lembram muito as estatuas da Ilha de Páscoa ou os monolitos de Stoenehge.
Do Saci a trilha desce um pouco pra sudoeste mas torna a subir, contornando
o morro seguinte pela direita, atravessa um foco de mata (cheia de arvores
dos quais pende 'barba-de-bode', um líquen) e continua pela crista,
novamente no aberto, onde algumas vaquinhas nos olham curiosas.
Oito e meia chegamos num belo pinheiral q marca o extremo oeste da travessia.
Damos uma descansada e beliscamos algo por meia hora, e onde finalmente o
sol resolve dar o ar de sua graça em definitivo. Daqui vemos uma estrada
de terra q vem do oeste, bate no pe do morro e segue pro norte, por cima da
crista secundaria. É por ela q andamos agora, subindo e descendo suavemente
por quase uma hora, com bela vista à oeste da Serra do Quebra-Cangalha,
com nuvens esparsas q lhe conferem um aspecto jurásico. Agora praticamente
estamos retornando pela crista oposta à qual andamos no inicio do dia,
e ventos frescos amenizam o sol forte sob nossas cabeças.
Após cruzarmos uma porteira, logo a seguir damos de cara com uma bifurcação:
a estrada de terra à esquerda segue noroeste, sentido Silveiras; a
da esquerda, sentido nordeste e depois leste, é q tomamos, fazendo
o retorno pela crista principal. Adiante, uma nova porteira, onde colhemos
informações com dois jovens (passando férias) a cavalo
na fazenda do avô, q faz questão de nos passar informações
pessoalmente. Felizmente estamos no caminho certo e ate nos acompanha alguns
km adiante.
A estrada de terra da lugar a uma trilha precária, passa do lado da
casa do simpático senhor (q nos convidou numa outra ocasião
a pernoitar lá) e depois acompanha uma área de várzea
e charco, um pequeno córrego q seriam as nascentes do Rio Paraitinga,
sentido leste. Caminhada sossegada emoldurada de pequenos morros forrados
do verde claro dos pastos. Daqui já é possível ver postes
e outra estradinha precária de terra, do outro lado do rio, q é
onde devemos rumar. Buscamos um local estreito pra poder atravessar o riachinho,
mas molhar os pés é inevitável. Eu já atravesso
na ignorância, sem frescura, enfiando o pé no charco em meio
a muita várzea, capim alto e bromélias aquáticas. Qdo
o resto do pessoal atravessa o charco, nova parada pra descansar, colher água
(de cor duvidosa) e comer, principalmente pra aliviar o peso nas costas. São
onze e e meia.
Uma hora depois é pé na trilha novamente. Subimos o pequeno
morro indo de encontro a estradinha (e postes) vista e em pouco tempo já
estamos nela, assim como um breve e denso nevoeiro toma conta da paisagem.
Agora andamos um bom tempo pela estradinha de terra, sem alma nenhuma a vista,
subindo e descendo a crista ondulante, serpenteando o topo de morros e mais
morros. Seria sacal se a vista não fosse espetacular à direita:
cristas e mais cristas pintadas de verde claro salpicadas de mata mais escura
cobrindo os vales mais profundos. E em muitos trechos riachos de água
límpida atravessavam a estradinha, tipo a estrada q leva a Castelhanos
(Ilhabela).
Com o passar do tempo o sobe e desce vai pegando, o tempo se alterna entre
claro e nebuloso,e algumas nuvens baixas ao longe parecem ameaçadoras.
Iniciamos, então, a descida suave da serra sentido norte, onde chegamos
num cruzamento: seguindo direto chegaríamos a SJBarreiro; tomando a
direita uma placa indica 'Varginha', um pequeno povoado; e a esquerda a estradinha
de terra q leva a Areias, anunciada por uma plaquinha de 'Conde', uma pousadinha
rústica, q é nosso destino. Assim deixamos as vistas largas
e espetaculares pra trás, já adentrando nos vales internos,
relativamente cansados. Não sabíamos qto tínhamos ate
a cidade de Areias (vizinha de SJ Barreiro), mas andávamos assim mesmo,
já a passo de tartaruga-manca, afinal, havíamos caminhado ate
ali quase 18km desde o inicio do dia. Alem do mais, tínhamos q andar
de qq jeito pq o dia seguinte era de batente.
SEU LUCIANO, O SALVADOR DA PATRIA, E A VOLTA
Notando o cansaço estampado no rosto de todos, e vendo pouca possibilidade
de chegar antes de escurecer a Areias, resolvi me adiantar e colher informações
+ concretas numa pequena fazenda no trajeto, mas esta estava vazia. Mais adiante,
fui na tal Pousada do Conde (pousadadoconde@itelefonica.com.br), escondida
numa travessa imperceptível daquele fim-de-mundo. Chegando lá,
fui recebido pelo dono, seu Luciano ao qual expliquei nossa situação
e, vendo veículos de tração estacionados, ate sugeri
um preço pra q nos levasse ate Areias. Qual minha surpresa ao receber
a resposta: 'Pô, eu levo vcs ate lá, to indo pra Areias dentro
de pouco e não precisa pagar nada!! Chama seus amigos e venham almoçar!!'
Me senti iluminado...
Voltei correndo pra contar as boas novas ao resto, q tava esparramado na beirada
da estrada, e ficaram felizes da vida, lógico! Já na Pousada,
duas e meia da tarde, um local rústico muito agradável e único
sinal de vida da regiao, seu Luciano não poupou prosa e historia do
local. Almoçamos fartamente comida de forno a lenha e descansamos um
outro tanto, apreciando os zilhoes de cavalos q pastam próximos. Seu
Luciano ate nos mostrou a belissima Cachoeira das Noivas, no interior da propriedade
dele, num vale de mata densa e araucárias. Uma das cinco q mencionou
haverem perto. Show de bola! A própria pousada era bem interessante,
uma antiga fazenda de café adaptada a receber hospedes (R$80 a diária)
La pelas quatro da tarde embarcamos na potente Rural de seu Luciano e damos
inicio a aventura q é descer a serra. A estradinha de terra (q ele
mesmo construiu) é bem + punk q aquela q sobe de SJ do Barreiro, pois
é + estreita e íngreme, repleta de cascalho, pedras e buracos
enormes e muito barro! Seu Luciano desce devagarzinho, com cautela, mesmo
assim o carro sacoleja feito liquidificador! A medida q vamos perdendo altura
em curvas-cotovelo e barrancos deslizados, a mata densa - composta de embaúbas,
palmeiras, xaxim, palmitos, cedros e samambaias - abre algumas janelas nas
quais se vislumbra os campos da Bocaina, la embaixo, cada vez mais próximos.
No caminho, uma figueira gigantesca à esquerda chama a atenção,
é a Arvore do mata-Pau ou Pau Casado, pois é abraçada
por outra espécie em td sua extensão.
Assim chegamos nos 600m de altitude, ainda descendo, agora suavemente. Agora
o terreno é mais familiar, fazendas, casas, vaquinhas..enfim, civilizacao.
Estamos no Vale da bacia da Fazenda Carlota, outro sitio histórico,
e mais um pouco e nos encontramos no asfalto. Chegamos em Areias as seis e
meia da tarde, já escurecendo, 25km depois.
Areias é o município vizinho de SJ barreiro, típica cidadezinha
simpática do interior, e estava adornada pra festejos de Páscoa,
principalmente a bela igrejinha central. Areias é conhecida por ter
sido mencionada por Monteiro Lobato (q foi promotor dali) em seu livro 'Cidades
Mortas'. Nos despedimos de seu Luciano ao constatar q o busao pra sampa ainda
não havia passado, vindo de Bananal. Isso q é sorte! Fico imaginando
oq teríamos feito caso não tivéssemos encontrado seu
Luciano: provavelmente chegaríamos de noite em Areias e tivéssemos
q acampar no cpo de futebol dali...
Aguardamos no boteco q serve de parada de busao e bebemoramos nossa empreitada
com umas brejas, mas por pouco tempo, pois o busao chegou logo. Pra variar,
o cata-jeca tava lotado mas conseguimos arrumar assento com a compreensão
dos demais passageiros, menos o Rex, q teve q ir em pé ate Taubaté
ou Guaratinguetá, onde desceu metade dos passageiros. Do resto não
lembro de nada, pq dormi a viagem toda, só dando por mim às
onze da noite, já chegando no Term. Tietê!
Finalizando, Monteiro Lobato descreveu de forma melancólica a decadência
dos municípios q circundam a Bocaina por conta do fim do ciclo do café,
porem não pode testemunhar o renascimento dos mesmos em parte devido
ao gde potencial de aventura q suas trilhas reservam. Trilhas estas q não
se restringem à Trilha do Ouro e q se estendem igualmente aos campos
altos da serra, ao 'teto' da Bocaina, proporcionando 'n' possibilidades de
doses equivalentes (com acréscimos até) de beleza, caminhadas
semi-selvagens e desconhecidas, não necessariamente fugindo do apelo
histórico q fez fama de sua trilha mais famosa.
Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/l_trek.html
Por
Jorge Soto
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