CHEGANDO
EM ILHABELA
Rodovia q não canso de apreciar a cada visita é a BR 99, ou
melhor, a Tamoios. De SJCampos ate o litoral, é uma estrada impar e
de altos contrastes, onde seus 2/3 iniciais entediantes de reflorestamentos
e morros desnudos no Vale do Paraibuna são compensados pelo seu 1/3
final, nas acentuadas curvas-cotovelos q descem abruptamente a Serra do Mar,
forrada de mata e gdes visus. Este trecho rivaliza fácil c/ a descida
da Serra do Rio de Castro (SC), às curvas 'Caracoles' nos Andes chilenos
ou até a estrada p/ Coroico (Bol). Foi aqui q eu, Guto e a Márcia,
já começávamos a atentar ao recortado litoral de Caraguá
reluzindo ao sol, c/ promessas de bom tempo pelo resto do dia. Chegando lá
(e após breve parada), o busao seguiu sentido São Sebastião,
onde saltamos as 9:30hrs, proximo das barcas. Lá encontramos o Eric,
q tb integraria nossa trupe, p/ 20min depois zarparmos na balsa. Travessia
esta q seria tranqüila não fosse a muvuca habitual de feriado,
de veículos c/ som alto e cliques euforicos em direção
aos petroleiros q descansam nas águas esmeraldas do Canal de S. Sebastião,
ignorando a silhueta montanhosa repleta de Mata Atlântica à nossa
frente, esta sim q eu e o Guto já analisavamos previamente, vislumbrando
prováveis acessos às cristas q nos levassem às montanhas
desejadas.
SUBINDO
O PICO DO BAEPI
As 10:20 pisávamos, enfim, em Ilhabela e nos dirigimos ao pto de bus
+ proximo. Como dispúnhamos de 3 dias decidimos subir inicialmente
o Pico do Baepi, o 7º + alto da ilha, apenas como pré-aquecimento
p/ objetivo principal, daí tomamos um coletivo q fosse sentido Jabaquara
(norte da ilha), no caso o 'Cidade-Barra Velha'. E la fomos, num busao lotado,
principalmente de idosos, sinal q a qualidade de vida deve ser boa. Não
tardou e saltamos logo após o píer do Perequê, + precisamente
no bairro do Itaguaçú (ou Engenho D'água, 3,5km ao norte
da balsa). Após arrumar as mochilas, foi so subir uma rua estreita
(do lado de uma pequena igreja), e acompanhar o emplacamento 'Administracao-Sede
Parque', dando inicio propriamente à pernada! Daqui tb temos vista
privilegiada do pico e de sua imponente face oeste, dominada por uma enorme
encosta rochosa de quase 150m verticais, assim como o morro desnudo à
seus pés por onde vemos perfeitamente o começo de trilha rasgando
o pasto. E é pra la q temos q seguir, subindo a rua seguindo na direção
deste morro!
Ao passar pelo Hotel Guanumbis, logo passariamos pela Sede do Pq Estadual
Ilhabela, cuja placa já é visível c/ antecedencia. Pra
evitar qq inconveniente do pessoal do pque 'querer nos enfiar um guia obrigatorio',
um pouco antes da sede a gente desvia por uma rua (p/ esquerda), passa pela
1ª casa, e dali sobe o barranco à direita, novamente saindo na
rua da sede, porém bem depois da mesma. Pronto, agora é só
subir ate inicio da trilha! Entretanto, subir aquela rua íngreme sob
o forte sol das 11hrs na cachola não foi facil, principalmente p/ Márcia,
cujo semblante roxo era auto-explicativo! Mesmo assim e após algum
descanso, ela não desistiu e seguiu conosco, morro acima! A medida
q se ganha altura, a rua faz uma curva p/ esquerda, deixando as ultimas casas
p/ trás, agora subindo forte por uma precária estrada quase
deserta, mas é aqui q logo passamos por 2 enormes reservatórios
da Sabesp à direita (de formato cilíndrico-branco), onde temos
um pit-stop, pois é possível pegar água fresca numa torneira
atraves de um rombo no alambrado q a cerca.
Qdo o altímetro do Guto marca 200m, a estrada termina num matagal,
mas basta seguir adiante q a trilha está lá, como se fosse continuação
da estrada, porem ocluida pelo alto capinzal. Não tem erro, a trilha
sobe forte a encosta desnuda do Morro do Mineiro, em meio a um vasto sapezal.
A picada é obvia e bem cuidada, c/ trechos bem escorados (p/ conter
erosão), pinguelas, corrimãos de madeira e ate um convidativo
banco de madeira, no final da subida deste primeiro morro! Ali, nos 300m,
já era meio-dia e, c/ a brisa fresca soprando nossos rostos suados,
se tem uma visao mto bonita do canal e do pico em si, quase à nossa
frente! Daqui basta seguir um pouco pela crista ondulada coberta de sapé,
ate entrar definitivamente na refrescante mata fechada (p/ leste), bordejando
a encosta direita da já mencionada crista, após ser recebidos
por uma curiosa placa ('Perigo de Queda') e pelo canto metálico das
arapongas. Por volta dos 370m, escondemos as mochilas em meio à floresta
e continuamos ao cume de ataque; o Eric, apressadinho, foi de cargueira e
td mais.
A trilha é óbvia, forrada de folhas no chão escorregadio
e suavemente inclinada. Entretanto, após os 480m, sinalizado por uma
placa numa majestuosa aroeirana, a picada se estreita por um terreno cada
vez + acidentado e íngreme. É aqui q eu e o Eric nos distanciamos
do Guto, q como bom marido, opta por acompanhar o ritmo da Márcia.
Alcanço o q parece ser um colo, subindo em meio a mata fechada, p/
logo em seguida o aclive aumentar consideravelmente. Uma placa indica q cheguei
nos 650m, e daqui em diante é uma piramba punk, repleta de obstáculos:
túneis medonhos de bambus q são vencidos engatinhando no chão
escorregadio, trechos quase verticais onde é preciso escalaminhar ardilosas
raízes q servem como degraus, contornar enormes rochas cobertas de
musgo, saltar troncos caídos e escalar (por uma corda la disposta)
uma extensa canaleta rochosa ate, com o rosto encharcado de suor, alcançar
uma ultima placa, q nos dá os parabéns por atingir o alto dos
1.050m do cume do Baepi, exatamente as 14hrs, ainda na mata fechada e sem
visu.
Da placa basta contornar as 2 enormes pedras q - separadas - compõem
o topo ate alcançar o alto das mesmas, q servem de mirantes. O alto
é coberto de vegetação rasteira, arbustos ralos, arvores
retorcidas e muita bromelia! Há uma pequena clareira onde cabem apenas
2 barracas apertadas! Na Pedra do Sul, temos uma bela vista do canal de S.
Sebastião, da mata atlântica q envolve o parque e o complexo
montanhoso da ilha, incluindo o Pico de S. Sebastiao. Foi aqui q 'lagartiei'
um tempão, tomando sol (e me desvencilhando dos mosquitos) enqto aguardávamos
o Guto e Marcia, q so chegaram 1hrs depois, dizendo q tinham visto uma cobra
no caminho. Qdo chegaram, + descanso e hora de comer alguma coisa, mas o Eric
novamente escafedeu-se morro abaixo. Daqui fomos pro outro lado, descendo
ate a placa e dali ate a Pedra do Norte, cujo amplo topo rochoso nos agracia
c/ uma vista da Ilha das Cabras, do litoral de Caraguatatuba e ate Ubatuba.
Não é a toa q Baepi significa 'morro pelado' (em tupi). Uma
curiosidade é q o pico esta erroneamente marcado nas cartas topográficas,
e q antigamente foi ponto estratégico p/ piratas e índios, justamente
pela vista privilegiada.
CAMINHANDO
À NOITE, NA CHUVA E NO ESCURO
Começamos a descer as 16hrs, assim q o ceu se nublou e alguns trovoes
ecoaram em nossos ouvidos. Mesmo c/ cautela - devido ao chão escorregadio
- chegamos rapidamente ate onde deixamos as mochilas, na metade do tempo de
subida. Afinal, p/ descer td santo ajuda! No sapezal é q apressamos
o paso, já q comeca a ventar forte e raios espocam cada vez + perto.
Chegamos nos reservatórios de água as 17:40 e logo depois, descendo
pela rua ate a orla, é q o negrume se adensa e a chuva cai de vez.
Entretanto, devidamente encapotados, conseguimos chegar no pto de ônibus
por volta das 18hrs, sob forte temporal. Meia hr depois tomamos um coletivo
q fosse sentido sul da ilha, no caso o 'Barra Velha-Borrifos'.
Espremidos dentro do busao por conta do horario do rush, não deu nem
20min q saltamos na frente da Praia da Feiticeira, proximo de um condomínio
homônimo. A chuva parecia ter dado uma trégua e, sendo assim,
voltamos um pouco pelo asfalto ate um enorme portal à direita, onde
a abundancia de anúncios imobiliários ('Chalés Recanto
dos pássaros' e 'Mirante da Ilha') superava ate a menção
da maior atração dali, a Cachu dos 3 Tombos. Dali foi so subir
pela rua principal (Rua Dr. Arthur F. da Silva) ate o seu final, ignorando
as bifurcações e sempre subindo. Apesar daquilo ser um condomínio
repleto de lotes desertos em meio à mata, a estrada é muito
boa, asfaltada, embora o local pareça ermo e desolado. No entanto,
p/ quem ta a pé (e cansado) aquela piramba parece um teste de resistência
impar, ainda mais qdo a chuva volta c/ forca total, no mesmo instante em q
a noite chegou. Foi aqui q a Márcia teve q decidir - devido ao cansaço
e aparente indisposição em continuar - se seguia conosco ou
não. Mas no final, decidida e resoluta, resolveu acompanhar o maridao.
O q o amor não faz..
Ainda subindo, no escuro e sob fina chuva, as 20hrs, alcançamos um
trecho onde simplesmente a rua terminava numa mata. No entanto, bastava continuar
q a rua continuava sim, apenas o mato havia avançado sobre o asfalto,
deixando apenas uma pequena trilha. E foi nela q seguimos, iluminada pelos
fachos de nossas lanternas. Assim, um tempinho após entrar no mato
é q a estrada de fato terminou, dando inicio a uma trilha q subia sinuosamente
em meio à mata do lado de uma enorme Cachu dos 3 Tombos, q já
era audível antes de chegar. Ainda bem, fim de pernada daquele dia,
quase as 20:20hrs e a 240m sobre o nível do mar!
Voltamos um pouco e montamos as barracas uma atras da outra, perfiladas ao
longo da trilha, num trecho plano e largo do asfalto coberto de folhas. Na
sequencia fomos p/ base da cachu pegar água e tomar banho; a Márcia
permaneceu na barraca, capotada. Mesmo escuro e iluminada pelas lanternas,
a cachu impressionava pelo tamanho. Entretanto, a chuva deixara o piso rochoso
extremamente escorregadio e perigoso, razão pela qual não nos
aventuramos a maiores explorações, nos atendo apenas ao pocinho
+ próximo. Enchemos os cantis e tomamos um merecido banho, mas o Eric
não quis nem saber de água, escaldado! Logo depois nos entocamos
p/ jantar, exaustos, em nossas respectivas barracas, no momento em q a chuva
voltou c/ mais forca! Felizmente já estávamos devidamente instalados
e não demorou p/ cair no sono. Choveu a noite toda e eu, pelo menos,
dormi incrivelmente bem. O tempo estava agradável e inicialmente dormi
apenas sobre o isolante, mas de madruga - provavelmente devido à umidade
acumulada - senti um friozinho q me obrigou a encasular de vez no saco-de-dormir
pra não sair de la ate o dia sgte! Enqto isso, a chuva tamborilava
incessantemente o teto da barraca.
DESTINO:
O TOPO DO SÃO SEBASTIAO
Amanheceu nublado, porem s/ chuva, e justamente por isso q acordamos cedo,
p/ zarpar em seguida as 8hrs, apos um farto café-da-manha! Ao levantar
acampamento notamos uma q cobra-cega havia se alojado sob a barraca do Guto,
provavelmente buscando lugar seco p/ passar a noite. Depois disso tds passamos
a ter cuidado c/ nossos pertences.
Pé-na-trilha e la fomos bater algumas fotos da cachu, agora lindamente
realçada pela incipiente iluminação natural. Depois continuamos
pela trilha, subindo a encosta da montanha em meio ao bambuzal, ate chegar
no topo da cachu, onde coletamos água alem de bater + fotos da orla
da ilha, pois ali tb servia de belo mirante. Do topo da cachu, a picada se
embrenha na mata da encosta, acompanhando inicialmente o rio pela esquerda,
ate ir se afastando aos poucos do mesmo, logo após subir um barranco
c/ forte inclinação. A partir dali a picada bordeja em suave
aclive a encosta da montanha durante um tempão, c/ o som do rio sumindo
gradativamente. Contudo, de repente ele retorna c/ força, ate q por
entre as brechas da densa floresta podemos ver uma enorme cachu escondida.
Mas novamente o som desaparece ao nos afastarmos trilha acima, principalmente
qdo atravessamos o 2º bambuzal do dia, relativamente fácil de
transpor. Deixamos a íngreme encosta p/ agora caminhar num terreno
+ brando, subindo a crista, aos 400m, ganhando altitude lentamente e contornando
muitas arvores tombadas, algumas enormes cujas raízes tabulares comportavam
(c/ folga) 3 pessoas inteiras!
Assim, alcançamos um 1º cocoruto, aos 500m, p/ subir suavemente
outra crista, desta vez por uma floresta menos densa. Surgem novos túneis
de grossos bambus, onde voçorocas enorme caidas nos obrigam a agachar,
engatinhar ou ate mesmo arrastar, p/ seguir adiante. As 11:30 chegamos na
cota dos 800m, onde a trilha parece nivelar atraves da encosta, q subimos
imperceptivelmente, sempre atentos às (sagradas) fitas de marcação,
nas arvores do caminho. O Eric, q havia deslanchado na frente e s/ mochila
(c/ a pretensão de fazer o pico de ataque, sem água inclusive!),
cruza conosco em sentido contrario, desistindo da empreitada alegando q +
p/ cima a trilha tava confusa. Nos despedimos dele e continuamos em frente,
ate chegar num convidativo selado de ligação, q serve de ótimo
local de descanso e lanche, ao meio-dia. O Guto desce na encosta esquerda
e, em meio às pedras, encontra o precioso liquido escorrendo em filetes
p/ abastecer uma garrafa de suco!
Continuamos a pernada subindo forte o morro seguinte, beirando a encosta esquerda
de mata rasteira ate um novo selado forrado de bromélias e arvores
medianas c/ líquen pendendo de seus galhos retorcidos. A gde quantidade
de arvores caídas torna confusa a sequência da trilha, sendo
aqui q provavelmente o Eric desistiu de continuar. Mas farejando bem a picada
percebe-se q ela continua + adiante, escondida na vegetação
rasteira. A mata densa da íngreme encosta seguinte - q bordejamos pela
direita - está repleta de arvores enormes, incluindo belos exemplares
de robustos pau-brasil, figueiras, jequitibás e guapuruvus, q nalgumas
raras brechas nos permitem tanto avistar o topo do pico, ainda distante, como
as vilas da orla! A partir daqui a trilha arrefece, numa sequencia de barrancos
escorregadios quase verticais, q são vencidos na escalaminhada. Aos
1000m, qdo suspiramos crentes q o terreno nivela, eis q aparece + um espesso
bambuzal como obstaculo, q nos toma um certo tempo; alem de nos arrastar pela
trilha, alguns trechos ingremes nos atrasam por conta do chão forrado
de folhagem seca. E escorregadia. Contudo, as 14hrs e em torno dos 1070m,
chegamos exaustos num terreno nivelado, onde um corredor plano ao pé
de uma gigantesca pedra inclinada oferecia proteção e ótimo
local p/ pernoite. Não pensamos duas vezes e foi la q jogamos nossas
cargueiras, p/ alivio da Márcia, q permaneceu ali descansando e optou
não nos acompanhar no ataque ao cume, 350m acima.
Após breve descanso, eu e o Guto continuamos a subida, contornando
varias pedras e ganhando altura em ziguezagues. No caminho, vimos um mutum
(tipo de urubu de bico vermelho) em meio a mata como boa desculpa p/ recuperar
o fôlego, após conquistar + um selado. Agora a trilha aperta
e a subida é uma só, escalaminhando raízes, troncos,
pedras e voçorocas de bambus enormes num ritmo verdadeiramente massacrante,
e olha q estamos s/ nossas cargueiras! Isso s/ contar no chão ardiloso,
repleto de folhas secas. Qdo o terreno abranda um pouco, surgem duvidas qto
a continuidade da trilha, uma vez q a espessa mata parece cobrir td solo,
tornando a orientação confusa. Ela some de repente, mas reaparece
onde menos se espera, atrás de uma pedra ou de um tronco caído!
O pior é q as tao bem-vindas marcações aqui são
raras, daí q este ultimo trecho requer uma certa pratica em farejar
trilha. Assim, chegamos na cota os 1150m, arfando de cansaço e molhados
de suor.
Após ladear enormes rochas, vencer densos bambuzais e trechos q parecem
cada vez + íngremes, chegamos no q parece ser a crista final q antecede
o topo. Ainda bem, pq nossas pernas parecem cada vez + pesadas! Agora basta
subir e descer suavemente atraves de túneis e + túneis de bambus,
ora caminhando, ora rastejando. Parece q nunca chegaríamos, mas as
15:20hrs, após contornar + uma enorme rocha, finalmente atingimos o
cume do Pico de São Sebastião. Foram quase 1375m de desnível
q certamente foram recompensados c/ uma vista reservada p/ poucos. Pra ser
franco, o topo é pequeno e se resume a uma enorme pedra rodeada mata
rasteira, arbustos ralos, arvores retorcidas e bromelias. Há uma pequena
clareira onde cabe apenas 1 barraca, repleta de sujeira, restos de fogueira
e ate uma lona escondida! Subindo a pedra temos um visual privilegiado de
td canal de São Sebastião, assim como de algumas praias da porção
oceânica da ilha. Mas o q + chama a atenção são
as demais montanhas da ilha, forradas de muita mata - algumas bem próximas
da gente - inclusive o paredão rochoso do Baepi, ao longe! Olhando
bem + à oeste, percebemos q estamos acima da Serra do Mar podendo vislumbrar
ate os recortes da Mantiqueira, no horizonte! Enqto relaxo na pedra e deixo
os pés respirarem, o Guto se embrenha numa trilha em busca de uma grota
proxima, onde encontrou água.
Após muita contemplação, cliques e descanso merecido,
as 16:30 iniciamos apressadamente a volta, justamente qdo nuvens medonhas
se juntam, anunciando suas intenções c/ retumbantes ribombos.
Embora + rápida q a subida, na volta tb tivemos o mesmo problema de
orientação e alguns perdidos, mas nada q um trabalho em equipe
e bastante atenção não resolvesse. Dessa forma, uma hora
após chegamos no acampamento, onde a Márcia já tinha
montada a barraca do casal, alem de ter feito uma bela faxina sob a pedra
p/ eu poder montar a minha s/ problemas.
O resto do dia nos resignamos a descansar, secar algumas coisas ou começar
a preparar a janta, pra logo em seguida nos recolhermos à nossos aconchegantes
sacos-de-dormir, quase no mesmo instante em q começou a chover. Alias,
choveu forte a noite toda, mas como estávamos mto bem protegidos sob
a pedra, não tivemos problema nenhum c/ infiltrações.
Nem nossos vizinhos, uma medonha casa de marimbondos no teto, nos incomodoram.
Pra aproveitar a enorme qtdade de água q escorria ou gotejava da pedra,
aproveitei e deixei uma panela p/ captação, q encheu rapidamente
de uma água amarela, repleta de sedimentos, porem fresca e potável!
E assim passamos uma noite confortavel, enquanto lá fora chovia torrencialmente.
A
DESCIDA, OS BORRACHUDOS E A VOLTA
A chuva, felizmente, resolveu dar trégua no exato momento em q levantamos,
as 6:30. Pra aproveitar esse momento de animosidade de S. Pedro, desarmamos
acampamento bem rápido, zarpando as 8hrs. A mata estava totalmente
úmida e não tardou p/ ficarmos encharcados ao rasgar a vegetacao
na descida. Descida, alias, bastante escorregadia, tanto q nos valíamos
de qq apoio à nossa disposição p/ não deslizar
trilha abaixo, fossem troncos, arbustos ou ate bambus secos, q serviam de
'corda' nas pirambas verticais. Ainda assim - e c/ alguns tombos - nosso ritmo
foi superior ao do dia anterior, e logo chegamos no selado afim de beliscar
um café-da-manha atrasado, as 9hrs, onde o Guto tb aproveitou p/ remover
alguns espinhos da mão. Os raios do sol matinal penetravam pelas frestas
da mata, iluminando em tons alaranjados aquele belo e inóspito local,
c/ promessas de + um belo dia, p/ alegria dos bem-te-vis e arapongas, q pareciam
comemorar aquela manha com muita algazarra.
Continuando a pernada desimpedidamente em terreno + ameno, logo começamos
a ouvir o som do rio, chegando na Cachu dos 3 Tombos as 11:40, onde paramos
p/ descansar e tomar um merecido banho, claro! Eu preferi subir um pouco o
rio e relaxar em poços e cachus 'particulares', como vim ao mundo.
Ao me secar, nas rochas, eis q os ilustres habitantes da ilha nos saúdam
c/ voracidade total, deixando sua indefectível marca em nossa pele,
sob a forma de um pontinho vermelho e muita coceira; sao os malditos borrachudos,
q parecem endoidecer c/ carne importada! Procurando me manter em movimento
p/ não facilitar pros sanguessugas, vou de encontro ao casal, q toma
sol tranqüilamente, embora padeçam tb destes inconvenientes mosquitos.
Mesmo assim, do topo da cachu ficamos ainda + um tempinho apreciando a paisagem,
ate q chegou uma moçada c/ um simpatico guia local, q ficou surpreso
ao lhe dizer q havíamos subido o Baepi e S. Sebastião. O mesmo
nos contou q guias locais costumam abrir picadas q levam a lugar nenhum a
partir da trilha principal, apenas p/ dificultar o acesso ao cume de forma
independente. E não era raro alguns removerem as marcações,
q são la em cima são de uma valia enorme. Ou seja, eles garantiam
sua reserva de mercado 'tocando o terror' na turistada incauta, q pagava R$100
(p/ pessoa) p/ ser 'levada' ao teto de Ilhabela num único dia!!! Tb
nos contou de outras trilhas p/ outros picos menos visitados e + selvagens,
como o Pico do Papagaio, o K2 dali, quem sabe programa p/ uma futura trip.
O papo tava bom, mas deixamos a cachu as 13hrs, retornando pelo resto de trilha
ate cair no asfalto, q descemos s/ pressa, torcendo por uma carona q nunca
viria. Chegamos, enfim, ao portal na entrada e num pto de ônibus, as
14hrs, q demorou p/ passar. As 15hrs já estávamos na balsa,
onde garantimos nossas passagens no guichê da Litorânea, pra cruzar
o canal apenas meia hora depois. Durante a travessia, percebemos a mudança
brusca do tempo, assim como tds os picos da ilha totalmente encobertos, sublinhando
nossa sabia decisão de descer ainda naquele dia! Do outro lado, ainda
sobrou tempo p/ comer alguma coisa, onde comemorei a empreitada c/ uma breja
gelada e um enorme dogão, pras 16:30 tomarmos o busao de volta p/ sampa,
no exato momento em q a chuva começou a cair, e estacionar pelo resto
do dia.
Chegamos em Sampa as 20hrs, moídos, picados, sujos por cima mas com
a alma lavada de ter alcançado laboriosamente nosso objetivo. Uma pernada
tao casca-grossa qto os borrachudos q habitam a ilha, mas q igualmente cumpre
sua função de selecionar rigorosa e naturalmente seus escassos
visitantes, e manter preservado quem adentra neste pedaço intocado.
Enfim, uma prosaica aventura de feirado q apenas confirma uma coisa: q a ilha
q realmente faz jus ao seu nome, numa Ilhabela menos muvucada e conhecida...
a das nuvens.
Por
Jorge Soto
______ Designer por profissao
______ Montanhista e trekker por paixao
______ Mochileiro nas horas vagas
______ jorge_beer@hotmail.com