Assim, emendando c/ disposicao 4 dias puxados, é possível refazer este velho caminho e explorar as principais grutas da região. Uma caminhada q é ao mesmo tempo uma legitima viagem ao centro da Terra.
RUMO AO CABOCLOS
A noite no busao fora mal-dormida,
por estar preocupado c/ o detalhe da descida no meio da noite. Mesmo orientando
o motora a nos deixar no local mencionado não nos garantia q ele efetivamente
o fizesse, razão pela qual às 3 da madruga (na parada em Guapiara,
após Itapetininga e Capão Bonito) tive q ir junto c/ ele pra
indicar-lhe o local de desembarque, o qual vagamente lembrava. E enqto o busao
singrava lenta e sinuosamente aquela região montanhosa q faz parte
do complexo da Serra de Paranapiacaba, a chuva fina caia, desanimando qq promessa
de tempo bom. De repente, apenas pra animar, no espesso nevoeiro uma família
de veados-mateiro atravessa a estrada molhada, e some no meio da mata!
Enfim, eram 4 da madruga qdo deixamos o busao e pisamos no chão enlameado
à beira do asfalto, no meio do nada e lugar nenhum, logo após
a placa 'PETAR - Núcleo Caboclos 16km'. Estava totalmente escuro enqto
víamos as luzes do coletivo se perderem na curva seguinte, sentido
Apiaí, distante ainda 26km. Assim, eu, Rodrigo e Roberta arrumamos
as mochilas e iniciamos a pernada de 16km por estrada de terra bem conservada
q sai do asfalto (à esquerda), a antiga Estrada Mineradora Espírito
Santo. O silencio da caminhada so era rompido pela conversa colocada em dia
e pelos sons da mata, como arapongas, jacutingas e trinca-ferros; por sua
vez, o breu total era parcialmente rompido pela headlamp do Rodrigo, mas principalmente
por cintilantes vagalumes. A garoa cessara faz tempo, mas o ceu de nuvens
grossas não era nada animador naquela quinta-feira de feriado.
Após passarmos a ponte sobre o rio Temimina, as 5:30 (e 8km do asfalto)
chegamos na guarita de entrada do parque, q estava fechada e sem sinal de
gente naquele horario. Continuamos pela estrada, pois bastava apenas pular
uma corrente q obstruía o caminho. 2km após a guarita chegamos
no inicio da trilha pro conjunto de Cavernas Temimina, q sai da estrada (à
esquerda) e ta sinalizado por uma discreta placa. Eram quase 6hrs e já
amanhecia, portanto demos uma breve descansada ali no chão mesmo, alem
de beliscar um lanchinho providencial como café-da-manha.
PERNOITE NA TEMIMINA
Meia hora após começamos
a caminhada, adentrando em mata densa e umida por trilha semi-roçada.
Logo já estávamos encharcados por conta da mata molhada q teimava
em invadir o caminho, com sinais de pouco uso, pois 'beijar' inconvenientes
teias de aranha era bem comum. A necessidade de agachar, saltar ou simplesmente
forçar passagem nos trechos onde a mata havia caído das encostas
apenas tornava a empreitada + adrenada. Desta forma, contornamos a primeira
montanha, em terreno sem desnível, ate alcançar um descampado
de capinzal salpicado de araucarias solitárias. Aqui, uma bifurcacao
sinalizada nos leva pra direita, pois pra esquerda chegaríamos ao Pq
Intervales, ao norte. Logo, uma minúscula (e escorregadia) pinguela
sobre um córrego é transposta, mas é aqui q levo um tombo
cinematografico, prensando minha perna entre as toras cheias de limo da rústica
ponte. Não fosse o Rodrigo me dar um help provavelmente estaria lá
preso ate hoje.
Entramos novamente na mata fechada (nordeste), inicialmente bordejando em
leve inclinação a encosta esquerda da enorme serra q deveríamos
transpor. Logo estamos no topo da mesma, mas por pouco tempo, pq logo depois
vem a suave descida pela encosta direita, ao mesmo tempo em q a chuva comeca
novamente a cair. Troncos caídos, queda de barreiras e muito mato caído
na trilha apenas foram alguns dos obstáculos naturais a transpor. Apesar
de termos ampla visao à nossa direita, o mau tempo impedia qq vista
do Vale da Ilusão, q apenas nos reservava uma vista parcial das montanhas
forradas de verde envoltas em denso nevoeiro.
Após quase 1:30 de caminhada é q a descida, aos ziguezagues,
torna-se mais ingreme, demandando mais cautela no chão molhado e escorregadio.
A chuva engrossa e qq bambuzal mais denso, bananeiras ou folhas de palma (abundantes)
nos servem de teto providencial, cada vez mais ansiosos pra chegar no nosso
destino cavernoso. No final da descida alcançamos um terreno aberto
de capinzal, transpomos vários córregos chafurdando na lama,
e a trilha passa a fazer um arco p/ direita, se enfiando inicialmente entre
palmas e bananeiras pra logo subir a encosta esquerda da montanha seguinte.
A dúvida de estarmos de fato na trilha certa passou mais de uma vez
na minha cabeça, ainda mais tendo em vista q estávamos totalmente
ensopados naquele perrengue previsível. O mato invadindo a trilha fazia
o resto do serviço: enqto os taquaruçús (um tipo de bambuzinho
espinhento) rasgam minha bermuda, os lambe-papos (um mato grudento) se encarregam
de nos arranhar vigirosamente da cintura pra cima.
Passando por enormes blocos de rocha e finalmente chegamos numa clareira em
meio a mata, no final da subida. Aqui há uma 'trifurcação':a
da direita leva na beira de um abismo de pedra; a da esquerda vai p/ Areados
e Buenos; e a do meio é a q nos levaria a nosso destino. Assim, logo
vem uma curta descida íngreme (e escorregadia) q nos toma um tempão,
bordejando pela esquerda um enorme paredão rochoso. Enfim, as 9:30
chegamos na entrada da Temimina 1, pela qual descemos ao seu interior contornando
algumas rochas com limo e chão escorregadio. A Temimina é literalmente
a bat-caverna de tão grandiosa q é. Logo após a entrada
temos um salão com paredões de quase 100m de altura e um jardim
interno bem no trecho avistado de cima (o abismo), q não é nada
mais q a enorme claraboia formada pelo desmoronamento do teto da caverna,
de onde pende muita vegetação q lhe confere aspecto de jardim
suspenso. Mais adiante, temos outro salão colossal igualmente iluminado
naturalmente e c/ amplo chão plano e seco, q é onde jogamos
as mochilas. A caverna termina num barranco íngreme q dá acesso
a um rio subterrâneo, logo abaixo, em meio à visao da exuberante
Mata Atlântica do entorno. Devidamente instalados, colocamos a roupa
molhada pra secar nas saliências das paredes, comemos algo e ate fizemos
um breve reconhecimento do local, mas o cansaço e a falta de sono fizeram
mesmo q a gente esticasse os isolantes no chão de calcário e
se encasulasse nos sacos de dormir, enqto a chuva insistia em cair la fora.
Por volta das 12:30 a chuva deu uma trégua e aproveitamos p/ conhecer
a Temimina 2, alem de buscar água. Voltamos à trilha e continuamos
descendo forte por ela, em meio a mata abundante atraves de pedras ardilosas
e muita lama. Em meia hora estamos no fundo do vale, e após uma breve
subida alcançamos o chão plano q sinaliza a entrada da Temimina
2, onde há um amplo salão e um local plano pra bivaque, alem
de enormes estalagmites e colunas q tornam o local majestoso. Explorar o interior
da curta caverna não ta nos planos do casal R&R, pq a escalaminhada
pelas pedras (lisas) os inibiu já de cara. Resta pra mim, lógico!
Após este obstáculo, alcanço um terreno menos acidentado,
e por entre varias formações rochosas e enormes estalagmites,
finalmente chego num trecho q culmina num enorme e perigoso abismo, do lado
do qual há muitas cavernas adjascentes q provavelmente devem dar nas
mais incríveis galerias subterrâneas. Vontade pra ir la não
falta, mas sozinho e sem equipo apropriado, sem chance. Assim, retorno à
entrada da caverna, onde vamos buscar água 30m logo abaixo, à
direita, onde o Rio Temimina ressurge após serpentear as entranhas
da montanha, pra logo em seguida se enfiar novamente na pedra e aparecer +
adiante com outro nome. Minha vontade era adentrar (como já fizera
década atrás) pelo rio subterrâneo, com água nos
joelhos e seguir adiante, passar pelo 'chuveirinho' e alcançar a saída
justamente na base do barranco da Temimina 1. Porem, o volume de água
maior, a possibilidade iminente de chuva e a falta de cia novamente desestimularam
meus desejos pessoais. Novamente o bom senso impondo rédeas à
vontade de aventura. Nada mais prudente.
Retornamos as 15hrs à Temimina 1 a tempo de não pegar a forte
chuva q logo veio pra ficar. O resto do dia ficamos de bobeira, conversando,
beliscando besteiras, jogando truco, etc.. Jantamos as 18hrs, e antes q a
noite caísse me recolhi imediatamente no aconchegante saco de dormir.
A sensação de se sentir como um típico homem pré-histórico,
cozinhando e dormindo em abrigo sob pedra próximo a boca da gruta é
fantastica! O casal R&R dormiu dentro da barraca, mesmo não havendo
necessidade disso já q estávamos numa caverna. Dormi aquela
noite tremendamente bem, sem nenhum intercedencia; já o Rodrigo disse
ter dormido 'por capítulos'. Enqto isso, la fora a chuva parecia não
ter fim.
BIVACANDO NA DESMORONADA
A manha seguinte acordamos as
5:30, tomamos café e arrumamos as coisas. Nosso lixo estava revirado,
sinal q tivéramos visitas de algum roedor noturno. Felizmente apenas
garoava la fora e, aproveitando esta brecha de 'bom tempo', saimos as 7:15
dispostos a voltar pela mesma trilha do dia anterior. Incrivelmente, a volta
fora mais rápida, apenas demorando um tempo extra nas pirambas lamacentas,
q agora deveríamos subir; e na crista da serra pegamos uma cerração
brava q tornou a umedecer nossas vestes. Assim, as 9:35 chegamos na clareira
da bifurcacao pra Intervales, e meia hora depois alcançamos o inicio
da trilha, junto à estrada principal q nos levaria ao camping propriamente
dito, distante ainda 7km.
Caminhamos pela estradinha modorrenta, serpenteando morros verdejantes, agora
já sem sinal de chuva porem enevoado. As 11:30 e 5km depois, passamos
pela entrada da trilha da Pescaria e Desmoronada (à esquerda, marcada
por um portão de ferro), um pouco antes da casa do Seu Dito. Aqui me
separo do casal R&R, q opta não continuar no perrengue e prefere
o marasmo e sossego do camping, 2km logo adiante.
Pois bem, entro pela larga trilha gramada em suave aclive, contornando a primeira
montanha pela direita ate alcançar um casebre abandonado, onde tenho
uma breve prosa c/ jovens da USP-Rio Claro q estudam pássaros da região.
A picada, entao, sai discretamente da frente da casa (da porta, pra ser exato)
descendo um barranco em meio a capim alto, e discretamente vai contornando
um brejo após passar uma cerca farpada. Mas logo depois de uma plantação
de bananas a trilha fica obvia, adentrando de vez na mata fechada, sentido
nordeste. Caminho um bom tempo sem desnível algum, apenas agachando,
pulando ou apenas desviando dos inúmeros troncos caídos, repletos
de fungos e cogumelos. Alem disso, deve-se prestar atenção onde
se pisa pq a presença de enormes caramujos e sapos cururus-chifrudos
mimetizados na trilha é constante.
Ao chegar no trecho onde enormes blocos escuros de pedra contrastam c/ o verde
da mata, é q a trilha começa a descer de vez. Inicialmente suave,
a picada torna-se extremamente acentuada e, em ziguezagues escorregadios,
perde-se quase 300m de altitude! As 13:15, e após muito descer, chego
numa das entradas da Gruta Pescaria, à esquerda. Ainda descendo pela
trilha, logo chego numa pequena bifurcação, na qual a picada
da direita nos leva por um costao rochoso ate a segunda entrada (a de baixo)
da G. Pescaria, da qual sai um pequeno riacho. Há a possibilidade de
entrar aqui, com água ate a cintura ate o final da caverna e dali se
sobe, por rampas de pedras e quebra-corpos, ate a entrada de cima da gruta.
Como já havia feito isso noutras ocasiões passei batido.
Ainda na trilha principal e sempre descendo, alcanço finalmente o Vale
do Rio Pescaria (q não é nada mais q o Temimina c/ outro nome),
onde acompanhamos o rio pela margem esquerda, ora por trilha, ora pulando
de pedra em pedra. Antes, porem, devido ao cansaço e principalmente
ao clima quente e úmido, mandei ver um merecido tchibum no rio, as
13:30, alem de abastecer meu cantil pro pernoite. Retomando a trilha, as 14hrs
chegamos numa clareira onde esta a entrada de baixo da Desmoronada, da qual
sai boa parte do Rio Pescaria, mas a entrada principal obviamente não
é esta. Da clareira, tomamos uma trilha q sobe a ingreme encosta à
esquerda por quase 40m ate esbarrar num paredão rochoso, q devemos
acompanhar pela direita. O ultimo trecho requer uma cuidadosa 'escalaminhada'
de 20m por rochas besuntadas de limo ate q finalmente, as 14:15, chego na
entrada da Gruta Desmoronada. O portal de entrada é bem alto e c/ salões
de dimensões diversas, onde abundam estalagmites, estalagtites, cortinas,
colunas e travertinos enormes. Daqui já podemos avistar a outra entrada,
outro salão enorme iluminado pela luz do sol, mas pra chegar la temos
q contornar muitos espeleotemas e escalar muita rocha no escuro, numa rota
circular. Demorei um tanto pra chegar la, mas fui recompensado c/ uma visao
impressionante q lembrava uma catedral: um salão colossal de quase
100 por 70m, onde uma rampa larga dá acesso a uma clarabóia
natural, repleta de blocos e espeleotemas tombados no chao, e onde uma enorme
coluna liga o teto ao solo, q mais parece uma escultura barroca de tantos
detalhes q possui. Alias, desta claraboia tem-se uma visão do cânion
do Vale da Ilusão, q leva à caverna homônima, descoberta
recentemente pelo CAP.
Em seguida busquei um lugar decente pra me instalar, mas boa parte era alvo
de goteiras, mas felizmente achei um protegido por uma rocha saliente sobe
o chão de terra e calcário. Joguei a mochila no chão,
estendi meu isolante e descansei um pouco. O resto do dia explorei os arredores,
subi ate a clarabóia e/ou fiquei de bobeira apenas lendo, esperando
a noite. Aproveitei a luz natural p/ jantar cedo, as 17hrs, e me recolhi logo
depois, enqto a luz na entrada ia lentamente dando lugar ao pleno bréu.
Curiosas guaxicas (ou cuíca, mistura de gambá c/ lontra) tavam
nos arredores mas não se aventuraram a fuxicar minhas coisas após
algumas pedradas de aviso, embora o intruso ali fosse eu. Como a escuridão
apressa o sono, dormi tranqüilamente toda a noite, embalado pelos sons
de goteiras, rãs e da chuva q caia lá fora.
ACAMPANDO NA CASA DE PEDRA
Assim q clareou o interior da
gruta, tomei café, arrumei minhas coisas e tomo o caminho de volta,
as 6:30hrs. Escalaminho ate a boca da caverna e, cautelosamente, desço
o lance de pedras lisas pra depois levar vários capotes no trecho íngreme
de chão escorregadio (e forrado de folhas lisas) ate a clareira. Na
volta, ladeando o rio havia muitas arvores e bromélias tombadas. Mas
dureza mesmo foi encarar a subida íngreme e interminável q consumiu
um bom tempo e me deixou suando em bicas. Cheguei no casebre abandonado e
na estrada por volta das 8:40. Dali segui ate o camping por quase 1,5km, não
sem recusar a carona de moto c/ um dos guardas do parque e pagar as devidas
taxas.
O Núcleo Caboclos foi a primeira sede do Petar e localiza-se no coração
do parque, e por incrível q pareça é menos visitado em
função da rusticidade e ausência de infra, tanto q havia
poucas barracas por lá. Reencontrei o casal R&R, q depois de visitar
algumas cavernas retornaria pra sampa. Fiquei ali ate as 10hrs, esperando
a garoa passar, descansando e conversando c/ o pessoal de la, principalmente
Seu Ernesto, um senhor de boa prosa contando muitos causos da região,
principalmente de gente q se perde.
Retomei a pernada pela estrada de terra q viera, sentido o bairro do Espírito
Santo. No caminho, uma igrejinha solitária indica q cultos aconteçam
ali esporadicamente. Sigo na estrada por um tempo e tomo à esquerda
numa bifurcação, adentrando nas encostas da Serra do Mundeo
(ou dos Caboclos) q vai dar após outro tanto de tempo, numa antiga
pedreira desativada. Daqui parte uma trilha obvia (e lamacenta) q se enfia
de vez na mata fechada (sudeste), subindo e descendo suavemente a encosta
direita das montanhas por quase uma hora, onde atravessamos pequenos córregos
de agua cristalina. Pela trilha há exemplares típicos da Mata
Atlântica tais como figueiras, palmitais, paus-Brasis, perobas, canelas
e cedros, entre outros. A garoa fina teima em continuar deixando a mata mais
úmida, me ensopando por inteiro. Mais adiante, uma bifurcação
descendo forte à direita leva as Cachoeiras do Maximiniano e Sete Reis,
localizadas no vale abaixo. Ainda na trilha principal, salto uma rústica
porteira de madeira a logo dou num terreno descampado, onde há um pequeno
casebre aos pés de um morro pelado. É a casa do Seu Jair, um
morador dali mas q não se encontra no momento. No entanto, quem ta
é o seu filho jovem, Josualdo, c/ quem tenho uma breve prosa, embora
ele insista em me convidar pra tomar café, costume dos moradores deste
fim de mundo. Alias, ha vários caboclos 'teimosos' q ainda residem
por lá, espalhados na mata, q não foram embora c/ as restrições
do parque, e normalmente são pessoas de idade (descendentes de antigos
quilombolas) q se criaram ali e não sabem fazer outra coisa senão
tocar sua rocinha de subsistência, embora os demais 16 irmaos(!?) de
Josualdo já tenham debandado pras cidade grande.
A trilha bordeja o descampado pra adentrar novamente na mata, atravessa um
riachinho e continua num ininterrupto e ardiloso sobe-desce, ora por pedras
ora pela lama. Chegamos noutra bifurcação, onde pela esquerda
voltariamos ao Caboclos, passando pela caverna Arataca, encimada num platô
no alto da serra. Tomamos à direita por uma picada meio íngreme
ate alcancar um caminho q me é familiar de outras ocasiões,
ao lado de outro riachinho cristalino! Noutra discreta bifurcação
à esquerda tem-se a casa de Dna Zenaide, outra cabocla famosa dali.
Neste trecho tenho a companhia de 2 adolescentes dali q retornavam p/ Iporanga
e q tavam meio 'mamados' de pinga caseira. Me oferecem um gole da 'marvada'
e não é q tava boa mesmo? So não bebi mais pra evitar
tombos na lama e chegar lúcido no meu destino. Mais adiante, outra
bifurcacao nos levaria à caverna Monjolinho, à esquerda. Mas
nos seguimos sempre em frente. As 12:30 o terreno levemente acidentado nivela,
após um pequeno córrego, ate q finalmente saimos da mata e damos
num pequeno descampado de capinzal, salpicado de muitas bananeiras ressequidas,
aos pés de um morrote desnudo de vegetação. Daqui parte
discretamente a trilha p/ Iporanga (à esquerda) morro acima. Me despeço
dos guris, mas não sem antes dar + um gole daquela otima 'agua-q-passarinho-nao-bebe',
claro!
A trilha principal vai beirando o sopé deste morro por alguns arbustos
espinhentos altos, q ocluem parcialmente a trilha, agora estreita, porem obvia!
Descemos agora de vez, novamente por mata fechada, repleta de cipós,
arbustos e troncos obstruindo o caminho. Borboletas coloridas revoam este
trecho, dando-nos as boas-vindas àquele belo e selvagem vale. O desnível
aqui é de quase 250m, q logo se tornam bem acentuados qdo a trilha
se alternar entre chão lamacento e degraus de pedras lisas! Por entre
as pequenas frestas das arvores, já podemos ter visão parcial
da majestuosa Casa de Pedra, cada vez mais próxima. Aqui encontro 2
turistas gringos voltando ao Caboclos, e relatam surpresos terem visto de
relance uma jaguatirica no matagal.
No fundo do vale, a trilha acompanha a margem esquerda do ruidoso Rio Maximiniano,
mas logo termina numa encosta, nos obrigando a seguir ora pelo rio (com água
nos joelhos) ora pelo seu leito pedregoso. O ultimo trecho tem uma curta picada
q acompanha o rio, mas q culmina em vários blocos de rocha, q são
transpostos cautelosamente na base da escalaminhada. Finalmente, as 14hrs
dou de cara com o imponente Portal da Casa de Pedra, uma fenda vertical de
quase 215m, considerado o maior pórtico de caverna do mundo. Daqui
temos o rio descendo por uma serie de pequenas quedas caverna adentro, 100m
abaixo. Sob ela, o imponente paredão rochoso tava repleto de orifícios,
servindo de ninho a numerosos andorinhões q la davam seus rasantes.
Há uma travessia (hj proibida) por dentro da caverna, q logicamente
não fiz por estar sozinho e pq tb um bom trecho dela é a nado,
inviável pra quem ta c/ uma pesada cargueira. No entanto, estar ali
já era suficiente e la permaneci, descansando, c/ direito ate a um
banho (peladao) revigorante num dos muitos poços do cânion do
Rio Maximiniano.
As 15:30 retornei pelo mesmo caminho, e decidi acampar num trecho plano e
seco no meio da trilha, um pouco antes da piramba q sobe a montanha, do lado
do rio e com belo visu da Casa de Pedra. A esta altura o sol despontou, radiante,
possibilitando secar boa parte das minhas tralhas molhadas. O resto da tarde
descansei dentro da barraca - em virtude da qtdade industrial de pernilongos
q la haviam - e jantei antes das 18hrs, dormindo assim q o manto negro da
noite cobriu o vale. Pra variar, de madrugada choveu mas não o suficiente
pra me fazer perder o sono dos justos.
PERNADA PRA IPORANGA E A VOLTA
O dia irrompe naquele inicio
de domingo juntamente c/ o som da algazarra de bugios na mata. Após
um rápido café, jogo td dentro da mochila e começo o
ultimo trecho da travessia, as 6:20. Amanhece nublado, mas lentamente o ceu
abre janelas azuis bastante promissoras. Volto pela mesma trilha, agora subindo
brava e vigorosamente, ate chegar na bifurcacao onde me separei dos guris
o dia anterior, as 6:45. Daqui, a picada sobe a encosta do morro pelado ate
seu topo (leste), onde temos uma vista panorâmica do mar de montanhas
forradas de verde logo abaixo; a opaca neblina matinal confere à paisagem
um aspecto singularmente jurássico.
Daqui em diante é só descida de serra; ora suave, ora íngreme;
ora por chão firme e rocha, ora em chão liso e enlameado; ora
por mata fechada, ora com eventuais janelas. As 7:35 saio numa encosta descampada
de capim, onde algumas vacas pastam tranqüilamente, e onde tenho dificuldade
em encontrar a continuação da trilha. Na duvida, desci ate um
casebre abandonado logo abaixo (à esquerda), de onde parte uma trilha
bem batida q encontra aquela q buscava, mais adiante. Agora a descida é
no aberto atraves de muita lama, no mesmo instante em q o sol resolve sair
em definitivo. Apos um córrego e uma porteira, logo estou na casa de
Dna Benedita, com quem converso rapidamente e coleto infos.
A trilha atravessa o córrego Mte Alegre, q salto de pedra em pedra,
pra entrar novamente na mata, beirando a encosta da serra ate passar por outra
cerca. Agora desço uma piramba interminável, chafurdando o pé
na lama e dando altas derrapadas, ate chegar outra vez no mesmo rio anterior,
q cruzamos pra outra margem. Logo saio num caminho maior e tomo à direita
(sul), onde cruzamos (outra vez) o rio ate alcançar a casa da nora
de Dna Benedita. A pernada parece estabilizar, mas numa nova bifurcação,
subo brevemente à direita (a esquerda leva numa caverna) pra depois
descer o ultimo trecho em definitivo, dando num punhado de casas q compõem
o Bairro Camargo, as 9:20, as margens do grandioso Rio Iporanga.
Cruzar agora o Iporanga é no mínimo curioso: é feito
através de uma rústica pinguela seguida de uma ponte de cimento
construida pela metade(!?). Lógico q tb mandei ver um rápido
mergulho pra me refrescar do sol forte das 10hrs. A guarita do Núcleo
Casa de Pedra esta logo depois, e fechada. Fim de travessia, mas não
de jornada. Ainda tinha q percorrer os 10km de estrada de terra ate Iporanga,
mas felizmente não andei nem 3km q tive carona com um local q se dirigia
p/ lá, onde cheguei as 10:45.
Iporanga é uma cidade pacata q já teve passado glorioso em funçao
do ouro, mas q hj vive à mingua por estar dentro do parque. Incrivelmente,
seu potencial ecológico é pouco explorado. Pois bem, lá
fui informado q não haviam ônibus no domingo!! E agora? Bem,
antes de nada fui num boteco onde bebemorei o sucesso da empreitada c/ cerveja
enqto matutava como sairia dali, ao mesmo tempo q aturava um crente querendo
me converter. Na seqüência, andei ate a saída da cidade
p/ tentar carona ate Apiaí, pois la eu sabia q havia condução
p/ SP as 13:30 (difícil!) e as 23hrs. Do contrario, já tava
de olho no ótimo gramado atrás do letreiro de boas-vindas à
cidade caso tivesse q pernoitar, onde no dia sgte tomaria cedo o único
busao p/ Registro, e dali pra SP. Mas aquele era meu dia de sorte: não
deu nem pra trocar de roupa e terminar minha Caracu qdo, as 11:50, passou
uma picape do parque p/ qual estendi o dedão mecanicamente, sem esperar
nada... e não é q ela parou?! Subi na caçamba e la fomos
nos, sacolejando pela poeirenta estrada atraves da serra. No caminho, acompanhamos
o Rio Bethari - afluente do Ribeira do Iguape e onde muitos praticavam bóiacross
- tivemos breves paradas nos Núcleos Ouro Grosso e Santana, e passamos
pelo Mirante, de onde se tem uma vista deslumbrante da Serra de Boa Vista.
Chegamos em Apiaí as 13:10, a tempo de pegar o busão das 13:30
p/ Terra da Garoa, onde cheguei, após muito pinga-pinga, as 19hrs.
Enfim, engana-se quem imagina q a Transpetar seja do todo selvagemente desconhecida.
Como pude constatar, caboclos, funcionários do parque e mateiros locais
a percorrem quase q diariamente, porem desconhecem seu nome e muito menos
sabem sua historia pregressa. A empreitada de tratar trazer à tona
esta trilha de um passado recente da historia do pais acaba não tendo
razão de ser, a não ser de ordem pessoal. Afinal, na nossa lógica
relativista uma caminhada q pra eles é corriqueira, pra nós
- aventureiros urbanóides - ganha merecidamente contornos épicos
e ate pitorescos.
Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/l_trek.html
Por
Jorge Soto
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