Conheci Sergio Tartari em 82,
numa de minhas viagens ao Rio de Janeiro. Fomos apresentados pelo grande Escalador
e Montanhista Garrido e juntos escalamos o Lagartão, no Pão
de Açúcar, onde tentamos tirar em livre o artificial que existe
depois das fendas.
Nesta época começava no Brasil o surgimento da Escalada em Livre
e começávamos a “brigar” com o grau. O 7 e 8 graus
eram a nossa grande "viagem". Nesta época Sergio já
era um escalador excepcional.
A Escalada Tradicional era nossa mentora, mestre e referência, mas a
Escalada em Livre passava a ser nosso principal “passatempo” nesta
época e começamos a abrir vias mais difíceis e técnicas
e a "tirar" em livre os trechos que eram executados em artificial
nas Escaladas Tradicionais, este era um de nossos objetivos.
De lá para cá Sergio se tornou um dos melhores escaladores do
planeta, um ícone fundamental para a historia do Montanhismo e da Escalada
Brasileira e para entender o que eu digo, basta ver a relação
de vias que ele abriu ou tentar repetir suas vias espalhadas por ai.
Irreverente, audacioso e carismático, Sergio Tartari , continua na
ponta da corda nos presenteando com suas vias, que sempre serão um
desafio a quem quer evoluir e amadurecer dentro da escalada, aonde você
encontra muita aventura, beleza e responsabilidade, estilo Sergio Tartari.
Entrevista com Sergio Tartari:
1) Quando você começou
a praticar Montanhismo?
Sérgio Tartari —
Em 1979
2) Há quanto tempo você mora em Salinas?
Sérgio Tartari
— Há 17 anos
3) Hoje o Brasil já reconhece
um via como uma obra intelectual e que possui uma autoria, como é ser
um “Conquistador”, um “Criador de vias?”
Sérgio Tartari —
E uma coisa que tem que vir de dentro,
tem que ter muito critério consigo próprio
4) Das vias que você abriu, qual a que deixou um sabor especial?
Sérgio Tartari
— Na
verdade são varias, O GALO CANTOU(Canta Galo-Petrópolis), MEDOS
E MITOS E VAZADOR DE ALMAS(Torres do Bonsucesso), DISK DIQUE(Pico Maior-Salinas),
TABANOS NA CARA(Cerro Trinidad-Cochamó) e muitas outras
5) Você tem muita intimidade com
talhadeiras e martelos. Como você vê o uso de furadeiras automáticas
(marteletes) principalmente em montanhas?
Sérgio Tartari
— Um tanto danoso pois com
o uso corre-se o risco de massificação do lugar. Me parece que
se usar um motor em um processo que é todo manual como a escalada é
um pouco desonesto, mas depende de na mão de quem está. Podem
sair vias muito boas, é uma questão muito filosófica
e pessoal.
6) Qual a sua opinião sobre abrir
vias com agarras sicadas e cavadas em relação ao futuro da escalada
esportiva?
Sérgio Tartari
— Sinceramente não tenho
nada contra a sika, é um recurso que pode ser bem válido em
rocha quebradiça, claro que feito com critério.
Quanto a cavar sou contra, é uma “forçação”
, não há necessidade, há muita rocha por aí para
se criar
7) Você segue algum tipo de alimentação ou faz
um esquema especial em grandes dias de escalada?
Sérgio Tartari
— Nada em especial, procuro
ficar atento a minha intuição.
8) Durante todos esses anos em que você escala é bem
provável que você já tenha tido algum tipo de lesão.
Que dicas você daria aos novos escaladores para prevenir lesões?
Sérgio Tartari
— Forçar menos me parece,
não exagerar, hoje tenho algum problema devido a isso. Temos que nos
economizar em um certo sentido
9) Qual foi à via esportiva mista
que você mais curtiu? Você tem algum projeto de escalada esportiva?
Sérgio Tartari
— Nenhuma em especial, cada
uma curte-se de uma maneira
10) Das montanhas que você escalou
no exterior qual a que mais curtiu e a que mais exigiu de você?
Sérgio Tartari
— A mesma resposta da pergunta
anterior
11) Você tem algum projeto em montanha para breve?
Sérgio Tartari
— Não
12) A região dos Três Picos
é um dos lugares mais interessantes de escalada do Brasil e também
é um dos mais exigentes e a cada ano aumenta o numero de escaladores
na região. Como você vê essa nova geração
de escaladores? A região esta preparada para recebê-los e quais
os problemas que a região sofre com o aumento de pessoas no local?
Sérgio Tartari
— Realmente aumentou o número
de escaladores, mas esta estável por agora, ainda não gerou
grandes problemas
13) Que vias você recomenda em Salinas?
Sérgio Tartari
— FACE
LESTE DO PICO MAIOR, VIA CERJ DO CAPACETE, SÓLIDAS ILUS
ÕES, ETC.
14) Quais as dicas para quem quer fazer
uma primeira viagem a Salinas?
Sérgio Tartari
— Deixar a preguiça
de lado, encarando seriamente as escaladas
15) Quando será o lançamento
do novo guia dos Três Picos?
Sérgio Tartari
— Para outubro, talvez no Festival
de Cine de Montanha(Banff)
16) Sabemos que você está
desenvolvendo um trabalho de regrampeação das vias nos Três
Picos. Você tem algum apoio para isso ou é um custo que você
"banca"?
Sérgio Tartari
— A Femerj nos ajuda
17) Como é receber pessoas de
todo o mundo e de diferentes níveis técnicos?
Sérgio Tartari
— Normal, procuro passar da
melhor maneira as informações que tenho do local.
18) Fale sobre seu Abrigo de Montanha, seu trabalho, seu patrocinador.
Sérgio Tartari
— É o meu ganha pão,
não gosto de trabalhar não e patrocinador e apoio, são
bons, não gasto com mochila nem com sapatilhas.
Informações e Contato: sergio_tartari@yahoo.com.br
Abrigo de Montanha “Recanto das Águas”
Fone: (22) 2543-3504
Recentemente estive no Parque Estadual dos
Três Picos, Salinas para escalar e repetir a Via Face Leste no Pico
Maior, uma via que solei à vista em companhia de Sergio Tartari
e Alexandre Portela há 20 anos e que subimos em menos de 2 horas
e nunca mais havia repetido.
Como estava na área fui visitar meu
velho amigo, que há tempos não via, Sergio Tartari em seu
Abrigo de Montanha “Recanto das Águas”, que esta sempre
preparado para receber os escaladores.
Fornecendo estadia, alimentação e boas informações para quem vai a Salinas para escalar. Sempre tive grande admiração pelo trabalho que Sergio e Alexandre desenvolveram no montanhismo e não poderia de deixar de lhe pedir uma entrevista para o site Brasil Vertical, a qual ele aceitou prontamente.